Ela via aquela cena se repetir milhares e milhares de vezes em sua cabeça...

"Andava distraída pela rua quando avistou um mar de cabelos ruivos. Os reconheceria ate mesmo em uma convenção de ruivos.

– Rony! - gritou o nome do rapaz toda sorridente, mas ele não ouviu e apressou o passo. Ela resolveu segui-lo. Onde estaria indo?

Era hora do almoço e sempre que saia do trabalho para almoçar avisava!

Um passo de Rony era igual a dois de Hermione, fazendo com que ela quase corresse para alcança-lo.

Ele atravessou a rua, na faixa de pedestres, sem olhar se havia carro vindo.

– Ronald! - ela tornou a chama-lo.

Quando faltava menos de dez passos - a rua era larga - um carro, um palio preto, subiu a rua em alta velocidade, e nada de Rony perceber a movimentação. Hermione tentou alerta-lo, correr a seu encontro, tira-lo da mira do carro. E antes que pudesse alcança-lo...

– RONY, NÃO!

O carro lhe acertara em cheio. O impacto fora tão forte que o arremessara a uma distancia. O motorista ainda tentara desviar e saíra igualmente ferido.

Ela correu até Rony, finalmente o alcançando. Suas lagrimas embasaram suas vistas, tornando tudo borrado.

Praticamente jogou-se no chão, encostando a orelha no peito do ruivo, procurando algum sinal de vida. Escutou batidas fracas, lutando por sobrevivência.

Os pedestres que passavam na hora se comoveram com a cena.

– Por favor, alguém chame o bombeiro! - ela não conseguiria. Deitou-se sobre o corpo inerte e o abraçou rezando para que tudo ficasse bem."

Então acordou soando frio, agradecendo por ser apenas um sonho... Mas de repente tudo começou a parecer como um aviso!

...

"Cinema dps do trabalho. Iron Man 3, pfvr, eu smp deixo vc escolher, hj é minha vez. Vá indo na frente, compre as entradas, qnd eu chgr compra a pipoca! Sessão das 21:40 Qnd eu estiver chegado avisarei. Te amo!"

Hermione ainda estava sorrindo com aquela mensagem. Gostava de fazer programas com Rony, principalmente quando não planejavam, e ultimamente não tinham muito tempo juntos, pois o ruivo estava concentrado em um projeto. Chegava tarde a casa, tudo para cumprir o prazo de entrega que se aproximava.

"Promete q vc vai?"

Logo a resposta dele chegou:

"99,99% de certeza, mas não se agarre ao 0,01% de incerteza. Tenho que trabalhar agora, até dps!"

"Je t'aime é mais chique!"

Depois do trabalho, Hermione se encontrou com Gina, para lhe devolver uma revista que tinha uma reportagem sobre certos comportamentos das crianças. Ela achou que iriam lhe servir no futuro, mas no fim acabou sendo um monte de lixo inútil com o qual perdeu o tempo.

– Não está exagerando um pouco? - Gina lhe questionou após ouvir sua opinião sobre a reportagem.

– Não é previsível que crianças façam escândalos quando querem algo e os pais não fazem?

– Bem, sim, mas...

– Qualquer um poderia ter feito esse tipo de pesquisa, reportagem, levantamento ou seja lá o que for.

Elas perderam a noção de tempo enquanto conversavam.

– Eu tenho que ir! - Hermione anunciou. - Rony e eu vamos ao cinema e ainda preciso passar na lavanderia.

– Bom filme então. - lhe sorriu e se despediram.

A Borgin & Burkes - Lavanderia tinha um ótimo serviço por um preço melhor ainda. As roupas e qualquer outra peça que você levasse lá voltavam com aparência de novo, sem contar o cheiro que as peças emanavam. Incrível! Nem parecia que Rony tinha derrubado suco de uva em um edredom branco.

Ao chegar a casa sua vontade era de tomar um banho, jantar e deitar-se assistindo qualquer programa que a televisão estivesse oferecendo no momento. Porém o que fez foi tomar banho para sair mais uma vez.

Era uma quinta-feira, o céu estava banhado de nuvens, mas sem sinal de chuva. Também fazia um frio confortável, o frio que obrigava as pessoas a ficarem debaixo de suas cobertas. Hermione vestia uma blusa de mangas compridas cinza, uma calça ligeiramente legue, uma outerwear e suas botas pretas e levava sua bolsa de alça longa na altura da cintura.

O shopping estava lotado aquela noite, e ela deduzira o motivo: o dia das mães¹ de aproximava, e todos queriam presentear suas mães que tanto fizeram por eles.

Eram 20:40 horas e Rony não dera nenhum sinal. Logo ele ligaria, tinha que ligar, mas assim mesmo Hermione achou melhor lhe mandar uma mensagem, avisando que já estava por lá. Decidiu comprar logo os ingressos. Aproveitou para dar uma rápida passada na livraria, já que Rony não era muito de ler e ficava um pouco impaciente quando estavam juntos e ela queria olhar todos os novos livros. Acabou comprando A Marca de Atena² e Em Chamas³, de duas sagas que estavam ganhando o espaço no cenário dos livros, mas que não faziam tanto sucesso quanto uma saga que chegara ao "fim" (não é o fim) recentemente. "Larry Lotter" marcara uma geração de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Tornara uma mulher à primeira escritora a ficar bilionária com o seu ramo. Fora um dos livros mais vendidos rapidamente, perdendo apenas para a Bíblia. Ela começara a ler e assistir suas adaptações perto do "fim", mas valeu cada minuto.

Acomodou-se na praça de alimentação do shopping e abriu A Marca de Atena, pois estava mais ansiosa com este desde que lera o livro anterior - O Filho de Netuno - que terminara deixando gostinho de quero mais. Encomendaria pela internet, mas nada substitui o prazer de ir a uma livraria física e escolher pessoalmente qual dos exemplares levar. E dai que era uma jovem adulta de 24 anos? Não há idade quando o assunto é entrar na imaginação, visitar mundos fantásticos, viver sua própria aventura...

Quando deu por si eram 21:27.

Rony já deveria ter ligado àquela altura. Onde ele estava? Perderia o filme assim! Procurou seu nome nos contatos e apertou em chamar.

"- Sua chama está sendo encaminhada para a caixa de mensagens e estará sujeita a cobrança após o sinal!"

Logo agora? Tentou o número alternativo.

"- Este número está desligado ou fora da área de cobertura!"

Por que essas coisas tem que acontecer? Teria de esperá-lo, mas e se ele demorasse mais? Gostaria de ver os trailers, ela gostava de vê-los para se informar sobre qual a próxima estreia assistir. Tornou a ligar nos dois números e agora os dois tinham o mesmo recado, o último citado.

Estranho... Aquilo a deixara aflita.

Guardou o livro cuidadosamente na sacola. Lembrou-se que tinha o número da empresa em que ele trabalhava e tentou esse. O número caiu direto na caixa de mensagens. Faltavam menos de cinco minutos para começar.

– Calma Hermione, não tem nada rolando! - sua mente já imaginava o tipo de coisa que poderia ter acontecido a Rony. - É só uma coincidência!

Ligou para Harry.

– Harry, eu não consigo falar com o Rony! Já liguei nos seus dois números, no número da empresa e nenhum atende, mandei mensagem e nada! Ele combinou de virmos ao cinema, mas o filme já vai começar e estou um pouco preocupada, porque ele não dá sinais! - ela falara aquilo tudo rápido, ficando ofegante ao terminar.

– Ei, calma. Quer que eu tente localizá-lo? - o moreno sugeriu.

– Eu agradeceria. Vou esperar alguns minutinhos antes de entrar. O tempo de os trailers passarem.

Então, ela esperou, e nada de Ronald. Mesmo estando preocupada, decidiu ir assistir ao filme. Da sala mandou uma mensagem a Harry.

Não conseguiu prestar muita atenção ao que acontecia, mas o que via fez o filme se tornar muito bom. Nas partes em que a pessoa não está prestando atenção e do nada vem algo que as faz pular da cadeira de susto, porém, nada que dê medo principalmente.

O que Rony estava aprontando? Seja o que for, uma raiva cresceu dentro de si. Primeiro por que ele prometera que iria e avisaria, segundo porque seria legal ter o namorado ali para abraçar nas cenas que dão aflição.

Os créditos começaram a passar e as luzes acenderam. Hermione ficou mais um pouco, para ver se tinha alguma cena extra. Se interessara pelos trabalhos de Robert Downey Jr. apenas com aquele filme.

Saíra da sala de cinema com raiva. Andou alheia às pessoas que passavam ao seu lado, se assustando quando sentiu dois braços a pararem.

– Ai! - gritou quando ela lhe acertou o nariz com o cotovelo. Era costume, uma tática para se defender.

– Ronald! Você mereceu! - exclamou percebendo quem era. Demonstrava raiva, mas no fundo, no fundo, estava feliz por vê-lo, por saber que estava bem.

– Acho que vou ficar sem o nariz! - falou fazendo uma cena dramática.

– Espero que sim! - Hermione queria descontar sua raiva. - Você me deixou preocupada! Disse que ligaria! Ligou? Não! - sua voz elevada atraia olhares de quem passava. - Você me deve explicações, e eu as quero! - bateu com o pé no chão.

– Se você se acalmar...

– Não peça que eu me acalme! - cerrou os punhos contendo a vontade de bater no ruivo. - Queria ver você no meu lugar! "Cadê a Hermione?", "Por que ela não liga?" "O que está acontecendo?" "Por que ele não atende a droga do telefone!" – terminou fechando os olhos e respirando profundamente.

– Vamos nos sentar. - ela a conduziu até uma parte afastada da praça de alimentação, onde não chamaria tanta atenção.

Hermione teria lhe beijado e abraçado, mas não iriam sucumbir.

Rony contou o que aconteceu.

Para início de conversa ele perdera o celular e de forma alguma conseguira localizá-lo. No aparelho estavam diversos dados importantes, mas para sua "sorte" conseguira resetar toda e qualquer informação importante pelo computador. Ah, como a tecnologia nos ajuda... Isso acontecera horas depois de ele mandar as mensagens à Hermione. Tentando concluir o projeto, as horas foram se passando e ele nem notou. A energia do prédio se fora e os gerados não queriam funcionar de forma alguma. Os funcionários foram indo embora e o telefone não funcionava. Rony, por não saber que horas eram, achou que ainda fosse cedo. Trabalha no oitavo andar. Descer as escadas estava fora de cogitação, teve de esperar a luz voltar para usar o elevador. Quando isso aconteceu, perguntou ao segurança o horário. Atrasado! Pediu o celular emprestado, para tentar ligar para Hermione, mas o segurança alegou estar sem crédito.

O ruivo, então, veio o mais rápido que pôde para o shopping e esperava a sessão terminar desde então.

– Também, não presta atenção nas suas coisas! E agora, está sem celular! - ela ralhou.

– É só comprar outro! - respondeu afrouxando a gravata, demonstrando que não era nada. O paletó estava sobre suas pernas. Aquele dia vestia sua camisa azul preferida e a calça social escura.

Hermione suspirou.

– Isso não é desculpa. Poderia ter achado uma forma de se comunicar. Eu fiquei preocupada. Achei que... - preferiu não terminar a frase.

– Eu sei, eu sei... Me desculpe. - falou colocando a mão esquerda sobreas duas mãos de Hermione que estava na mesa. Não quis te preocupar, só perdi noção do tempo. - ela assentiu conformada. - Vamos. Me ajude a escolher um novo celular! - eles levantaram e foram passando nas lojas especializadas.

O ruivo perguntou como foi o filme, e Hermione respondeu que foi realmente bom.

– Depois eu assisto!

– Se quiser eu vejo novamente! Gostei do que vi.

– Acho que vou levar esse! - indicou um dos novos modelos que a loja comportava. - Sempre quis ter um, e até que o preço não está ruim.

– Ótima escolha. - o atendente disse sorrindo.

Jantaram qualquer coisa e voltaram para casa cansados.

– Então, como está indo seu projeto? - Hermione perguntou quando sentaram-se no sofá, com a TV ligada. - Muito difícil?

– Nem tanto. Só preciso de mais alguns dias para finalizá-lo e teremos uma nova construção na cidade! - ele dizia tudo com uma animação. Adorava trabalhar como arquiteto, ajudando a colocar no papel a forma dos prédios e outras construções. Demais!

Acabaram adormecendo lá mesmo, o que ocasionaria uma baita torcicolo, mas o que importava é que estavam juntos, e a ligação de Vitor, semanas atrás, finalmente saiu da mente de Rony. Porém algo lhe dizia que aquelas seriam suas últimas noites bem dormidas.