“Por quê?”, eu me perguntava chorando. “Por que tenho que te amar a ponto de doer tanto? De eu desejar a morte cada vez que olho em seus olhos? Afrodite, por que você é tão cruel assim comigo?”. Indagava-me em meus pensamentos, com os olhos vermelhos de tanto chorar solitariamente, com o rosto marcado pelas lágrimas. Lágrimas que eu derramava por Ele.

(N/A: http://www.youtube.com/watch?v=QYO2A5uYIU0)

Meus pés não tocam mais o chão
Meus olhos não vêem a minha direção
Da minha boca saem coisas sem sentido
Você era o meu farol e hoje estou perdido

O sofrimento vem à noite sem pudor
Somente o sono ameniza a minha dor
Mas e depois? E quando o dia clarear?
Quero viver do teu sorriso, teu olhar

A noite estava fria, mas eu pouco me importava. Eu já estava fria por dentro, com toda a dor em meu ser. Já se passava há muito tempo o toque de recolher no Acamamento Meio-Sangue, e eu estava em cima de uma árvore, à mercê das harpias. Não me importava com elas. O espírito de Delfos me protegia. O portador da profecia não pode morrer antes de passar o espírito de Delfos para o próximo oráculo.

Eu corro pro mar pra não lembrar você
E o vento me traz o que eu quero esquecer
Entre os soluços do meu choro eu tento te explicar
Nos teus braços é o meu lugar
Contemplando as estrelas, minha solidão
Aperta forte o peito, é mais que uma emoção
Esqueci do meu orgulho pra você voltar
Permaneço sem amor, sem luz, sem ar

Contemplava as estrelas junto a minha solidão, quando avisto Ele novamente. O motivo do meu choro. O meu pesadelo. O meu herói. Aquele que mais odeio e amo. Amo com meu coração e odeio por não poder deixar de amá-lo. Estava se arriscando a ser comido pelas harpias da limpeza fora do toque de recolher para se encontrar com a filha de Athena novamente. Já é a terceira vez essa semana. Começo a temer por Ele. Logo, logo meu amor será pego e comido sem dó nem piedade.

Foi por ele que aceitei isso. Que aceitei ser o novo oráculo, abraçar o passado e abrir os olhos para o futuro. Por que eu sabia que ele a amava, e não a mim. Eu não podia ser tão egoísta a ponto de impedir o amor dos dois, sabendo que ele não me ama. Quem dera amasse.

Ele a beijou, sorrindo, enquanto eu chorava. Encostaram-se em uma duna e ficaram a observar o mar à frente. Calmo e verde. Como os olhos dele deviam estar agora, junto a ela. E eu apenas apreciando essa visão que fazia meu coração em pedaços. Você poderia me considerar masoquista por ficar olhando algo que me fazia sofrer, mas por mais que isso me fizesse em total tristeza, eu estava vendo que ele estava feliz, mesmo que não fosse ao um lado. E eu estava feliz por isso.

Perdi o jogo, e tive que te ver partir
E a minha alma, sem motivo pra existir
Já não suporto esse vazio quero me entregar
Ter você pra nunca mais nos separar
Você é o encaixe perfeito do meu coração
O teu sorriso é chama da minha paixão
Mas é fria a madrugada sem você aqui,
Só com você no pensamento

Alguns poderiam considerar isso nobre, mas não queiram estar em meu lugar. A dor que dilacera meu peito é angustiante e me dá vontade de chorar até não poder mais. E é isso que estou fazendo. Olhando para as estrelas e pensando no homem que amo. Como ele está feliz com outra e em como nunca me verá como algo mais que uma amiga preciosa.

Vago meus olhos chorosos pelo céu quando uma constelação em particular me faz parar. Zöe Doce-Amarga. Ela era a antiga tenente de Ártemis, antes da filha de Zeus. Uma das filhas do titã que sustenta o céu, Atlas. Zöe foi uma caçadora que morreu em uma missão para salvar sua senhora há alguns anos atrás.

Olhei-a por um tempo, me esquecendo temporariamente da pessoa que tanto amo e odeio ao mesmo tempo junto com a outra nas dunas, tentando me lembrar do homem pela qual ela sofreu, já que todas as caçadoras sofreram por algum homem, até mesmo Thalia, a filha de Zeus. Acredito que ela tenha entrado na caçada não só para escapar da profecia, mas também por causa do semideus traidor-herói, que agora jazia morto, Luke Castellan.

Meu ar, meu chão é você
Mesmo quando fecho os olhos
Posso te ver

Continuei a vagar meus olhos pelo céu tentando me lembrar, quando pousei os olhos em outra constelação. A constelação do homem pela qual Zöe sofreu. O grandioso filho de Zeus. Hércules. Bom, pelo que Ele me contou, ela seguiu em frente. Com o coração partido, mas seguiu. Talvez seja minha hora de seguir em frente também. Desço da árvore com um novo motivo de vida e vou caminhando até a Casa Grande para dormir.

Eu corro pro mar pra não lembrar você
E o vento me traz o que eu quero esquecer
Entre os soluços do meu choro eu tento te explicar
Nos teus braços é o meu lugar
Contemplando as estrelas, minha solidão
Aperta forte o peito é mais que uma emoção
Esqueci o meu orgulho pra você voltar

Enquanto caminhava, sentia que era observada. Olho disfarçadamente por cima do ombro e vejo um garoto mais ou menos dois anos mais novo que eu. No escuro não dava pra ver muito bem, mas eu reconheceria aqueles cabelos pretos e aqueles olhos tão escuros quanto à noite sem lua nem estrelas. Nico Di Angelo, o filho de Hades.

“Bem, talvez não seja tão difícil assim seguir em frente”, pensei enquanto caminhava com um sorriso verdadeiro no rosto, como há dois anos não dava, em direção a Casa grande.

Permaneço sem amor, sem luz, sem ar