Cheguei na minha nova casa. Não tinha mudado nada desde a última vez que eu vi. Paguei a viajem do taxi e o taxista baixinho, gordinho, velhinho e bigodudo me "ajudou" a tirar as minhas coisas do carro, na verdade, ele praticamente jogou elas para fora e arrancou com seu taxi.

Arrastei minhas malas até a porta, que agora, sem o carrinho do aeroporto pareciam muito mais pesadas. Toquei a campainha, se passaram vários minutos, ninguém apareceu para abrir a porta para mim e me receber. Ótimo, tudo o que eu mais precisava era que não tivesse ninguém para me receber. Eu nem tinha a chave para entrar e meu pai super delicado esqueceu de me avisar sobre isso, e nem deixou escondidinho uma chave para mim. Realmente, meu dia estava cada vez mais piorando.

Sentei em cima da minha mala, estava morrendo de fome e sono, mas infelizmente tinha gastado meu dinheiro nessa peruca ridícula que estava fazendo minha cabeça coçar como nunca. Eu só queria entrar em casa, comer alguma coisa, tomar um banho, tirar essa peruca e esses piercings falsos malditos e ir dormir até a cama dizer chega e me jogar para fora.

Mas ao contrário de meus desejos, estava sentada na minha mala dura, em frente a minha casa TRANCADA, sem poder entrar, com fome, com sono, frio, sem dinheiro e parecia que iria chover.

Bem quando eu pensei sobre o tempo, senti alguns pingos em mim. Eu com certeza, era a garota mais azarada de todo o mundo.

Agora a chuva era para valer, já tinha tirado minha peruca, que agora parecia uma ratazana molhada, e os piercings falsos também, peguei um casaco para fazer uma "cabaninha" em cima da minha cabeça, acreditava do fundo do meu coração que eu deveria estar parecendo uma freira feat mendiga. O problema era que minha cabaninha improvisada não estava ajudando em nada, eu já parecia um pinto de tão molhada que estava, e essa chuva, para completar, era aquela beeeeem gelada, fazia com que meus dentes batessem de frio e além do mais, se duvidar, meus pulmões, meu pancrêas e meu fígado estavam enxarcados também.

Já não restando muita coisa, comecei a chorar. Chorei por tudo aquilo que eu reclamava antes, chorei por ser tão burra e gastar todo meu dinheiro, poderia estar numa lanchonete agora mesmo quentinha, me abrigando e comendo algo super delicioso. Já nem estava com raiva do mundo como antes, prometi a mim mesma a aceitar toda essa nova vida, sem reclamar um "ai" se quer, a não descontar no meu pai, porque, apesar de ser muito desligado, ele me amava, se não, não iria me receber aqui e nem ficaria feliz no telefone quando falava comigo antes da minha viajem. Eu cumpriria tudo isso se eu pudesse entrar dentro de casa.

Minha maquiagem já tinha saído completamente por causa da chuva e das minhas lágrimas, mas não antes de me deixar com uma cara de panda. Devo ter ficado linda no meu look freira feat mendiga feat panda. Estava quase me deitando ali mesmo, desistindo da vida, esperando pela morte e dando adeus ao mundo cruel, quando um carro parou e um ser encapuzado com um guarda chuva desceu do carro e veio até mim.

Meu primeiro pensamento foi "sempre pensei que fosse Dona Morte, e não Seu Morte, mas, tomara que tenha comida e aquecedor dentro do carro, vai ser legal ir para o além de carro até, sabe, não precisar andar nessa chuva". Também reparei que o Morte era bem estiloso, e ai ele falou comigo:

–Nina ? Filha ? Porque você está aqui nessa chuva ?

Bem, não era o Seu Morte, era só o meu pai. Um alívio tomou conta de meu ser, que eu praticamente me joguei em cima dele toda ensopada e tremendo.

–PAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!! Me desculpa por ser tão idiota, eu prometo que vou me comportar, que não vou mais comprar perucas que parecem ratazanas ensopadas...

–Nina do que você ta falando ? Perucas ? Ratazanas ? - Meu pai retribuia meu abraço apertado meio que me consolando sem entender o porque de precisar do consolo - Vem, vamos entrar, ai você me explica essa história maluca da sua cabeça e vamos ver porque Holly, a empregada não está aqui para te receber.

Minhas preces foram ouvidas e eu finalmente entrei dentro de casa.