Acordei com um horrível dor de cabeça, meus braços e pernas doíam. Estava com arranhões e pontos na minha barriga. Mas nada mais doía que meu coração. Por um lado estava tranquilizada, mas ao mesmo tempo sentia a falta dele.

Flashback on.

Estava embreagado e drogado, parecia. Ele simplesmente não enchergava nada e ninguém. Segurava uma pistola em suas mãos.

– Você é igual ela! -- Disse ele apontando aquela coisa metálica para mim.

Recuei para trás mas ele me puxou pelo braço. Não faria nenhum movimento brusco, ou poderia ser pior.

– Não te considero meu pai e nem ela minha mãe! -- Disse com os olhos marejados.

– Não chora, ou vai ser pior. - Não derramo uma lágrima por vocês. -- Falei em um tom mais alto.

– Ah é mesmo? Quero ver se você não vai chorar agora! -- Simplesmente apontou a arma para meu tórax e apertou o gatilho.

Cambaleei para trás e a tontura me fez cair da escada. Minha visão foi ficando escurecendo. Sentia aquele sangue quente escorrer por minha barriga. A última coisa que escutei foi um tiro.

Flashback off.

– Ah acordou meu bem! -- Disse minha tia Lúcia.

Apesar de eu ter quase 18 e ser muito independente, a minha tia Lúcia que sempre cuidava de mim. Sempre ia na minha casa e levava dinheiro para eu fazer as compras. Meu pai tinha esquizofrenia e não resistia aos tratamentos e remédios. Ele era muito teimoso, sempre na rua bebendo, arrumando brigas, mexendo com a mulher dos outros.

– Ah, oi. -- Disse desanimada.

– Você está bem meu amor? -- Perguntou ela.

– Melhor não poderia ficar! -- Disse irônica. Eu sei que não tinha que tratar minha tia assim, mas não estava bem no momento.

– Eu liguei pra sua mãe, provavelmente você terá morar com ela.

– Agora ela vai lembrar que tem uma filha? -- Disse desprezando.

– Não diga isso Anna.

– Mas é a verdade. Além do mais ela tem uma família para cuidar e sustentar, só vou dar mais trabalho para ela. Eu não quero ir! -- Disse enfurecida.

– Mas você vai! Sabe que nenhum dos seus familiares pode cuidar de uma moça de quase 18 anos!

– Eu moro sozinha!

– Não, você é menor de idade. Vamos combinar assim: Eu falo para ela que você irá morar com ela até fazer 18 anos. Quando fizer, poderá morar sozinha, eu e ela compraremos um apartamento para você em Londres.

– Não tem outra opção, não é mesmo?

– Então está combinado, você vai amanhã mesmo. -- Disse ela.

– Senhora Lúcia, pode vir aqui um minuto? -- Perguntou o médico na porta.

– Claro. -- Disse ela indo até lá.

– Ah, a Amanda quer falar com você. -- Disse minha tia.

Peguei meu celular e logo disquei o número dela.- Amanda?

– ANNA? MEU DEUS! VOCÊ QUER ME MATAR DO CORAÇÃO? - Disse ela preocupada.

– Vou ter que ir pra Londres. -- Fui curta e grossa, se não, não conseguiria falar aquilo pra ela.

– QUE??- É, vou ter que morar com a minha mãe. -- Disse dando ênfase a palavra "mãe".

– Vou sentir tanta sua falta. -- Disse ela choramingando.

– Eu também. -- Desabei. - Não vai ter ninguém pra me dar um colo quando eu mais precisar.

– Calma, vai ficar tudo bem. Eu te amo e você sabe disso. Você vai poder me ligar quantas vezes quiser, nos falaremos por skype todo dia tá?

– Tá bom, eu também te amo.

– Então... Amanhã vai lá se despedir de mim?

– É claro! -- Disse ela dando uma risadinha forçada.

– Vou desligar ok? Até amanhã. -- Disse enxugando as lágrimas.

– Tá bom. Beijo.

Desliguei o telefone e me levantei para ir ao banheiro. Me olhei no espelho e quase vi um monstro. Cabelo desarrumado, olhos inxados e com olheiras. Roxos pelo corpo todo e uma barriga inxada. Maravilhosa!

– Anna? -- Disse a minha tia entenrrompendo meus pensamentos.

– Que é? - Disse rude. Não conseguia evitar.

– O médico vai tirar os pontos e nos vamos embora para arrumar as coisas.

– Tirar os pontos? -- Perguntei confusa.

– Sim, você dormiu por quase uma semana. -- Disse ela.

Fomos para uma sala onde o médico tirou os pontos. Não doeu mas estava muito inxado. Logo fui para casa e arrumei as malas. Só queria dormir logo e ir embora daquele inferno.