- Sentem-se agora! - A professora entrou gritando na sala de aula. Seu cabelo branco estava preso em um rabo de cavalo. Vestia jeans e uma camiseta simples e como sempre nenhuma maquiagem cobria seu rosto de pele ressecada pela água salgada do mar. Mas só pelo fato de ter olhos azuis ela ficava mais bonita. Acontece que suas finas sombrancelhas loiras, boca fina e nariz grande a deixavam esquisita e amedontradora.

Depois de dar a palavra para que todos se sentassem e para que ela pudesse dar aula Gabriel me soltou, me deu um beijo na testa e foi sentar-se. Eu também fui. E fui feliz, apesar de ter saido do abraço mais confortável do mundo eu tinha ficado encantada com o beijo na testa. Antes de haver beijos na boca nos cinemas, até os amores mais intensos eram representados por beijos na testa e não há representação de carinho maior que essa.

Me sentei na carteira dura e gelada da sala e simplesmente fiquei em uma posição confortável para ouvir a professora falar durante cinquenta minutos até a próxima aula.

O ar que circulava ficou pesado. Tudo que eu via era fumaça. Onde estavam as pessoas? A única que via estava vestida de preto. Seus olhos eram brancos. Completamente, assim como a pele. "Agora não" pensei.

Quando ele abriu a boca eu realmente me assustei, essas coisas nunca tinham falado comigo.

- Oi, Alison - Ele deu um passo a frente, mesmo assim continuava a cinco passos de mim - não acha que está na hora de começar a desvendar o segredo que seus pais comentaram com você a dez anos atrás? - inclinou a cabeça para esquerda e voltou ao normal rapidamente -  com seu pai por perto eu não podia cobrar a sua preça mas sem ele e com tanta gente dependendo disso lá em cima eu tive a obrigação de vir aqui ter uma conversa com você, não é queridinha? Apresse-se ou seremos obrigados a tirar sua mãe de você também.

Fechei meus olhos com toda a força que eu tinha. Repetia na minha mente que aquilo não podia ser real mas logo começei a chorar. é lógico que aquilo era real. Eu não tinha nem uma pista sobre o segredo, sabe o quanto ia ser difícil para mim?

Levei minhas mãos até meu rosto e logo ela já estava molhada por lágrimas. Eu chorava alto e não conseguia deter meus pensamentos sobre o homem de preto.

Quando consegui me acalmar o bastante para abrir os olhos eu vi a professora e mais vinte e nove par de olhos me encarando com um ar assustado.

Eles viram? Eles viram o homem de preto e a fumaça? Ouviram o que le me disse? Se presenciaram o fato não pareciam dar a mínima e como é possível não ligar para o fato desse homem que desceu do céu - ou subiu do inferno - para ameaçar a vida da minha mãe? Além do mais, olhavam assustados para mim e não para o lugar onde o homem estava.

Eles não viram, cheguei a conclusão. Mas me viram chorar e provavelmente pensam que eu sou louca por chorar no meio da aula e "sem motivo nenhum".

A professora saiu da frente da lousa onde explicava a nova matéria e caminhou até a minha carteira. Quando me alcançou se agaixou. Sua cabeça ficou na altura da mesa.

- Está tudo bem? - Perguntou compreensiva.