Bifurcados - O Apocalipse Zumbi escrita por Cadu


Capítulo 7
Desígnios


Notas iniciais do capítulo

Quase 60 reviews em uma semana. Obrigado, obrigado e obrigado! Estou me esforçando para escrever capítulos maiores (como muitos estão pedindo) e estou conseguindo. O início é mais focado no cenário do edifício mas em breve sairão dali. Boa leitura =)



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Bifurcados - O Apocalipse Zumbi

Capítulo Seis - "Desígnios"


Mesmo após acordar com o corpo fatigado proporcianado pelo remédio, os olhos atentos, apesar de cansados, de Heitor fitam o errante que transita insatisfatoriamente no corredor em busca de um café da manhã.

— Se você quiser ir para o teu apartamento vamos ter que matá-lo.

— Uma hora ou outra vamos ter que fazer isso, não? Quanto antes, melhor. — Clarissa fita para o chão. — Mas como vamos matá-lo?

Enquanto pensa, Heitor esfrega as palmas nos olhos e vai em direção à cozinha. Em uma gaveta comprida uma coleção tremenda de facas para cortes na copa surge: todos os tamanhos, tipos e espessuras.

— Só podemos fazer isso se for com essas facas. Não tenho armas nesse apartamento, a não ser que você tenha. — A face ingênua e pueril de Clarissa denunciava que nem um canivete ela possuía. — As maiores são as melhores. São mais finas e tem mais precisão no corte — Heitor apanha uma delas e entrega-a para a menina. O instrumento culinário pesado parece não se encaixar em suas frágeis e delicadas mãos.

Para si pega uma com detalhes dourados para carnes finas, provavelmente usada apenas poucas vezes. Em direção a porta, lentamente eles se aproximam.

— Não temos tempo para criar um plano. Eu tento matar. Se não conseguir você me cobre. — Os olhos castanhos de Clarissa se arregalam e ela acena com a cabeça.

Com a respiração potente e adrenalina a flor da pele, Heitor destranca a porta e vira a maçaneta: O zumbi, branco, cabelos sujos e boca faminta, que está perto do elevador, vem mancando em direção a eles pronto para arranjar um banquete. Sua expressão morta é temível e seus dedos longos - os que uma pele seca envolvem - parecem ter movimentos próprios. Ele usa uma macacão, provavelmente um pintor já que está sujo de tinta. O prédio estava sendo pintado fazia algumas semanas, e provavelmente ele era um dos trabalhadores que tentava se refugiar ali. Com suas mãos aptas, Heitor penetra a faca no coração do errante, porém ele continua a caminhar. Repete o passo algumas vezes, mas nada acontece. Clarissa vendo que o morto estava prestes a abocanha-lo, já que estava desesperado, enfia a faca em seu lobo temporal. Ele cai ao chão rapidamente.

Os dois suspiram fundo ainda abalados. A sensação de serem assassinos ainda passa por suas mentes: A pior de todas as sensações. Clarissa engasga com o cheiro forte do morto e apoia-se na parede com a boca aberta. Suas roupas estão sujas com um líquido escarlate repugnante e entram no apartamento escuro da menina. Sentam-se nas cadeiras altas da bancada da cozinha e começam a planejar seus futuros próximos.

— O que nós faremos agora? Não podemos ficar presos nesse edifício para sempre. — Heitor indaga aflitamente.

— A noite passada pensei muito sobre o que iria fazer e decidi que vou ir atrás de meus pais. Mas não posso fazer isso sozinha. Você é o único que confio, e preciso da sua ajuda. Queria muito que você me acompanhasse, tanto que sei que não sobreviveria por muito tempo sem alguém ao meu lado.

Enquanto o silencio agoniza, Heitor engole a seco e pensa em seu destino. Sem família, poucos amigos desaparecidos e namorada provavelmente morta. Nada podia fazer a não ser ajudar uma pobre indefesa.

Eu vou com você. Vou te ajudar.

Seus dentes brancos se abrem em um movimento rápido e puxa uma mecha de seu cabelo negro para trás da orelha.

— Muito obrigada.

— Quando partiremos? — Heitor fita os olhos brilhantes.

— Quando você quiser. Não tenho compromissos — Clarissa ri de um jeito tímido.

— Amanhã antes de amanhecer vamos.

— O que devo levar?

— Roupas e comida. Acho que é o que precisamos. Tranque-se em seu apartamento, vou para o meu arrumar minhas coisas. Daqui algumas horas eu volto para te ajudar. — Heitor abraça Clarissa levemente com olhos fechados. Quando se abrem, um quadro de vidro com um arco está enquadrado na sala de jantar. As flechas estão ao lado, presas por pregos. Uma linda decoração. — Porque o arco na sua sala?

— Praticava bastante. Fiquei em primeiro lugar no campeonato nacional de dois mil e doze.

Heitor riu consigo mesmo pensado em Clarissa, a menina indefesa e fraca, segurando um instrumento tão grande apontando para um alvo.

— Ótimo! Nós vamos precisar dele.

— Desculpe-me, mas não pratico mais. — Clarissa fitou o chão.

— Por quê? Isso pode nos ajudar.

— Não se lembra das notícias daquele ano? Fui uma das mais comentadas de dois mil e treze.

— Mas, por quê? — Ela respira profundamente com uma feição triste.

— No ano de dois mil e treze, uma das competidoras, Gabriela Grando, apareceu morta no vestiário com uma flecha atravessada no pescoço minutos antes da competição começar. Alguma das outras oito competidoras roubou uma das minhas flechas e a matou. A culpada, é claro, fora eu já que a flecha tinha meu nome. Mas sei que não fui. Fique me culpando por anos sobre o que aconteceu, mesmo tendo certeza que nunca fiz mal para ninguém. Tentei provar que era inocente mas estava no banheiro bem na hora. Não tive como me livrar do peso em minha consciência. Meus pais pagaram a fiança, e desde aquele dia nunca mais me encostei a um arco.

Heitor olha assustado para Clarissa, a qual tinha olhos cheios d’água.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Esse capítulo teve poucos errantes, mas o próximo estará repleto. Posto o próximo capítulo com 7 reviews.