No funeral, encontrei Hiroshi e os outros rapazes do X Japan. Eu estava devastada e enquanto cumprimentava-os, vi as fotos dele e suas guitarras em fila. Senti minhas pernas enfraquecerem. Segurei no braço do Hiroshi, com medo de desmaiar; não queria acabar fazendo uma cena. Hiroshi sorriu tristemente para mim, me ajudando a ficar de pé.

Senti um nó na garganta ao ver a namorada do hide se aproximar de mim, sua aparência tão horrível como a minha devia estar. Os rapazes nos olharam com expressões preocupadas; Ela parou na minha frente, olhando em meus olhos... E, reconhecendo nela o olhar da dor que nós duas compartilhávamos, nos abraçamos, enquanto chorávamos uma perda que nós duas sabíamos que não poderíamos suportar.

*Flashback #4* - Três anos antes da perda.

Depois que nós acabamos, deixei o Japão para recomeçar em outro país. Viajei por alguns deles até encontrar um novo lar em Los Angeles, na Califórnia. Mesmo assim, minha família inteira ficou no Japão e ter sido escolhida como madrinha para o casamento de uma das minhas irmãs logicamente significava que eu teria que voltar.

Eu nem me importei em perguntar os detalhes do casamento. Tudo em que eu conseguia pensar era que o hide provavelmente estaria lá; Eu tinha que evitá-lo. Foi até fácil no início, pois quando eu cheguei nem sequer tive tempo de descansar. Misao - a noiva -, eu e mais um monte de amigas fizemos uma ‘despedida de solteira’ e no outro dia passamos o quase todo o tempo em salões de beleza, nos arrumando para a cerimônia.

“Você devia casar com o Yoshiki, Misao.” Yui, nossa irmã mais nova, comentou, vendo Misao corar um pouco. Eu comecei a rir, sabendo que o Yoshiki tinha uma quedinha secreta pela Misao.

“Não seja tola, Yui-chan. Estou muito feliz com meu noivo, hm. E aquele baterista lá não tem nada a ver comigo, além de ser casado com o mundo, já.” Ela brincou, piscando para nós.

“É, faz sentido...” comentei, vendo enquanto pintavam as minhas unhas.

“E você, Satori? Achei que fosse ficar com o hide, hm...” Misa comentou.

Sorri um pouco, lembrando. “Eu também... mas as coisas não deram certo. Aposto que já até me superou.” Eu ri um pouco, tentando disfarçar a tristeza.

“Não mesmo...” ouvi a Yui dizer, mas fingi não ter notado. Não queria insistir em algo que não tinha futuro.

Mais tarde, quando chegamos ao templo aonde o casamento aconteceria, lembrei de perguntar algo importante.

“Misao, quem é o seu padrinho?”

“Ah, Satori, é o... Oh, aí está ele.” Ela sorriu divertida, apontando para alguém atrás de mim. Quando me virei, vi o hide, me parecendo perigosamente atraente em roupas formais, me olhando surpreso.

“Ah...” Sussurrei nervosa. “Oi, Hideto...”

“Oi Satori.” Ele retrucou, me olhando nos olhos.

Ficamos um tempo assim, apenas nos encarando, até que a Misao interrompeu, falando maliciosamente.

“Não deixem a tensão aparecer, queridos... Poderia ser constrangedor.” Ela riu, saindo da sala e deixando-nos a sós.

Senti meu rosto pegar fogo, evitando olhá-lo nos olhos. Podia sentir seu olhar em mim.

“Está linda, Satori-san.”

Olhei em seus olhos ao ouvir o tom formal da sua voz, sentindo um aperto no coração.

“Você está muito bonito também, Hideto.”

Ele apenas fixou o olhar em mim e o tempo pareceu parar novamente. O vi se aproximar, parando do meu lado e olhando pela janela que estava atrás de mim.

“Senti sua falta.” Ele disse simplesmente, olhando para mim pelo canto dos olhos.

Senti as tais batidas do meu coração virem a todo vapor, fechando meus olhos para pelo menos tentar pesar direito. Eu tinha deixado o Japão para crescer profissionalmente e o hide não aceitou bem a minha decisão; acabamos nos separando da pior forma possível, e não nos falávamos desde o ocorrido, quase um ano antes.

“Também tive saudades...” sussurrei, olhando nos seus olhos âmbar.

Seu olhar era tão intenso e exigente... E meu coração batia tão forte que achei que fosse sair por minha boca a qualquer momento. Assisti-lo chegar perto, sem tirar os olhos dos meus, roçando os lábios nos meus em um selinho inocente. Soltei a respiração que nem sabia estar segurando; O segurei pela gravata, puxando-o ainda mais perto, mas fomos interrompidos por ninguém menos que o Yoshiki, que tinha um sorriso enorme no rosto, satisfeito de nos ter pegado no flagra e se desculpando cinicamente pela interrupção, mas avisando que já deveríamos estar lá dentro, perto do altar.

Soltei a gravata imediatamente, envergonhada. Passei rapidamente pelo Yoshiki, querendo tirar aquele sorriso idiota do rosto dele. Hoje, me lembrando, penso que foi mesmo uma situação engraçada...

Depois da cerimônia, fomos para a festa dos recém-casados. Não demorou para que eu sentisse sua presença ao meu lado. Olhei para ele, ainda nervosa, e ele sorriu aquele riso adorável, do mesmo jeito do que quando nos conhecemos. Derreti instantaneamente, gesticulando para que ele se sentasse ao meu lado.

“Então... Como você está? Você parece ótima, como vão as coisas em L.A.?” Ele puxou assunto, enquanto pedíamos nossos drinks.

“As coisas estão indo muito bem... Estou bem, mesmo.” Respondi, sorrindo. “E você? Soube que X realmente estourou...”

“É, tem sido incrível... Estamos nos divertindo muito.” Ele sorriu, com os olhos brilhando. Ele realmente amava o que fazia, e aquilo me inspirava.

“Isso é ótimo, hide. Eu sempre soube que vocês iam conseguir...” Comentei, rindo. “Também gostei do que fez com seu cabelo, hm.”

“O que, você prefere curto assim?” Ele corou, passando uma mão pelas mechas rosa.

Sorri, achando-o lindo como sempre. “Fica bem de qualquer jeito, hide.”

Ele me olhou, suspirando. “Quando você vai embora?”

Fiquei quieta por um instante. “Em uma semana, provavelmente.”

“Sei... onde está ficando?” Ele disse, me olhando nos olhos.

“hide...” Suspirei, sabendo onde aquela conversa ia parar.

“Fica comigo.” Ele me interrompeu, segurando minha mão e beijando-a “Como nos velhos tempos... por favor...”

“Meu Deus...” sussurrei, passando os dedos por sua bochecha “hide, a gente não devia...”

“Porque não? Está comprometida?”

“Não...”

“Então? Não tem nada de errado... Fique comigo esta semana.”

“E depois, quando a semana acabar? Como acaba, Hideto?” Murmurei, olhando-o nos olhos.

“A gente pensa nisso quando for a hora.”

Meu coração gritava desesperado que eu deveria aceitar, mas minha mente ainda relutava. Fechei os olhos, pensando.

“Então, qual sua resposta?” Ele continuou, beijando-me no canto da boca e olhando em meus olhos, esperando a resposta.

“O-okay.” Respondi, rendida. Não consegui resistir àquele olhar e ao meu coração.

Passei a semana com ele no apartamento onde costumávamos a morar; Depois outra semana... E mais outra. Mas, no fim da quarta semana, acordei bem cedo, juntei as minhas coisas e, chorando, o deixei de novo, enquanto ele dormia pacificamente em nosso antigo quarto.

*Fim do flashback #4*