Illusions escrita por Cami


Capítulo 2
Amizade


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Tive que ficar estudando muito! E ainda demorarei mais um pouco para postar o próximo capítulo... Mas quando eu entrar de férias eu vou postar com mais frequência, juro!



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Acordei exatamente um minuto antes do que deveria. Eu ainda estava meio sonolenta e desligada do mundo então pode-se dizer que eu quase caí da cama quando meu despertador começou a tocar.

Nem estava tão preocupada sobre o pesadelo, afinal, tenho esse tipo de sonho todas as noites. Mas esse foi... diferente. É, certamente foi diferente. Resolvi deixar isso pra lá e me levantei da cama, mas no momento em que apoiei os dois pés do chão, parecia que eu estava segurando o mundo nas minhas costas. Eu sentia dores na coluna e minha cabeça estava fervendo. Deixa de ser fraca, vai tomar um remédio e não reclama, falei para mim mesma em pensamento. Posso parecer meio dura comigo mesma, mas não tem outro jeito.

Desci para tomar um remédio e tomar meu café, voltei para meu quarto e me arrumei para a escola. Quando eu já estava pronta, me olhei no espelho. Suspirei. Era todo o dia a mesma aparência, todo o dia a mesma expressão cansada, as mesmas olheiras, a mesma falta de vontade de saber meu peso, o mesmo cabelo que nunca para no lugar... a mesma insegurança.

Suspirei novamente e saí de casa. Logo me vi em frente à grandes portões de ferro. Algo que odeio muito em mudar de colégio é que eu nunca sei se as pessoas de lá vão me aceitar pelo o que eu sou ou se vão me excluir completamente. Nos últimos anos as pessoas optaram na exclusão, então imagino que nesse colégio seja a mesma coisa.

Empurrei os portões e já me preparei para todos os olhares em cima de mim. Mas isso não aconteceu. Todos continuaram conversando, como se eu fosse invisível. Parte de mim se aliviou com isso, mas a outra parte (a menor e mais estranha) queria gritar para chamar a atenção de todos ali. Parei de reparar nas pessoas e resolvi reparar mais no local aonde eu ia estudar. Meu queixo caiu. Aquele colégio era um castelo, uma réplica de Hogwarts! Saí andando pelo pátio e olhando para todos os lugares, menos para frente, o que resultou em alguém esbarrando em mim.

– Foi mal, eu estava distraída!

– Olha por onde anda!

Falamos ao mesmo tempo. Logo reconheci que havia acabado de esbarrar em Hugo.

– Hugo!

– Louise!

Dissemos novamente ao mesmo tempo e rimos.

– Ainda bem que esbarrei em você, não queria ter esbarrado em um completo estranho e chamar atenção. – comentei

– Relaxa, chamar atenção aqui é uma coisa muito difícil, pras pessoas você meio que não existe.

– Ainda bem! – exclamei aliviada, o que o fez rir

– Em que sala você ficou?

– Sala 3C... você sabe onde fica?

– Sei, é minha sala também!

Meu sentimento de alívio só aumentou. Pelo menos eu não ficaria sozinha!

– Vem, vou te mostrar como as coisas funcionam por aqui. – ele disse, me puxando pela mão

Ele ia apontando para cada grupinho descrevendo tudo e me mostrando todos os lugares até o sinal bater.

– Agora chegou a hora de te mostrar o zoológico... digo, a sala de aula.

Ri com a piadinha dele e ele me guiou até a sala. De novo foi me falando de todas as “panelinhas” até o professor de física chegar.

A manhã passou normalmente até a última aula, quando a professora de literatura percebeu que eu era novata e disse para eu me apresentar à todos no meio da sala. Apresentação. Essa é a palavra mais amaldiçoada pelas pessoas tímidas. Enfim, a apresentação era um tipo de entrevista, aonde os alunos faziam perguntas e eu tinha que responder. Passamos a aula inteira nisso e até que foi divertido.

– Bom alunos, a aula vai acabar em pouco tempo então só temos tempo para mais uma pergunta. – Marie, a professora, anunciou

Uma mão se estendeu lá no fundo da sala. Como eu estava sentada em uma cadeira na frente de todos, eu não conseguia ver a cara da pessoa direito. Pela voz, era um garoto:

– Você não gosta muito de chamar atenção, não é?

Me levantei para responder e para ter uma visão melhor da cara do garoto, mas logo me arrependi. O garoto era idêntico ao menino do meu pesadelo.

Respondi um “não” meio trêmulo e o sinal bateu.

Fiz questão de sair às pressas da sala, nem esperei Hugo. Passei pelos portões de entrada e saí andando pelas ruas que eu conhecia muito bem. Você deve estar pensando que eu estava indo para casa. Não. Eu estava indo para o meu refúgio.

A mais ou menos duas quadras da minha antiga casa, havia um cemitério. Mas não era um cemitério como aqueles de contos de terror. Era um bosque, todo verde, com muitas flores, um grande lago, pássaros, borboletas, árvores e alguns túmulos no fundo. Um lugar relaxante. Também aproveito e dou uma passada no túmulo de minha mãe, se bem que ele é só um memorial, pois o corpo dela não foi achado, então não havia nada para enterrar.

Me sentei em um balanço que ficava pendurado no galho de uma árvore e tirei meu diário e uma caneta da minha bolsa.

Em vez de escrever sobre o meu dia, fui até a última página e comecei a escrever uma história.

Era uma vez uma garota. Tudo o que ela queria era ser perfeita.”

Ouvi passos e logo fechei o diário. No meu diário escondo todos os meus maiores segredos, todos os meus problemas. Prefiro confiar essas coisas à um caderninho do que à uma pessoa, pois com as pessoas é assim: 80% não dão a mínima e 20% ficam felizes em saber que eu estou mal. Me virei e vi ninguém mais ninguém menos do que Hugo vindo em minha direção.

– Você está me seguindo? – perguntei

– Não. Eu costumo passar quase todas as tardes aqui, só que pra lá, mais perto da floresta.

– Eu também frequento esse lugar quase todo dia. Como eu nunca te vi aqui? Deve ser por que eu não chego muito perto da floresta... – disse e sentei na grama

– Por que não? – ele se sentou ao meu lado

– Não sei... não vou muito com a cara daquela floresta... Prefiro aqui.

Ficamos em silêncio por um tempo, apenas ouvindo os passarinhos e observando as borboletas voarem para longe.

– Você já parou para observar as nuvens? – perguntei, já me deitando

– Na verdade não... – ele se deitou curioso ao meu lado

– Quando observamos atentamente as nuvens, parece que elas tem formas. Como por exemplo aquela ali, que parece um navio! – falei, apontando para o céu

– Ou aquela, que parece um gato! – ele disse, apontando também

Ficamos um bom tempo assim, deitados na grama, apontando para as nuvens e dizendo com o que elas parecem, até que nos cansamos e permanecemos em silêncio.

– Quem te mostrou isso? Digo, quem te fez parar para olhar as nuvens?

– Logo depois da morte de minha mãe, meu pai vinha aqui comigo e com a minha irmã todos os dias para tentar fazer nós duas esquecermos a tristeza por algumas horas... Acho que ele também tentava esquecer a própria tristeza... Enfim, um dia, minha irmã teve que passar a tarde no colégio dela, então vim sozinha com meu pai, e ele me perguntou: “Louise, você já parou para observar as nuvens?”. Desde então, observar as nuvens havia virado uma brincadeira só minha e dele, até que ele se casou com minha madrasta e arranjou outro emprego... Agora ele nunca tem tempo.

– Você é uma pessoa muito sozinha, não é?

– Pode-se dizer que sim...

– Bom, agora não é mais, pois agora tem a minha companhia e a de Fleur.

Deixei escapar um sorriso.

– Vocês dois são meus primeiros amigos...

– Como assim? Você nunca teve nenhum amigo? – ele perguntou, incrédulo, virando o rosto para mim

– Não... não sei como esse negócio de amizade funciona direito. – virei meu rosto para ele

– Então eu vou te mostrar! Vem comigo. – ele disse, se levantando e estendendo a mão para mim

Também me levantei, dei a mão para ele e ele me puxou até a floresta.

– H-hugo... a floresta? Não sei se é uma boa ideia...

– Relaxe, o que eu vou te mostrar está além da floresta, a mesma é apenas um atalho. E você está comigo, não vou deixar nada de ruim te acontecer. – ele passou o braço sobre meus ombros, me abraçando lateralmente

Andamos pela floresta conversando sobre coisas aleatórias até que quando estávamos quase no final, ele pediu para eu fechar meus olhos. Fechei-os e ele me guiou até um local fora da floresta.

– Pode abrir. – ele disse

Abri os olhos e... ai meu Deus! O lugar até onde ele me levou era um verdadeiro paraíso! O sol iluminava todos os cantos, os pássaros cantavam alegremente, havia muita grama e árvores baixas, e um lago muito maior do que o do local aonde eu frequentava! E as flores... rosas, rosas de todas as cores possíveis! Rosas sempre foram minhas flores favoritas!

– Esse é meu paraíso. – Hugo disse

– Eu amei esse lugar!

– Se você quiser, pode frequentá-lo também, afinal, não sou dono disso, apenas descobri.

– Sério? Muito obrigada, Hugo, você é o melhor!

Ele sorriu em resposta.

– Você gosta de brincar de pique esconde? – ele perguntou

– Claro!

E passamos o resto da tarde agindo como se fôssemos duas criancinhas de cinco anos de idade.

Depois disso, o dia continuou perfeito. Observamos o sol se pôr e ficamos por quase uma hora contando as estrelas no céu. Teve até uma hora em que Hugo começou a contar apontando para cada uma delas, e apontou para mim! Rimos muito o dia inteiro e ele me fez esquecer de todos os meus problemas... era como se só eu e ele existíssemos.

Cheguei em casa com um sorriso no rosto... isso é meio que raridade. Ao me perguntarem como foi meu dia, eu não consegui dizer “bom” como eu sempre digo (o que na maioria das vezes é mentira). Bom era pouco. Perfeito era pouco. Acho que esse foi o melhor dia que eu já tive na minha vida, sem exagero. Eu não ouvia mais nada do que meu pai, minha madrasta ou minha irmã diziam, apenas ouvia o canto dos passarinhos e a voz de Hugo em minha cabeça. Segui dançando até meu quarto, caí na cama e, mesmo sem ter jantado, caí no sono. E nessa noite eu não tive nenhum pesadelo.



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Notas finais do capítulo

Deixem reviews para eu saber o que vocês estão achando da história! 2 reviews para o próximo capítulo.