Zero ignorou a pessoa que o chamou e continuou fazendo o que fazia.

-Professor! – a pessoa se aproximou.

-O intervalo já vai acabar, volte para o pátio e fale comigo depois. – Zero permaneceu de costas para a pessoa.

-O que eu tenho para falar tem que ser agora, eu não posso esperar a sua boa vontade de me atender.

Zero se virou e ficou surpreso ao ver quem era e disse:

-Pensei que viesse junto com os outros alunos para se inscrever.

-Veio muita gente, quis esperar o tumulto acabar.

-No começo realmente tinha muito tumulto, mas eu dei um jeitinho para organizar tudo. – Zero riu ao se lembrar do que fez.

-O que você fez? Usou essa espada que está nas suas costas? – Elesis achou graça.

-Sim.

-... – Elesis ficou espantada com a resposta do professor. – Tá né...

-Bem, vai falar o que quer ou vai ficar me olhando assustada?

-É... Eu vim me inscrever.

-Sério?! Não me diga! – Zero falou ironicamente.

-Professor, eu não quero lutar no grupo que, na regra, eu tenho que lutar. – ela falou sério.

-Como assim? – agora Zero parou de brincar e também ficou sério.

-É... Como eu vou explicar? É que tipo... Eu sou menina...

-Percebo. – Zero colocou a mão sobre a boca.

-Eu teria que lutar no grupo feminino, certo?

-É Elesis, isso está mais que óbvio.

-Pois é... – ela coçou a cabeça – Mas eu não quero lutar no grupo feminino, eu quero lutar no grupo masculino.

-O QUE?! – Zero deu um passo para trás.

-É... Simples não? – a ruiva sorriu.

-Não! Não é simples! Você é uma menina e sendo menina, não pode lutar contra os meninos, porque meninos são meninos e meninas são como você que é menina. E isso está me deixando confuso!

-Não tem nada de confuso. Eu só quero entrar no time masculino.

-Por quê?

-Porque... Ah! Sei lá... – Elesis falou da forma mais natural e calma.

-Como assim “Sei lá”? Eu preciso saber o porquê! – Zero começou a ficar sério e a ruiva começou a falar sério também. Mentindo é claro.

-Bem, eu acho que... – Elesis olhou para cima e depois para o professor – Minha forma de lutar se encaixa melhor na luta masculina.

-Eu sei que você é forte, mas são regras do campeonato e seria irresponsabilidade minha deixar você fazer essa loucura.

-Eu não posso lutar no time feminino! – Elesis se estressou.

-Você nem sabe o nível de luta das meninas do outro colégio.

-Não importa! – a ruiva não conteve a raiva e estava determinada a fazer o que pretendia.

-Eu acho melhor você se acalmar. – Zero a encarou.

-Desculpa... – Elesis respirou fundo e continuou – Eu só quero que você me deixe lutar, o que vai acontecer durante a luta será responsabilidade minha e ninguém irá saber.

-Como assim ninguém irá saber?

-Eu vi algumas roupas no armário enquanto levava os coletes no dia do castigo. Elas são bem discretas, só dá para ver o rosto, mas tem como deixar apenas os olhos a vista.

-Você pensou em tudo para me convencer, não foi?

-Mais ou menos. Mas estou conseguindo?

-Continue com os seus argumentos. E não, você não vai me convencer. – Zero sorriu.

-Não tenha tanta certeza, professor. – Elesis também sorriu.

-Tente então.

-Você viu como sou impaciente e como gosto de bater, sou forte e determinada, não sou de pensar e sim de agir, uso minha raiva ao meu favor. Isso não se encaixa no perfil de uma luta feminina, não acha?

-Você está certa, mas não cometerei essa loucura de permitir que você lute com os meninos que... – Zero foi interrompido.

-Que são mais fortes que eu?! Você acha isso?! Pois te mostrarei o contrário. – Elesis respirava rápido.

-Hã?

-Lute comigo. – a ruiva falou num tom sério e frio.

-Quanta imaturidade. Realmente você só age sem pensar e isso nem sempre é bom. – Zero deu as costas e foi para perto de alguns equipamentos.

Elesis não gostou do fato do professor tê-la deixado falando sozinha, ainda mais depois de tê-lo desafiado.

-Sei que é forte o bastante para me derrotar, mas sei também que suará para conseguir isso. – a ruiva o provocou, mas mesmo assim ele não fez nada.

-O sinal irá tocar, vai embora e esqueça isso. – Zero falou sério.

-Não vou embora, não me importo com o horário!

-Você não se importa com nada!

-É claro que me importo! – a ruiva estava começando a ficar com raiva daquilo.

-Com o que então? Porque tudo o que eu falei você só falou que não se importa. – Zero estava tentando fazer com que ela desistisse daquilo, mudando de assunto.

-Eu me importo com... com... – Elesis abaixou a cabeça, estava com raiva da pergunta do professor.

-Com você? Sim! Só com você. – Zero virou na direção dela, ainda distante.

-É claro que não! – Elesis olhou para ele - Eu me importo com todos que amo e sempre irei protegê-los, me importo com a honra e o respeito que carrego em meu nome e em minha espada! Eu não luto até o limite, eu o ultrapasso.

-Gostei... – essa foi a única palavra que Zero disse.

O professor segurou a Grandark e correu numa velocidade assustadora. Elesis ficou assustada e parada. Ele empunhou a espada e ameaçou cravá-la no chão.

-O que está fazendo!? – a ruiva estava completamente paralisada com aquela situação.

Zero apenas sorriu, ainda segurando a Grandark quase deu um corte no braço da ruiva que apenas sentiu um vento fraco feito pela espada que passou por poucos centímetros dela.

O professor ficou sério e abaixou a cabeça.

-Você não está preparada.

Essa frase fez Elesis se lembrar do desafio que fez ao professor.