(Continuação…)

Naquele deposito cheio de caixas, e sabe-se lá que mais. Jimmy tocava meu corpo, como se eu fosse vida, e ele fosse um corpo sem alma, querendo com todas as forças restantes encontrar um caminho para viver novamente.

Minhas mãos estavam embaixo da camiseta dele, tocando o corpo quente, que ele tinha. Eu estava sentada sobre caixas com algum conteúdo duro o suficiente para me manter firme ali. Mas a ultima coisa que me interessava era se tinha algo quebrável lá dentro.

Jimmy beijava minha pele, e eu sentia como se fosse sair do próprio corpo a qualquer momento. Acho que fiquei com boa parte da pele das costas dele nas minhas unhas, quando ele decidiu morder meu pescoço exatamente onde eu mais temia. Meu cantinho secreto, que ninguém jamais soube achar. Era onde eu sentia uma leve dor, mas esquecia dela completamente, devido à sensação de êxtase que tomava conta de todo corpo. Não podia acreditar que entre todos os rapazes com quem sai, Jimmy era o único que parecia saber exatamente como virar minha cabeça do avesso. (não que eu tivesse saído com muitos)

Meu vestido estava praticamente com todos os botões abertos, e com a alça caída nos ombros. E a parte que deveria cobrir minhas pernas, ou parte delas pelo menos, estava de férias na patagônia! Eu havia deixado o telefone de Jimmy sobre a mesma caixa onde eu estava sentada. Por um momento, coloquei minha mão sobre ele, e o toquei no chão sem querer, como se não pudesse controlar meus dedos.

Isso me fez ter um estalo, me trazendo para a realidade dos fatos. Quando Jimmy, estava prestes a colocar uma das mãos, na parte interna da minha virilha, eu quase dei um grito:

-Não! –ele me olhou assustado, como se meu não, fosse um aviso de cerca elétrica no local-

-O que foi? –perguntou ele com os olhos arregalados e com a boca entre aberta-

-Não posso fazer isso! –eu pulei de cima da caixa, puxando meu vestido pra ajeitá-lo no lugar-

-Foi alguma coisa que eu fiz? –ele disse todo fofo-

-Eu não posso Jimmy, eu não sou assim. –disse fechando os botões do meu vestido, Jimmy estava todo descabelado, mas tava lindo mesmo assim- Essa definitivamente não sou eu... Não tá certo... –me virei de costas pra ele pra pegar meu sapato do chão-

-O que não tá certo? –ele permanecia boquiaberto pela minha mudança de comportamento repentina-

-Eu não costumo fazer isso. Não sou esse tipo de garota... Não sei por que to fazendo isso... Tá tudo errado... –vish começou a me bater um desespero medonho-

-O que tem de errado em voce ficar com alguém que voce gosta?

-Voce Jimmy... –me aproximei tocando o peito dele- Voce é tudo de errado... Eu não deveria ficar com voce.

-Tá falando isso por causa do seu pai?

-Do meu, do seu. Da minha madrasta. Sua prima, sua avó, tia, até seu cachorro... A família completa. Mas não é só isso...

-O que é então? –ele revirou os olhos colocando as mãos na cabeça-

-É voce! Eu não costumo agir assim com ninguém. Não mesmo... Mas basta voce aparecer, e pronto. Meu juízo pega o primeiro vôo pra Lisboa e bye, bye. Isso não tá certo... Não tá... –me virei e tentei calçar meu sapato-

-Valerie, eu não vejo voce como uma garota qualquer, se é isso que te preocupa... –disse ele tentando me convencer-

-Ótimo, por que eu não quero que voce comece a ver...

-Por que tá fazendo isso?

-Eu vou pra casa... E eu não quero mais que voce me procure... –andei ate a porta-

-Valerie não faça isso... –disse Jimmy-

Olhei pra ele da porta, e só Deus sabe como era difícil abrir aquela porcaria e ir embora. Voltei rápido até ele, e o beijei... Beijei e falei ao mesmo tempo:

-Eu não quero... –o beijei de novo- Mas eu não posso ficar. Por favor, Jimmy... Não me procura mais... –o beijei mais uma vez, e filho da mãe, por que era tão difícil ir embora?- 

Mesmo com todo meu corpo, tentando me sabotar, me segurando ali dentro, me puxando feito um imã de uma tonelada pra perto de Jimmy, eu consegui ir ate a porta e abrir a mesma. Sai correndo como se fosse apagar um incêndio em uma maternidade, e quase derrubei um casal que passou por mim no corredor. Devem ter pensado que eu era louca. E certamente estavam certos.

Encontrei Morgana e Serena logo em seguida. E ambas notaram minha histeria.

-Credo garota, vai tirar o pai da forca? – disse Morgana-

-Não, mas quem vai acabar em uma creio que serei eu...

-O que ouve? Voce sumiu depois daquele telefonema.

-De que se tratava Valy? –era como Serena me chamava-

-Não creio que vocês vão entender...

-O Caraleo que não... –disse Morgana provavelmente já de saco cheio de tanta embolação- Desembucha. Tem alguma coisa a ver com aquele Jimmy né?

-Dá pra gente fala sobre isso no caminho pra casa?

-Tudo bem, nós vamos dormir lá mesmo, e ai voce conta toda historia.

Assim voltamos pra minha casa. Passamos o jantar inteiro em silencio, as três como se tivéssemos cometido um crime e enterrado o corpo debaixo da mesa. Mesmo que elas tivessem comigo desde a tarde, eu não abri o bico sobre o assunto. Queria ter certeza de que a Xareta da minha madrasta não ia ficar ouvindo tudo por trás das portas. Depois do jantar, como ela e meu pai sempre faziam, decidiram sair para ir até o cassino, onde ele jogaria carta com os amigos e ela ficaria com as amigas más dela, em uma danceteria no mesmo local.

Aproveitamos pra descer até a piscina e conversar sobre tudo lá mesmo. Apesar de não querer falar sobre o assunto na frente da Serena, por que apesar dela ser confiável, era muito tonta, e sempre falava mais do que a própria boca, mesmo não fazendo por mal. Acabei falando mesmo assim, eu precisava contar tudo aquilo pra alguém ou ia ficar louca. Serena ficou toda empolgada, esquecendo o pequeno detalhe que se meu pai descobrisse seria capaz de mandar matar o Jimmy.

Mas logo caiu na real. Morgana me veio com o famoso: “eu te avisei pra não falar com ele, mas voce nunca me escuta” e blá, blá, blá... Ate parece que ela nunca tinha feito algo parecido. A diferença era que a família dela era normal. A única doida era ela.

De qualquer maneira já foi um alivio poder contra tudo pra elas. Na beira da piscina, enquanto ouvíamos musica, eu me deitei no colo da Morgana, e quase chorei.

-Por que eu me sinto assim? –eu dizia- Eu não sei nada sobre ele, mas sinto como se não pudesse mais viver sem ele.

-O que vai fazer agora? –disse Morgana mexendo no meu cabelo-

-Eu não sei... Mas não posso mais vê-lo...

-Devia mandar seu pai a merda e ficar com o Jimmy. –disse serena irritada-

-Deixa de ser besta garota. –disse Morgana- Como ela vai mandar o próprio pai à merda? Ate parece que não conhece o sujeito...

-Ele me mandaria pra um convento...

-Difícil! Com esse fogo todo que voce disse que sente por esse Jimmy, não ia sobreviver uma beata pura no local! –Morgana tentou descontrair pra me ajudar-

Todas nós rimos...

-Preciso dar um jeito de esquecê-lo... –disse desanimada-

-Agente vai te ajudar... –disse Morgana me abraçando-

-Vamos sim! Agente tá do seu lado! –Serena tambem entrou no abraço-

-Não voce tá em cima dela, e de mim tambem! –disse Morgana brincando- Ta com o joelho na minha panturrilha...

-Desculpa, não mando voce ser espaçosa! –serena-

-Te meto a mão garota! –ela riu-

Eu sorri, enquanto ficamos ali, falando besteiras abraçadas uma a outra. Praticamente acopladas!