Ratsel

Ela estava incrivelmente linda, parecia uma princesa, não, não, um anjo... o meu anjo, que estava sendo tomada por outro homem! E eu não podia, eu não ia aceitar isso. Tão repugnante seu olhar para ela, e ela, tão boa atriz... Como ela conseguia sorrir daquele jeito? Como se estivesse realmente feliz com tudo aquilo. Aquela cena me consumia por completo, ver minha Folinha ser gradualmente tirada de mim, e para sempre. Então eu me levantei do meu acento em um dos camarotes e desci as escadas, a raiva consumindo meu ser, foi com a ideia de impedir aquele absurdo que me vi entrar correndo no salão, gritando para que todos me escutassem:

“Parem esse casamento!!!! Ele não pode continuar!!! Parem esse casamento!!!”

Em questão de segundos todos me olhavam com curiosidade, querendo saber o que eu tinha de tão importante para impedir o casamento, é claro. Mas o meu plano impetuoso parava por aí. Na verdade eu não tinha plano nenhum, apenas o impulso de fazer aquilo parar.

“Qual seu problema Ratsel? Por que não posso me casar com Mac?”

Ouvir meu nome em seus lábios, com sua doce voz me deu uma nova motivação, e foi assim que comecei o meu discurso, para todos no salão ouvirem.

“Fola, Fola, você me fez uma promessa. Você prometeu que seria minha, e agora esta aí, casando-se com esse crápula, que insiste em tirar você de mim. Eu sei , minha cara que você não tem forças para se soltar dessas amarras que ele e sua família lhe impuseram, e é por isso que eu estou aqui, para te livrar desse sofrimento, desse futuro ingrato que lhe aguarda se você for obrigada a dizer ‘aceito’. Fola, por favor, me permita lhe salvar minha princesa.”

O salão foi tomado por um silencio mortal, enquanto Fola me olhava incrédula, e arrisco dizer, talvez com um pouco de nojo, mas isso se devia ao homem ao seu lado, já que ela não precisava mais esconder seus sentimentos. Então o silencio foi quebrado por sua risada meiga e contagiante, e assim todos estavam rindo. Ela parou e me olhou seria.

“Ratsel, eu nunca te prometi nada além de pensar em sua proposta. Eu pensei e a neguei, aceitei e aceito de bom grado a do senhor Mac Foster, e não há nada que você ou qualquer outro possa fazer ou dizer para me fazer mudar de ideia!”

“Mentira, você prometeu que não se casaria, você em disse que não queria casar, você prometeu...” minha voz começava a falhar, mas eu tinha que conseguir.

“Na época eu realmente não tinha o menor desejo de me casar, senhor Ratsel, agora tudo mudou, então ponha-se daqui pra fora e não nos perturbe mais com seu draminha de vampiro rejeitado.”

Ela se virou pra frente, e olhou para o celebrante, para que ele continuasse, mas eu fiquei ali por uns instantes e logo comecei a gritar negativas, para que ela me ouvisse e deixasse de lado essa ideia insana, foi assim que os guardas me levaram para fora e me deram de presente uma noite na cadeia.

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Hugh

Depois do show de Ratsel o casamento finalmente pode continuar, assim quando os dois trocaram os votos e as alianças, todos comemoraram, e um novo casal estava formado para o resto da eternidade.

A felicidade tomou conta do salão até outro vampiro entrar correndo e gritando.

“Todos a postos!!! Todos a postos!!!”

“O que houve dessa vez?” Eu precisava saber qual era a nova urgência.

Mas ele não teve tempo de responder pois no segundo seguinte estava com uma estaca de madeira cravada nas costas. Atrás de seu corpo surgiu uma mulher, que a julgar pelas roupas era uma loba, seu sorriso era vibrante, o cabelo e os olhos negros, felizes com sua conquista.

“Chegamos para a festa!”

Foi aí que o caos se instalou. Vampiros começaram a correr gritando por seus amigos e armas, lobos entraram atacando e matando todos que estivessem ao alcance das mãos. De relance eu vi Fola e Mac de mãos dadas correndo em direção a Argos e Artemisy, minha amiga chorava enquanto abraçava a mãe e o pai, depois ela e Mac correram para os fundos do salão e saíram pela passagem secreta, me virei bem a tempo de impedir o golpe de uma loba louca que pulou pra cima de mim. Segurei-a pelo braço e cravei meus dentes nela, ela definitivamente vai lembrar de mim pelo resto de sua vida. O seu gosto não era exatamente bom, mas também não era ruim, e tirar seu sangue lhe deixou tonta o suficiente pra que eu pudesse me defender de outros que pulavam em mim. E foi assim, sugando o sangue desses cachorros sarnentos, que eu sobrevivi até me cravarem uma estaca nas costas.

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Eloi

Eu corri o máximo que pude, mas não podia ir pelo mesmo caminho que eles, então eu dei a volta e cheguei na colônia a tempo de ver o caos se instalando. Quando entrei no salão, lobos e vampiros se engalfinhavam, a tropa já tinha trazido armas com balas de prata para todos que conseguissem chegar perto o suficiente para pegá-las sem receber uma estacada de madeira. Peguei logo quatro pistolas e fui atirando em todos que vi no meu caminho até que cheguei perto dos meus pais.

“Ah Eloi, que bom ver que você está vivo, meu filho, eu sempre soube que você não morreria na guerra...” Minha mãe estava feliz em me ver, mas não pode me dar muita atenção enquanto se desvencilhava de um lobo ou outro, entreguei para ela e meu pai duas das pistolas que peguei e os ajudei enquanto perguntava por Fola. Mamãe respondeu sorrindo afetuosamente, como se todos os seus problemas fossem se resolver com aquela resposta.

“Não se preocupe com sua irmã querido, ela está a salvo, fugiu com o marido. Foram em segurança para a colônia dele.”

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Fola

Quando a loba entrou no salão dizendo que tinham chegado para a festa senti meu sangue gelar, não que eu não soubesse que ia acontecer, mas ainda assim, não pude evitar. Olhei apressada para Mac e ele parecia nervoso também, ansioso por sair dali.

“Etoile...”

“Quem?”

“A que acabou de matar aquele vampiro.”

Fiquei parada analisando a morena de cabelos e olhos muito negros, que sorria vitoriosa enquanto se mexia de um lado para o outro distribuindo ordens para seu exército.

“Vamos Fola, não quero que eles me vejam aqui, não quero que eles me façam lutar ou que eles tirem você de mim, isso seria pior que qualquer outra coisa.”

“Temos que levar meus pais.”

Então corri até eles, não que eles estivessem muito longe, os lobos ainda não tinham chegado onde nós estávamos.

“Mãe, pai, vamos, temos que sair daqui.”

“Vá querida, vá para sua nova vida. Aproveite, nós vamos ficar bem, mande notícias e venha nos visitar, ok?” Eu senti as lagrimas começarem a correr pelos meus olhos.

“Mãe, por favor...”

“Fola, vá, eu e sua mãe vamos fica bem.” Assim, dando me um beijo na testa, meu pai me empurrou, encorajando-me a ir. Mac me puxou, mais do que ansioso para a saída dos fundos.

Não pude evitar as lágrimas escorrerem ainda mais. Corremos pelos corredores evitando qualquer curva que pudesse nos levar a um caminho mais barulhento, até chegarmos do lado de fora e corremos para longe, para o outro lado da floresta, longe de casa e mais longe ainda dos outros lobos.

Quando estava quase nascendo o sol achamos uma casinha abandonada e entramos, estava até consideravelmente arrumada, cheia de poeira e teias de aranha, mas a estrutura era íntegra, e não parecia que iria cair a qualquer instante. Fizemos uma pequena limpeza geral e ficamos lá, olhando para o nada, sem trocar nem uma palavra. Eu estava sentada em uma cadeira de madeira antiga, olhando para a janela, e ele no sofazinho no outro lado do cômodo.

“Nós vamos voltar não vamos?”

Olhei para meu marido para ver sua reação. Ele levantou e veio em minha direção, me puxou pelas mãos e me pôs de pé e me abraçou. Então para meu ouvido ele cochichou.

“É claro que vamos, um dia voltaremos para lá e mostraremos o quanto somos felizes, não importando as diferenças. Você irá ver sua família novamente, meu anjo, mas não poderemos morar lá para sempre , você sabe disso não sabe?”

Tirei minha cabeça de seu peito onde tinha me aconchegado e olhei para seus olhos que estavam entre o verde e o castanho.

“Sei sim. Vou sentir falta deles...”

E assim ele me pegou no colo,segurando-me pelas costas e por de baixo do joelho, me deu um beijo carinhoso na testa e me levou para o quarto improvisado, onde havia uma linda cama de madeira decorada em prata.