Até Anjos Morrem escrita por FoxFace


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :) E espero que goste desta one-shot



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Ela me obrigou a ir ao parque de novo.

Não vou reclamar. Eu até que gosto, apenas fico com vergonha. Lembro-me até hoje das palavras que ouvi de uma senhora conversando com seu marido.

Olha só, devem ter uns dezessete anos e ficam brincando no parquinho.

Bem, qual o problema de eu, um garoto de dezessete anos, e minha melhor amiga, Sam, de dezesseis, brincarmos de futebol com os molequinhos de dez?

Hoje estava chovendo. A maldita que se diz minha amiga me arrastou até o parque dizendo que chuva não mata.

Quando eu morrer de resfriado você vai se arrepender de dizer isso.

Ah, cala a boca. Eu estou te fazendo um bem tirando sua bunda preguiçosa daquele sofá revidou.

Oh, claro, você é um anjo que vem me salvar zombei.

Sou mesmo, seu bunda mole Eu fiquei calado, Sam sempre se aproveitaria da minha preguiça para me vencer nas discussões.

Sentamos no banco de pedra que ficava embaixo de um carvalho bastante torto esperando a chuva passar. Sam balançava as pernas, espirrando lama para todos os lados. Mandei parar, mas quem podia mandar em Sam?


Sam. Foi tão estranho quando nos conhecemos, eu tinha acabado de completar quinze e ela estava no fim dos seus treze anos logo indo para o quatorze. Estava lendo um livro de aventura nesse mesmo parque, nesse mesmo banco, ela apareceu ao meu lado e começou a ler comigo. Hã? Que garota abusada, eu pensei ao notar sua presença, digamos silenciosa. Ela continuou lendo mesmo depois de eu a olhar fixamente nos olhos com uma expressão indignada.

O que foi? Ah sim, você deve estar revoltado mesmo. Ele parece ser muito lento, né? Ela se referia ao protagonista do livro, mas eu nem me importei. Ela era idiota ou estava mexendo comigo? Aposto na segunda opção.

Não gosto de ler com alguém atrás de mim disse tentando deixar claro que não a queria aqui.

É chato, não é? Bem, ainda bem que não tem ninguém atrás de você, só eu, mas eu estou do seu lado Ela sorriu. Eu era pacifico demais para gritar com ela e mandá-la para outro lugar, então fechei o livro, o pousei sobre meu colo e fiquei vendo as crianças no parque.

Ah, eu queria ler mais seu tom soou triste.

É só comprar esse livro para você.

Ah não. Nem dá, eu estou sem dinheiro, só mês que vêm.

Seus pais te dão mesada? Se derem, então você já gastou tudo? meu tom de voz saiu surpreso. Ainda era dia 10 eu não sabia como ela poderia gastar dinheiro em tão pouco tempo.

Mesada? ela riu Isso é desconhecido para mim. Meu pai fugiu com outra e minha mãe não ganha o suficiente para manter eu, meu irmão e ela sobrevivendo por um mês. Eu trabalho e dou o dinheiro á ela.

Você não deveria estar trabalhando, então?

Ah, férias! Ela jogou a cabeça para e olhou para o céu Acabei de entrar nas férias do meu trabalho e da escola. Isso é maravilhoso, então vim para este parque respirar um pouco de ar puro.

Hã... Tá legal.

Se passou vários minutos. Pensei em nossa conversa, ela não tinha tempo para fazer coisas legais. Brincar, correr, ler um livro... É isso! Uma ideia lampejou em minha mente.

­ Bem, eu posso te emprestar esse livro se quiser Ela desviou seus olhos do céu e olhos para mim. Talvez seja porque ela ficou muito tempo olhando para o céu azul e iluminado ou porque estava surpresa de eu, um estranho, querer emprestar esse livro para ela, mas ela piscou os olhos várias vezes.

Sério? Você não vai ler?

Tudo bem, eu estava relendo ele.

Confia em mim? Ela aproximou seu rosto, a dúvida estava nítida. Eu pensei: E se ela sumisse com meu livro?

Confio As palavras fugiram de minha boca, mas não me arrependi. Ela agradeceu, fez até questão de fazer uma referência exagerada, eu ri. Ela estava indo embora quando me lembrei de acrescentar uma coisa Quando terminar me encontre na mesma hora, bem aqui Ela concordou com um aceno.

No dia seguinte ela apareceu, devorou todo aquele livro de 400 páginas em um dia, junto com o livro soube seu nome. Samantha, ou Sam como ela prefere.

***

Como você deseja morrer? Imprevisível como sempre, ela quebrou o silêncio que havia se instalado. Suspirei tentando achar uma resposta.

Dormindo. Sem dor nem sofrimento Virei meu rosto E você?

Não importa.

Diga. Prometo que não rio.

Ah, olha a hora disse olhando seu pulso... Está tarde. Até logo ... o pulso em que eu nunca vi um relógio. Ela foi embora rapidamente, quando me levantei para segui-la ela já tinha sumido.

Voltei para casa, esperei anoitecer e dormir. Naquela manhã eu acordei cobrindo meu rosto para me defender das almofadas que Sam sempre me joga quando acordo, ela fica lá esperando só para me acertar. Nada aconteceu. Olhei para meu quarto esperando uma nova pegadinha dela. Nada. Perguntei á minha mãe se Sam tinha chegado. Não, ela não tinha.

Corri até a casa dela e toquei a campainha, por alguma razão eu estava preocupado.

Talvez ela tenha pego um resfriado com aquela chuva. Talvez ela tenha pego mesmo... repetia, tentando me acalmar.

Sua mãe apareceu, uma senhora com uma cara cansada, mais baixa que Sam, que era mais baixa que eu. Seus olhos estavam inchados.

Oi. Sam está? perguntei, tentando manter a calma. Sua mãe enfiou o rosto em meu peito e me abraçou, chorando muito. Eu sabia o que tinha acontecido antes dela dizer uma palavra e me juntei ao choro.

***

Vamos? minha mãe perguntou.

Não. Pode ir, eu quero ficar mais um pouco. Minha mãe suspirou e foi embora.

Samantha tinha leucemia, a evolução da doença foi rápida demais para ser contida. O hospital público não tinha os equipamentos necessários para ajudá-la e sua família não tinha dinheiro para pagar um hospital particular. Ela morreu dormindo. Suspirei, bastante infeliz. Dormindo. Saboreei a palavra em minha cabeça. Sem dor nem sofrimento. Por um instante me senti um pouco melhor.

Estava em frente à sua lápide, sozinho. Sua mãe desmaiou no meio do enterro e a levaram ao hospital, o irmãozinho de Sam perguntava para todo mundo o porquê de estarem enterrando ela. Coitado, só tinha cinco anos. Eu deixei meu livro em cima de seu caixão para ser enterrado. Sim, o livro que eu a emprestei, que nos uniu e que nos transformou em melhores amigos.

Me lembrei da nossa última conversa. Como eu fiquei em dúvida de ela ter ido embora depois de dizer que não importava como ela gostaria de morrer. Não importava, porque seu destino estava traçado. Também me lembrei de como reclamei da chuva dizendo que ela iria me matar. Queria ter me calado se soubesse que quem morreria seria ela. Ela me chamou de preguiçoso e eu ironizei a chamando de anjo. Anjo. Ela era mesmo um anjo.

Suspirei, as lágrimas fugiam de meus olhos e se atiravam na terra onde um pouco mais abaixo havia o corpo de Sam.

Até anjos morrem.



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Notas finais do capítulo

Não imploro por comentários, mas não seria nada mau dar um.



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