Eu deitei a cabeça no peito dela e sussurrei a coisa mais óbvia de sempre.

–Eu consigo ouvir o teu coração.

Tum tum, tum tum, tum tum, tum tum, tum tum, tum tum, tum tum...

Eu olhei-a e ela sorriu. Pressionei meus lábios nos dela, depois deixei um beijo demorado sobre a cicatriz dela e encostei a minha orelha no peito dela de novo. Fechei os olhos ao toque dos dedos dela correndo meu cabelo, acariciando a minha cara. Eu respiro fundo, sinto que me derreto lentamente com estes sentimentos que palpitam em mim. Quatro anos, e parece que ela sempre esteve aqui. Como se ela nunca tivesse partido.

O coração dela parou uma vez... e eu vi tudo, mesmo na minha frente. Foi assustador e eu sempre lembrarei isso. Mas ela agora está aqui comigo. Viva...

A forma como o bater é tão rítmico, tão em tempo... A forma como o coração dela bate dentro do peito dela é mágica. O som mais bonito que já ouvi. Excepto, claro para as primeiras palavras da Alexis, mas isso é num contexto diferente. Eurefiro–me ao contexto amoroso. Eu sei que o coração dela bate assim rápido por minha causa. Ouvir e sentir o coração dela palpitando contra o meu ouvido é um som que eu nunca quero esquecer.

Como pode um som tão simples ser tão bonito?

Como pode um ser humano ser assim bonito como ela?

Procurei pela mão dela que estava mexendo no meu cabelo todo bagunçado. Beijei a sua palma e me deitei ao lado dela. Foi quando ela se arrastou para ainda mais próximo de mim, pousando a cabeça dela sobre o meu peito.

–Tem alguma bomba-relógio aqui dentro? - Ela brincou, comentando os meus batimentos cardíacos.

Ela tinha razão. O meu coração parecia uma bomba-relógio, pronta a explodir a qualquer segundo. Envolvi os meus braços em redor dela e a mantive firme contra mim. Eu não a quero perder. Na verdade, eu ainda não acredito que isto tudo aconteceu. Que isto tudo está a acontecer. Eu não quero fechar os olhos e acordar pela manhã e encarar a minha cama fria e vazia, percebendo que tudo não passara de um sonho. O melhor de todos os meus sonhos...

Dei-lhe um beijo no topo da cabeça e agarro-a com mais força, mas com cuidado suficiente para não a machucar. Ela apercebeu-se do meu (talvez irracional) medo e levantou a cabeça, os lábios dela desenhando a curva de um sorriso, assegurando-me num sussurro.

–Eu não vou a lado algum, bobo.

Depois senti sobre a minha boca os lábios mais suaves que os meus algum dia conheceram, no mais doce e sentido beijo que algum dia recebi. Fiquei traquilizado por saber que ela não ia a lado nenhum...

Talvez eu ainda não tivesse a certeza se isto era um sonho ou não, mas de qualquer das formas, ela estava nos meus braços, dormindo sobre o meu peito. Acaricei os cabelos e o rosto dela e ela adormeceu. Foi quando eu vi perante os meus olhos a beleza dela dormindo pacificamente. Deixei escapar um suspiro profundo, pensando que o meu coração explodiria a qualquer momento, tendo-a ali nos meus braços. É muito melhor do que como eu sonhei. Fechei os olhos, sendo embalado pela chuva que cai lá fora, sendo abraçado pelo calor dela e aquele cheiro a cerejas dela. Mas, sempre que sentia que estava perto de adormecer, eu arregalava os olhos, só para ter a certeza que ela ainda ali estava. E elaestava. De todas as vezes que abri os olhos. Ela dormia tranquilamente nos meus braços, parecendo que estava a ter a sua primeira boa noite de sono, que há muito não tinha.

Então fechei meus olhos e decidi finalmente me render ao sono também, sabendo que ela estava ali de verdade, e que ela não estava indo embora. Eu iria ter uma boa noite de sono como não tinha há muito também.

Lá fora a chuva parou e tempo acalmou. Agora, o silêncio reina dentro do quarto. O silêncio, as nossas respirações e os nossos corações batendo. Juntos, como um só...