Timidez escrita por Quididade


Capítulo 1
Timidez crônica.




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A menina dormia tranquila entre seus braços, vagando em seu mundo pessoal, perdida no aconchego do abraço. Respirava tranquilamente e mesmo inconsciente, memorizava aquele odor único do rapaz. Remexeu-se levemente ao sentir que ele se afastava e tão logo abriu os olhos, desorientada, praguejando o sol por acordá-la tão de repente de algo que parecia ser o paraíso.

Talvez de fato fosse. Estava morta. Faleceu enquanto pensava coisas obscenas no aconchego de sua cama e foi parar num quarto com aquele ser que fazia sua sanidade ir de 100 % a -100 em um nano segundo. Observou-o abotoar o jeans.

Alto, de cabelo desgrenhado e sem sinal de qualquer traço expressivo no rosto. Aquele era a sua “amizade colorida” de que? Dois anos? Talvez mais, ela é que não sabia disso ainda.  Ele caminhou até a cortina fechando-a melhor, temendo o que já havia acontecido, ela já estava acordada e ativa, pensando mil coisas em segundos.

A cabeça doía e tinha certeza que não era pelo esforço que fazia em se lembrar, um cheiro suave de bebida e algo mais pairando no ar, e as coisas de que tinha certeza ter guardado no armário espalhadas pelo chão. Tudo era peça de um quebra-cabeça que não estava conseguindo montar... Até tentar se pôr de pé.

Certo. Ela tinha certeza de que estava com seu jeans novo, tênis e a blusa que sua mãe havia lhe dado de aniversário, como pode estar sem nada agora?

Sentiu um peso sobre si e subiu o olhar somente para encontrar o dele. Um copo de vinho na mão, um sorriso sacana no rosto.

— Agora ela apareceu? — Indagou debochado, sentando-se sobre a cama.

— Ela... Quem?

— Sua timidez. Agora ela apareceu? — Sorveu a bebida e acariciou o queixo da menina. — Não pareceu que você tinha ontem à tarde.

Oh, certo... Ontem. Ela se lembrava disso. Arrumou-se às pressas e correu para o aeroporto para busca-lo e daí ficou até mais tarde para ajudá-lo a se organizar mais ou menos. A intenção era ir para casa no inicio, mas parece que algo desandou.

Talvez tivesse sido o fato de ele expulsá-la da casa. Ou então aquela vontade de simplesmente sorvê-lo em si e ser eternamente completa. Seja lá o que for, era algo nesse gênero doentio, que já foi responsável por muitas noites perdidas em suspiros, e das crises de bronquite que tinha, por pensar demais no que não devia.

Então tudo foi fazendo mais sentido. O vinho que ela abriu e o obrigou a tomar; As briguinhas idiotas durante a conversa; a ameaça de ir embora e o puxão. O cheiro de algo mais no ar... Claro que sabia o que era esse algo mais. E ele sabia que ela sabia, pois riu brevemente ao vê-la se esconder debaixo dos cobertores, confirmando o fato de que estava de volta. A timidez crônica. 


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