Drogo Stark, o Príncipe Bastardo

Drogo subiu em seu cavalo, um nobre animal que fora presente do tio Bran. Limpou o suor da testa, deveria ser o legitimo herdeiro do Trono de Ferro, mas detestava as terras que um dia deveriam ser suas, preferia o frio impassível do Norte onde crescera.

Seus olhos cinzas vagaram até o palanque da família real, se a vida fosse justa estaria ao lado deles, sentado com os pais como o príncipe que era. Mas infelizmente não era possível, ouvira da boca da própria mãe anos atrás, ele deveria permanecer Stark. Drogo sabia em seu coração que era um verdadeiro lobo, mas ainda assim magoava o fato de sua mãe reconhecê-lo como filho mas não legitimá-lo. Tentou não pensar na conversa que acabara de ouvir da rainha e seu consorte, Aegon. Tentou não sentir a dor insuportável que se alastrava em seu peito.

Não tinha nenhum amor pelo Trono de Ferro, não o desejava, mas ele era seu herdeiro de direito ou devia ser, porem suspeitava que a mãe tinha planos para que a irmão caçula, Rhaenar fosse seu sucessor, ignorando ele como o sempre o fizera, deixando-o esquecido no Norte. Apesar da magoa não conseguia ter raiva da família. Seu pai era Jon Targaryen, o Príncipe de Fogo e Gelo, Aegon O Conquistador renascido, Azor Ahai, entre outros tantos nomes; a mãe era a Rainha Daenerys, Nascida na Tormenta, A Não Queimada, A Mãe dos Dragões. Duas lendas, mas ainda assim pais amorosos, ausentes, mas carinhosos.

Ele podia contar nos dedos de uma só mão as vezes que podia se lembrar de ter visto os pais. A ultima havia sido há seis anos, a família real viajara para o Norte e ficara hospedada por uma semana em Winterfell, Drogo não fora informado do objetivo da Rainha ali, além de obviamente visitar seu filho, mas naquele dia...

Flahsback

– Seu tio já deve ter lhe contado, Drogo, as circunstancias em que vocês nasceu. – sussurrou a rainha enquanto eles observavam pela janela a pequena Rhaenys e o gêmeo Rhaenar brincando com Ghost.

– Apenas o que eles próprio sabia, Vossa Graça – respondeu Drogo com formalidade

– Quando estivermos sozinho eu sou apenas sua mãe, Drogo. Mas esse não é o ponto... Eu comecei minha conquista pelo Norte, mas assim que meus navios ancoraram em White Harbor, Rhaegal se libertou e escapou. Ninguém pode fazer nada, eu mesma montei em Drogon e o perseguir por dias, perdi seu rastro em New Gift, mas sabia que por alguma razão ele estava seguindo para o norte, e foi esse o rumo que tomei.

– Então a senhora conheceu o meu pai – adivinhou Drogo

– Sim – sorriu ela docemente com a lembrança – Assim que pus os olhos naquele que chamavam de Jon Snow tudo mudou, foi amor a primeira vista. Diziam que ele era um bastardo, um monstro que a morte rejeitara, mas quando olhei em seus olhos violetas, senti no meu sangue que ele era como eu... O antigo Lord Comandante da Patrulha da Noite, sua vigília havia terminado, não havia nenhum juramento que o prendesse a Muralha e Rhaegal o obedecia como nunca tinha obedecido a mim.

– Então a guerra começou. – disse o filho

Ela assentiu

– E nos destruímos todos nossos inimigos, um a um. Eu fiquei gravida em meio a batalha, mas não abandonei meus homens, não deixei de lutar. Você nasceu em uma batalha contra os Frey, quando estávamos tomando as Twins, Jon estava do meu lado o tempo todo, enquanto Aegon liquidava os inimigos. Ficamos dois meses ali, enquanto eu me recuperava e mais tropas se juntavam a nossa causa... Se eu ficasse para trás tudo estaria perdido, Jon e Aegon são honrados mas um reino precisa de sua rainha.

– Então você me abandonou – disse Drogo, não havia acusação em sua voz, apenas a constatação de um fato.

– Eu fiz o que julguei ser melhor para você e para Westeros, estávamos em guerra, era muito perigoso a presença de uma criança, de um príncipe... Os nossos inimigos não sabiam que eu tinha um herdeiro, Jon espalhou que você tinha nascido morto. Lannister são cruéis, a filha de meu irmão não tinha mais que cinco anos quando aquele maldito... – ela sacudiu a cabeça perturbada – Não sabíamos quanto a guerra iria durar, Winterfell estava reconstruída, era o único local seguro, nos tínhamos certeza que seu tio não o venderia para o inimigo, e não podíamos confiar em mais ninguém.

– Então fizeram com que tio Bran se casasse as pressas com Meera Reed e me assumisse como filho.

Ela assentiu novamente

– A guerra durou anos sem fim, anos nos quais você cresceu e eu não estava aqui para assistir.

– Foi a sua escolha.

– Mas não foi fácil. Eu não posso reconhece-lo como meu herdeiro Drogo, Jon e eu não éramos casados na noite em que você nasceu, seria chamado de bastardo.

– Então me legitime. Já foi feito antes.

– Por um rei terrível, que deixou apenas guerra e desespero para seus herdeiros. Não deseje mais do que aquilo que lhe foi concedido, pode ser a sua ruina. Talvez você já tivesse sido um Targaryen, mas não agora, nem nunca. Você é Drogo Stark, e assim deve permanecer.

O rapaz lutou contra as lagrimas. Já era quase um homem feito, não iria chorar na presença de sua mãe, de sua rainha.

– Eu sinto muito – disse ela beijando o topo da cabeça do filho

Fim do Flashback

E agora ali estava ele, prestes a competir com o cavaleiro misterioso. Sabia que muitos o chamavam de Príncipe Lobo, os menos gentis de Príncipe Bastardo não os culpava, a única característica Stark que possuía eram seus olhos cinzas, de resto era todo Targaryen, e suas madeixas platinadas deixavam isso obvio, não era o filho de Lord Bran e Lady Meera Stark. Mesmo que o tio não pudesse ter filhos e Lady Meera o tratasse como um, em seu intimo sabia que jamais o seria.

Shadow trotou até o seu lado, ele fora concebido dois anos antes, era filho de uma loba comum com Ghost, o único sobrevivente da ninhada, a mãe e os irmãos haviam sido mortos por um animal qualquer, Drogo chegou a tempo de salvar apenas o menor dos filhotes. E desde então o lobo gigante era o seu constante companheiro, tão próximo de si como Summer era para Bran.

Acariciou a cabeça do animal que era tão grande quanto seu cavalo. Ghost era ainda maior, mas Shadow não cresceria mais do que isso, ainda tinha o sangue da mãe, que era uma loba comum afinal. Um escudeiro qualquer lhe trouxe um escudo e uma lança, o menino tremia com a presença de Shadow, algo que divertia a Drogo. Ele pegou o escudo, com o emblema dos Stark, não ousaria usar as cores Targaryen, seria uma afronta a família real.

Seu adversário, o cavaleiro misterioso de que todos falavam entretanto não tivera a mesma cautela que ele, usando as cores e o emblema da família real, Drogo sabia que seus irmãos eram muito novos para participarem das justas, e os consortes da rainha, Aegon e Jon não entrariam em combate. Drogo sentiu o sangue do dragão que corria em sua veias ferver, se nem ele, um folho de Jon e Daenerys Targaryen usava as cores de seus pais, como aquele estranho ousava? Em outra época, com outro rei, o desconhecido teria sido morto por tal ousadia.

Drogo analisou o cavaleiro misterioso, ele tinha um porte grande, quase duas vezes o seu tamanho, e Drogo não era exatamente um anão. Mesmo por debaixo da armadura incomum, era possível ver que o estranho era feito de músculos. O animal que ele montava, um imenso garanhão negro como Drogo nunca tinha visto, era ainda mais nobre que a sua própria montaria, uma espécie de cavalo que Drogo jamais vira semelhante. A imagem de seu adversário imediatamente o remeteu à Montanha, o gigantesco e cruel cavaleiro morto muito antes que Drogo nascesse, havia assassinado sua tia Rhaenys quando esta era uma criança, e Ellia, a esposa do avô Rhaegar. Drogo esperava apenas que o estranho não fosse tão implacável quanto as historias diziam que Sor Gregor Clegane havia sido.

Seus olhos cinzas procuraram a multidão e então subiram para o palanque onde observou sua família, Rhaenar estava com os olhos fixos no Cavaleiro Misterioso, Benjen fazia cocegas em Lyanna, Daenerys segurava Aemon, o filho mais novo nos braços com um semblante impassível. Jon tinha os olhos cinzas, idênticos aos seus, no filho mais velho, mas não havia nenhum sorriso, nenhum sinal de incentivo, ele apenas observava e esperava. Ao lado de Aegon, sem nenhum pudor ou falsa cortesia Rhaenys acenava alegremente, em seus lábios havia um verdadeiro “boa sorte”, Drogo sorriu, a princesa era sem duvida uma pequena beldade, que ficaria ainda mais linda quando amadurecesse, decidiu naquele momento que assim que ganhasse o estranho na Justa Final que estava para começar, coroaria a menina como rainha do amor e da beleza.