“Será que é normal gostar tanto assim de uma amiga? Será que esse sentimento é somente pela aproximação que nós dois possuímos? É mesmo normal o meu coração disparar descontroladamente ao me aproximar dela? Seria isso que todos chamam de verdadeiro amor?” Ichigo estava perdido em seus pensamentos, até escutar a voz daquela que lhe causava estranhas sensações.

– Ichi! Enfim te encontrei! – disse a loira agarrando-se em um dos braços do ruivo.

– Tema-Chan! Você estava me procurando? – indagou levemente corado.

– Hm? Seu rosto... Você ‘tá ficando meio vermelho... – comentou a mulher.

– Ah, isso... Eu só estou me sentindo um pouco tonto... Talvez uma febre leviana...

– Sério? Deixa eu ver... – ficou na ponta dos pés puxando levemente o braço do maior, fazendo-o se abaixar um pouco – É mesmo! Você tá ficando mais quente! E seu rosto está mais vermelho, Ichi! – disse preocupada.

O que Ichigo poderia dizer agora? Não esperava aquela atitude de sua amiga e acabou corando bruscamente por ter se aproximado de sua amada... “Amada...”. Isso ficava martelando na cabeça do ruivo, precisava descobrir o que realmente sentia por Temari.

– É mesmo... Acho melhor eu ir pra casa... – disse Ichigo afastando-se.

– Eu te acompanho! Ou você pode acabar desmaiando na rua.

– Obrigado por se preocupar comigo Tema-Chan!

– Que isso... É assim que se cuida de um amigo, afinal! – disse a loira sorridente.

– Sim... – sorriu forçadamente. Aquilo mexeu com ele, mas por quê? Por que ouvir Temari chama-lo de amigo o deixava tão triste? Sempre adorou a companhia daquela “baixinha louca”, porém já fazia um tempo que isso vinha mudando... Parece que só a amizade dela não lhe bastava! O que mais poderia querer?

Assim, caminharam até a casa de Ichigo, tendo algumas conversas sobre assuntos aleatórios no caminho. Quando chegaram, foram recebidos por Masaki, que se preocupou ao ver o filho daquele jeito, com o rosto em um incrível tom rubro. Temari explicou o que ocorrera a mãe do amigo e ambos foram convidados a entrar na casa, mas antes que pudesse aceitar o convite, Temari recebeu uma mensagem em seu celular. Ichigo estava curioso para saber de quem era, porém achou melhor aguardar que Temari desejasse comentar sobre isso.

– É do Kankurou – disse Temari – Parece que ele foi detido por dirigir bêbado de novo e quer que eu o ajude a sair da delegacia... – completou.

– Temari é melhor você ajudar o seu irmão então, mas não se esqueça de voltar qualquer dia para conversas um pouco. – disse Masaki.

– Sim, obrigada pelo convite, Masaki-San!

– Tema-chan, você estava me procurando hoje mais cedo... O que você queria me dizer? – perguntou o ruivo.

– Desculpa Ichi, mas eu realmente preciso ir agora. Em outra oportunidade eu te conto!

– Mas... Sobre o que era?

– É sobre um garoto que eu estou gostando... Outra hora eu explico melhor! – resumiu a loira.

Estranhamente, Ichigo permitiu que uma expressão de tristeza brotasse em sua face. Sabia que o melhor era ficar longe de Temari e refletir sobre tudo, organizar seus pensamentos e descobrir seus sentimentos. Mas naquele momento, sentiu uma enorme vontade de impedir Temari de partir, era a causadora de sua “febre” é verdade, mas era ao lado daquela mulher que ficava realmente feliz. E agora com a idéia de ela estar gostando de um garoto e provavelmente desejar a ajuda de Ichigo para se confessar... Só de pensar na possibilidade lhe partia o coração. Nada fez, apenas permitiu que a garota partisse despedindo-se com um “Até logo, Ichi. Melhoras!” e, em seguida, adentrou a própria casa, dizendo para sua mãe que iria descansar um pouco, dirigindo-se ao quarto. Notou que sua mãe, seu pai e suas irmãs o encaravam com expressões de preocupação, provavelmente por sentirem que o ruivo estava triste naquele momento.

Passando-se algum tempo, Masaki até tentava conversar a fim de descobrir o que magoava o filho que apenas dizia ser “cansaço excessivo” devido aos estudos, já que a escola o estava “matando”. A mulher então perguntou ao ruivo se era somente isso que o incomodava, mas Ichigo insistia na resposta mesmo sabendo que não poderia e nem conseguiria mentir para sua mãe, que decidiu deixa-lo refletir sozinho no quarto, avisando que o jantar estava quase pronto. Ichigo não sentia fome, além dos conflitos que já tinha em sua mente a idéia de “mentir” para sua própria mãe deixava o ruivo ainda pior. O que ele poderia dizer? Que estava apaixonado pela amiga e lamentava o fato dela amar outro? Ele sequer sabia se realmente a amava e se a história de “Um garoto que estou gostando” era um disfarce para não revelar a verdade na frente da mãe dele. Mas porque não revelaria a verdade? O que teria a esconder? Problemas na família? Não, ela certamente pediria conselhos a Masaki se fosse isso, como sempre fazia... Problemas na escola? Obvio que não! Era uma excelente aluna, suas notas eram até melhores que as de Ichigo... A única idéia que se encaixava na situação era se ela...

– É verdade! – exclamou o ruivo, agora com expressão de felicidade – Como eu não pensei nisso antes? É uma possibilidade afinal!

Refletiu por mais alguns minutos com um enorme sorriso na face e então se dirigiu ao seu guarda-roupa, procurando por algo bonito para vestir. Encarou algumas roupas que separou entre muitas e novamente sorriu, parecia a escolha perfeita! Foi até o banheiro para lavar-se e começar a se arrumar, pensando se seria bom pentear os cabelos pra variar. Experimentou, mas detestou a nova aparência e simplesmente os arrepiou novamente, se sentia melhor assim. Quando terminou, olhou-se no espelho a fim de checar o visual e mais uma vez sorriu em aprovação, desceu as escadas e viu seus familiares encarando-o surpresos na mesa de jantar. Tudo bem, ele estava tão animado que esqueceu completamente de avisar que planejava sair.

– Ichigo! – iniciou Isshin – Aonde você vai? O jantar está pronto!

– Pai! Mãe! Desculpe-me, eu queria muito ir a um lugar agora. É muito importante! – respondeu o ruivo com notável empolgação.

Ao verem a felicidade do filho os pais de Ichigo se entreolharam e sorriram, enfim ele estava bem. Isshin decidiu autorizar a saída do filho, dizendo para não se demorar a voltar. Masaki somente disse para o filho que tivesse cuidado ao atravessar a rua, e que guardaria a janta dele para comer quando retornasse. Diante de tanto, Ichigo agradeceu e saiu correndo de casa, precisava descobrir logo se estava certo.

Chegou então em frente à casa de Temari sentindo um leve frio na barriga decidiu tocar a campainha, sendo atendido por Karura que o reconheceu e o convidou para entrar pedindo que esperasse na sala enquanto ia ao quarto de Temari avisar sobre sua visita. Ichigo notou que Gaara o encarava e resolveu puxar assunto para passar o tempo. Enquanto isso, Temari jogava videogame em seu quarto, até ver sua mãe entrar e avisar-lhe sobre a visita de um amigo da escola. A mais nova respondeu que já estava na hora dele aparecer e disse que já ia recebê-lo, saindo do quarto acompanhada da mãe.

– Eu já estava cansando de te esperar, Deidara! – disse a loira pouco antes de chegar à sala, assustando-se ao notar que a visita era Ichigo sentado no sofá – Desculpa Ichi! Pensei que fosse o Deidara... – comentou abraçando o ruivo.

– Você... Você estava... Estava esperando o Deidara, Tema-Chan? – gaguejou o ruivo.

– É que ele me ligou dizendo que viria me ver. – respondeu sorrindo.

– E... Eu posso saber o motivo da visita dele? – perguntou o ruivo enciumado.

– Desculpa, mas não posso te dizer isso ainda... É meio pessoal, sabe? – disse a garota meio sem jeito – Mas me diga, o que o traz aqui?

Ichigo parou por alguns instantes... “Então o garoto de quem ela estava gostando era o Deidara!”, essa idéia não lhe saia da cabeça. “Realmente fui um idiota acreditando que a Tema-Chan poderia estar gostando de mim também...” pensava.

– Deixa isso pra lá, Temari. Não era nada de importante... – disse o ruivo cabisbaixo levantando-se e caminhando em direção à saída.

– O que aconteceu, Ichi? – perguntou Temari segurando-o pelo braço.

– Não é nada demais, agora preciso ir para casa. – disse com um sorriso forçado em face.

– Aconteceu algo, me diga!

– Porque acha isso?

– Por que eu conheço você! Você está com cara de velório e me chamou de Temari! Desde a quinta série você não me chama de Temari! – fitou-o séria.

Ichigo paralisou-se por alguns instantes. Não queria dizer nada pra ela, mas sabia que não adiantaria mentir. Estava magoado por ter se enganado em relação aos sentimentos de Temari... Sabia que a culpa não era dela e não tinha remorsos da amiga, mas se visse Deidara em sua frente não conseguiria se controlar, não seria a primeira vez que o loiro “roubava” alguém importante para o ruivo, afinal... Estava disposto a dizer tudo à loira e ao menos diminuir a tensão que sentia em si, precisava desabafar afinal. Quando o garoto de cabelos laranja abria a boca para começar a falar surpreendeu-se com a campainha tocando de repente, vendo Gaara que até o momento somente observava tudo levantar-se do sofá a fim de descobrir quem era a nova visita. Seus olhos arregalaram-se num misto de surpresa e fúria ao ver a imagem daquele loiro surgir à sua frente.

– Temari! Eu vim aqui para... – o loiro foi interrompido ao ver Ichigo soltar-se de Temari e voar em sua direção, derrubando ambos no chão.

– Seu desgraçado!  – gritava o ruivo enquanto preparava-se para socar a face do loiro. Gaara, notando que aquilo não seria bom, agarrou Ichigo afastando-o de Deidara antes que se iniciassem as agressões. Todos no local estavam bastante assustados com toda aquela tensão, Ichigo detestava ser tão briguento na presença de Temari afinal.

– Ai, ai! – resmungou Deidara – O que eu te fiz agora, moranguinho? – indagou enquanto levantava-se.

– Você ainda pergunta? Não se faça de idiota! – esbravejou Ichigo.

– Moranguinho... Eu não sei do que está falando! Pode me explicar? Eu só vim aqui pra conversar com a Temari.

– Exatamente isso! Você está roubando ela de mim!

– Roubando? – surpreendeu-se – Escute aqui meu caro moranguinho... – começou a falar apoiando uma das no ombro do outro – Porque eu tentaria roubar minha amiga de você?

– Porque você rouba tudo de mim!

– Não, não! Eu nunca roubaria a Temari de você porque ela não faz meu tipo...

– Seu tipo? – perguntou curioso.

– Ichi, você está confundido tudo! O Deidara... Ele é gay! – exclamou Temari.

– O que!? – surpreendeu-se Ichigo.

– Isso mesmo! E se eu fosse roubar alguém aqui seria você da Temari... – comentou acariciando o rosto de Ichigo que afastou-se de imediato.

– Nem tenta! – disse o morango.

– Esse seu homem é bem esquentadinho em miga! – disse Deidara sorrindo.

– “Seu homem”? – indagou Ichigo olhando pra Temari.

– Vem comigo! – disse Temari segurando a mão de Ichigo e o guiando para fora da casa, sendo seguida por Deidara e Gaara – O que vocês pensam que estão fazendo? – perguntou encarando os dois.

– Quero ver como isso vai acabar miga! – respondeu Deidara.

– Eu não tenho nada pra fazer mesmo. – respondeu Gaara.

Ichigo estava confuso, mas somente acompanhava Temari notando que aproximavam-se de sua casa. Estranhou tudo aquilo e resolveu perguntar o que exatamente ela iria fazer.

– O que estamos fazendo aqui, Tema-chan?

– Vou falar com seus pais! – respondeu.

– Sobre o que? – perguntou Ichigo.

– Logo você vai ver. Abre a porta pra mim Ichi?

Ichigo estranhou mais ainda todo aquele “mistério”, porém abriu a porta da própria casa como sua amiga pedira, notando sua família reunida na sala conversando.

– Trouxe visitas Ichigo? – perguntou Isshin.

– Mais ou menos, é que... –Ichigo começava a explicar, mas fora interrompido por Temari.

– Isshin-San! Masaki-San! Eu vim aqui especialmente para pedir o filho de vocês em namoro! – disse Temari.

A família Kurosaki estava surpresa com aquele pedido. Nenhum deles esperava tal atitude, ainda mais vinda da própria Temari que, agora sem dúvida alguma, era uma mulher de atitude.

– Tema-chan! O que significa isso? – indagou Ichigo.

– Eu finalmente percebi que te amo, Ichi! Já faz algum tempo que eu queria te falar, mas... Nunca tive coragem... Porém decidi que o melhor seria pedir aos seus pais formalmente para não deixar dúvidas dobre mus sentimentos!

– Mas... Você não deveria me pedir primeiro?

– Não preciso! Sei que você me ama!

– O que? – surpreendeu-se Ichigo.

– Você sabe... – disse a loira sorrindo e dando uma piscadinha para o morango.

Ichigo corou depois daquilo, sorriu em seguida e passou a olhar para seus pais, fazendo-os compreender o que ele desejava.

– Tudo bem, você tem a permissão de namorar o nosso filho! – respondeu Masaki sorrindo.

– Mas e a entrevista? Não vão me perguntar nada sobre intenções ou algo assim? – perguntou Temari.

– Não precisamos já te conhecemos o bastante para saber que é uma boa pessoa! – comentou Isshin.

Temari sorriu e agradeceu a confiança dos dois, afirmando que cuidaria muito bem do “bebezinho” deles. Ichigo abraçou Temari e estava prestes a finalmente beijá-la, mas foi interrompido pela própria Temari.

– O que foi? Não posso te beijar? – indagou o ruivo.

– Não até falar com meu pai. – disse a loira o puxando pelo braço a fim de faze-lo conversar com o “sogro” ciumento.

Fim