Cartas de Fogo e Água escrita por José Vinícius


Capítulo 15
Carta 10 - Fogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/270974/chapter/15

Katara,

Nossos sentimentos estão se mesclando numa velocidade prodigiosa. Sinto, às vezes, minha alma abandonar meu corpo e dirigir-se até ti, em pensamento. Vejo-a deliciando-se de sua presença, de sua voz, de seu toque, de seus olhos... Eu não a impeço de continuar com esta viagem fantástica, muito pelo contrário: censuro-a. Às vezes pode acontecer de eu tentar voltar à realidade, por que isso acontece muitas vezes durante o dia. Com uma freqüência grande demais para comparar.

Nunca me senti tão seguro de mim mesmo e de minhas palavras, Katara. Por que, se estávamos aprisionados dentro de nós mesmos, conseguimos nos libertar com uma força quase invencível. Eu redescobri você dentro de mim da mesma forma, creio eu, você redescobriu a mim dentro de você.

Foi uma jornada árdua. Se eu convivia com meus pensamentos e minhas emoções em tempestades ou em desertos, você foi para mim o oásis e o porto. Acho até que estas metáforas estão muito fora de moda, ou estão suplicando o desuso. Não por que agora nada disso nos represente, mas por que elas nunca serviram para descrever como nós realmente nos sentíamos a respeito.

Sempre procuramos um ao outro, Katara. Agora as coisas se tornaram muito mais iluminadas do que de costume. Eu mesmo nunca me senti tão bem pensando numa única pessoa, ou, desejando ardentemente ter um momento com ela. Não é aquele desejo impulsivo, carnal, soberbo e egoísta; é mais puro, simples, que vem de lugares inóspitos e nenhuma palavra é capaz de dizer de onde vem e por que surge.

Isto, eu acredito, é algo.

Quando penso em nós, do princípio até agora, eu nunca estive tão agradecido por ter te conhecido. Nossos destinos estavam fadados a se chocarem entre si com uma violência absurda, e no fim, juntos, nós encontraríamos a morte e o desespero. Minhas decisões afetaram você, e as suas decisões afetaram a mim. Eu sei que às vezes parece que não, mas nós tecemos nossas vidas sem esmero. Eu mesmo não aproveito os momentos que vivo, principalmente por que eu achava que tinha perdido algo que me estimulasse a viver.

Agora, eu acho isso muito engraçado. Quando eu reparo que, felizmente, eu estava enganado. Mas, naquele dia, Katara... Foi difícil manter minha cabeça em ordem. Eu achei que tinha perdido a única pessoa que tinha sido próxima de mim, e que junto comigo, era capaz de me ajudar a me manter de pé. A única pessoa que fazia parte da minha vida do começo até aquele momento. Alguém que eu tinha esperança de criar uma família.

O que eu demorei para admitir – sim, admitir – era que ela era importante, mas de outro modo. Eu tinha que deixar as coisas claras para mim e para ela, por que eu tinha descoberto alguém que estava próximo a mim a pouco tempo, mas de um jeito completamente diferente.

Você apareceu como minha inimiga, minha eterna rival. Suas forças provêm da água do mar e da lua. As minhas, dos milenares dragões e do sol. Ambos éramos opostos, e, se nossos guardiões jamais se encontravam, nós também não deveríamos nos encontrar.

Mais do que isso, nos encontramos. E pior, nós nos unimos às avessas. Nutrimos um pelo outro o ódio, e no ápice de raiva que despejamos um no outro, quando estávamos no topo de nossa ira, quando nada parecia que iria nos impedir de nos atirar um contra o outro, eu vi. E você viu também. Nós vimos aquilo que nos unia. O que une o sol e a lua nada mais é do que o céu e o mar. Ambos pousam no mar, e permanecem no céu. Ambos desejam se ver ardentemente, mas fogem um do outro, por medo ou por ódio.

Nós dois, Katara, vimos os dois astros se vendo e se unindo por amor. É uma pena que nós não reparamos muito neles, nem contemplamos naquele dia. Mas, eu sei que dentro de meu coração, não existe um eclipse que escurece meu dia e o torna negro como a noite. Eu sei que nós dois estamos unidos pelas nossas almas, e que elas anseiam tanto ficarem próximas uma da outra do que poderíamos imaginar.

Agora, quando eu vou ver suas antigas cartas, eu não hesito e deixo minha alma se elevar tanto quanto ela quer. Eu continuo seguindo com meus dias com uma segurança que eu nunca pensei que experimentaria. As coisas parecem dar certo o tempo todo. Nunca me viram tão seguro de mim mesmo. Todos comentam isso no palácio e fora dele. As pessoas olham para mim com respeito e reverência, e eu retribuo da mesma forma. É como um dia claro com algumas nuvens. Vem uma brisa morna, deliciosa, e nos deitamos na grama refrescante. Simplesmente simples.

Desculpe a redundância, mas eu sinto meus sentimentos se ordenando dentro de mim. Eles estavam turvos, mas agora, tão claros como um manancial intocável. Eu nunca pensei que chegaria a esta paz de equilíbrio. Nunca pensei que ter seus erros perdoados acarretaria nessa sensação nova.

E tudo por que eu admiti a mim mesmo aquilo que eu escondia do mundo.

Sua última carta me fez sorrir. Eu jamais desejei ver alguém com tanta urgência. Katara, não tens noção do quanto eu queria abraçá-la, o quanto queria vê-la, o quanto queria tocá-la, o quanto queria beijá-la! Se um homem é capaz de descrever tais coisas, descrevia com uma intensidade similar do que a que escrevo. Tudo por que o que eu sinto não pode ser descrito em palavras, somente em ações.

Katara, sua última carta me fez aceitar o que eu sentia por você. Eu já imaginava algo assim, mas nunca tive a coragem de admitir para você. Agora, eu sei que você sabe o que nós sentimos. Sabemos que tais coisas pertencem somente a nós, e ninguém no mundo ou de qualquer lugar tem direito de saber antes de nós admitirmos isso. Isso é algo só nosso, e crio coragem para dizer, é algo que somente nós podemos dizer se é real ou não.

De minha parte, sou sincero.

Cada palavra tua despertou em mim coisas que, por mais que eu queria escrever, sou incapaz de tanto. Queria que esse tipo de conversa fosse simbólica, em letras, palavras, números. Mas não é, e eu me contento só em saber que ambos estamos cientes disso. Estamos cientes que esse tipo de coisa acontece naturalmente, é normal quando duas pessoas admitem isso uma para a outra, de alguma forma. Mesmo que um dos lados sofra, no fim das contas. O que eu sinceramente espero que não aconteça com você.

Sinto minhas forças e minha fonte de palavras acabarem. Queria escrever muito mais para você, já que agora, minha vida gira em torno destes pensamentos. O tempo todo, acho, penso em nós como dois num só. Penso que, quando eu finalmente vê-la, eu poderei, acima de tudo, admirar você para sempre.

Não vou dizer aqui aquelas palavras. Sei que você sente que eu as diria, mas, não sei se devo fazê-las. Dizê-las destruiria tudo o que escrevi, tornaria esta carta uma carta ingênua. Por que este sentimento torna todas as coisas ingênuas.

Só desejo com todas as minhas forças que nossas almas permaneçam juntas por toda a eternidade.

Zuko.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vou ser sincero.Acho que este capítulo deixou e muito a desejar. Eu meio que me envolvi completamente com os sentimentos do Zuko, e, não sei se eu realmente cheguei onde queria chegar. Se estivesse no lugar dele, não sei, acho que não faria algo melhor nem pior.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cartas de Fogo e Água" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.