Cartas de Fogo e Água escrita por José Vinícius


Capítulo 12
Carta 7 - Água




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Zuko,

Demorei demais para escrever. São tantas coisas que me afetam por aqui, que você não tem idéia. Tarefas demais para gente de menos, por assim dizer. Preciso reerguer o Sul, mas está tão difícil fazer isso... É muita coisa para organizar, para fundamentar, para orientar. Minha avó está desgastada demais para arrumar qualquer coisa. Divido o tempo entre minha família e a aldeia, que cresce cada dia.

Os tempos realmente estão mudando. Mudando drasticamente, por assim dizer, por que as pessoas têm me procurado para muita coisa. Alguns até querem que eu lhes ensine a dobrar a água: mas meu tempo é tão curto! Se estou aqui fazendo algo, logo me chamam para fazer outra coisa ali...

Percebi que é divertido construir casas. As pessoas normais usam sua força, mas todo o dobrador é bem-vindo. Acho que sou a única dobradora por aqui genuinamente sulista, mas todos são tão amigáveis que eu não acho isso. Acredito (sim, eu acredito) que todos aqui somos uma única e grande família, cada um com suas particularidades. Todos são importantes, por que todos aqui queremos construir um belo futuro, um futuro de paz e prosperidade para o Sul.

Antigamente, disse minha avó, o sul era incrível, tanto quanto o Norte. Sem querer me gabar, é claro, nem desvalorizar ninguém, mas o Sul, segundo minha avó, era bem visto e tinha as pessoas mais amigáveis da Tribo da Água. É claro que uma parte dos nossos antepassados se dirigiu para outras partes do mundo – isso, infelizmente, inclui os dobradores que foram presos pela Nação do Fogo naquela guerra maldita que destruiu a todos, inclusive nós.

Nós.

Acho que esta palavra soa de um jeito estranho, não acha? Não que seja estranho num sentido ruim, mas é que, eu me sinto muito mais segura dizendo nós quando me refiro a mim e meu povo, a mim e todos do mundo. A mim e a você, princiapalmente. Talvez esta última idéia seja só um devaneio meu, mas, as coisas andam tão bem para mim que eu não consigo pensar que na longe, no Norte, uma pessoa que eu gosto tanto esteja passando por tantos problemas.

Sei que as coisa estão difíceis, mas você tem que resistir ou superá-las. Eu lembro que uma vez me disseram que quanto maior o cargo, maior a humildade que se requer para exercê-lo. Sei que você é um bom governante, mas, você deveria descansar de suas tarefas por mais tempo. Ou, encontrar um porto seguro para seus sentimentos e angústias.

Acho que é isso que realmente está te incomodando tanto.

 Acho que são seus sentimentos mal-administrados. Seu passado é doloroso, muito, tanto que eu sinto a vontade de te abraçar e dizer que tudo já passou. É preciso encontrar dentro de si mesmo a cura para seus males. De fora, nós só encontramos apoio, mas a real mudança ocorre dentro de nós. Deixamos muitas vezes que nossos tormentos tomem conta da situação, e, nos levamos pelos erros. É preciso manter a mente firme e estar em paz consigo mesmo.

Fazer isso ajuda muito, mas como eu disse, a cura está dentro de nós.

Quando eu uso a dobra de cura, eu tenho que dizer a mim mesma que eu consigo. Se eu não for capaz disso, não vou conseguir o resultado almejado. Dobra de cura é fácil quando se vê, mas é preciso que meu estado de espírito esteja focado somente em uma única coisa – o bem do próximo. Eu devo querer salvar o próximo para dar a ele uma nova chance, uma possibilidade e enfrentar o mal físico e se sentir bem consigo mesmo. Talvez por isso, muitos achem que eu seja a melhor curadora do sul, mas existem tantos no norte...!

Mas tenho que admitir que quando eu me lembro disso, algo surge dentro de mim. Surge, não, renasce, ou melhor, acorda. É aquele desejo antigo que eu te falei. Acho que você se lembra, não é...?

...

Você precisa manter um farol ligado numa noite tempestuosa, para ajudar quem estiver enfrentando-a. É um ditado do sul muito antigo. Ele é simples: você não ganha satisfação se dando o trabalho de ascender uma luz que ficará iluminando as trevas e a chuva forte. A satisfação vem quando você vê o barco atracar em segurança após o terror. E maior é ela quando você sabe que todos o que estavam no barco dependeram de você para sobreviver.

É assim que eu te vejo agora.

Eu consegui passar por essa dificuldade. Eu encontrei meu farol. Ele era tão brilhante e tão imponente quanto o Sol, quente e aconchegante. Ele, com simples gestos, me mostrou que não há perigos quando se está perto de quem se confia. Eu confio muito neste farol, Zuko. Tanto quanto se pode confiar, por que sempre que olho para o céu e velho o brilho solar, imediatamente, me sinto como o mar calmo e sereno que ronda o sul na primavera. O mar conheceu os tormentos das tempestades de inverno, mas agora, quer descansar na primavera.

Assim eu me sinto.

Assim, acho que você deve se sentir quando encontrar a paz interior. Tente ficar bem com o passado de vez. Tente respirar fundo quando achar que não encontrou a saída – por que ela pode estar ali na frente e você pode não ver – e tente, acima de tudo, encontrar seu farol. Não se desespere quando isso durar muito – às vezes, a costa está tão próxima que basta um feixe de luz para provar o fim do martírio.

Zuko, eu me sinto tão próxima de você quando escrevo. É como se uma parte de mim precisasse manter contanto. Moramos tão longe, e é tão raro nós nos encontrarmos... Você e suas tarefas, eu e as minhas. Não sei por que, mas me sinto meio incomodada escrevendo para vocÊ. Não que seja errado, mas quando eu comparo o conteúdo de nossas cartas com qualquer outra carta entre amigos (eu escrevo para todos, acredite), as nossas são tão fervorosas, tão cheias de sentimento, tão sinceras, como se estivéssemos admitindo coisas secretas dentro de nós, que eu fico envergonhada. Tanto que eu guardo suas cartas numa caixinha de jóias de minha mãe. Coloco sempre, todas as noites, meu colar lá também, e não deixo de admirá-lo, por que... Você me devolveu ele quando achei que tinha perdido, e... Ele me deixa muito mais próxima de você do que eu posso imaginar.

Não sei se é loucura minha, mas o que eu sinto está ficando forte. Acho que quando você encontrar a paz será minha vez de viver a aflição.

Até a próxima carta,

Katara.

P.S.: Perdoe o perfume. Acho que umas gotas de minha loção caíram no papel. 


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Notas finais do capítulo

Minhas mais sinceras e eternas e profundas e dolorosas desculpas.
Passei tanto tempo sem atualizar esta fanfic por que, diferente das demais, ela exige de mim algo que não possuo. O que surge lembra, é algo tenro, fraco, se comparado com o que escrevo. Seria preciso explicar muitas coisas para que vocês compreendessem o que digo, mas, peço que fiquem com esta explicação. Esta história exige de mim algo que eu não sonho para mim - quer algo que eu sonho para os outros.



Sem mais delongas, até.



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