Eu estava fazendo a patrulha rotineira nas fronteiras da Vila da Areia. Mal havia amanhecido, mas o dia já estava quente. O sol refletido nas areias brancas do deserto dificultava a visão, mas ainda assim eu a vi. Uma garota vinha em minha direção. Era alta, magra, com cabelos castanhos que formavam cachos desarrumados. Usava uma túnica preta que sacudia com o vendo. Seu rosto parecia inocente e um tanto angelical, mas sua expressão facial era fria.

Me preparei. Era incomum forasteiros nessa parte da vila.

- Alto! Quem é você?

- Apenas uma forasteira. Mas geralmente me chamam de Am. - Sua voz era firme mas ela parecia um tanto rouca.

- De onde você vem?

Am me encarou e deu um leve sorriso de lado.

- Eu não venho de lugar nenhum e não pretendo ficar aqui. Por favor, não me venha com interrogatórios. Se eu for um incomodo, posso dar a volta na vila.

A encarei. Am era suspeita, mas parecia desarmada. Eu podia colocar espiões atrás dela, caso resolvesse se meter em encrenca.

Suspirou.

- Sei quando não sou bem vinda.

- Faça o que quiser. - Dei as costas e voltei para casa. No caminho encontrei alguns ninjas, e dei a ordem de ficarem alertas.

Fui pra casa descansar um pouco e comer alguma coisa. Mas não conseguia parar de pensar na forasteira. Era como se eu estivesse sobre hipnose. Eu tinha a sensação de ouvir sua voz, e repetidas vezes aqueles olhos castanhos tomavam a minha mente.

Eu ia sair para a patrulha da tarde quando notei um certo alvoroço pela cidade. Uma garota havia sido encontrada junto com vários ninjas inimigos inconscientes. Será que…

Me informei e corri em direção ao prédio principal. Ela estava na enfermaria. Chegando lá, encontrei em um dos quartos uma garota com longos cabelos encaracolados dormindo em uma maca.

- Am! - Observei incrédulo - O que aconteceu aqui?

Uma das enfermeiras se pronunciou.

- Pelo que eu sei, ela foi encontrada na fronteira nordeste da vila. Dizem que ela lutou contra uma gangue de ninjas inimigos sozinha!

Não. Não podia ser. Ela não parecia armada quando nos encontramos. Ou será que eu fui descuidado?

- H-hum… - Am começou a acordar. Me aproximei para vê-la abrir os olhos. A encarei por um tempo - O que você está fazendo, idiota?

Me afastei e ela se sentou com dificuldade. Uma enfermeira correu avisar que a forasteira havia despertado.

- Onde eu estou?

Fiquei sem ação por alguns segundos. Sem o manto preto, Am parecia uma garota comum. Ela esfregou os olhos como uma criança e me encarou. Seus olhos castanho escuro eram desconcertantes. Parecia que ela conseguia ver dentro da minha alma. Desviei o olhar.

- Na enfermaria da Vila Oculta da Areia. Você foi encontrada inconsciente nas fronteiras da vila.

- Ah! - Am deu um pulo - Eu me lembro! Uns ninjas falaram algo sobre atacar o Kazekage… Eles…

- Foram presos. Devem estar sendo interrogados agora.

Ela se acalmou. Sentou-se de novo na maca, pensativa.

- Vão me interrogar também, não vão?

Confirmei com a cabeça.

- Você tem que me ajudar! Por favor! Eu só quero ir embora! Deixe eu sair! - Suplicou com olhos chorosos. Deus! Ela parecia um anjo.

- Você não vai a lugar nenhum. - Baki surgiu pela porta do cômodo.

Am pulou da cama e se escondeu atrás de mim, observando Baki e Gaara entrarem no quarto.

- Eles só vão fazer algumas perguntas - Tentei acalmá-la

A fiz sentar-se na cama, e fiquei por perto.

- Qual o seu nome? - Perguntou Gaara

- A… - Ela pareceu vacilar, mas então sua expressão facial ficou séria - Por onde passo, todos me chamam de Am.

Gaara e Baki a estudaram por alguns segundos.

- De onde você veio? - Continuou Gaara

- Sou uma viajante. Não vim de lugar nenhum, e não vou para lugar nenhum. Se me permitir, irei embora dessa vila o mais rápido possível.

- Por que lutou contra os ninjas, se não quer ter nada haver com essa vila?

- Eu apenas fiz o que achei certo.

- Hum.

Baki se interpôs entre Gaara e Am.

- Kazekage-sama, você não está pensando… Nós não devemos confiar nessa garota!

- Não estou dizendo que confio. Mas a Vila da Areia está em dívida com ela. - Meu irmão se dirigiu a Am - Por favor, você é nossa convidada. Insisto que ao menos descanse e pegue o que precisar para seguir viajem.

- H-hum… Obrigada…

Baki se aproximou de mim. Ele ainda não estava convencido.

- Kankuro, fique de olho nela.

Os dois deixaram a sala. Eu e Am nos encaramos confusos.

- Acho que eu posso ir embora… Né?

Encarei o chão.

- É, acho que pode. - “Mas eu não quero que você vá” pensei.