As Bruxas De Tonderville- A Maldição escrita por Yan Bertone


Capítulo 37
Noite Turbulenta




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A noite estava tranquila. Eu acordava de vez em quando, mas logo voltava a dormir, talvez fosse por estar pensando em como Joana chegou a salvo na casa de meu pai e como eles estavam felizes nesse momento.

Tudo parecia perfeito, mas então eu ouvi. Parecia o som de uma batida, como se alguém estivesse prestes a derrubar a porta de entrada.

-O que foi isso? – perguntou Jorge levantando-se.

-Tem alguém aí – eu disse.

Abrimos a porta do quarto e demos de cara com Victória fazendo a mesma coisa que nós. Ela não disse nada, apenas andou em direção à porta e girou a maçaneta, quase levando um soco no rosto quando Angus daria a próxima batida.

-O que está acontecendo? – perguntei.

-Precisam vir comigo – disse ele. – Não sou eu quem vai lhes contar tudo o que aconteceu.

-O que houve? – quis saber Victória, mas, no mesmo instante, foi ignorada por Angus. O qual nós tínhamos que seguir a passos largos, pois já estava a metros de distância.

-Para onde estamos indo? – perguntou Jorge intrigado com tudo aquilo, mas, assim como Victória, ele foi ignorado.

A caminhada foi rápida, mas infelizmente chegamos em um local onde ninguém gostaria de estar a uma hora dessas. O hospital da Floresta Encantada.

-O que aconteceu com Joana? – perguntei, mas também fui ignorado.

-Mark é que vai contar tudo a vocês – disse ele entrando.

A noite estava calma e uma brisa soprou para dentro do hospital quando abrimos a porta para alcançarmos Angus. Imediatamente entramos em uma sala. O branco das paredes fez com que eu me lembrasse de quando Jorge e Victória ficaram internados aqui, uma experiência que ninguém gostaria de reviver.

Ao entrarmos nos deparamos com o chefe da guarda noturna da floresta. Ele nunca foi muito de falar, por esse motivo, sua voz não era nem um pouco familiar.

-Boa noite – disse ele abaixando cada vez mais a voz.

-Boa noite – dissemos juntos.

-Sentem-se – disse ele. Estava sendo medicado quando nos contou a história. – Espero que reajam bem ao que vou lhes contar. Na ida de Joana para casa, tudo estava correndo muito bem.

No momento em que ele disse isso eu soube. Um imenso vazio preencheu meu corpo, assim como aconteceu quando perdi minha mãe. Certamente estavam mortos, porque não estariam? Tudo indicava que sim, ou então não seria Mark quem estava contando a história, pois estava internado, talvez ele fosse o único sobrevivente.

-Ela morreu não foi? – perguntei, interrompendo-o imediatamente.

-Não sabemos – disse Mark.

-Como podem não saber uma coisa dessas? – eu não gritava, nunca gritei quando estive com raiva, até porque, estava triste demais para isso.

-Vou lhes contar o que aconteceu agora se acalme – disse Mark. – Estávamos em três carros, ambos idênticos um do outro. O da frente estava com guardas, o do meio com dois guardas e Joana, no de trás estava Greg, outro guarda e eu. Tudo corria muito bem, estávamos quase terminando de passar a fronteira da Floresta Sombria, foi nesse momento que ouvimos um barulho. O carro da frente de Joana havia explodido, destroços voavam sobre nossos veículos e o fogo atingiu parte do carro dela, iria explodir em segundos, então ela pulou. Pensei que estivesse morta, mas não, agarrou em uma das bruxas, que estavam em suas vassouras, ela estava salvando a própria vida, lutando contra ela, mas sua tentativa foi em vão.  A bruxa a agarrou e a carregou para dentro da Floresta Sombria, estava impossível de vê-la naquele momento em diante. O carro da frente explodiu logo em seguida, só consegui salvar quem estava em meu próprio carro, mesmo assim, somente eu e Greg sobrevivemos.

Olhei em volta. Imaginei toda aquela cena e depois prestei atenção ao redor. Jorge balançando a cabeça negativamente e segurando-se para não chorar, Victória chorando e soluçando ao meu lado, já Angus, com o mesmo olhar de antes.

-Ela morreu não foi? – perguntei.

-Não sabemos – disse Angus. – As bruxas são imprevisíveis, podem utilizar Joana como uma forma de atrair você até elas, nunca se sabe.

-É o que veremos – levantei e fui até a porta do quarto.

-Aonde vai? – perguntou Angus. – Não acho que sobreviva a elas sozinho.

-Ele não estará sozinho – disse Victória levantando-se assim como eu e, logo em seguida Jorge fez o mesmo.

-Três crianças contra diversas criaturas da floresta – disse Angus em um tom de deboche. – A escolha é somente de vocês.

-Já escolhemos – eu disse.

Saímos do hospital de maneira diferente que entramos. Tínhamos pouco tempo para conseguir o que queríamos e era isso o que importava para todos nós. São nesses momentos que se percebe quem são os verdadeiros amigos, os que te apoiam onde estiver.

Fomos até a cabana, colocamos tudo o que tinha de armamentos guardados ali dentro de uma única mochila. Não havia ninguém do lado de fora, Angus realmente nos deixou ir, nem mesmo tentou nos segurar ali, um comportamento muito estranho para se falar a verdade.

Não estávamos mais de pijamas, mas sim com roupas de tons mais escuros para não sermos visto ao longe em meio à Floresta Sombria. A noite dessa vez parecia estar cada vez mais fria, ou era somente o medo de voltar a aquele lugar e enfrentar tudo o que estivesse pela frente, defendendo um só propósito. Salvar Joana, com toda certeza ela merecia e estaria nos aguardando.

A floresta estava vazia quando chegamos ao portão. Nenhuma luz estava acesa nas construções e o carro de Angus ainda não tinha voltado ao normal.

-James – disse uma voz. Viramos repentinamente pensando que, quem quer que fosse, tentaria nos deter de ir até lá. Era Marta, tinha um sorriso no rosto e aparentava estar cansada. – Acho que é melhor se aproximarem.

Dois passos era o que bastava para chegamos até ela. Como já era de se esperar, ela estava com três frascos em sua mão.

-O que é isso? – perguntou Victória curiosa.

-Uma poção que inventei – disse ela. – Cada frasco tem coisas que precisarão para sobreviver, tomem apenas três gotas de cada vez, tenho certeza que vai funcionar.

-Ótimo – disse Victória colocando cada um com muito cuidado dentro da mochila.

-Tem mais uma coisa – disse ela mostrando que tinha a chave do carro de Angus na mão. Só havia uma coisa a se fazer naquele momento, entrar e torcer para que não morrêssemos antes mesmo de estarmos na Floresta Sombria.

-Sabe dirigir? – perguntou Victória enquanto Marta dava a partida.

-Não – disse ela. – Mas não deve ser tão difícil, afinal de contas, vou ter que me entender com Angus de qualquer maneira depois que deixar vocês na fronteira com a floresta.

-Por quê? – quis saber Jorge, que estava quase passando mal no banco de trás.

-Digamos que acabei de roubar o carro dele.

Certo, aquilo bastou para termos certeza de que Marta era completamente pirada. Estávamos a caminho da Floresta Sombria em um carro roubado com uma louca que não sabe dirigir no volante.

-Vamos morrer – disse Jorge ainda mais enjoado. – Se não morrermos pela batida do carro Angus nos matará depois.

Saímos do carro sem a menor vontade de entrar nele novamente. Um, dois, quatro, era o modo como Victória estava contando as “pequenas batidas” que Marta deu a cada curva com o carro.

-Boa sorte – disse ela. – Ah! Tem mais uma coisa. Minha irmã mais velha mora na Floresta Sombria. Eu já informei a ela que estarão tentando salvar Joana, podem ter certeza de que, com ela, vão estar em segurança lá dentro.

-Obrigada – disse Victória se despedindo de Marta com um forte abraço. – Espero que Angus entenda tudo o que você fez.

-Vai entender – disse. – Agora eu tenho que ir.

Marta deu a partida e saiu queimando pneus do asfalto da estrada. De um lado era a cidade, do outro, estava a Floresta Sombria, a qual nós não hesitamos em entrar, seria difícil, mas não impossível, pois, com meus amigos, eu tenho certeza de que tudo daria certo.

No momento em que entramos percebemos a maneira como o clima era diferente. Penso que Joana, naquela mesma noite, ainda estava conosco, mas onde ela estaria agora? Espero que esteja bem e que aguente o quanto for, pois estamos indo salvá-la. Realmente muita coisa ainda estava por acontecer.

Victória estava segurando minha mão fortemente até que soltou. Abriu um largo sorriso no rosto e olhou para Jorge também.

“James” – disse uma voz muito conhecida. Era de minha mãe e, no momento em que a ouvi pronunciar meu nome mais uma vez, percebi que estava do nosso lado, só não podia se manifestar. Ela estava conosco, sempre esteve e sempre vai estar.


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