As Bruxas De Tonderville- A Maldição escrita por Yan Bertone


Capítulo 34
Despedida




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O sol se pôs no momento em que eu e Victória entramos na Floresta Encantada. Não precisávamos nos preocupar com a hora para a festa, só seria mais tarde, enquanto Joana estaria voltando para casa.

O céu estava com um tom alaranjado consequente ao sol o iluminando nos últimos minutos, mas logo desapareceriam.

Victória estava triste e não precisava dizer, pois era perceptível na maneira como agia e falava.

-Jorge me mandou uma mensagem – disse ela. – Ele está aqui na floresta.

-Ótimo – eu disse. – Assim ficamos todos juntos.

Ela sorriu, tentando disfarçar seus sentimentos e pensando no lado positivo de Joana estar voltando.

Andamos em meio às arvores e chegamos à cozinha. A primeira coisa que se podia ver eram as malas de Joana que iriam com ela. Joana não deixaria nada, apenas os móveis que ficariam no mesmo lugar em seu quarto, do mesmo modo como estava.

Sentados à mesa, estavam Joana, Angus e Jorge. Eles não pareciam estar felizes, na verdade ninguém ali estava. Apenas tentávamos disfarçar para Joana não ficar triste assim como nós.

-Olá – disse Angus.

-Oi – dissemos Victória e eu juntos e logo em seguida nos entreolhamos.

-Faltam poucos minutos para Joana viajar – disse Angus dando uma pausa. – Vai ser uma perda, mas ela sairá ganhando. Sei que estão todos aqui para se despedir e quero que não haja brigas ou discussões nesse meio tempo.

Ninguém disse mais nada, não costumávamos brigar, mas não importava a ocasião, se Dave aparecesse ali a qualquer momento, Victória faria de tudo para se controlar e espero que seja isso que aconteça.

Sentamo-nos à mesa como os outros. Estávamos apenas esperando para que o carro que levaria Joana chegasse. Era incrível como ela parecia estar nervosa.

-Ei – disse Victória abraçando-a. – Vai dar tudo certo. Ok?

Joana apenas concordou com a cabeça, não parecia estar feliz, mas foi escolha dela partir e aquela noite seria a despedida, nenhum de nós estaria com clima para festejar.

Angus me olhava freneticamente, assim como antes, mas eu não entendi. A poção fez ou não efeito? Ele ainda não tinha dado nenhum sinal de que tudo estava bem e que tinha voltado a seu estado natural. Talvez Dave estivesse certo, talvez Vilma fosse a grande vilã da história, mas nunca se sabe até que eles mesmo revelem quem verdadeiramente são.

Um carro preto parou em frente a porta da cozinha. Estava com todos os vidros fechados e seria impossível ver quem vinha dentro dele.

-Chegou – disse Angus parecendo animado.

-Parece que isso é um adeus – disse Joana.

-Não é um adeus – disse Victória querendo reconfortá-la. – Podemos dizer que nos veremos em breve.

Joana deu um sorriso não muito convincente, mas parecia melhor do que antes e, no mesmo tempo, um homem saiu do carro. Não vestia os uniformes da guarda da floresta, uma boa maneira de disfarçar.

O guarda entrou na cozinha e pegou as malas de Joana. Um grito de pavor saiu de sua boca. Ela não tinha certeza se queria ir, mas, nesse momento, não tinha mais volta.

-Venha cá – disse Angus abrindo os braços para abraçá-la.

Ela afastou a cadeira em que estava sentada e correu em sua direção. Estavam a apenas alguns passos de distância, mas fizeram o momento valer a pena.

-Vai dar tudo certo – disse Angus, a mesma coisa que disse a mim quando conversamos em seu escritório sobre essa noite, mas, dessa vez, eu acreditava mais no que ele estava dizendo. Não porque supostamente estava enfeitiçado, mas pelo modo como as coisas estavam acontecendo.

Joana apenas assentiu, ela nunca foi de falar muita coisa o que, certa época, preocupou minha mãe, mas não havia nada de grave.

Em seguida Joana abraçou Jorge, um abraço que durou pouco tempo, mas foi verdadeiro de ambos os lados. Depois venho Victória, um abraço assim como o de Jorge e logo depois fui eu. Lágrimas começaram a escorrer sobre as bochechas de Joana.

-Não chore – eu disse. Ela estava completamente maquiada e com uma roupa nova. – Não quer estar bonita quando chegar lá?

Ela engoliu o choro. Deu um sorriso tristonho e se afastou. Joana andou até o carro, dando uma última olhada para nós. Nesse momento, nenhuma lágrima escorria de seus olhos e um sorriso saiu de seu rosto e finalmente ela percebeu que aquilo era o que realmente queria, mesmo tendo que se despedir de todos nós, tenho certeza de que não seria a última vez.

Ela entrou e o guarda fechou a porta. Não era mais possível vê-la, mas, dessa vez, sabíamos quem estava dentro do carro e seria praticamente impossível descobrir quem era sem que se manifestasse.

“Um ótimo disfarce” – pensei, ela nunca seria pega.

Após o carro partir, Angus nos encarou, ele não parecia estar enfeitiçado, mas não disse nada a respeito de Dave ou Vilma. Estava realmente triste com o que tinha acontecido, mas era algo que ele teria de se acostumar.

-Acho que vocês devem ir para a festa – disse ele. – Seria bom se distrair um pouco.

-Só não podem ir desse jeito – disse Marta.

Nossas roupas, ao menos a minha e a de Victória, estavam completamente sujas. Tínhamos ficado o dia inteiro ajudando a arrumar a festa. Ainda teríamos de nos arrumar, mas a festa estava começando e o suposto ataque poderia ser a qualquer momento.

-Não tem como nos arrumar tão rapidamente – disse Jorge, que não tinha suas roupas tão surradas quanto as nossas.

-Relaxem – disse Marta abrindo a mesma maleta de quando Angus havia ficado bêbado. – Posso dar um jeito nisso.

De lá, ela retirou três frascos de poções já feitas. Era como se ela tivesse adivinhado que aquele momento aconteceria, mas era uma coisa um pouco impossível de se fazer.

-O que é isso? – perguntou Victória olhando fixamente para os três pequenos frascos na mão de Marta.

-O convite de vocês três para hoje – disse ela. –Tomem, bebam de uma só vez, o gosto pode não ser muito agradável.

Ela entregou os frascos, um na mão de casa um de nós. Em seguida, Marta e Angus nos olharam abrir e virar a poção de uma só vez em nossa boca.

Tinha um gosto muito esquisito e uma sensação de enjoo preencheu todo o meu corpo, mas eu teria de suportar. Por um momento, me senti livre, como se nada me segurasse em nenhum lugar e em seguida tudo voltou ao normal, mas não vestíamos as mesmas roupas de antes.

Na festa local da cidade, não era necessário vestir roupas para bailes, até porque não havia isso. Eram apenas as melhores roupas que você tinha no armário ou coisa do tipo, nada muito importante.

Nossas roupas estavam limpas e sensacionais. Victória estava diferente de tudo o que vestia no dia-a-dia, estava incrível, é tudo o que posso dizer.

-Excelente – disse Marta. – Agora só lhes resta chegar à festa.

-Posso lhes dar carona – disse Angus sorrindo, algo que era raro de se ver.

-Tenho certeza que sim – disse ela.

Saímos da cozinha e fomos até o local mais perto do portão, onde Angus sempre estacionava seu carro, mas, dessa vez, estava diferente. Ao invés de um carro como o de Angus, sem muitos cuidados e antigo. Ele estava limpo e parecia novo.

-O que ela fez com meu carro? – perguntou Angus atônito. – Eu adorava meu caro da maneira como estava antes, não acredito que Marta tenha feito uma coisa dessas.

-Calma – disse Jorge. – Deve haver uma maneira de reverter o feitiço.

-Espero que sim – disse ele. – Mas dessa vez acho melhor irmos do modo como ele está.

Entramos no carro. Parecia ser maior do que antes, ou era por que Joana não estava conosco. Não importa, estávamos indo para a festa.

Passamos pela estrada de pedra, assim como muitas vezes antes. A hora passava rápido, mas o rádio do carro. Que estava ligado em um volume não muito alto, ainda não havia dito que nada aconteceu, mas, se ocorresse, seríamos um dos primeiros a serem informados.

-O que foi aquilo? – perguntou Victória quando somente o rádio fazia barulho dentro do carro.

-O quê? – perguntou Angus.

-Parecia ser uma criatura – disse ela. – Estava em meio às árvores da floresta e estava rodeando o carro.

-Acho melhor não termos de parar enquanto estivermos sozinhos na estrada – disse Angus.

O carro continuou andando, como o locutor do rádio dando notícias, mas nenhuma em relação a algum ataque fora do normal. Finalmente as casas foram aparecendo e a criatura que Victória enxergou não estava mais rodeando o carro, a essa altura já estávamos seguros.

As casas pareciam estar abandonadas, pois nenhuma estava com alguma luz acesa ou com alguma janela aberta. Todas estavam vazias, um sinal de que a festa estaria repleta de turistas e moradores da cidade.

Uma luz, que podia ser vista de longe. Estava iluminando o parcialmente o céu, como um holofote em shows. A festa estava próxima.

Finalmente chegamos. Angus estacionou o carro um quarteirão antes da festa, pois aquele local era o único que havia encontrado. Todos desceram e, em seguida, ele trancou o carro.

-Não sabia que também ficaria na festa – disse Jorge.

-Não vou ficar – disse Angus. – Apenas observarei de longe, se algo der errado, vou chegar a tempo de ajudá-los.

-Ótimo – disse Victória.

-Ah! – exclamou Angus. – Quero que se aproximem do porta-malas. Tem algo que vou lhes entregar.

Chegamos perto do porta-malas, agora já aberto. Um saco preto, a única coisa que tinha ali, estava nos aguardando. Angus o pegou e, de lá, retirou uma espada completamente diferente de todas que eu havia visto.

-Jorge – chamou ele.

-Não sei usar uma espada – disse Jorge.

-Vai ter que aprender.

-Victória – disse Angus, agora com duas adagas na mão. – Acho que já sabe o que fazer com isso.

Ela pegou cada uma e colocou dentro do bolso, de maneira que ninguém podia ver. E, finalmente, ele me chamou.

A espada que eu utilizei no dia do incêndio estava em sua mão e ele me entregou. Por sorte, as roupas que Marta havia nos arranjado tinha mochilas, menos a de Victória. Ela e Angus já haviam planejado tudo.

Eu e Jorge colocamos as espadas dentro da mochila que era suficientemente grande para isso e nos despedimos de Angus.

Uma leve brisa batia em nossos rostos enquanto íamos em direção à festa. Tudo estava iluminado e, de noite, era perceptível que o trabalho realmente valeu a pena. Com toda certeza, aquela seria uma grande festa.


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