As Bruxas De Tonderville- A Maldição escrita por Yan Bertone


Capítulo 30
Verdade ou Mentira




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Vilma nos encarava com um olhar profundo como se esperasse o mal chegar até nós. Ela com toda certeza não queria que fôssemos prejudicados com tudo o que estava acontecendo, mas não dependia somente de Vilma.

-Já vivi muitas histórias para contar – disse ela. – Minha família foi uma das primeiras a morar na cidade. Estamos aqui desde os tempos sombrios, tempos que minha mãe nunca deixou de contar sobre eles. Meu avô contava a ela sobre essa época, histórias que passaram de um para o outro.

-Como eram esses tempos? – perguntou Victória interessada no assunto.

-Sombrios – disse Vilma. – As bruxas estavam no auge de seu poder, não havia ninguém que podia pará-las. Corpos eram deixados em meio às ruas por medo que as pessoas tinham de sair de suas casas. Quem saía, muitas vezes nunca mais era visto. As ruas ficavam desertas em dias como esse e casas pegavam fogo sem nenhuma razão. Até o dia em que muitos se reuniram e decidiram acabar com tudo de uma só vez.

“Vamos botar fogo na Floresta Sombria” – disse um velho camponês, mas de nada adiantou. O fogo se alastrou e um forte vento o trouxe para o vilarejo, queimando as casas mais próximas.

Enquanto Vilma falava, meus pensamentos voltavam-se há tempos antigos. Transmitindo tudo o que saía de sua boca.

-Até um dia em que as bruxas que comandavam tudo foram queimadas – continuou ela. – Juraram voltar um dia, mas ninguém acreditou que era mesmo uma maldição. Nunca pensei que viveria para ver o retorno das três. São vocês três os únicos que podem nos salvar. Assim que elas se manifestarem, os tempos sombrios voltarão e heróis terão de renascer para salvar mais uma vez a pequena cidade de Tonderville da maldição.

Ela parou. Voltamos nossa atenção para a pequena e antiga cabana em meio à floresta. A chuva tinha terminado do lado de fora e o sol parecia querer aparecer atrás das nuvens, agora em menos quantidade.

-Isso tudo é muito interessante – disse Victória. – Mas agora temos que contar a Angus tudo o que está acontecendo.

-Entendo – disse Vilma. – Desejo-lhes boa sorte, espero que possamos nos ver novamente.

Ela abriu a porta com calma e saímos. Não era necessário se preocupar em se molhar, apenas em não cair na lama ainda localizada em pontos específicos do caminho.

-Não acham estranho que Vilma tenha descoberto que Dave é um bruxo logo depois de começarmos o treinamento? – perguntou Victória.

-Não sei – eu disse. – Mas acho que ela ainda está nos escondendo alguma coisa.

Seguimos até as construções. Angus estava sentado em seu escritório. Lendo um livro cujo nome eu desconhecia completamente no momento, mas isso não interessava para nós agora. Entramos todos juntos, nos espremendo para podermos passar na porta ao mesmo tempo.

-O que houve? – perguntou ele.

-Dave é um bruxo espião – disse Jorge se antecipando.

-Que provas vocês tem disso? – perguntou Angus. Ainda com o livro aberto, de maneira que deixava claro que não estava acreditando.

-Vilma nos disse – eu disse, me sentando em uma das cadeiras.

-Certo – disse Angus, agora fechando o livro e o colocando de lado. – Vou deixar bem claro. Dave está conosco há anos e nunca houve nenhum problema. Vilma também está conosco há muito tempo, mas ela está começando a enlouquecer.

-Quem disse isso? – perguntou Victória.

-Dave – disse Angus. – E eu acredito perfeitamente nele. Já faz um tempo que ele vem me dizendo que Vilma está precisando se acalmar, ela se empolga muito com os ataques que vêm ocorrendo e não tem mais idade para isso. Espero que compreendam, pois tudo vai continuar como está.

-Ótimo – disse Victória parecendo nervosa. – Se está com medo de encarar a realidade não tem problema algum. Um dia você verá quem está mentindo.

-Não pensem que não acredito em vocês – Angus gritava e batia na mesa com as duas mãos abertas. – Sei que são capazes de fazer qualquer coisa, mas, ao menos que não tenham provas, não posso acusar ninguém aqui dentro. Entenderam?

-Perfeitamente – disse Victória. Saindo do escritório logo em seguida.

Eu nuca havia visto ela desse jeito. Estava com raiva e Angus também, mas não podiam ficar discutindo, pois era exatamente isso que Dave, de acordo com Vilma, estava querendo.

-Está tudo bem – eu disse, tentando acalmar Victória e sentando a seu lado na soleira da porta da cozinha.

Tinha voltado a chover e o sol se escondeu mais uma vez atrás das nuvens.

-Como pode ter tanta certeza disso? – perguntou ela. – Angus anda meio estranho ultimamente e nunca se sabe quando ele pode surtar, mas parece que somente eu percebi isso.

-Quem sabe ele não está enfeitiçado – disse Jorge de brincadeira.

-Sabe que isso pode ser verdade? – perguntei. – Dave pode ter colocado Angus em uma espécie de transe. Para nós, parece que ele está normal, mas, para Angus. Dave é um homem maravilhoso.

-Tem razão – disse Victória. – Mas agora temos que arranjar uma maneira de acabar logo com o efeito do feitiço.

-Só conheço uma pessoa que pode nos ajudar – eu disse.

Marta sentou-se em uma mesa do local ainda localizado em meio às construções da Floresta Encantada. Era uma pequena sala onde, em prateleiras na parede, estavam empilhados diversos tipos de potes com uma etiqueta em cada um.

-Não sei se acredito oi não em vocês – disse ela. – Dave sempre passou a impressão de boa pessoa, mas, já que não existem reações malignas com o tipo de poção que usarei vou fazer.

-Isso é ótimo – disse Victória. – Temos uma chance de salvar a floresta, mas como essa poção funciona?

-É muito simples – disse Marta. – Você tem que colocar na bebida da pessoa sem    que ela veja, a menos que queiram mais encrencas. Depois que a pessoa beber vai demorar um pouco, mas vai enxergar a verdade.

-Certo – eu disse. – Quanto tempo demora a ficar pronto?

-Cinco minutos – disse ela. – É uma poção muito rápida de se fazer, não custa nada, mas preciso dos ingredientes certos.

-Vamos esperar – disse Victória.

Sentamos em um banco de madeira comprido que ficava encostado em uma das paredes da sala. Olhei em volta, tudo parecia muito estranho e Marta estava agora com uma roupa específica para poder mexer com os experimentos.

-Qual a função dessa roupa? – perguntou Jorge.

-Existem elementos tóxicos aqui – disse ela. – Não quero causar nenhum acidente.

Marta não era uma bruxa muito experiente, mas a única que tínhamos que podia nos ajudar. Ela parecia nervosa em fazer a poção, mas, por fim, pareceu dar resultado.

Depois de minutos que passaram vagarosamente. Estávamos entediados, mas ela conseguiu.

-Terminei – disse Marta. – Consegui fazer a poção.

Olhamos diretamente para ela e logo percebi do que se tratava. Era um pequeno frasco que parecia ser de perfume. Tinha um odor estranho que espalhava por todo o ambiente, fazendo com que a sala se tornasse um ambiente desagradável para estar naquele momento.

-Espere um instante – disse Victória. – Esse líquido é verde, como Angus não vai perceber que colocamos algo em sua bebida.

-Ele dissolve na água – disse Marta. – Fica da cor do líquido que colocou. Basta pingar cinco gotas na bebida e tomar.

-Perfeito.

Marta tampou o frasco com uma rolha que tirou de uma pequena gaveta atrás de si. Também tirou de lá um conta-gotas e nos entregou.

-Tome cuidado – disse ela. – Se Angus ver vocês pingando o líquido em sua bebida pode achar que estão querendo envenená-lo. Nunca se sabe do que uma pessoa é capaz de pensar e fazer quando se está enfeitiçado.

No caminho de volta, pensei em como Angus poderia reagir, se ele estava ou não enfeitiçado em quem Dave realmente era. Ele estava há anos na Floresta Encantada, passava uma boa impressão a todos que convivessem com ele e, além disso, sempre tinha um modo brincalhão e um largo sorriso no rosto.

-Acham mesmo que Dave pode ser mal? – perguntei.

-Claro que sim – respondeu Victória passando os braços ao redor de meus ombros. Continuamos andando e Jorge nos acompanhando. – Acredito mais em Vilma do que nele, mas só teremos certeza quando a poção fizer efeito.

Naquela tarde Jorge foi para sua casa. Sua mãe ficou muito feliz em vê-lo e nos agradeceu por temos ajudado para que ele se recuperasse, mas mantemos em segredo a parte da Floresta Encantada e deixamos que ela pensasse que foi mesmo uma explosão que fez com que a escola ficasse em ruínas.

O dia estava acabando, mas Victória ficaria na floresta para jantar a pedido de Joana que pensava duas vezes em partir em momentos como esse. À tarde o sol saiu, iluminando os últimos minutos do dia.

-Acho que você gostaria de ver o pôr-do-sol antes de voltar a morar com seu pai, não é mesmo Joana – perguntou Angus.

-Claro – disse ela. Isso sempre foi uma coisa que ela gostou muito de fazer.

-Venham – disse ele. – Vou lhes mostrar um local maravilhoso para se apreciar o pôr-do-sol.

Tinha vezes que Angus parecia ser normal e ter voltado a ser como antes, mas havia momentos que ele olhava como se não esperasse nada de você, um olhar que parecia de desprezo, mas, como Victória disse, só saberíamos quando a poção fizesse efeito.


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