As Bruxas De Tonderville- A Maldição escrita por Yan Bertone


Capítulo 14
Histórias do Passado




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Depois que Talita e Thomas foram embora, tudo pareceu se acalmar, mas era evidente que Angus estava estressado e que não queria muita conversa com ninguém ali por perto.

-Acho que vou para casa – disse Victória e certamente ela iria para minha casa, em consequência sua mãe ainda estar por lá.

Concordei com ela e, juntos, fomos para a saída da Floresta Encantada. Ela sabia de um ônibus que passava logo que a floresta terminava e começava a cidade, não muito longe dali, mas tínhamos em média meia hora de caminhada.

-Esperem um pouco – disse Angus quando estávamos praticamente fora do local. Ele corria em nossa direção como se o que ele falaria fosse um assunto de extrema urgência. – Aposto que ficaram se preguntando como tudo o que Talita disse aconteceu, pois bem, está na hora de eu explicar tudo a vocês.

Sabia que ele tinha um pensamento diferente do meu, que Victória não fosse capaz de nos ajudar contra as bruxas e os demais habitantes da Floresta Sombria, mas, como ela estava cada dia mais envolvida, era perceptível que começava a ser inclusa nas conversas e planos.

Fomos até a biblioteca com ele, onde um grande e empoeirado livro nos aguardava em cima da única mesa contida no cômodo. Nunca me senti muito bem ao entrar em lugares como esses com Angus, tinha uma leve impressão de que ele iria me atacar ou coisa do tipo. Algo que poderia ser somente um trauma vindo de minha outra vida nessa cidade que só me trouxe confusões, mas tinha o lado bom de tudo isso.

Angus nos mandou sentar. Desde a primeira vez que me sentei nas poltronas da biblioteca sempre me senti bem confortável, de maneira que se estivesse com sono poderia até mesmo acabar dormindo em meio a uma chata discussão com coisas fora de meu interesse.

-Quero contar tudo a vocês – disse Angus. – De como foi no início dos tempos até os dias de hoje, como o que Talita fez há poucos minutos na cozinha.

“Há muito tempo atrás, quando os homens ainda nem mesmo haviam chegado ao local onde hoje é a pequena cidade de Tonderville, uma guerra era travada, onde o mal estabelecia grande maioridade sobre o bem.”

“Um rei vindo de longe, trouxe suas tropas para perto dessa região, onde ele e seus homens lutaram bravamente contra o que quer que estivesse em seu caminho, mas algo foi capaz de pará-los, uma densa floresta, onde não se podia ver nenhum sinal de luz”.

Enquanto Angus falava, eu e Victória prestávamos atenção a cada detalhe da, até então, magnífica história sobre a cidade e os povos que a dominaram.

- O rei ordenou a um de seus homens que adentrassem a floresta – continuou Angus. – Um homem que era de muita importância ao reino, bravo e forte, poderia até mesmo ser o noivo ideal prometido à princesa.

“O homem, corajoso e com a espada na mão, entrou e nunca mais saiu de dentro da floresta, o rei então ordenou a seus homens a segui-lo, margeando a floresta com seus cavalos até encontrarem uma área onde poderiam se estabelecer”.

“Andaram durante horas, mas nunca se cansaram, até o momento que encontraram uma fenda, onde poderiam passar e entrar em meio a dois tipos de vegetação, uma densa e sombria, a outra, com raios de sol a iluminando”.

Tudo o que Angus dizia era lido no livro em cima da mesa de madeira a qual ele apoiava sua cabeça em uma de suas mãos.

-Nada podia ser feito em relação ao homem que entrou na floresta. Ao longe, era possível ouvir um grande e forte grito, mas era tarde demais.

“O rei e seus homens se estabeleceram ali, mudando o reino de lugar e estabelecendo as terras como parte do reino, muitos povos da população vieram para essa área, pensando que estariam em paz e segurança”.

Angus tossiu, de maneira que Victória se ofereceu para ler a história, Com um leve sorriso, ele cedeu o livro, arrastando-o sobre a mesa.

-Os habitantes de Tonderville logo viram que necessitavam de um recurso para sobreviver. Resolveram então, desmatar as árvores da floresta a qual não batia o sol, pois parecia ter mais árvores que a outra – começou Victória, de maneira que um sorriso e outras expressões faciais tomavam conta de seu rosto a cada palavra lida. – Com o tempo, praticamente metade da floresta havia sido desmatada, o que causou um grande conflito a quem a habitava.

“O primeiro ato do rei em relação a isso foi preparar suas tropas contra quem quer que fosse o habitante da floresta, mas suas forças eram inúteis à tamanha grandeza do povo que vivera todo esse tempo, escondido entre as árvores, esperando o momento certo para agir”.

“Diversas tropas foram aniquiladas, sobrando somente o rei e sua tropa, nesse momento, em consequência de tudo isso, os moradores da cidade tiveram que se voluntariar para poderem fazer parte da primeira, e todos estimavam que fosse a última, caçada de bruxas”.

“Foram dias sangrentos desde que a caçada foi iniciada, famílias se perdendo e pessoas morrendo a cada instante que era quase impossível de se ver o que acontecia quase todos os dias na praça central da cidade”.

“Como não podia aproximar, muitos olhavam somente de longe, onde não ficavam expostos, pois já estavam sendo vigiados”.

-Pare – ordenou Angus com um grande tom de autoridade na voz.

- O que quer dizer tudo isso? – perguntou Victória entregando-lhe o livro, mas não foi Angus quem respondeu e nem mesmo precisou falar alguma coisa, pois a capa do livro estava exposta e nela era possível ler:

“Propriedade de Angus: guardião supremo da Floresta Sombria”.

O livro pertencia a ele e isso explicava muitas de minhas perguntas, pensamento e coisas que começavam a fazer sentido, mas algo ainda estava em aberto.

-Como tudo isso pode ter acontecido e você escrever algo como se fosse somente uma história? – perguntei. – Isso é parte de sua vida, por que nunca mostrou isso a ninguém?

-Muitos já sabem – disse Angus. – São poucas as pessoas que puderam ler isso com a minha autorização. Há anotações nesse livro que estão na língua mais antiga que ainda pode ser ouvida nos dias mais escuros e na calada da noite naquela floresta. Lembranças que tive que desabafar com alguém, pois foi dessa maneira que nos conhecemos em sua outra vida.

Outra vida. Duas palavras tão pequenas que tem um grande significado para mim. Até este momento sei de criaturas sombrias e que um novo derramamento de sangue poderá acontecer a qualquer momento, mas nunca soube como eu e Angus nos conhecemos.

-Como foi isso? – perguntei.

-O vi na praça – começou ele. – Foi no dia em que as bruxas lançaram a maldição sobre a cidade. Tentei me aproximar, até esse dia ainda lutava ao lado delas, você estava de costas e era sua chance de morrer. Cheguei perto por um segundo e você se virou, cravando uma espada em meu braço.

“Foram questões de segundo para o sangue começar a escorrer, mas por um motivo você parou, poderia ter me matado, mas preferiu não fazer”.

“No momento em que a espada foi retirada eu corri para dentro da Floresta Sombria, mas você chegou a me alcançar antes mesmo de eu ter passado a fronteira, leve um susto quando me derrubou”.

“Eu estava caído no chão e, por um segundo pensei que estava morto, mas você perguntou meu nome e então respondi, nesse instante você me reconheceu de seus pesadelos, o monstro que vivia debaixo de sua cama o tempo inteiro, desse dia em diante, uma amizade nasceu”.

Era um tanto que comovente a história que Angus contou, mas isso era passado e o que certamente estava acontecendo neste exato momento era a minha mãe com a de Victória estarem se perguntando onde estamos.

-Temos que ir embora – disse Victória como se tivesse lido meu pensamento.

-Concordo – eu disse.

Nós três nos levantamos e nos despedimos, mas Angus estranhou a ação logo que a concluímos.

-Não vão querer um carona até me casa? – perguntou ele.

-Acho melhor não – disse Victória. – Minha mãe vai esperar na porta da casa de James e não quero que ela fique fazendo um grande interrogatório em relação a quem estava dirigindo o carro em que chegamos a casa.

-Se vocês preferem dessa maneira –disse Angus se afastando para dar espaço para eu poder passar na porta e mandar uma mensagem para casa dizendo que estava tudo bem.

Foi em pouco tempo que chegamos à porta da Floresta Encantada, Angus não nos acompanhava, iríamos pegar um ônibus para chegarmos a casa.

-Onde fica esse tal ponto de ônibus? – perguntei a Victória quando tínhamos acabado de sair. Já estava escuro e fazia um pouco de frio fora da biblioteca da Floresta, mas nada que fosse capaz de incomodar uma pessoa.

-Logo ali em frente – disse ela. Andávamos sobre as pedras da pequena estrada onde era possível chegar à Floresta, mas ainda iríamos demorar um pouco para chegarmos a casa.

Andávamos na estrada, mas parecia que nunca eu havia estado ali antes. Sendo este o único caminho para podermos chegar até a Floresta Encantada era um pouco difícil de entender o que estava acontecendo.

-Victória – chamei e ela olhou para mim imediatamente. – Se lembra de estar nessa área da estrada?

Espante-me com o fato dela mexer a cabeça negativamente, seguida de um longo suspiro.

-O que pode ter acontecido? – perguntou ela.

-Lembra de que Angus falou que as estradas podem mudar de posição? – perguntei. – Acho que foi isso o que aconteceu.

Como não havia nenhuma outra explicação para o que estava acontecendo, pensamos seriamente que isso fosse a explicação para o fato ocorrido. De qualquer maneira, estávamos perdidos e não sabíamos como poderíamos chegar em casa antes que as coisas ficassem piores do que já estavam.


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