Safe And Sound escrita por Nivea_Leticia


Capítulo 1
Just close your eyes...


Notas iniciais do capítulo

UHUL, VAMOS NESSA COM O CASAL MAIS FOFO DO MUNDO *--*
Ps: O esquema de sempre: para ouvir a música basta clicar no nome dela ou na imagem ;)



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[Música - Safe And Sound - Taylor Swift]

Aquele dia podia ser tudo menos normal para Poseidon. Não importava que esse fosse um deus, pois como qualquer outro homem a simples notícia, vinda de cúmplice de loucuras chamado Apolo, de que seria pai fez o dia parecer mais bonito. E mais sorridente do que nunca.

Todos os deuses o olhavam enviesado, a procura do que o deixava tão feliz, quando entrou a sala dos tronos, hoje mais resplandecente para olhos verdes, dizendo bom dia até para os passarinhos autômatos de Hefesto que passavam.

E a única que ele pensou, ao encarar os olhos cinza, que talvez soubesse de alguma coisa fosse Atena. Porque, bem, ela sempre sabia de tudo, mas teve certeza, pois como sempre ela achava-se ilegível (como de costume) e bem afastada dos demais. Mas nem isso ele ligou.

Era um dia de reunião. Como de praxe, quem puxou todos os assuntos foi à pequenina Artemis enquanto Poseidon pensava que sem aquela deusa nada aconteceria no Olimpo. Cada um disse o que tinha de falar para Zeus. Esse que não parava de dar olhadelas curiosas ao viajante deus dos mares que sorria para todo mundo, completamente à vontade na sua forma de trinta anos (uma grande surpresa por sempre gostar da sua versão cinquentão). Para Poseidon, estava tudo bem. Respondia as perguntas que lhe faziam com alegria. Entrou o relatório que tinha de entregar para Artemis que o olhou desconcertada e dizia o que devia para participar desse grupinho, sorrindo...

Até ela falar, de forma suave como se apenas recordassem.

- E encerrando essa reunião, lembro-lhes das regras de boa conduta – disse Atena, sem disfarçar ao encarar seus olhos verdes com o cinza tão perigosos que até ele, mesmo que não mostrasse, sabia que nunca mais iria querer ser inimigo dela. A ultima vez as coisas meio que... Desandaram. Troia foi um exemplo. A deusa, em sua forma de vinte e cinco anos, não sorriu. – É totalmente proibido aos três grandes ter filhos, qualquer um de nos interferir na vida de nossos filhos ou qualquer traição.

Poseidon quis soltar um: Acho que seu pai nunca vai conseguir fazer esse ultimo, mas limitou-se a continuar sorrindo como se a vida de seu filho não estivesse em perigo e piscou para a deusa. Como bem havia pensado, ela tinha notado.

Todos os deuses, sem exceção, encararam seu rosto. E mesmo não os retribuindo, porque estava mais concentrado em brigar visualmente com Atena, sabia que eles haviam pescado algo que não deveria. Então, a deusa da sabedoria sorriu, friamente.

- Pai, terminei o que desejava dizer.

E, fingindo que nada ocorria, Poseidon viu pelo canto do olho Zeus assentir.

- Obrigado pela presença de todos, daqui uma semana nos reuniremos outra vez. Estão dispensados.

Poseidon esperou calmamente, um pouco avoado, enquanto assistia os outros onze deuses sumirem ou saírem em grupo para a praça principal do Olimpo, se perguntando se alguém se intrometeria e descobriria sobre Sally Jackson. Não apenas por se tratar de uma traição a Anfitrinte, como também por um de seus irmãos quererem interferir na vida de seu filho para matá-lo. Reconhecia o erro, o perigo que havia colocado nos ombros do seu garoto, mas não podia de deixar de se sentir feliz. Assim que esteve sozinho, a encarar os tronos de cada deus se perguntando como seria se não fosse um dos três grandes, no momento que resolveu que tinha de ir embora. Tinha que ver seu filho.

Caminhou sem preocupação aparente, com as mãos nos bolso de sua calça jeans, quase perto das portas de ouro divino, quando sentiu uma mão tocar seu braço. Poseidon virou-se, surpreso por não ter dado alarde da presença de outro ser ali, para encarar sábios e afiados olhos cinza. Na mão pequenina, de pele tão branca como a neve que contrastava tanto com o halo dourado de cachos que era seu cabelo quanto com a túnica grega vermelha que usava, Atena segurava um papel que ele não precisou ser um gênio como a deusa a sua frente para saber que se tratava de seu filho.

- Já não sei se sou tão inteligente assim por estar fazendo isso – os olhos cinza ficaram um pouco mais suaves. – Leia isso, Poseidon.

Não compreendendo, mas sendo ciente de que ela não lhe daria algum tipo de vingança sem mais nem menos, o deus apanhou o embrulho, esbarrando suavemente na palma macia da deusa. Ambos ignoraram a rápida corrente que os transpassou. E Poseidon recordou o inesquecível ao encará-la outra vez, aquilo que ocorrera milênios atrás, muito antes de Anfitrite ou do caso de Medusa. Quando ainda era somente ele e ela, bobamente apaixonados e que se gostavam ao invés de se odiarem. Melhor, de ela me odiar, pensou ele procurando algo do porque daquela mente esta o ajudando.

O tempo não o ajudou. Atena desviou o olhar, murmurando alguma coisa sobre como estava sendo estúpida, antes de assentir em sua direção para ir embora, o deixando ali, com aquele pedaço de papel e com as lembranças vivas dos tempos deles juntos.

[...]

As estações mudaram, os mortais avançaram e Poseidon, durante três anos, olhou de longe seu filhote crescer. Não podendo interferir, se sustentou em assistir Sally Jackson cuidar do garoto de cabelos negros e olhos verdes como o seu. Esse, como de se esperar, herdara sua astucia a não obedecer e de se meter em encrencas. Por vezes, sorriu sozinho enquanto via do lado de fora da casa ou nas praias de Montreal, onde conhecera a maravilhosa Sally, correndo ou brincando com pequenos bichinhos.

Perseu Jackson. Percy. Seu filho semideus.

Estava um dia de sol aquele. Apolo caprichava no seu Maserati, deixando tudo colorido, no momento em que Poseidon se “teletransportou” para a praça central do Olimpo, que estava em absoluto silencio por estar fazia, e surpreendeu-se ao deparar com Atena, escorada na beirada da fonte, de braços cruzados, cabelos loiros presos em um coque e trajando um vestido tubinho preto que o fez achá-la ainda mais elegante. Até que ela viu sua pessoa. Na certa sabia que franzia a testa, sem compreender a face delicada dela de alivio ao encarar seus olhos verdes com o cinza repreensor. E deu um sorriso torto assim que Atena ficou sob saltos negros, que não precisava saber que fora alguma ideia de Afrodite. Só de pensar nisso, fechou-se dentro da sua bolinha de vidro ao ser mais receptivo com a deusa, escondendo-se atrás de sua imagem. Conhecia Afrodite bem por demais. Sempre tinha algo dela assim.

Atena colou as mãos no quadril. E deu a ele a visão completa de como ela se encontrava bonita. Parecia a ele uma daquelas executivas que mandariam e desmandariam sem que ninguém reclamasse ou fizesse um pio.

- Finalmente, esperava que você chegasse mais cedo – disse a deusa, com a boca em linha fina, claramente nervosa por ter ficado ali por... Ele não fazia ideia.

Poseidon jogou as mãos pra frente como se fosse parar todo o transito louco que estava lá embaixo, de frente ao Empire State.

- Ei, eu nem sabia que você estava aqui. Na verdade... – ergueu uma sobrancelha, se divertindo – Por que estava me esperando?

Sorrindo ainda mais por ela ter ficado rosada, proeza que só ele tinha o costume de conseguir, Atena revirou os olhos e se tornou um pouquinho mais suave.

- O trato. – ela disse aquilo como se isso explicasse tudo.

O que para a mente lerda não abriu nenhum arquivo. Inclinou a cabeça sem entender.

- Que trato?

Atena suspirou. Mas, por alguma coisa, Poseidon tinha plena consciência que em outras circunstâncias... Não, não em outras circunstancias... Em tempos passados, ela teria sorrido e mostrado a beleza daquele rosto sorrindo por ter feito uma pergunta estúpida. Ou talvez nem tão estúpida assim.

- Três anos atrás te entreguei um papel, Poseidon, se lembra?

Foi como ter a chave para o próximo nível.

- Chegou?

- Acha que eu estou vestida de mortal por quê?

Mas ele já havia se acostumado com essas respostas secas delas, que nem sempre foram tão cruéis assim, após anos convivendo. Limitou-se a dar um sorriso bonito e dar de ombros.

- Ir ver algum mortal, talvez?

Ela revirou os olhos.

- Vamos, Poseidon, não temos o dia inteiro.

- Na verdade só temos esse dia.

- Você entendeu o que eu estava falando.

Começaram a caminhar na direção do elevador.

- Atena?

- Diga, Poseidon.

Ele sorria singelamente ao encarar os olhos apressados dela.

- Você ficou linda como mortal.

E, sentindo uma mescla de alegria com a chegada daquele dia e orgulho por tê-la feito ficar (depois de tantos anos) coradamente sem graça pelo elogio, Poseidon continuou andando, como se não tivesse dito nada demais.

Ah, mas tinha dito.

[...]

- Você não vem? – perguntou Poseidon, olhando pelo ombro para Atena que, segurando um copo do Starbucks, sentou-se no banco da praça de frente ao prédio que o deus sabia que morava alguém especial. Ela estava realmente linda, elegantemente com um livro sobre as pernas cruzadas e um sorriso educado nos lábios vermelhos, que se ele bem recordava, eram adoráveis ao beijar.

A deusa negou suavemente com a cabeça.

- Não, irei te esperar aqui.

- Mas...

- O tempo está passando.

E com um sorriso mais relaxado da parte dela, Poseidon sabia que seria besteira querer brigar naquele momento quando só tinha algumas horas. Com essa ideia, atravessou a avenida movimentada e entrou no prédio. Duas ligações, um pouco de poder e alguns segundos dentro do elevador depois, o deu achava-se ansioso e parado na batente da porta, perguntando-se se aquilo era certo, se querer aparecer seria o correto. Analisou por um tempo suas ideias, mas decidiu por fim que se Atena o estava ajudando, era para que nada saísse do local. E quando ia bater, a porta se abriu, revelando um clássico apartamento americano da Upper West Side.

A mulher a sua frente estava pasma, os olhos doces que o fizeram se apaixonar por ela naquele verão o encaravam com espanto e nem mesmo a chegada do pequeno Percy a fez soltar a maçaneta da porta.

Poseidon, de repente, sentiu-se sem graça. Sabia que estava mais novo, como também tinha certeza de que ela se lembraria dele. Sally era inteligente, perspicaz e acima de tudo, amava o mar como ele. E, agora, como amava o filho deles.

- Oi. – foi a coisa mais inteligente que ele pode dizer.

Então, havia braços ao redor de seu pescoço e uma risada que ele admitia ter sentido falta.

- Poseidon, é você mesmo? Que pergunta besta a minha... – ela se afastou para encarar seu rosto. – Está mais jovem.

Poseidon pousou uma mão no rosto da sua deusa humana.

- E você continua linda como sempre.

Ela apertou os lábios. Os olhos dela enchendo-se de lágrimas.

- Faz tanto tempo...

- Eu sei, eu queria ter vindo antes.

- O que importa é que veio.

E por aquela tão boa recepção ele não esperava. Sally, aparentemente pronta para sair e levar o Percy para a creche para poder ir trabalhar, puxou suavemente o filho deles para frente pela pequena mãozinha que segurava apenas o indicador da mãe. Poseidon agachou-se para ficar no mesmo nível do garoto. Sorriu.

- Ele é lindo. – disse ele, a encarar o rosto curioso de Perseu que segurava um pequeno ursinho em formato de cavalo, na verdade, um pégaso. Via os traços do sorriso de Sally assim que seu filho sorriu para sua pessoa. Conseguia definir muito bem o que era seu gene e o que tinha de mortal nele. – Oi, Perseu.

Os olhos verdes como os seus encararam a mãe que o incentivou a falar com o deus.

- Oi – sussurrou baixinho o garotinho.

O deus dos cavalos esticou a mão, em cumprimento.

- Sou Poseidon.

Percy segurou fracamente seus dedos com a mãozinha. Era tão pequeno.

- Pecy. – e, claro, ele não conseguia falar “r”. Pela primeira vez, Poseidon classificou aquilo como “adorável”. Seu filho era lindo. – Você é o papai?

Dando uma relanceada para Sally que se mostrou um pouco culpada, algo que ele não entendeu, Poseidon sorriu e assentiu.

- Sim, Perseu, sou seu pai.

- Mamãe contou um monte de historias...

- Olhe, Poseidon, eu realmente estou surpresa e alegre pela sua visita... – cortou Sally, dando uma olhadela no relógio de pulso. -... Mas eu tenho que levar o Percy e ir trabalhar, me desculpe, eu realmente...

- Eu posso ficar com o Percy?

A mulher mostrou-se pasma que chega parou de falar.

- Desculpa, hum, repete?

Poseidon sorriu de lado.

- Eu posso cuidar dele pra você hoje.

- Mas, você... Você não pode...

Ele deu de ombros.

- Pode-se dizer que estou tendo a ajuda de uma certa deusa.

Sally engoliu a seco ao falarem sobre a imortalidade dele e de com quem ele convivia.

- Isso não vai te trazer problemas?

Ele negou com a cabeça.

- Ninguém vai ficar sabendo... Então... Você se importa se eu...

- Não, que isso, claro que não – Sally sorriu. – Fique com ele só um minutinho, só vou pegar a bolsa dele.

Poseidon assentiu enquanto se erguia na forma toda, segurando Percy em seu braço e retribuindo ao olhar curioso e corajoso do seu filho que não parecia nem se importar de estar indo ficar um dia inteiro com um desconhecido. Podia ser o pai, mas não deixava de ser uma pessoa que ele nunca passou nem vinte minutos juntos. E esperava que o lado divino dele os ligasse. O que pareceu acontecer, pois assim que Perseu colocou uma mãozinha em sua boca como se fosse uma miragem e sorriu, o deus soube que seria mais fácil cuidar dele do que imaginava. Sally voltou dois segundos depois, disse tudo o que o filho deles comia e de que hora em que hora para depois entregar a bolsa com aquilo que ele precisaria. Ela sorriu assim que terminou.

- Cuide dele, Poseidon.

- Ele é um filho do deus do mar, não machuca fácil, não é garotão?

Mesmo sem saber do que falava, Perseu assentiu para a graça dos pais e Poseidon viu ali a chance de ir embora para deixar que Sally cuidasse da própria vida. Ela colou um beijo no topo da cabeça do filho dizendo que se viam mais tarde e tocou suavemente a face do deus que a encarou com o sorriso mais singelo que tinha.

- Até mais tarde.

- Vou trazê-lo assim que você chegar.

- Mas, como vai saber...

- Eu saberei – ele assegurou, passando as costas da mão livre na bochecha dela. – Te vejo mais tarde.

Para sua fala, Sally apenas assentiu e Poseidon virou-se, segurando Perseu perfeitamente enquanto conversava com o pequeno que sorria calmamente para sua pessoa. Foi assim, sem muitos momentos estranhos, que o deus atravessou a rua e parou de frente a Atena que continuava do mesmo modo, só que inerte em um livro sobre a arquitetura de Frank Lloyd, um dos filhos da deusa. A sombra a fez levantar o olhar e sorrir, um sorriso que ele não via há muito tempo, ao encarar Perseu. Rapidamente ela levantou-se para conversar com seu filho.

E Poseidon encarava-a, tão fora daquela mascara séria, enquanto fazia Perseu rir. Então, ela fitou seus olhos com os cinza tempestuosos mais relaxados.

- Ele é a sua cara.

- Isso ai, lindo como o pai, não é, filho?

O pequenino assentiu.

- Papai.

E a deusa, ainda que sorrisse, revirou os olhos.

- Herdou esse lado também.

- Obrigada. Vamos?

- Mas e...

Poseidon sabia que ela apontava para o prédio.

- Sally? Vai trabalhar, serei a baba dele hoje.

- Pensei que você fosse ficar com ela também.

Ele negou, sorrindo, para os lábios presos em uma linha fina da deusa.

- Poderia ter outro filho daqui nove meses andando pela Terra.

A loira no vestido tubinho revirou os olhos.

- Vamos, antes que você continue falando besteiras.

[...]

Para incredulidade de Poseidon, Atena se divertiu muito consigo e com Percy que parecia completamente à vontade entre os dois deuses. Desde o momento em que resolveram dar uma volta pela cidade antes de ir para algum outro lugar, ela relaxou, visivelmente, como se qualquer pressão invisível tivesse sumido daqueles ombros e nenhuma faceta para brigar com o deus. Esse se encontrava maravilhado. Não só por estar com Percy, seu filho que viu crescer sem poder nem se quer chegar perto, mas como também pela deusa que tocava seu braço, ria das piadas e das coisas que diziam como também chamava a atenção de muitos homens. Tentou ser imparcial a esse ultimo, principalmente quando um francês foi falar com ela sobre o livro que liam em coincidência, e foi difícil o conseguir. Mas, por sorte, Perseu facilitava tudo. Ele nunca havia se divertido tanto com um filho como fazia naqueles momentos, sem Anfitrinte para dizer algo, sem Zeus, sem nenhum problema... Como um verdadeiro mortal, acompanhado de uma linda mulher sorridente. Caminharam pela Fifth Avenue com Percy curioso olhando cada vitrine. Tomaram café no Starbucks no momento em que tiveram de parar para dar o café da manhã para o pequenino, algo que Poseidon acharia um pouco difícil caso não tivesse Atena avisando o que fazer. Compraram dois ursinhos: uma coruja e um tubarão para o garoto, os três rindo do que Poseidon dizia em seu pequeno teatrinho. Então, ao chegar mais à tarde, Poseidon levou os três para a praia, o que teria demorado dois dias caso não fosse um deus, para que pudesse curtir o sol quente da Califórnia, o local favorito de Apolo.

Estava parados, vendo Percy se divertir com uma nereida, em completo silêncio. Um silêncio calmo, não inquietante como costumava ser. Tão calmo que Poseidon suspirou, amando sentir o vento batendo em seu rosto e o calor dos raios de sol, escorado em uma palmeira, a mesma em que Atena estava, a roupa dela contrastando com o local.

- Então... – disse ele ao mesmo em tempo que ela disse:

- Enfim...

Os dois deuses se olharam. O verde no cinza. Ambos sorrindo. E riram, extremamente sem graça por terem pensado no mesmo momento para falar. Poseidon escorou a cabeça no tronco para olhá-la melhor.

- Pode falar primeiro, você classificaria meu comentário idiota.

E odiou o que havia falado assim que saiu da sua boca. Atena apertou os lábios em uma linha fina.

- Eu só queria saber se você não vai tomar banho. – e fez cara de surpresa. – Percy, por Zeus, ele sumiu.

Poseidon riu da cara dela de assustada.

- Atena, ele é meu filho, eu não deixaria o mar o matá-lo, não acha?

E ela pareceu de guarda baixa pela primeira vez depois de tanto tempo.

- O sol deve estar me afetando. O que você ia dizer?

- Apenas perguntar se você queria ir pra algum outro lugar.

- Acho que Perseu está gostando daqui.

Poseidon concordou, olhando seu filho na beirada da água, brincando com as ondinhas.

- É o mar. – encarou-a – Nos amamos o mar.

Atena sorriu.

- Nem imagino por que.

E assim acabou aquela conversa. Poderia ter parecido boba e curta, mas para ele, que não a via por vontade própria conversar com sua pessoa, era um grande passo. Um passo que o fez sorrir e se divertir ainda mais. Depois disso, falaram mais, indo de local a local, até que a noite chegou.

Acabaram chegando à casa de Sally por volta das oito, em perfeito compasso com a mortal que chegava do trabalho. Poseidon caminhou tranquilamente para a entrada do prédio onde Sally estava parada, sorrindo e cansada, um pouco triste também, pois os dois sabiam o que aconteceriam a partir dali. Por cima de seu ombro, Sally olhou para alguém que ele soube ser Atena para quem deu um aceno antes de encarar seus olhos com toda a meiguice que os dela tinham.

- Como foi o dia? – perguntou Sally assim que ele passou a bolsa para ela.

Poseidon sorriu para então encarar o filho.

- Fala pra ela, Perseu, como nos divertimos.

Os cabelos negros do garotinho movimentaram-se quando ele assentiu.

- Papai é legal, a gente foi pra um mooooonte de lugares.

- Também me diverti, filho. – e colou um beijo na testa do garoto – Agora eu tenho que ir.

Os olhos verdes e inocentes de Percy encararam os seus.

- Papai vai voltar?

E o que Poseidon mais quis dizer foi: sim, amanha mesmo. Mas isso era uma realidade muito longe da dele. Suspirou ao abraçá-lo, apertando-o contra seu peito.

- No momento certo, Percy – sussurrou no ouvido do garotinho. – No momento certo você vai me ver outra vez, tem um grande destino, meu filho. Um destino de um verdadeiro filho de Poseidon, ok?

E era claro que o pequeno não entedia apesar de assentir. Poseidon sorriu, o sorriso mais caloroso que podia, deixando para ele uma benção suave o suficiente para que nenhum outro deus percebesse ou monstro: a sua coragem.

- Um dia vai entender, meu filho – e colou outro beijo na testa de Percy – Agora é hora de você ir pra casa, com sua mãe.

Sally pegou o filho deles que era oferecido sem uma palavra, somente a fitar seus olhos como que já tivesse aceitado que o destino de Percy seria difícil e cheio de obstáculos, que ser mãe de um de um deus era muito mais complicado do que imaginava. Poseidon sabia que o tempo ensinaria a ela tudo o que precisava, que viveria preocupada, mas nada podia fazer para evitar tais fatos. Poseidon suspirou ao encostar os lábios na têmpora de Sally, achando trágico que tivesse dado aquele destino àquela mulher, enquanto abraçava os dois mortais mais importantes da sua vida.

- Eu amo vocês – sussurrou o deus dos mares, sob o ouvido da mortal. – Não sei quando iremos nos ver de novo, então, cuide dele aqui na terra e pense com carinho sobre o Acampamento que lhe falei da ultima vez. É o local mais seguro para nosso filho, Sally, ok?

Sally abraçou o filho assim que Poseidon deu um passo para trás e a viu sorrir em sua direção entre algumas lágrimas que caiam.

- Vou cuidar dele do melhor modo que conseguir, mas irei pensar sobre o Acampamento.

- Pense. Agora tenho que ir.

Sally assentiu e Poseidon desceu o olhar para o do filho, dando o ultimo sorriso.

- Estarei olhando por você lá de cima, garotão. Cuide bem da sua mãe quando crescer.

- Poseidon?

- Sim, Sally?

- Foi bom te ver.

Ele sorriu ainda mais.

- Eu quem agradeço por me ter recebido, Sally Jackson. Cuidem-se.

- Você também.

E, apesar de ambos saberem que um deus raramente se machuca ou cai, Poseidon assentiu, realmente feliz por aquelas palavras para então dar o ultimo aceno e se virar, indo para o lado onde Atena estava de braços cruzados, parecendo bastante interessada nos sapatos, como se tivesse ouvido mais do que devia. Seu rosto estava contraído e inexpressivo ao passar por Atena e sussurrar de uma forma que ela escutaria:

- Chegou sua vez, estarei te esperando no Central Park.

[...]

- Está feito.

Poseidon se virou da posição que se encontrava encarando a fonte, escorado em uma arvore na parte um pouco sombria, só iluminada por um poste, para ver Atena aproximando-se em passos cadenciados para perto de sua pessoa. O rosto da deusa estava outra vez fechado, como se compartilhasse com ele aquela dor de separar de alguém que queria há muito tempo. Seu filho. Suspirou ao passar a mão no rosto, realmente cansado daquela idiotice de lei. Queria tanto fazer parte da vida dele. Dividir mais algum dia com aquele que seria seu herdeiro mortal, como fez nesse dia, mas sabia que não conseguiria burlar mais uma regra, pois Atena já havia gasto a ficha única para que sua pessoa pudesse passar um tempo com seu filho.

Suavemente, sentiu a mão pequena de Atena escorregar pelo seu braço, aquecendo seu coração de um jeito estranho, até que seus dedos se entrelaçaram. Ele não chegou a olhar pra ela, não tinha coragem, mas aquele simples contato quando precisava o deixou melhor. Saber que não era o único que sofria com isso. Atena deu um aperto fraco. Era tão gostoso ter a mão dela outra vez sob a sua, dizendo palavras mudas de que tudo ficaria bem. Tão bom que aproximou os lábios para beijar as costas da mão dela. Era macia, quente. Era igual se recordava.

Suspirou.

- Apagou?

Sentia-a encarando seu rosto ao fazer essa pergunta.

- Sim, como havia pedido. Percy não irá lembrar-se de você, nem desse dia de hoje.

- Nada?

- Talvez somente o que sua essência divina passou pra ele, mas nada de sumo importância. Talvez um sorriso, um sentimento melhor ele guarde. Nada garantido. – ela parou, aproximando-se. – Desculpa.

Poseidon olhou para as estrelas que dali eram pouco visíveis pelas luzes da cidade grande.

- Não tem porque se desculpar, a nossa vida é assim. O mais engraçado é que somos deuses e o livre-arbítrio não existe para nós.

- Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.

O deus dos mares deu um sorriso pequeno, ainda sem olhar a deusa.

- Você costumava me dizer isso quando eu ficava indignado por não poder sair com você todos os dias. – deu uma risada baixa. – Você sempre brigava quando eu fugia do que deveria fazer.

Um silêncio aplacou-se sobre eles. Havia somente o farfalhar das arvores movendo-se ao canto do vento, a água escorrendo pela escultura do chafariz e os carros que roncavam no transito. Poseidon foi o primeiro a sair dos pensamentos nostálgicos para virar-se para ver a deusa, finalmente encontrando os olhos cinza que brilhavam na escuridão. Estrelas, ele costumava dizer, quando acordava a noite e a via lendo ou trabalhando. Aquele rosto. Seus dedos, por vida própria, tocaram as bochechas agora rosadas da deusa, sem afastar o olhar, sentindo a maciez e delicadeza que ironicamente aquela mulher de ferro detinha. Um sorriso nasceu em sua boca com esse pensamento.

- Dama de Gelo – brincou com ela, assistindo os cantos da boca pequena estenderem-se em um sorriso vergonhoso. Aquele sorriso, tímido, maravilhoso. Aquele sorriso que só vira dois dias antes de terminarem quando disse que a amava. Aquele sorriso que o fez descer os dedos para o pescoço macio da mesma, não deixando de encarar aquela tempestade que eram os olhos dela.

Vagarosamente, variando seus olhos da boca para o cinza, abaixou-se, nunca tendo sentido algo tão forte como aquele desejo que tinha de beijá-la. E ele sabia que ela tinha total noção disso. Mas ficou realmente surpreso e deliciado no instante em que a própria deusa aproximou-se, a mão livre dela pousando em seu quadril e permitindo ao erguer mais o rosto.

Muito lentamente, com um sorriso no rosto e a fitando, Poseidon trouxe-a para mais perto até sentia a respiração com cheiro de morango que ela tinha contra sua face, o nariz pequeno encostando-se ao seu e suas bocas tão próximas que...

Por um segundo, nada aconteceu, só havia seus olhares de ansiedade, então, fechando os olhos, o deus encostou seus lábios aos macios e suaves dela, ambos a soltarem um suspiro, aquela corrente a passar com mais força por seus corpos, juntando-os.

E foi como atirar fogo em um barril de petróleo puro. Seu coração bateu o mais rápido que pode, seu corpo por puro instinto a prendeu contra a arvore e seus dedos soltaram os fios loiros, permitindo assim que pudesse trançá-los, segurando-a ali. Mas, o mais incrível, foi que se achou calmo, não suprimindo um desejo carnal e sim um desejo mais profundo, mais antigo, adormecido que bocejava com aquele simples tocar de boca. Não havia luxuria no modo como Atena abraçava sua cintura, não havia promessas a mais que aquele sentimento estranho que sempre houve entre eles, mesmo na briga. Então, sendo o mais cavalheiro e delicado que pensou que poderia ser, Poseidon segurou o rosto dela com cuidado, como se pudesse desfazer, e pediu passagem com a língua pelos lábios com sabor de morango. O sabor da balinha favorita dela, ele se lembrava enquanto movimentava sem pressa suas bocas, a voltar a amar o que jamais deixou de amar o modo tímido dela de somente tocar seus lábios sem força com a língua ou de puxá-lo, sempre medrosa de machucá-lo quando o mesmo não sofria nada. Além de uma descarga elétrica diretamente em seu coração.

Escutou-a suspirar ao somente colar outra vez suas bocas, um selinho, dois, três e então abaixar o seu rosto para beijar a bochecha dela, as pálpebras que escondiam aqueles olhos inteligentes que já foram amáveis para ele um dia, logo abaixo da orelha para fazê-la arrepiar (onde era o ponto sensível daquela deusa) e por ultimo um beijo suave no pescoço da mesma antes de abraçá-la, com força.

Escutava-a chorar ao tocar o ouvido dela com os lábios.

- Por que você fez isso? Por que você propôs isso? – sua voz era gentil. – O que você ganhava, Atena?

Ela não respondeu de primeira, parecendo a ele sensível demais com o rosto escondido em seu peito, mas, então, ela levantou os olhos para ver os seus. Grossas lágrimas escorriam pelos cantos. Lagrimas que ele apanhou com beijos. Demorou e por fim ela sussurrou, sem desviar o olhar, deixando-o ler seus sentimentos como não deixava há muito tempo.

- Para te ver feliz. – dedos pequenos tocaram seu queixo. – Você não estava sorrindo mais, não estava mais brigando comigo e mantinha-se sempre distante. Foi quando eu soube de Percy.

Ele a olhou surpreso por aquela admissão.

- Então você...

Atena assentiu, dando um sorriso pequeno, mas cheio de significados para ele que a entendia. Ao menos, parcialmente.

- Eu quis te dar isso de presente e...

- E?

Ela suspirou.

- Para ter um dia com você.

Ele fitou os olhos cinza de forma desconcertada. Ela fez tudo àquilo para ver sua pessoa feliz?

- Mas, Atena... Era só ter pedido, sabe que eu sempre aceitaria.

Os olhos sábios fitaram seu ombro, de repente, sem graça.

- Você sabe meu ponto fraco.

E logo tudo fez sentido para ele.

- Orgulho. – murmurou ele, vendo-a assentir como se fosse uma pergunta - Você não precisaria ter dito muito, eu entendo indireta, sabe? Eu fui o Rei da Cantada naquele ano em que namorei você, lembra?

Atena sorriu docilmente assim como si mesmo ao relembrar.

- Lembro – os olhos dela prenderam os seus – Aquele foi o melhor ano da minha existência.

Poseidon colou seus lábios ao dela rapidamente, ainda a segurá-la.

- O nosso melhor ano. – suspirou. – Desculpa.

E ele sabia que ela compreendia que se tratava de tudo o que já havia a feito passar, muito mais do que apenas naquele ano, mas todo o tempo que estiveram juntos e fez alguma merda. Ela somente encarou seus olhos, ficando por um bom tempo assim, como se procurasse algo no verde para em seguida sorrir, ainda que uma lágrima escorresse pelo canto do rosto.

- Só você me fez engolir meu orgulho.

- Eu posso dizer que você foi à única que me fez ler livros chatos?

Ela riu, a risada dele, a risada da época de seu namoro.

- É, aquele tempo você até melhorou nisso.

- Brincadeira, Coruja. – afastou um cabelo do rosto dela, sorrindo. – Você sabe que nunca me esqueci de você, não sabe? - Ela assentiu. Então, sussurrado no ouvido dela, ele disse: - Atena, só de ter me dado esse dia eu agradeço, por ter me dado à chance de te fazer sorrir. E de dizer que te amo, sua cabeça dura.

Ela olhou para seus olhos, perplexa.

- Você... O que?

- Eu te amo, coruja. – sorriu nervosamente, encarando os olhos cinza. – Sempre amei.

E ela o beijou dessa vez, puxando sua boca para perto, como se pudesse sugar aquelas palavras, como se pudesse guardar aquele momento para sempre. E isso era uma coisa que ele não esperava ao sentir as mãozinhas dela nas suas costas, por baixo da blusa, que dizia ela era para interligá-los, para senti-lo vivo. Não se importou com nada, só havia ela, que fizera tudo por si e a boca que lhe dizia muito mais que o orgulho dela permitia.

Então, ofegantes, ela segurou seu rosto dentre as palmas pequenas, acarinhando-o enquanto lágrimas desciam mais e mais, praticamente deixando branco o céu acinzentado que eram aqueles olhos, agora, totalmente amáveis. Atena sorriu.

- Eu também te amo, Poseidon.

Ele sorriu, contudo, em algum lugar, ele sentiu um “mas” para terminar a frase. Claro, sabia que não podia ficar juntos, entretanto, no instante em que se concentrou no turbilhão de sentimentos que aqueles olhos passavam, sentiu-se um pouco perdido. E ela continuava a chorar, silenciosamente.

- Sabe qual o poder que herdei de minha mãe, Poseidon?

Sim, ele sabia, e compreendeu bem o que ela queria dizer com aquilo. Suspirou.

- Não pode esperar alguns minutos? Finalmente estamos bem.

Atena negou.

- Eu te dei o ultimo dia com seu filho.

- E o seu preço era esse – entendeu ele – Me dar o ultimo dia com você.

Ela assentiu, mordendo o lábio inferior enquanto encarava seus olhos a procura de algo.  E ele não viu como fugir daquilo. Atena o havia ajudado, era certo fazer o que ela desejava. Suspirando, Poseidon abraçou-a o mais forte que podia.

- Eu te amo, Atena, porque eu sei que nunca vai esquecer-se disso – sussurrou no ouvido dela, em seguida dando um ultimo beijo na boca avermelhada, um beijo longo, uma despedida que ele entendia o porquê de ter de acontecer: nunca poderiam ficar juntos. O verde achou o cinza. – Até quando?

Ela acarinhou sua face.

- Hoje, apenas.

- E o “eu te amo”?

Então, dando-lhe um beijo rápido, ela sorriu.

- Eu te amo, Poseidon, agora... – e os olhos cinza se tornaram perfurantes, mais do que tudo, enquanto ele sentia que logo não veria mais aquela alegria, aquele amor naqueles olhos. O cinza se retraiu, tornando-se prateados. Uma lágrima escorreu. – Eu ordeno que apague todos esses últimos minutos, que só recorde até ter levado Percy a Sally, que não se lembre de nada do que eu disse agora, como se nada houvesse acontecido.

A pupila dela dilatou, o prata mesclando-se com o cinza e ele se lembrou do que ela disse, anos atrás sobre conseguir apagar a mente de um deus se quisesse. O que ele menos esperava era que fosse com sua pessoa. Que não recordaria do amor que ela tinha por sua pessoa. Sentiu algo escorrer, mas não soube o que era. E nem teve tempo. Pois no outro minuto, tudo era negro e não havia mais nada.

[...]

Poseidon encontrava-se extremamente irrequieto desde que sentara no seu trono e não vira Atena chegar. Não entendia e nem lembrava porque de estar assim, algo havia acontecido com a deusa da sabedoria, algo que ele devia saber. Mas não fazia ideia do que era. As ultimas coisas que lembrava fora a de ter um dia magnífico com Percy ao lado da deusa de olhos cinza, contudo, não se lembrava de como chegara à cama onde Anfitrinte dormia do outro lado. Soube que levantou, tomou um copo de whisky enquanto remexia na caixa da época de namoro com Atena (local em que guardava as fotos, os presentes que recebera da deusa e tudo mais que sentia por ela, inclusive um vídeo deles brincando na praia) e tinha completa noção de que havia algo fora do lugar, que algo sobre ela e sua pessoa estava errado. Convenceu-se de que fora apenas porque viviam brigados e como fora estranho passar um dia juntos. Até tentou fechar os olhos, dormir, entretanto, aquela dorzinha no seu peito não deixava.

E ela faltar à primeira parte da reunião não era nada usual. Pensava nisso, os olhos no local vazio em que a deusa sentava, no momento em que sentiu um toque em seu ombro por parte de Apolo que de alguma maneira tinha sentado ao seu lado. Olhou-o, ainda meio longe.

- Viu Atena hoje?

Poseidon negou com a cabeça. Artemis deu uma olhadela feia para os dois que conversavam.

- Sinto que vamos brigar outra vez.

Apolo sorriu.

- Como sempre.

Poseidon assentiu, mas não sentiu que aquilo fosse legal dessa vez.

Tamborilava os dedos, ainda forçando a mente para aquele pedaço impedido, quando a sentiu mais do que a viu pelo canto do olho e levou o olhar para a deusa de cabelos loiros soltos e de túnica azul. Os olhos cinza encontraram os seus, estranhamente o acalmando ao saber que nada havia acontecido a ela (O que poderia ter acontecido?, perguntou sua mente idiota) enquanto a via encaminhar-se para o trono. Seu coração esperou algo. E sua testa se franziu ao não compreender o que era. Atena resumiu-se em erguer as sobrancelhas, os olhos indecifráveis e sem qualquer expressão no rosto perfeito, que o fez ficar sem graça e abaixar o olhar para o chão, sem nem mesmo prestar atenção no que Zeus dizia. Ela deveria ter retribuído com algo, ele sentia, mas não disse nada, ficando calado durante a reunião inteira, não estando espiritualmente presente ali e, ao que parecia, todos os deuses tinham notado o silencio do deus dos mares, pois assim que acabou Apolo e Hermes vieram perguntar se havia algo errado, assim como Zeus o fizera um pouco antes. Ele apenas assentiu, dando um sorriso de lado para dizer que estava tudo bem. E na primeira oportunidade que teve, fugiu, indo atrás da deusa que não saia de sua mente.

Encontrou-a caminhando calmamente com um livro em mãos, provavelmente indo ler em algum lugar mais afastado. Não a chamou, sentindo que não precisaria, sustentando-se em correr até ela e segurar o punho da mesma. Ao primeiro toque, Atena encarou seus dedos sob a pele dela, com força, antes de encarar seus olhos com repulsa. Algo estava errado. Ele franziu o cenho.

- Sim, Poseidon? – disse ela, retirando os dedos dele da pele branca – Primeiro se chama a pessoa antes de ir tocando ela. Agora fale logo, estou com pressa.

Na verdade, ele não sabia o que dizer. Sua boca abria e fechava enquanto encarava os olhos cor de tempestade, sabendo que devia dizer algo. Só não lembrava o que. Por fim, ele se irritou e bagunçou o cabelo com uma mão.

- Atena, aconteceu algo?

As sobrancelhas dela se ergueram em ceticismo.

- Você não lembra?

Apertando os lábios, ele negou com a cabeça.

- Eu só me lembro de ter saído da casa de Sally com você e estar na minha cama. – hesitou – Eu sinto que falta algo.

Ela fez cara de nojo.

- Era de se esperar, do tanto que bebeu.

- Bebi? – aquilo ainda não fazia lógica pra ele.

Atena revirou os olhos.

- Vai me dizer que não se lembra de ter ido beber com um amigo, me deixado aqui no Empire State e sumido com ele?

Aquilo não fazia lógica. Ele balançou a cabeça em sinal negativo. Não estava certo. Mas era tão difícil não acreditar ao ver a cara de desgosto que Atena fazia ao repugnar qualquer pessoa que bebesse, a não ser Dionísio, é claro. Ela engoliu a seco.

- Da próxima, peça ajuda de outra pessoa. – e Atena deu-lhe as costas, afastando-se a passos mais rápidos, como se pudesse pegar uma doença. E ele poderia ter jurado que a viu passar a mão no rosto, igual quando passamos para secar uma lágrima. Mas sabia que não poderia ser. Atena o odiava, jamais choraria por ele. Suspirou, ainda nervoso por aquilo e resolveu deixar pra lá. Era normal seu beber. E mais um PT não seria diferente.

E, mesmo sentindo algo errado, ele colocou as mãos nos bolsos da calça e encaminhou-se para o lado contrário, completamente isento de memórias do que seria o reconcilio dele com a deusa da Sabedoria.

E mal sabendo que ela o encarava se afastar, a visão um pouco embaçada pelas lágrimas que caiam. E, apesar de ter conseguido, seu coração doía mais do que qualquer outra coisa. Se pudesse, também apagaria o “eu te amo” que ele falara só para não sentir a dor, mas sabia que não podia. Assim como eles não poderia ficar juntos. Suspirou, chorando.

- Não podemos – sussurrou baixinho.

E nunca mais nenhum deles tocou no assunto, por mais que Poseidon se sentisse estranho ou por Atena sempre fazer que o odiava, mas havia os olhares. E eles diziam muito mais do que qualquer palavra ou lembrança. Era um magnetismo que os faziam se fitarem no meio de uma reunião, no meio da praça, em eventos ou qualquer coisa que estivessem juntos, independente da distancia que estavam.

E, a maior promessa que Atena fez ao receber o olhar confuso dele em uma das reuniões, foi a de que um dia liberaria aquelas lembranças presas. Que faria diferente.

Só não sabia quanto.

Mas faria.

E por enquanto, o melhor era deixar assim: escondido.

Até mesmo dele.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Eu amo essa fick, apesar de Atena ser uma F*****, anyway, eu imagino assim antes de haver toda a história do PJ e talz, que Poseidon deve ter feito algo semelhante e mentiu quando falou com o Percy depois *-* O que acham?
Hey, hey, não esqueçam meu comentário, me deixa feliz ;)
Beijinhos e foi um prazer te você aqui *--* Obrigada.