Ela adorava música. Adorava poder compor suas lindas canções e cantá-las bem baixinho, num lugar onde só ela mesma poderia ouvir. Seu nome era Mary, e a descrição que ela mesma se daria é: “eu sou horrivelmente feia”.

Mary se achava horrível pelo simples fato de que, além de ninguém gostar de suas canções, nenhum garoto olhava diferente pra ela. Ela era bem sozinha, não tinha amigos… Bem… Seus únicos amigos eram as folhas e mais folhas de músicas que ela mesma escrevia e cantava, evitando ao máximo que alguém lesse ou escutasse.

Numa noite de lua minguante, Mary estava numa fábrica abandonada, sentada em cima de caixotes de madeira. Sua única companhia era um violão velho, que em seus finos braços conseguia emitir uma belíssima melodia, cantada pela própria garota.

Em sua última nota, Mary deixou cair algumas lágrimas de seus belos olhos azul-claro, que inevitavelmente se confundiam com a lua. Nessa mesma hora, a garota ouviu uma voz desconhecida.

- Ei! O que uma garota como você faz aqui nesse horário?

Mary poderia fugir, mas a pessoa estava no portão da frente, olhando diretamente para ela. Ela não conseguia ver a pessoa, tinha pouca luz… Mas era uma voz masculina e bem jovem.

Cerca de poucos segundos depois, o garoto começou a se aproximar, enquanto Mary dava um salto de cima dos caixotes, ficando de pé na frente do mesmo.

- D-Desculpe… Eu venho aqui de vez em quando, pensar um pouco.

- Não parecem ser só pensamentos… - Disse o garoto, fitando o violão nos braços de Mary.

- Bem… É… Digamos que não sejam só pensamentos. Acho que deve ser meu coração também.

O garoto sorriu, e Mary se envergonhou bruscamente. Será que ele seria o seu primeiro amigo?

- Qual o seu nome? - Ele perguntou.

- Mary. E o seu?

- John. - Ele sorriu mais uma vez, fazendo com que Mary sorrisse também.

- B-Bem… Eu vou indo…

- Não, espera! - John tomou coragem e segurou Mary pelos ombros. - Posso ouvir sua melodia?

- Ahn…

- Deixa, vai. Deve ser tão bonita quanto você.

- Eu? Bonita?!

- Sim. Na verdade você é linda. Olha só que íris brilhante você tem! Parecem duas belíssimas safiras!

Nisso, Mary pulou nos braços de John, lhe dando uma abraço forte, deixando cair mais algumas lágrimas de seus olhos… Quando de uma hora pra outra, Mary sentiu o calor do sol em seu rosto, e uma leve maciêz em sua nuca. Foi o melhor sonho de sua vida. A garota sorriu naquela bela manhã quente, quando olhou para um dos lados e viu o seu velho violão encostado na parede. Seus olhos encheram-se de lágrimas, porém o sorriso permaneceu em seu rosto.

Nesse dia, Mary soube de que, em seus sonhos ou até mesmo em sua imaginação, ela podia ser feliz.