Até Amanhã. escrita por sofia


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

asdfghjkl nove reviews, meudeus, como eu amo vocês.
e até que eu estou escrevendo mais rápido,né? asdffghjkl.
obrigado por ler,
espero que gostem.



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Acordei quando estava começando a escurecer. Cassie estava ao meu lado, e ela sorria freneticamente.

-O que foi? – perguntei, a voz sonolenta.

-Eu descobri quem era. Na floresta. – ela disse, esperançosa.

-Quem? – perguntei, ansiosa. Aquilo havia me acordado.

-Lucas. Lucas é Lucke. – disse Cassie, mastigando as palavras.

Antes que pudesse chamar Cassandra de louca ou vomitar, a encarei durante minutos, para ver se ela estava falando realmente sério.

E estava.

-O que. O que você quer dizer com isso? – perguntei, minha voz trêmula.

-Lols. Eu não sei. Eu só sei que aquele era Lucas. Ou Lucke. Talvez uma junção dos dois. Mas eles têm algo muito em comum. Até o nome soa parecido. Preste atenção. – disse Cassy, séria.

-Você quer dizer que Lucas é meio que um Lucke real? – perguntei.

-Exatamente. – ela disse, me encarando.

-DE ONDE VOCÊ TIROU ISSO? – berrei. Porque eu estava berrando com Cassie?

Eu só estava nervosa.

-Eu fiquei muito tempo pensando nisso. Muito mesmo. Aquele não podia ser Lucke. Então, eu pensei em todas as pessoas mortas que poderiam ser. Nenhuma me pareceu coerente. Até que eu pensei em Lucas, e tudo fez sentido. A aparência. O nome. Tudo. Aquele que você viu se matar, na floresta, era uma mistura de Lucke com o Lucas. – disse Cassie. Não era possível que uma garota de oito anos estivesse me explicando aquilo.

Tinha algo muito errado ali.

-Cassie. Me escute. Lucke é só seu amigo imaginário. Você só imaginou eles parecidos. Nada tem relação. – disse a encarando.

-Ok. É só imaginário. Então porque você viu ele? E porque ele quase te matou? – disse Cassie.

-Por que... Porque eu estou maluca Cassie. Você sabe disso. Lucke é o garoto dos meus pesadelos. O garoto que morre afogado no próprio sangue. Toda noite. Há algumas semanas. – falei. Eu não estava aguentando mais esconder aquilo de Cassie.

Cassie me encarou por alguns segundos, pensando numa resposta.

-Eu... Eu não sei. Mais alguma hora você vai entender o que eu estou dizendo, Lola. Você vai ver. – disse ela. E um enorme silêncio se instalou entre nós.

Eu peguei “o preço desse sangue” e comecei a reler. Aquilo me acalmava. Em algumas horas, terminei de ler. Examinava cada palavra, cada frase. Talvez alguma coisa ali me trouxesse um assunto com Lucas.

E aí eu percebi que Cassie não parava de me encarar. Sempre que eu olhava para ela. Comecei a ficar assustada.

-Cassie. O que foi? – perguntei, depois de um tempo. Ela fez que “não” com a cabeça e fingiu estar interessada na paisagem da janela. Eu larguei o livro e fui sentar ao seu lado.

-Não é que eu não acredite em você. – disse depois de um tempo. – É só que eu não acredito em você. – Cassie riu.

-Lols – disse ela, enquanto se sentava no meu colo – alguma hora isso vai parar, não é? Isso de quase morrer toda hora.

-Vai. – eu disse. – Eu prometo.

Ela sorriu para mim.

Descemos para a cozinha, comemos, e voltamos para o quarto. Fiquei lendo e relendo até pegar no sono.

-Boa Noite. – eu disse.

-Boa Noite. – ela respondeu.

E eu apaguei as luzes e dormi.

Acordei, com o Sol atravessando as cortinas finas rosa bebê. Abri os olhos e cocei-os.

Cassie estava sentada em sua cama, olhando para a parede.

-Bom dia. – eu disse, sorrindo. Ela sorriu de volta. Desci até o jardim e abri a caixa de correio, onde o envelope de Lucas com o adesivo de hambúrguer estava a minha espera.

Com a letra garranchada, ele escreveu “a minha cor preferida é verde. E a sua?”. Eu ri, e botei o bilhete junto aos outros. Falei com Cassie e fui para a casa de Lucas.

Ele estava brincando com algo que não consegui identificar no sofá.  Bati na janela e sorri, e ele sorriu de volta. Largou o que quer que ele estivesse mexendo e veio atender a porta.

-Azul. –respondi, sorrindo, antes mesmo que ele pudesse dizer “oi”.

-Azul como o céu? – ele perguntou.

-Azul como alguma coisa azul. – disse, dando de ombros.
Lucas riu.

Ele botou a mão no bolso da calça e me chamou para entrar.

-agora você vai querer jogar o videogame de “o preço desse sangue”, não vai? Não vai? Não vai? Não vai? – disse ele, fazendo beicinho.

Eu ri e assenti, mesmo não gostando de viodegames.

Talvez agora eu aprenda a gostar.

Lucas pegou um pufe verde para ele e deixou o azul para mim. Eu sorri.

Sobre o videogame? Morte. Sangue, morte e sangue. Mas isso não o torna ruim.

Jogamos. Jogamos durante a tarde inteira. Eu só fui embora porque em certo ponto comecei a achar que meu pai teria um ataque ao perceber que eu não tinha ido á casa de uma amiga.

-HÁ, você perdeu. –disse Lucas, quase enfiando o dedo dele na minha cara, quando finalmente falei que achava que era melhor ir para casa.

Eu odeio quando as pessoas metem o dedo na minha cara.

Mas era Lucas. Então eu ignorei.

-é a primeira vez que eu jogo. – disse, rindo. – algum dia eu ainda vou te vencer.

-AH É? – disse ele, tentando ser durão.

-É. Você vai ver. – disse, e rimos.

Ele me acompanhou até a porta de vidro. Estava virando quando ele disse:

-E eu não ganho um beijo de despedida? – ele fez um beicinho.

-Dessa vez não. Só porque não me deixou vencer no jogo. – disse me aproximando do rosto dele e apertando suas bochechas.

-Chata. – disse ele, e virou de costas, com os braços cruzados em seu peito.

Eu ri.

-Até amanhã. – eu disse.

-Essa é uma ótima forma de flertar com alguém. Até Amanhã – disse ele.

-Até Amanhã. – eu disse, com o rosto vermelho.

Ele riu e fechou a porta, e eu fui para casa.

Cassie estava me esperando no sofá.

-Eu prestei atenção. – disse.

-Alguma semelhança entre eles? – disse ela.

-Isso são palavras de uma garota de oito anos? – perguntei, sorrindo.

Ela riu, dando de ombros.

-Fala logo, Lols. – disse Cassie.

-Um pouco. – admiti. – Mas isso não comprova nada. – disse. Cassie deu de ombros.

Eu me sentei ao seu lado. Antes que pudesse dizer algo, papai apareceu.

-Onde você estava, Lola? Você simplesmente sumiu! – ele disse. Ele estava relativamente irritado.

-Eu fui para a casa de uma amiga. Eu te falei. – disse. Ele me encarava.

-NÃO, VOCÊ NÃO ME DISSE. – ele berrou. Porque ele estava berrando?

Eu suspirei e olhei para Cassie.

-Ok. Eu não te disse então. – disse. Eu não sei como eu estava tão calma.

-Lola, o que é isso? Você simplesmente some e espera que eu não tenha reação? Você tem sumido muito nos últimos dias. Em vários sentidos. – ele disse.

-Pai. – eu disse, a voz trêmula.

-Quem é sua amiga? E para onde você vai todos os dias? Você está se fechando para o mundo, Lola. – disse ele, sério.

-Pai. – eu repeti. Eu não sabia o que dizer.

Mas eu sabia que de certa forma, ele estava certo.

Ele suspirou, me encarou durante alguns segundos e se virou para a cozinha.

E eu fiquei sentada no sofá com Cassie, sem reação.

Cassie me abraçou de lado, e eu fiquei encarando a tela preta da TV durante algum tempo.

Mas felizmente, eu não precisei pensar numa boa resposta para uma conversa emocional e cabeça com o meu pai, porque Cassie começou a ficar com sono e nós fomos para o quarto.

Ela escovou os dentes e dormiu, e eu fiquei encarando a parede e lendo até a madrugada, os pesadelos tentando invadir a minha mente novamente.

O dia seguinte não foi muito diferente. Acordei, por incrível que pareça, antes de Cassie. Fui tomar um banho e desci até a cozinha, onde papai estava lendo o jornal.

-Bom dia. – eu disse, me esquecendo de que ele havia brigado comigo no dia anterior.

Ele me encarou por alguns segundos, e rugiu algo que pareceu ser um “bom dia”.

-Pai. – eu disse, suspirando e me sentando ao seu lado.

Ele tirou os olhos do jornal e olhou para mim.

-Desculpe. Você tem razão. Eu. Eu fiz um amigo novo. O vizinho. O nome dele é Lucas. – eu fiz uma pausa. Ele continuou me encarando, esperando que eu continuasse – e eu vou para a casa dele ás vezes. É só isso. – eu disse, enquanto encarava o chão. Quando voltei a olhar para meu pai, ele estava sorrindo.

-Vai querer o que de café? – ele perguntou. Eu ri, apontando para o pão. Ele pegou, botou no forno e eu me sentei.

Depois de alguns minutos, eu peguei o pão do forno e comi calmamente, e ninguém disse nada.

Botei o prato na pia e fui para o jardim, e abri a caixa de correio.

Rasguei o adesivo de hambúrguer e abri o envelope. “tudo bem, eu cozinho.”. A letra ainda era garranchada, mas havia melhorado.

Entrei em casa, subi as escadas e guardei o bilhete na gaveta junto com os outros. Sentei na cama, e Cassie sorriu para mim. Eu sorri de volta, mas ela estava conversando com Lucke.

Eu desci as escadas.

-Hm, pai, eu vou para casa de... – ele me interrompeu com um sorriso e apontou para a porta com a cabeça. Eu sorri e a porta de mogno, pisando no gramado molhado de orvalho, caminhando em direção á casa de Lucas.

Bati na porta algumas vezes, e alguns segundos depois ele apareceu na janela de vidro, sorrindo, apontando para a janela ao seu lado. Ele abriu a janela com fumaça por causa do frio, e eu entrei por lá. Nós seguimos direto para o quarto dele, passando pela sala e pela cozinha.

Eu me joguei no pufe azul no chão de seu quarto e ele olhou para mim, sorrindo.

-E então. – eu disse, e ele se sentou ao meu lado.

-Você ainda tem que devolver meu livro. – disse ele, com um sorriso safado.

-E o que você acha que eu vim fazer aqui? – perguntei, revirando os olhos e ele riu.

-Não sei. Comer? – ele disse, me olhando com uma cara safada. Eu revirei os olhos, fiquei em pé e sentei em sua cama, me encolhendo.

Ele riu e se sentou no pufe onde antes eu estava sentada.

-Então. – disse ele, prolongando a palavra.

-Você sabe cozinhar, não é? – eu disse, o encarando.

-Eu sou o melhor cozinheiro que você já viu. – disse ele, com uma cara sedutora.

Ele saiu do quarto e foi até a cozinha, botou um avental, branco e velho e voltou para o quarto, e estendeu a mão, movimentando-a exageradamente.

-Cara, tem certeza que você não é gay? – eu disse, segurando uma risada. Ele parou no meio do caminho e aproximou seu rosto do meu, tão próximo que eu sentia seu hálito de menta penetrando dentro de mim.

-Quer que eu te prove? – disse ele, uma voz sedutora, de veludo.

Eu revirei os olhos e o empurrei para frente, indo para a cozinha, escondendo um riso.

A cozinha de Lucas era bem grande. O chão era de azulejo branco, e a bancada ocupava boa parte do cômodo. A luz falhava um pouco, mas nada que nos impedisse de enxergar. Um fogão preto e grande estava ao lado da geladeira, que Lucas abriu para pegar alguns ingredientes que eu não prestei atenção, e eu sentei na mesa de mogno perto da bancada.

Fiquei brincando com um pedaço de palha que estava solto da cadeira, enquanto eu observava os movimentos de Lucas com a comida, mas eu não fazia ideia do que ele estava preparando.

Ele ia me pedindo para passar alguns ingredientes a ele, enquanto fazia movimentos rápidos com a faca.

-Como você aprendeu a cozinhar?

-Minha avó. – respondeu ele, seco.

Eu nunca deveria ter perguntado, mas a minha curiosidade falou mais alto.

-O que houve com seus, hm, pais? – eu olhava para o chão enquanto falava, e eu também não via sua cara, ele estava olhando para a bancada.

Mas eu senti que ele me encarou por alguns segundos antes de me responder.

- Meu pai morreu de câncer quando eu ainda era muito pequeno, e minha mãe, entrou numa espécie de depressão, e depois de dois anos da morte dele, ela fugiu, e foi morar com o novo namorado dela. Ela insistiu em não me levar junto, ela disse que era para me proteger. Não sei do que. – ele fez uma pausa, e ficou brincando com um garfo – E eu nunca mais tive notícia dela. Então decidiram mandar a minha avó para morar comigo. – disse ele, enquanto botava uma bandeja no forno.

Eu simplesmente não soube o que responder e fiquei batendo as unhas na mesa, enquanto ele tirava o avental e foi se sentar ao meu lado.

Ninguém disse nada.  Às vezes ele olhava para mim e ria, mas não passava disso. Depois de alguns minutos, ele tirou a bandeja do forno e levou até a mesa. Algo que eu julgava ser um suflê ocupava a bandeja. Ele sorriu, pegou uma faca e tirou um pedaço, e botou em um prato.

Comemos calmamente, e ninguém havia dito nada ainda. Eu terminei de comer, botei meu prato na pia e sorri para Lucas.

-Então. – disse ele, e fez uma pausa. – você não vinha aqui só para devolver o livro? – Ele fez uma voz maliciosa e tediosa ao mesmo tempo.

-Você não queria que eu ficasse? – disse, me aproximando dele.

Ele me encarava sério, mas eu percebi que ele estava escondendo uma risada.

Agarrei sua mão e puxei-o até o jardim, onde eu corri até tropeçar em alguma coisa que eu não vi, e caí deitada na grama, e fiquei ali parada, e ele se deitou ao meu lado.

O por do sol não era visível por causa da densa neblina.

Ele sorriu para mim, e tirou algo do bolso que eu não prestei atenção, e estendeu para mim, me oferecendo.

Eu o encarei por alguns segundos, até que eu decidi abrir a caixa e pegar um. Ele fez o mesmo.

Eu nunca tinha fumado antes. Fiquei tonta e enjoada, mas tentei ignorar o mal estar enquanto Lucas tirava o cigarro da boca e sorria para mim.

Tentei sorrir de volta, mas eu não me sentia exatamente bem. Mas isso não quer dizer que a sensação era ruim.

-Então. – disse ele, enquanto se sentava de joelhos e brincava com a barra da minha calça.

Ele se ajoelhou em cima de mim, se aproximou de mim, eu apoiei o cigarro na grama e ele me beijou.

O beijo tinha gosto de cigarro, mas ignoramos isso e continuei a beijá-lo. Sorri para ele e ele retribuiu.  Deitei minha cabeça em seu colo, minhas roupas molhadas e sujas por causa da grama.

Meu celular vibrou. Era meu pai.

-Tenho que ir. – disse, levantando a cabeça, mas ele forçava para baixo.

Ele ia me beijar, mas eu virei a cabeça na hora, e ele me encarou.

Eu ri e dei um selinho nele, me levantando e pegando o livro na minha mochila, estendendo-o.

Ele pegou o livro e sorriu.

-Até amanhã. – ele disse, sorrindo.

-Até amanhã. – eu disse, acenando, e eu virei de costas e caminhei até a minha casa.

Abri a porta, subi as escadas e entrei no quarto, onde Cassie conversava com Lucke, eu acho, sentados á minha cama.

Eu sorri para ela, mordendo o lábio, larguei minha mochila e me joguei em cima dela, rindo e a abraçando, como se essa fosse a última vez que eu a abraçaria, a última vez que eu sentiria seus braços nos meus, o calor de seu corpo, a última vez que eu veria aquele sorriso.

Mas não era a última vez.


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Notas finais do capítulo

mais reviews? *o*