Quatro Estações escrita por AnaNataly


Capítulo 3
III - A chegada




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            Chego a Assunção pouco depois das 18h da noite. Por sorte não foi difícil encontrar meu apartamento. A cidade era ainda mais bonita e aconchegante pessoalmente, a brisa marítima e o cheiro do sal não poderiam torna-la mais diferente de Alambrado e suas serras e montanhas. Era tudo que eu esperava e precisava.

            A varanda do meu apartamento tinha uma vista perfeita, dela eu tanto conseguia ver praticamente a toda cidade. Em frente ao meu prédio existe um praça muito bem organizada. O shopping fica dois quarteirões do meu. Observei que a biblioteca da cidade e o teatro ficam na mesma avenida, a qual passa ao lado do meu edifício. Padarias, farmácia, ponto de ônibus, táxi e metrô tudo perto. Não poderia estar melhor localizada.

            O interior do apartamento era pequeno, mas perfeito para as minhas necessidades, e o mais importante para mim nesse momento a cama era gigante e enormemente confortável. Sem muito pensar tomei um demorado banho quente, coloquei a primeira camisola que achei e hibernei na cama. Amanhã turistaria na minha nova cidade... amanhã...

***

            Nunca imaginei que uma boa noite de sono pudesse provocar tamanha disposição em uma pessoa. Fazia anos, eu acho, que eu não dormia tão bem, tão tranquila, sem preocupações.

            Me levanto com uma fome monstruosa e uma vontade de conhecer toda a cidade. Tomo um banho rápido, coloco um suave vestido verde claro que combina com meus olhos, sapatos confortáveis. Já estava praticamente na porta quando me lembro que abandonei meu celular na bolsa e que ainda não verificava meu email desde ontem. Como imaginava haviam milhões de ligações perdidas, várias mensagens não lidas e alguns email pra responder.

            Enquanto respondia os emails aproveitei pra ligar pra Amora e pro Quim. Os tranquilizei informando que estava viva, já no meu Ap e que tinha muita coisa pra contar mas que tava de saída, morrendo de fome e como não tinha tido tempo de passar no supermercado minha dispensa estava vazia, mas prometi aos dois fazer uma conferência mais tarde pelo skype para repassar todos os detalhes sórdidos(micos) da minha viajem. Aí falar com eles me deixou com Uma dor no peito! Uma saudade!! Uma vontade de voltar correndo e lágrimas nos olhos. Respirei fundo e lembrei mais uma vez a mim mesma a razão da minha viajem, o motivo pelo qual eu estava em Assunção e deixei que toda aquela sensação desaparecesse.

A maioria dos email era sem importância, propagandas, atualizações de blogs e site que eu sigo e alguns poucos amigos que já começavam a entrar em contato. Foi apenas quanto apaguei a maioria que vi dois email que me chamaram a atenção. O primeiro era de Erick e o segundo de Roberto Farias o contato que me levou a Assunção. Resolvi ler o de Roberto primeiro, acho que principalmente por medo do conteúdo do outro.

            O Email de Roberto era curto. Basicamente me perguntava se já havia chegado, se precisava de alguma coisa e me pedia que assim que houvesse disponibilidade minha, claro depois de eu estar adequadamente instalada, ou necessidade de alguma coisa entrasse em contato com ele, e ao final do email me informava todos os seus contatos possíveis.

            O de Erick era mais complexo e um pouco mais longo. Senti que precisava de ar puro e fome saciada pra ler. Caminhei até a padaria que havia visto ontem à caminho do Ap, tomei um café reforçado e demorado, protelando o máximo possível o momento de ler o email. Caminhei até uma praça próxima me sentei em um banco branco em baixo de uma árvore. Respirei fundo, peguei o celular e comecei a ler:

 Ninha,

Não sei se você tem noção da falta que você faz. Sei que você viajou apenas ontem, mas já faz um pouco mais de tempo que você se colocou longe dos meus braços. Peço que me perdoei por não respeitar o seu tão solicitado espaço e tempo, mas é que ontem ocorreu um incidente que me fez sentir ainda mais a falta da minha melhor amiga. As coisas aqui em casa complicaram novamente.

Ontem mais do que nunca senti sua falta. Falta de tudo sabe, desde os seus conselhos ao seu jeito de me confortar. Senti falta de colocar a cabeça no seu colo, da sua mão alisando meu cabelo, da sua voz me dizendo que iria ficar tudo bem, do gosto do seu beijo, do calor do seu abraço.

As vezes penso que tudo isso é um pesadelo. Que vou acordar a qualquer momento no nosso cantinho, como você do meu lado. Dói demais não ter você aqui comigo e só piora não ter perspectiva de te ter novamente. Você sempre foi "A" minha garota,  a menina linda, delicada, amiga e guerreira que me encantou desde a minha primeira infância. Parece que foi ontem que agendávamos a igreja, escolhíamos nossa futura casa, tão próximos, tão cúmplices, e hoje você esta aí mais distante de mim impossível.

Você sabe que basta um palavra sua e eu largo tudo aqui e vou ao seu encontro construir um nova vida com você?!

Não vou dizer que te entendo ou que concordo com sua decisão, mas posso falar que a respeito e que te apoio como sempre, incondicionalmente. Embora não possa ter minha amante de volta espero não ter perdido minha Amiga.

Prometo que tentarei me conter mais...

Ps: Lembre-se que antes de ser seu Ex-Noivo eu sempre fui e quero continuar sendo seu Melhor Amigo.

           

Att. Erick Albuquerque

           

            Não consigo me recordar em qual momento as lágrimas começaram a cair apenas percebo agora que elas são abundantes. Eu juro que não queria machucá-lo. Se eu pudesse sofreria tudo sozinha, mas infelizmente o preço da minha decisão precisou ser divididos com todos que amo ou tenho apreço. Tentei ao máximo preservá-lo, evitar o inevitável. Teria sido de máxima levianidade da minha parte me casar sem ter certeza se eu realmente queria isso. Eu não conseguiria fazê-lo feliz assim. E acima de tudo ele merece uma Mulher inteira. O Erick é um Homem maravilhoso, o sonho de qualquer garota. Ele sempre foi o cara que abria a porta do carro, que puxava o cadeira no restaurante, que mandava flores aleatoriamente, que levava o café na cama e que mandava um mensagem durante o dai pra dizer que te ama.

Ele sempre teve sérios problemas de relacionamento em casa. Haviam constantes discussões envolvendo seus pais. Ele e Gabriel, e seu irmão mais novo, sempre fica no meio do tiroteio cruzado. Perdi as contas das vezes que eles dormiram no quarto de Quim quando as coisas  ficavam muito feias pela casa deles.

A gente sempre foi muito companheiro um do outro. Sempre nos protegemos mutuamente. Saber que ele precisa de mim e eu não estou lá pra ajuda-lo é dilacerante. Eu deveria ligar imediatamente para ele, mas por algum motivo não encontro forças pra pegar o celular e realizar a ligação. Eu nunca fui covarde mas nesse momento estou morrendo de medo de ouvir a voz dele, de dar falsas esperanças ou de na tentativa de evitar isso ser rude. No nosso caso é tão fácil cruzar o limite. Tenho vergonha de mim mesma. Eu não tenho o direito de não ligar. Ele precisa de mim. É o mínimo que eu posso fazer. Enquanto eu permaneço nesse dilema interno, alheia a tudo ao meu redor sinto um toque no meu obro e uma voz sussurrada perguntar.

- Tudo bem? Posso te ajudar?

Demora um tempo pra eu me focar na pessoa a minha frente e entender o quê ela dizia, leva ainda mais tempo pra eu reconhecê-la. Eduardo, vulgo para os íntimos Monumento, estava parado na minha frente com um semblante preocupado. Só então percebi que soluçava de tanto chorar, que as pessoas que passavam por aí todas me observavam. Antes que eu pudesse responder alguma coisa Eduardo se sentou ao meu lado, olhos nos meus olhos e disse:

- Olha eu não sei o quê você esta passando ou qual é o motivo pelo qual você esta chorando, mas quero que você saiba que pode contar comigo. - tentei falar alguma coisa mas me faltavam palavras - Vou sentar aqui do seu lado até você melhorar. Apenas saiba que se você precisar de alguém para conversar eu estarei aqui do seu lado. Posso te abraçar?

Ele me perguntou baixinho. Respondi que sim movimentando afirmativamente a cabeça ainda sem palavras e olhando pra frente e para o chão. Senti seu braço ao redor dos meus ombros enquanto encostava minha cabeça em seu braço.

Aos poucos fui me acalmando, minha respiração foi se tornando regular, meus soluços diminuindo. Os braços de Eduardo me traziam uma segurança semelhantes aos de Quim. Finalmente consegui falar alguma coisa.

- Obrigada - Sussurrei, afastando minha cabeça do seu ombro.

- Você tá melhor? - Ele me pergunta baixinho olhando nos meus olhos. Balanço a cabeça afirmativamente. Ele pega na minha mão e diz - Já sei o quê você precisa, vem comigo!

Ele se levanta rapidamente puxando a minha mão e me fazendo acompanhá-lo. Caminhamos uns 15 minutos em silêncio até que de repente paramos em uma esquina.

Ele olha sério para mim e diz:

- Feche os olhos e confie em mim.

- Hãn?

-Vamos feche os olhos, faça o quê eu estou falando.

            Sem muito pensar faço o que me foi pedido, fecho os meus olhos. Ele me guia por mais alguns metros até que paramos novamente e ele me pede pra abrir meus olhos.

            Fico completamente surpreendida com o quê vejo. É simplesmente um das paisagens mais lindas que já vi na minha vida. Estou ao lado de um lago enorme, com águas azuis. A minha esquerda tem um árvore frondosa, com flores laranjas. E um pouco depois da árvore está um casinha. Ela é branca com detalhes rosa bebe, existem mais árvores ao seu redor com bancos em baixo delas. Em sua varanda há várias mesinhas com cadeiras. Ao invés de muros, seus limites são delimitados por rosas e orquídeas. Existe um caminho de pedras coloridas que leva até a sua entrada. Todo o chão ao seu redor é coberto por uma baixa grama verde. Toda a mobília visível parece ter sido feita no século passado, branca, delicada. Todos os detalhes da casa são de extremo bom gosto. A imagem que vejo diante de mim é linda, viva, me faz pensar que ela saiu direto de um romance do século passado.

Eu simplesmente não tenho palavras para agradecer.

Parecendo adivinhar o quê se passava na minha cabeça ele aperta a minha mão, que ele ainda estava segurando, com mais intensidade e me direcionando pra casa branca ele fala.

- Ainda tem mais, o melhor eu guardei pro final.

- Como assim?? Ainda tem algo melhor que essa sensação de paz e felicidade que essa paisagem proporciona.

- Não acredita em mim, você vai ver - e ao invés de continuar a andando ele começa a correr me puxando com ele. Em pouco tempo chegamos a entrada da casa. E sem nenhuma cerimônia ele vai "invadindo" o lugar. Até que encontra outro rapaz.

- Murilo!! Tia Charlotte esta em casa??

Murilo olha diretamente para as nossas mãos e com uma cara de interrogação responde.

-Tá lá dentro terminando um bolo. Vai entrar??

Antes que a Eduardo pudesse responder um bela senhora, um pouco rechonchuda com um rosto bondoso aparece sorrindo.

- Meu menino!! Finalmente apareceu. Achei que tinha esquecido de mim! Saudades. Tava terminando um bolo quando pensei ter ouvido sua voz. Quanto tempo! Venha aqui dá um abraço nessa sua velha "tia"- Ela fala já puxando-o para um abraço. Ainda abraçada a Eduardo ela me vê e antes que pudesse ter qualquer reação ela pergunta

- E quem essa moça bonita que você trouxe aqui?? - Ela me dá um sorriso tão sincero

- Essa é - De repente Eduardo para e olha pra mim, e eu posso ler exatamente o quê ele ta pensando. Ele não lembra meu nome.

- Mariane. É um prazer conhecê-la senhora - me apreço em dizer antes que a bondosa senhora perceba que sou praticamente um completa desconhecida de todos.

- Você acharia muito estranho se eu lhe desse um abraço também. Acho que um abraço tem um poder curativo inimaginável. Eu adoro abraçar a todos. E eu sinto que hoje mais do que nunca você precisa de um abraço menina.

Com voz embargada pela emoção respondo que sim, e praticamente me jogo nos braços de Charlotte.

- Não se avexe jovem menina, tudo que é permitido por Deus tem um justificativa para ocorrer. Apenas creia que ele continua cuidando do seu caminho e tudo vai se ajeitar. - Ela me diz enquanto me abraça forte. Depois do abraço ela segura nas minhas mãos e olha nos meus olhos e fala - As vezes Mariane é preciso fazer o menos errado. Por que embora errado é o mais certo. - Ela encerra me dando um beijo na testa. Vira pra Eduardo e pergunta:

- Vai querer um mesa e um duplo com efeito, certo??

- Completamente, ele responde sorrindo.

- Vai ficar aqui dentro ou lá fora? ela questiona. Ele olha pra mim e eu entendo que ele me oferece a poder da escolha.

- Lá fora eu preciso de ar puro, eu preciso sentir Deus nas pequenas coisas.

- Podem ir. Eu vou prepara tudo e depois peço pra Murilo levar. Ela olha pra mim outra vez e sorri carinhosamente.

             Sigo Eduardo em silêncio até um dos banquinhos que ficam na frente da casa. Nesse curto espaço de tempo tanta coisa passa pela minha cabeça. A tristeza retorna, assim como o sentimento de culpa. Mas dessa vez eles vem acompanhados de uma serenidade até hoje desconhecida para mim. Relembro cada palavra dita por Charlotte e simplesmente sei que tomei a melhor decisão possível.

            Respiro fundo e começo a falar com a voz embargada pelo choro que ameaça recomeçar., a fazer um pequeno resumo dos últimos seis meses. Tento explicar minha relação com Erick, com minha família e principalmente o motivo pelo qual "fugi" de Alambrado.

            Ele escutou tudo calado, sem esboçar nenhuma reação durante o relato. Quando enfim terminei ele começou a falar.

- Primeiramente Mariane eu consigo entender perfeitamente suas razões e lhe admiro muito pela sua decisão. Eu sei o quanto torná-la real é difícil. Consigo imaginar o quanto deva ter lhe machucado tê-lo machucado. Também terminei um longo noivado recentemente. Por razões semelhantes as suas, mas no meu caso foi mais fácil, minha ex-noiva não era minha melhor amiga e estava há mais de dois anos morando a países de distância de mim. Compreendo que deva ser difícil pra você manter contato com ele agora, e não te recriminaria se você resolvesse não ligar pra ele, mas pelo pouco que pude observar, você não se perdoaria se não ligasse, não se perdoaria por não ajuda-lo com o pouco que você pode atualmente. - Ele fala suavemente olhando dentro dos meus olhos. - Se você quiser ligar agora eu vou ficar aqui esperando você terminar. Vou estar aqui te apoiando. E acima de tudo eu vou estar aqui olhando pra você pra que você saiba que não está sozinha. Você não esta sozinha!! Tá entendendo... Você não esta sozinha, não mais!! Eu sei que você não me conheço, mas eu vou tá do teu lado para o quê você precisar.

            Novamente sinto o calor das lágrimas que escorrem dos meus olhos. Dessa vez não espero que ele pergunte e nem pergunto, simplesmente jogo os meus braços ao seu redor e me permito sentir novamente o calor do seu abraço, a calma e tranquilidade que ele transmite, novamente me sinto segura.

Ficamos assim em silêncio durante algum tempo até que eu me afasto olho em seus olhos e digo:

- Obrigada!! Eu não sei como expressar o meu sentimento de gratidão que tenho por você nesse momento. Jamais poderia imaginar que em tão pouco tempo fosse encontrar alguém tão especial. Alguém que fosse capaz de me trazer tranquilidade. Alguém que eu confiasse - nesse momento deixo transparecer a expressão de confusão que me acomete, como posso confiar em alguém que eu praticamente não conheço. Eu a garota racionalidade. Abstraio o pensamento e continuo - É eu sei que soa absurdo, mas eu confio em você, mesmo não confiando em mim por confiar em você.

Nessa hora ele me olha confuso e começar a rir.

- Para eu tô falando sério!!

- Desculpa, diz tentando ficar sério! Olha Murilo tá demorando muito pra trazer o pedido, vou ver rapidinho o que aconteceu, ok?!

-Ok

Acho que na verdade ele queria me dar privacidade para, caso desejasse, realizar a ligação. Pego o meu celular, disco o número de Erick e após um minuto de hesitação inicio a ligação. Um pouco depois ouço uma voz do outro lado da linha.

- Mari?!

***


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