A minha primeira reação foi um susto, acho que minha vida inteira até agora passou diante dos meus olhos ao ouvir aquela frase. Era mesmo verdade que a pessoa que estava ali era Iwasawa? Porém, o momento não me permitia que eu expressasse tudo o que eu sentia naquela hora já que eu precisava saber mais. Mantenha a calma, Hisako.

— S-Sim, ela é minha melhor amiga! Ela havia sumido e desde então eu a procuro, eu não sabia que ela estava aqui. – Ele abriu um sorriso e me levou para dentro do quarto.

— É um alívio saber que alguém se preocupa com ela ainda. Nenhum familiar dela veio aqui faz muito tempo, ela deu poucos sinais de vida até agora. Se você não tivesse aparecido, não seria bom pra ela... Você tem como chamar algum familiar dela? – Suspirei, minhas pernas estavam tremendo e meus olhos quase não se continham em lágrimas.

— Eu posso visitá-la todos os dias, eu posso cuidar dela... Há um tempo ela decidiu que não dependeria mais dos pais porque eles não se preocupam com ela, eles brigam o tempo inteiro e nada mais importa pra eles. Eu tenho um amigo aqui que trabalha na enfermaria também, ele pode ajudá-la... – Ele indagou por um segundo, mas consentiu.

— Eu vejo confiança em suas palavras, garota. Contamos com você, essa menina conta com você. – O médico colocou a mão em meu ombro e depois disse. – Sei que precisa de um tempo sozinha para processar isso... – Depois que ele saiu do quarto eu me ajoelhei e desabei.

Então é assim que você está Iwasawa... Mal consigo te ver com todas essas lágrimas se derramando, mas vejo que você não é a mesma... Seu corpo está imóvel e preso a um grande aparelho que nem entendo bem como funciona, mas sei que te mantém viva... Sua cabeça enfaixada, sua expressão cansada... Estava praticamente irreconhecível...

Eu só espero que daqui pra frente você melhore, pois eu vou cuidar de você, eu não vou te deixar aqui sozinha... Eu posso até morar aqui com você, Iwasawa...

— Hisako, vamos logo, estamos atrasa... Hisako? – A voz de alguém na porta. Quem mais poderia ser? Eu não poderia ficar aqui sozinha? Me desculpe Otonashi, mas essa é uma péssima hora para aparecer.

—É a Iwasawa... – Ele meio que se assustou com o olhar mortal que eu lancei e saiu da sala. Depois ouvi uma nova voz.

— Iwasawa está aqui? Como isso é possível? Oh Deus, Hisako... – Yuri se aproximou e colocou o braço em torno dos meus dois ombros. – Calma... – Ela me abraçou e eu chorei, chorei tudo o que eu tinha que chorar naquele momento. Enquanto isso, Otonashi trouxe Kanade até a sala e se aproximou. – Kanade-chan, acho melhor deixar a Hisako aqui esta noite. A gente não fala nada para o resto do Conselho, se alguém descobrir, a gente dá um jeito.

— Tudo bem, mas fique aqui com ela. Venham para a aula amanhã, senão as coisas vão ficar complicadas... – Kanade acariciou meus cabelos e me olhou, do mesmo jeito sério só que com uma leve comoção que era rara em seus olhos dourados. – Vai ficar tudo bem, Hisako-san.

— Obrigada... – E assim meio que me debrucei na maca da Iwasawa, sobre suas pernas imóveis. Ela estava um pouco quente. Ainda tinha o cheio de dálias, que lembravam a cor de seu cabelo magenta. Partia-me o coração vê-la tão fraca assim...

Me veio na mente o sonho que eu tive, que mostrava o quanto ela estava tão fraca quanto agora. Seria um sinal, uma mensagem, uma telepatia? Como a Kanade me disse há pouco tempo... Nós temos uma conexão muito forte... Iwasawa, você estava tentando me dizer que estava mal? Que estava aqui? É bem possível... Sabe-se lá se você já acordou alguma vez ou não... Eu queria tanto ouvir a sua voz agora...

— Eu não esperava que ela ainda estivesse aqui... Desse jeito... – Yuri disse baixinho, ela estava chorando? Sério que isso estava acontecendo?

— Algo me dizia que ela estava aqui... – Ela me olhou, limpando umas lágrimas que não queria permitir que saíssem.

— Como assim? Você sabia que ela estava assim? — Eu enxuguei as minhas lágrimas e engolindo um novo choro, para que eu pudesse explicar tudo sem ter que parar.

— Eu tive um sonho... Estávamos no escuro, lá era úmido, frio e ela estava toda machucada e deitada... Fraca... Como se estivesse no limite... Sua pele estava tão fria... Pedia ajuda e chamava por mim o tempo inteiro... – Yuri pareceu um pouco surpresa ao que eu contava o que havia acontecido no sonho, mas antes que eu a interrogasse, ela o fez primeiro.

— E como você se sentiu depois que acordou? Não deve ter sido fácil depois de um sonho assim... Eu acho que nem teria ido pra aula, você é mesmo uma guerreira, Hisako... – Ok, isso foi demais... Não era meio exagerado dizer aquilo? Por um lado, ela tinha razão. Eu acordei exausta e assustada, mal conseguia raciocinar depois daquele sonho.

— Não é para tanto... Enfim, eu acordei exausta... Parecia que um trator havia passado por cima de mim, um caminhão... Que seja... Eu mal sentia minhas pernas... Foi como se eu tivesse corrido quilômetros e quilômetros naquela noite. Sekine me acordou cedo, então nem tive tempo para raciocinar sobre o que rolou no sonho, só depois do café da manhã. Nós duas estávamos mais focadas em pedir para você... Para que viéssemos aqui, sabe?

— Fez bem em terem pedido... Agora estamos aqui e achamos nossa amiga... Me preocupa por você não ter como jantar agora e sei que não vai ser fácil vê-la assim todos os dias... Sei que seu desejo era encontrá-la de pé e poder abraçá-la, ouvir a voz dela e dizer o quanto sentiu sua falta, pois eu sei que sentiu. – Sorri um pouco corada e outras lágrimas insistiam em rolar pela minha bochecha.

— Está tudo bem, eu não estou com fome... Posso me virar por aqui mesmo. Nem sei como iria me sentir se eu a deixasse aqui sozinha. – Yurippe levantou e fez um sinal positivo.

— Eu e o Otonashi vamos dar um jeito para conseguir o jantar. Já estou ficando com fome também... Enfim, nós precisamos contatar o médico para pedir mais explicações sobre o estado da Iwasawa-san. Se vamos ficar mesmo aqui para acompanhar o tratamento dela, temos que obter mais detalhes...