Percy foi resolver coisas no acampamento – coisas as quais eram: treinamento. – mas Annabeth havia dito que Quíron havia deixado-a livre de suas coisas para que ela pudesse me explicar tudo sobre o acampamento.

-Bom, acho que podemos começar com as armas. – ela disse. – você deve ter visto que nossas armas não são normais. – concordei. – elas são de Bronze Celestial. Essas armas não matam realmente o monstro. Mas ele meio que desaparece, e ele deveria voltar em semanas, meses, até anos, alguns demoram um século, até. Mas... – ela suspirou. – mas eles estão voltando mais rápido, como você pode ter percebido. – assenti. – isso não é bom para nós, apesar de eles não voltarem segundos depois, eles se reconstituem bem rápido, comparado ao que acontecia antigamente.

Ela suspirou.

-Já perdemos muitos campistas por causa dessas lutas e por causa da volta rápida dos monstros. Apesar de estarmos protegidos aqui dentro, temos mandado alguns campistas atrás de novos semideuses. Como você e Jensen, Quíron rastreia muitos semideuses, e um deles foi você. Ele mandou Jensen pois sabia que ele seria capaz o suficiente de lhe trazer viva, apesar de não sabermos o que isso iria custar. – concordei, triste pelo que havia acontecido com Jensen. – mas... bem, vamos continuar lhe explicando, se não eu não vou conseguir explicar tudo hoje.

-originalmente no acampamento teriam 12 chalés, um para cada deus, mas então Percy, quando derrotou Cronos, teve alguns desejos concedidos, e ele pediu, num deles, que todos os deuses menores também tivessem seus chalés – bem legal da parte de Percy, admito. – bom, agora, temos os chalés de todos esses deuses: Zeus, Hera, Poseidon, Deméter, Ares, Atena, Apolo, Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes, Dionísio, Hades, Íris, Hipnos, Nêmesis, Jano, Nike – não! Ela não é a marca de sapato! -, Hebe, Tique e Hécate, Quíron quer colocar mais dois chalés, na verdade três: para Éolo, Perséfone e Morfeu.

-Nossa... Quantos deuses. – falei surpresa, Annabeth concordou.

Acho que eu estava mais surpresa por ela saber tudo aquilo só na cabeça.

-Eu falei em ordem de chalé, também. – ela disse pensativa. – mas eu fico pensando, é muito ridículo serem em pares, só por causa disso minha mãe foi depois de Ares! – ela disse chateada, eu apenas ri.

-Sua mãe é Atenas, não é? – ela concordou. – bom, eu gostaria de saber se meu pai ou minha mãe é um deus.

Ela me olhou com compaixão.

-Eu queria poder lhe ajudar, mas você sabe que eu... – ela suspirou. – eu mal sei o que fazer com minha família, imagine a sua.

Concordei, era totalmente verdade.

-Bom, mas temos que continuar antes que seja tarde de mais e tenhamos que ir para a casa grande. – ela suspirou. – falando nisso, a casa grande é a sede do acampamento, é onde o Senhor D. – Dionísio – e Quíron moram, e é onde as reuniões dos conselhos de guerra acontecem, onde todos os conselheiros de todos os chalés se reúnem. – ela parou, pensando. – temos a enfermaria, onde estamos agora, a maioria das pessoas andando aqui, e não nas macas, são filhos de Apolo que possuem o dom da medicina, eu até acho legal isso, mas ainda prefiro minha mãe e meu pai. – ela deu de ombros, como se não se importasse – tem a gruta, onde nosso oráculo mora – vendo minha cara de confusa, ela acrescentou – já vou explicar o que é oráculo e quem é ele. – essa gruta foi o deus Apolo que criou, também, por ser o deus dos oráculos. Temos a parede de escalada, que é onde os campistas escalam... e ela tem uns desafios extras. – ela deu de ombros. – muitos não conseguem atravessa-la. – ela continuou – temos o pavilhão de jantar, que já diz tudo. É onde comemos nossas refeições diárias. A não ser quando se está na enfermaria, daí você pode comer aqui á vontade. – ela pareceu pensar mais um pouco – ah, sim, temos os estábulos, onde ficam os cavalos e pegasus. Temos nosso arsenal, onde temos todas as armas, e provavelmente amanhã eu lhe levarei lá, para que você possa escolher alguma arma... Já que eu não gostaria de ficar desarmada. E por último, temos as forjas, é onde são feitas algumas armas e descobertas algumas coisas, normalmente, quando não tem outra tarefa, os filhos de Hefesto estão lá.

Ela parou pensando se tinha mais alguma coisa para falar, quando balançou a cabeça.

-Acho que não há mais nada a ser dito, por enquanto isso é tudo. – ela balançou a cabeça. – ou não, todas sextas-feiras temos a captura a bandeira, começa as quatro da tarde, e caso ninguém capture a bandeira do outro, termina as nove da noite. – assenti. – e também, temos a fogueira, todas as noites, é legal, nos sentamos, reunidos, cantamos, comemos, se divertimos, e então vamos dormir. E tudo começa de novo no outro dia. – ela disse. – a maioria dos campistas só fica no verão aqui.

-Então por que temos tantos aqui? Quer dizer... Acabamos de entrar na primavera. – ela olhou para o chão.

-Quíron chamou a maioria para... bem, para podermos nos defender caso algo aconteça, e ele também não quer perder mais ninguém. – concordei, fazia sentido.

Nós duas olhamos em volta, alguns campistas andavam para lá e para cá, atarefados, mas outros estavam parados, tranquilos, esperando algo para fazerem.

-Normalmente os campistas não reclamados ficam no chalé de Hermes, apesar de que agora todos já foram nomeados. – ela suspirou. – eu estou torcendo para você ser nomeada e seu pai não ser Hermes, nada contra ele, mas aquele chalé e cheio! – ela suspirou outra vez. – Se você não for nomeada até hoje a noite, você irá ficar no chalé de Hermes até ser. – assenti. – mas um dos pedidos de Percy quando ele venceu o Titã Cronos foi que os semideuses fossem nomeados com treze anos. Então eu acho que você vai ser nomeada hoje a noite. – ela deu de ombros. – pois se não Percy poderá cobrar dos deuses, eles juraram pelo rio Estige.

Concordei.

-Bem, tomara. – dei de ombros. – pelo menos eu vou saber se meu pai ou mãe é... – parei, lembrando da carta.

“Ela não é humana”.

-O que foi? – ela disse.

Eu suspirei e olhei para minhas mãos.

-Por favor, não... não fale para ninguém. – falei, Annabeth suspirou.

-Se colocar em risco o acampamento, eu não falarei. – ela disse. – juro pelo rio Estige.

Assenti, deveria ser um grande juramento, pois até os deuses o faziam.

-Eu... bem, eu sou adotada pelos meus pais, ou... era. Eu não sei explicar, mas até alguns dias atrás... Pera aí, eu dormi só um dia, certo? – ela concordou, fiquei mais aliviada. – ok, isso ajuda. Enfim, até alguns dias atrás, eu achava que era adotada, mas não... Eu fui doada. Dezesseis anos atrás, meus pais estavam jantando e a campainha tocou, meu pai atendeu a porta, tinha uma cesta no chão, dentro da cesta tinha um bebê e uma carta, na carta falava mais ou menos assim: “Á família LaFont, Camille FaFont, seis de janeiro de 1996. Sabemos que vão cuidar bem dela e ficaremos bem felizes se quiserem uma garota tão especial quanto ela. Sr. LaFont, pedimos que cuide bem dela, pois suas pesquisas estavam certas”. Dai fala de alguma coisa do F.B.I., de meu pai ter falado para eles que os deuses gregos realmente existem e nem mesmo o F.B.I. ter acreditado e tudo mais, daí fala sobre a névoa, sobre eles estarem certos sobre os deuses gregos existirem e tudo mais, então fala que eu sou importante, e que minha hora de ir embora um dia chegará, mas que até lá é para eles cuidarem de mim, daí fala que eles precisam entender algumas coisas... “primeiro: Ela não é humana. Segundo: Ela não tem nenhuma parte com os humanos. Terceiro: Ela ajudará na sobrevivência de muitos. Quarto: Protejam-na como se fosse sua vida” – eu lembrava exatamente da última parte, era quase impossível não lembrar. E então foi que eu percebi que já estava sussurrando.

Annabeth suspirou.

-O Ela não é humana não é muito divertido, não é mesmo? – ela tentou fazer uma piada, mas vi que ela estava preocupada. – olha... Se você não é humana... e é filha de um deus... Talvez você seja filha de dois deuses.

-Mas isso não é proibido ou algo do tipo?

-Não, na verdade não é proibido, temos o exemplo de Zeus e Hera, os dois já tiveram muitos filhos juntos. Talvez você possa ser filha dos dois. – balancei a cabeça.

-Não sei, Annabeth, parece muito estranho eu ser filha de dois deuses.

Ela suspirou.

-Eu não sei, temos que esperar pra ver. – ela abaixou os ombros, como se tivesse carregado um peso muito grande em suas costas.  – eu... eu posso falar para Quíron isso? – ela disse. – eu juro que falarei só para ele.

Respirei fundo.

-Acho que sim... ele é o diretor de atividades, e ele pode nos ajudar... a decifrar isso, certo? – ela concordou.

Ela pensou sobre algo rapidamente, balançou a cabeça e olhou para uma das médicas que havia me atendido ontem. A garota não era exatamente médica, mas era o mais próximo de uma que havia ali.

-Ei! Você, Janine. – ela chamou a garota, Janine.

-Sim, Annabeth? – ela perguntou gentilmente.

-Camille já pode sair daqui? Eu gostaria de apresentar á ela o acampamento. – disse Annabeth angelicalmente.

-Eu não sei... – disse ela indecisa. – ela está se curando por causa do Néctar, mas... – ela balançou a cabeça. – ela ainda não está muito bem curada... – Annabeth suspirou. – mas talvez ela possa sair um pouco e conhecer o acampamento. – Annabeth sorriu. – mas eu preferiria que ela passasse pelo menos essa noite por aqui.

-Claro, totalmente compreensível. Ela estará de volta depois da janta, ok? – Janine assentiu e voltou a fazer o que quer que estivesse fazendo.

Annabeth me ajudou a levantar e a eu me trocar, já que eu nem sequer conseguia tirar minhas calças sozinha.

Depois de ter colocado uma calça jeans limpa e uma blusa bem solta – que não era minha, e sim de Annabeth (ela felizmente foi buscar em seu chalé e voltou rapidamente), e de ela ter encontrado uma sandália antiga de uma de suas companheiras de chalé, eu saí da enfermaria. Annabeth apenas queria passar em seu quarto e deixar minha mochila lá – era melhor do que ficar na enfermaria, onde os garotos de Hermes podiam aparecer por lá “e pegar emprestado”.

Eu estava esperando na porta da enfermaria quando duas garotas passaram por mim e me olham com uma cara estranha, como se eu fosse uma intrusa.

As duas foram rapidamente para um prédio com uma chaminé e outras coisas, e pude ouvir o fraco bater de martelos em metal – era a forja, onde os filhos de Hefesto passavam a maior parte do tempo.

Provavelmente elas eram filhas de Hefesto.

Annabeth finalmente voltou, agora sem minha mochila e começamos a caminhar lentamente.

-Você está aqui á quanto tempo? – perguntei, vendo seu colar, que ela havia me explicado, cada pingente era um ano, e tinham alguns extras, que significavam suas missões, assim como um que significava que ela havia vencido Cronos, já quando ele estava perto do Olimpo.

-Desde que eu era criança. – ela disse. – é uma longa história. – acrescentou.

Assenti e chegamos no inicio de uma floresta.

-Bem, nunca entre aqui sozinha, ok? – ela disse e assenti. – podemos ter fronteiras bem protegidas, mas ainda temos alguns... Problemas, dentro da floresta.

Concordei, ficaria feliz em manter distancia da Floresta. Alguma coisa ruim estava ali dentro.

Viramos, indo para outro lugar, quando Annabeth deu um pulo.

-Eu esqueci totalmente! – ela disse. – eu não lhe expliquei o que é oraculo.

Dei um pulo, surpresa, e me arrependi imediatamente quando senti minha barriga doer.

Ao longe eu vi uma praia e me senti tentada a ir até ela... Mais tarde eu perguntaria para Annabeth se poderia ir para lá.

-Oráculo é quem nos dá nossas profecias. – ela disse. – por exemplo, temos a profecia que Percy e... – ela engoliu em seco. – e... Luke, realizaram.

-Quem é Luke? – perguntei baixinho, Annabeth olhou para o chão, mas continuamos a caminhar.

-Ele, eu e Thalia fugimos de casa quando pequenos, eles eram mais velhos que eu, mas viemos para o acampamento meio-sangue, quando chegamos no topo, quase na entrada, Thalia foi morta... e acho que Jensen lhe contou sobre o pinheiro. – assenti. – bem, Luke ficou para o lado do mal, e Cronos entrou em seu corpo, para poder reviver. E então... Luke conseguiu matar ele/Cronos antes que fosse tarde de mais. – ela suspirou. – eu sempre tive uma pequena queda por ele, apesar de amar Percy. – assenti. – enfim, a Profecia dos sete é a seguinte:

Um meio-sangue, dos deuses antigos filho,

Chegará aos dezesseis apesar de empecilhos

Num sono sem fim o mundo estará

E a alma do herói, a lâmina maldita ceifará

Uma escolha seus dias vai encerrar

O Olimpo preservar ou arrasar.

Um calafrio percorreu meu corpo e olhei surpresa para Annabeth.

-Percy conseguiu... conseguiu resolver isso? – Annabeth assentiu.

-Ele não resolveu exatamente, mas no final, tudo acabou bem... Para a maioria das pessoas, é claro.

Assenti.

-Bom, o oráculo que nos trás as novas profecias. – ela deu de ombros. – pelo menos temos profecias, atualmente o oráculo esta em Rachel Elisabeth Dare, ela é uma grande amiga de Percy, e uma humana que pode ver através da Névoa.  – ela suspirou, parecia um pouco abalada. – ela não está aqui, apesar de tudo. Ela está no colégio, só quando tem tempo vem pra cá, ou então só nas férias de verão.

Assenti, mais uma vez concordando, apesar de saber que não precisava concordar com nada.

-Ahn... Annabeth? – chamei-a, já que ela parecia perdida em pensamentos, ela virou o olhar para mim rapidamente. – será que... podemos ir na praia?

Ela me olhou surpresa, mas deu de ombros. Pude até ver sua cabeça pensando.

Ela mudou um pouco o trajeto e fomos caminhando lentamente até a praia, porque eu não podia fazer muito esforço, nem mesmo andando.

-Obrigado. – falei quando tirei os chinelos e senti a areia entrar pelo meu pé.

Annabeth não repetiu meu gesto pois estava com um All Star furado, mas sorriu um pouco.

Fechei os olhos, enquanto ouvia as ondas baterem, e sentindo algumas gotas pingarem em mim.

-Ahn... Cams. – chamou ela. – olha, temos uma nova profecia, eu não tenho certeza se ela é para o nosso século mas... bom, é importante você saber dela... E ela ainda não foi realizada, então...

-É bom eu saber, certo? – continuei.

-É... pois talvez você faça parte dela.

Pensei em mim, em uma profecia... Acho que não, mas deixei ela falar.

E então, um arrepio percorreu todo o meu corpo, e senti como se tivesse levado um choque.

Eu sabia que a profecia não era para mim, mas sabia que ela era importante de mais para ser adiada para algum século.

Ela iria acontecer em breve, eu sabia disso.

Sete meio-sangues responderão ao chamado,

Em tempestade ou fogo, o mundo terá acabado.

Um juramento a manter com um alento final,

E inimigos com armas às Portas da Morte afinal.

Senti o bule na garganta. Essa profecia não parecia boa, como se algo estivesse errado. Ou talvez fosse por que a profecia ainda não tivesse sido cumprida e eu corria o risco de participar dela...

Alguém chamou Annabeth da entrada da praia, e eu vi um garoto chamando-a, os dois eram bem parecidos, apesar de o cabelo dele ser castanho e ela ser loira – e eu tinha certeza de que não era Percy. Acho que era um de seus irmãos.

-Eu volto logo. – ela disse. – qualquer coisa... grite. – ela disse e assenti, como se realmente fosse gritar se algo acontecesse.

Me sentei encostada em uma pedra, longe da água e estiquei minhas pernas, pensando no dia de hoje... As duas profecias, as histórias de Annabeth... Céus, eu juro que o acampamento meio-sangue tinha mais segredos que Jamie.

Jamie.

Ela deveria estar maluca ligando para meu celular – que por sinal, nesse momento deveria estar quebrado em pedaços – e maluca, querendo saber onde eu havia me metido, por que não havia ido para o colégio... Céus, eu realmente precisava ter conversado com ela. Apesar de tudo ela ainda era minha melhor amiga, certo?

Ou não?

Suspirei, sem saber o que pensar da minha vida e para onde era iria agora.

Eu não era mimada antes, mas também sentia falta de minha cama, sentia falta de meus pais, nada era igual aqui.

Era como se fosse uma segunda casa, mas sem seus pais, sem seus amigos, apenas com um bando de amigos secundários e possíveis irmãos de sangue... Como se o clima já não fosse ruim o suficiente.

Olhei para o céu, pensando em como seria estranho se eu fosse filha de Hades, Zeus ou Poseidon. Eles eram os três grandes, os todo-poderosos e isso seria realmente estranho... Mas talvez legal... Se eu fosse filha de Zeus eu poderia comandar uma tempestade? E Poseidon? Eu poderia comandar uma onde enorme para varrer as pessoas odiosas? E Hades? Levantar os mortos?

Desisti de pensar que eu poderia ser filha de um dos três grandes, acho que na hora certa eu saberia.

Era estranho pensar que eu era filha de um deus.

Suspirei pesadamente e me arrumei, cuidando para não sujar o curativo – e nem sujar mais minha roupa.

Fiquei pensando em coisas aleatórias, como quando Jensen me beijou pela primeira vez, ou quando os garotos ficaram zoando ele por ele ter pedido para ficar sério comigo... E em todas as aquelas outras bobagens que um adolescente já fez ou vai fazer.

Eu estava tão distraída em meus pensamentos que só vi que tinha alguém na praia quando ele estava a menos de cinco metros de mim.

E não era Annabeth.