Nós andamos em silencio por pelo menos uns dez quarteirões, mas logo o sol já estava a pico, e nós dois já estávamos cansados, apesar de ele ser a droga de um deus e eu duvido que ele realmente esteja cansado.

Nós paramos para almoçar e então continuamos. Quando faltavam apenas uns dois quarteirões ele falou alguma coisa – sendo que já estava quase escuro.

Ele me parou e começou.

-É o seguinte, Cams. – ele disse baixo. – Zeus não gosta de você. – engulo em seco. – mas isso não significa que você vai morrer. – eu apenas faço que sim com a cabeça. – ele vai tentar te matar em algum momento, acredito, mas seus pais e eu vamos tentar te proteger.

-Meus pais?

Ele faz que sim e continua a andar, me deixando confusa.

-Quem são meus pais? – ele respira fundo. – ah, esqueci, você também não pode me contar. – eu estou sendo irônica, mas ele simplesmente revira os olhos, ele sabe que eu estou com raiva dele, mas eu até entendo seu ponto de vista.

Para tentar me proteger, ele mentiu (omitiu, dependendo o ponto de vista) sobre ele mesmo e sobre todo o resto. Mas isso não mudava o fato de que ele havia mentido. Era a minha vida, e isso não era legal.

E então eu mudei o rumo dos meus pensamentos. Quem era ele? Um deus. Isso era óbvio. Mas qual deus? Talvez ele pudesse ser Poseidon, pelos olhos azuis, mas um dos três grandes? Difícil (E eu estaria beijando o pai de Percy, pelo amor, era nojento). Quais outros deuses haviam? Hades (ele tem Perséfone, por favor – fora da lista), e há Poseidon, que eu duvido, e então há outros, que eu não tenho certeza: Hermes, Apolo, Hefesto e Ares. Eu dificilmente acreditava que Ares pudesse ser, também. Sei lá, havia algo que... Bom, Ares era o deus da guerra, então eu duvidava que ele realmente fosse tão legal. O que sobravam três opções... Bom, dos doze tronos, é claro. E então haviam os deuses menores, mas que eram tão importante como os deuses grandes, apesar de eu suspeitar que na realidade fosse realmente difícil ele ter essa ligação com o Olimpo se não fosse um deus maior.

Desisto de pensar sobre ele alguns minutos depois, pois estamos em frente ao Empire State Building. E imediatamente eu fico tensa.

Ele me deixa ir na frente e assim feito – com as pernas tremendo, mas feito.

Respiro fundo enquanto caminhamos pelo Hall de entrada até o porteiro, que quando vê ele arregala os olhos, e então olha para mim, me entregando uma chave. Dou um sorrisinho e a pego, enquanto ele me encaminha até um elevador.

Eu entro nele e me viro, me lembrando da visão. E eu estava prestes á perguntar a ele se ele vinha comigo quando vi que ele não estava mais por perto. Ah, ótimo.

Suspiro e coloco a chave onde deveria ser colocada e a viro. Aparece um novo botão, mas antes que eu possa clicar, o elevador já está subindo (já com as portas fechadas) e eu juro que ele poderia ter subido até o espaço, mas ele se abriu em outro local. Um local que eu havia tido uma visão rápida. O olimpo.

Caminho rapidamente pelo caminho até o prédio principal. Mas no caminho vejo toda Manhattan abaixo de mim.

Paro quando chego na porta do “prédio”  - que por sinal é enorme. Respiro fundo e quando vou abri-las, elas se abrem sozinhas.

Uma deusa menor está ali, e ela me dá um sorriso acolhedor, mas não me lembro de seu nome. Ela dá um passo para o lado, me permitindo entrar e dou alguns passos para dentro, e imediatamente gelo.

Os deuses olimpianos estão sentados em seus tronos, com Zeus logo no principal, exatamente á minha frente.

Os deuses menores tem tronos menores atrás dos deuses maiores, mas todos com vista ótima para o centro da meia lua em que eles ficam sentados.

O pior é que estão todos me encarando.

Olho os deuses maiores primeiro, Zeus, Hades, Poseidon, Hera, Atena, Ares, Hefesto... Apolo.

Eu paro nele. É ele. O deus da Beleza, perfeição, cura, proteção contra as forças malignas. Tudo me vem rapidamente na cabeça, mas corto quando Poseidon se levanta, me dando um sorriso e imediatamente vejo a coincidência. Os olhos, tão parecidos e diferentes dos meus.

Eu sou filha do deus dos mares, do deus dos terremotos... Pelos deuses!

Eu sou irmã do Percy! É o que me vem a mente antes de ver meu pai me abrir um sorriso e eu devolver meio sem jeito. Quando olho em volta, procurando por minha mãe. Meu olhar para em Atena, tão parecida com Annabeth.

E então Zeus se levanta de seu trono e meu pai fica tenso.

-Camille LaFont. – ele fala. – é exatamente por causa de semideuses como você, filhos de dois deuses, que eu não gosto disso. Deuses tendo filhos juntos... Seus filhos dão mais problemas que os outros semideuses. – mordo a língua para não responde-lo, mas fecho as mãos em punhos. – temo que você não poderá nem sequer pedir ajuda á seu irmão.

Trinco os dentes e a mão de Zeus se move pelo ar, quando Afrodite se levanta.

-Ouça ela falar antes, Zeus! – posso ver que ela está tensa, mas também posso ver que o ar muda e Zeus respira fundo. Já Hera não parece muito feliz com minha presença.

Ele me encara e levanta as sobrancelhas. Como os deuses estão na sua forma original, aquela enorme. Eu tenho que olhar para cima, e não de igual para igual, o que me dá um pouco de medo.

-Fale-me algo em sua defesa, Cams. – minha boca está seca. Eu não sei nada.

-Eu só quero ajudar Percy. – minha voz sai estranha, e Zeus revira os olhos. – sinto muito se irritei você ou algum outro deus. – é a vez de Hera revirar os olhos. – mas não era minha vontade. – eu troco o apoio nas pernas. – todos no acampamento estão precisando de mim agora, e mesmo não confiando em mim, eu estou aqui, pedindo a ajuda de vocês, mesmo com a certeza de que você vai lançar um raio sobre mim ou algo do tipo. – mordo a língua, tentando parar de falar. – olhe... O que eu quero dizer é que... – respiro fundo. – mesmo alguns de vocês... – olho para os deuses (tentando encarar deus por deus – e ignorando Apolo) e continuo – não gostando das minhas escolhas... Eu sinto muito por isso. – e então não consigo me segurar. – mas não me arrependo. – Zeus imediatamente se levanta e sua mão está com o raio mestre, mas Poseidon o acompanha, já com o seu tridente em mãos.

-Se você ousar mata-la, eu juro que você irá começar uma guerra. – wow. É tudo o que eu digo.

Afrodite se manifesta pela primeira vez.

-Deixe-a em paz. – é a voz em minha cabeça. Eu sou filha da deusa do amor e do deus dos mares? Tá, né. – Você não tem o direito de fazer isso, e tenho certeza de que você faria picadinhos de quem sequer ousasse tocar em Thalia. – Zeus trinca os dentes, mas vejo que o raio não está mais reluzindo tão... fortemente. – faça-me o favor, Zeus. Ela é só uma criança, e você sabe como Apolo é. – o mesmo revira os olhos. – ele já se envolveu com outras semideusas, e tudo acabou da mesma forma. – engulo em seco, mas espero ela continuar. – e se você ousar tocar em minha filha, você irá pagar caro. E eu não estou brincando. – vejo que o poder reluz dela, mesmo sendo a deusa do amor, ela sabe muito bem ser... Má.

Olho em volta e vejo que Hefesto está com as mãos em punhos, respirando tranquilamente. Ops, ele é o marido de Afrodite.

Hades se levanta de seu trono.

-Vamos fazer uma votação entre o conselho e os outros deuses, votaremos para manter ou não Camille viva. Se ela sobreviver, então ela poderá pedir o que veio pedir. – ele me olha por alguns minutos e realmente tudo o que eu vejo é a morte. – Eu voto para que ela morra. – opa.

Zeus abre um sorriso.

-Dois. – os deuses menores começam a votar, deixando os maiores por ultimo.

É quando o Sr. D. e Quíron aparece, se desculpando por estarem atrasados. Sr. D. vota contra mim, enquanto Quíron a favor, e logo a votação continua.

Meus pais votam para eu ficar viva (obviamente) e logo eu me vejo encarando Apolo, que vota para me manter viva. E então estamos empatados. Trinta e dois votos para eu morrer, e o mesmo numero para eu ficar viva.

Eu estou encarando Ártemis, que me encara, sem tirar os olhos de mim, com o voto principal e mais importante.

-Por que eu deveria lhe manter viva? – ela pergunta, me encarando. – quer dizer, sei que os semideuses são importantes e tudo mais, mas você tem se mostrado apenas um problema. E convenhamos, meu irmão sempre ama as garotas, e então os romances nunca dão certo e puf. Você é descartada. Talvez até ganhe um lugar bom no mundo inferior. – Hades revira os olhos.

-Porque eu passei minha vida toda sendo algo que eu não sou. E quando eu descubro sobre quem eu realmente sou, tudo vira uma grande bola de neve e eu paro aqui. – ela me olha surpresa.

Mas outra voz deixa todos os outros surpresos.

-Por que ela não é só mais uma, irmã. – é Apolo que fala isso, para Ártemis. Os dois irmãos gêmeos se encaram (a semelhança é óbvia), quando ela suspira e me encara.

-Se você fosse uma deusa eu até poderia ser sua amiga. – um sorriso fraco aparece em meu rosto. – na realidade eu até posso lhe oferecer um posto como uma caçadora, quer? – dou um sorriso sem jeito.

-Obrigado... Han... Mas acho que esse não é meu... tipo. – ela sorri, entendendo.

-Bom. Eu estou fazendo isso pelos seus pais, pois eu realmente tenho uma afeição por eles. – meus pais sorriem. – e por Apolo, meu irmão. – ela sorri e Zeus bufa. – eu voto para manter Camille LaFont viva. Totalizando Trinta e Três votos positivos.

Zeus respira fundo e faz um gesto com a mão, como um “deixa pra lá”.

-Tudo bem, o que você quer, Cams LaFont? – ele fala meu nome irônico e levanto a cabeça, encarando nos olhos.

-Quero ajuda para encontrar Percy Jackson. Que se eu não me engano, salvou todos que estão aqui na sala. – Zeus respira fundo.

-Você não pode ajuda-lo. Ele está fora dos nossos domínios. – levanto uma sobrancelha. – fale para sua amiga que é tarde de mais. Nem os deuses podem ajuda-lo.

-Mas ele está vivo? – é Atena que me responde.

-Sim. Mas não vá atrás dele. – ela fala. – será melhor se você falar para Annabeth que não falamos nada. – engulo em seco. – é perigoso de mais, Camille. – faço que sim, entendendo. – nem mesmo nós, deuses olimpianos podemos chegar até lá. – ela suspira. – mas uma hora ele irá voltar, ou ao menos, aparecer.

Faço que sim, pelo menos agradecida por ela falar isso, talvez fosse melhor assim, ele aparecer de novo. Ou novamente, tanto faz.

É Apolo que fala, quebrando o silencio que começou a se instalar.

-Quero propor uma nova votação. – Zeus faz um sinal para ele prosseguir.  – Uma votação para consentirem ou não minha relação com Cams. – todos os deuses ficam tensos, aquilo era fora do padrão, até mesmo eu fico surpresa com isso.

-Isso é loucura! – um deus menor fala. – semideuses e deuses não se envolvem!

-Já ocorreram momentos na história em que o fizeram. – vejo que Ártemis está do lado de seu irmão, o ajudando. – se Cams quiser, eu concordo com isso, os dois devem ficar juntos. Se por alguma razão maluca até Afrodite fez Cams e Apolo se... gostarem, eu apoio.

-Pois, eu não. – é Poseidon fala. – isso é ir longe de mais. Ela é minha filha e eu não aceito isso.

Ele está com ciúmes? Oh, céus, eu queria poder ter uma câmera e gravar isso, para poder mostrar para Annabeth futuramente. Pensei antes de ouvir minha mãe falar.

-Faça-me o favor, Poseidon. Ela já é bem grandinha e se eu não me engano ela já tinha um namorado. – ela olha para Ares, que dá de ombros. Poseidon respira fundo.

-E se por algum descuido ele se transformar na sua forma divina ao seu olhar? E se sua filha virar pó? – Afrodite revira os olhos.

–Nem mesmo o deus mais burro faria isso. – dou um sorriso.

-Ainda voto não.

Só os deuses maiores votam dessa vez, mas é o suficiente para empatar novamente. E é Zeus que foi o ultimo que sobrou. Apolo já perdeu o sorriso vencedor e sabe a resposta.

-Eu permito. – ele responde simplesmente. – mas que as consequências os acompanhem. Se eles quiserem ficar juntos até Camille morrer, tudo bem, se não quiserem, tudo bem. Mas que aprendam com seus erros. E eu dou essa sessão por encerrada.

Puta que pariu. O que acabou de acontecer em menos de uma hora?