Escarlate escrita por Bein


Capítulo 1
Único




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E lá estava ela, pálida e gélida. Quase morta se não fosse por uma leve batida em seu peito que teimava em não querer parar. Seria a cena perfeita se a pessoa que estivesse estirada no chão não fosse minha irmã. Não sei se é divertido ver sua irmã ensanguentada na sua frente quanto era para mim, mas o problema era que faltava algo a mais.

Faltava indiferença.

Não matava para me divertir, mas para me dar dar prazer. Essa era a primeira vez que me permitia fugir das minhas próprias regras e rir enquanto observava uma vida se esvair. Já bastava de aguentar o sorriso doce, a pele perfeita e o amor emanando de seu ser. Era irritante um ser humano tão puro, tão inocente, ainda mais estando ao lado de um monstro como eu. Não conseguiria cuidar dela por muito tempo mais desse jeito.

Quando matei meu pai e minha mãe não pensei ter necessidade em também liquidá-la. O que uma criatura tão pequena poderia me causar de problemas?

Irônico pensar que tantos.

Desde que me viu matar nosso vizinho ela vem me seguindo por todos os lados, buscando me “ajudar”, como a mesma falava. Um dia perguntei o por que e tudo que me respondeu foi um “você fica feliz depois que faz isso”.

Nunca entendi o fundo por trás dessa mínima frase. Não era como se eu mudasse minha expressão durante ou após o processo. Então, como ela sabia do meu prazer? Isso me irritava! Ninguém têm o direito de me interpretar, principalmente certo.

Hoje, logo após matar um dos meus amantes, ela chegou com aqueles seus olhinhos brilhando ingenuidade e golpeou o cadáver no estômago com uma faca sem ponta.

Até eu tenho limites.

Tudo aconteceu por um impulso - um que eu estava controlando há muitos anos. Levantei num salto, pegando a gola de seu vestido e a jogando contra a parede. Prensei-a na mesma para que não se mexesse e peguei a estúpida faca de sua mão, lambendo todo seu comprimento.

Nenhuma expressão de medo foi demonstrada, mas sim um semblante de contentamento e isso me surpreendeu. O que me deixou com mais raiva.

– Como você, sua morte deve ser igualmente ridícula.

Finquei a estúpida faca em seu ombro e a torci duas vezes, enquanto ouvia seus gritos de dor e via lágrimas salgadas correrem por sua face. Sorri, observando-a cair no chão frio.

– Obrigada pela ajuda. - disse irônico.

– Finalmente você sorriu por minha causa, irmãozinho.

Foram as únicas palavras que proferiu e, por incrível que pareça, estava sorrindo.

Como uma menina tão pequena conseguia ser tão irritante?, pensei durante seu último suspiro e enfim compreendi.

Ela estava me provocando de propósito para ganhar atenção. Era seu objetivo desde o princípio: abraçar a morte por minhas mãos. Vendo o prazer brotar em meu rosto por sua, e apenas sua, causa.

Era azucrinante, inocente e idiota, mas com certeza a única pessoa que aguentei não matar por anos. Meu ódio encobria meu amor e eu, em meu ato egoísta, tirei sua vida, sendo apenas mais um disfarce para esconder esse sentimento tão repulsivo e frágil que nunca quis possuir por ninguém.

E agora percebo minha incoerência.

Não buscava amar e amei, agora além disso tenho que sobreviver com o sofrimento que me causei por isso.

Assim abracei-a, deixando apenas uma lágrima se libertar de meus olhos. O meu primeiro ato de humanidade em anos: o sofrimento.


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