Eu perco a cabeça toda vez que pedem que eu me comprometa

Porque tenho medo e estou preso ao meu jeito de ser

E é assim que as coisas são

Por quanto tempo eu esperei que o amor superasse ignorância?

Pela expressão no seu rosto, devo ter forçado a barra até o limite.

Ela me olhava com repulsa, na sua frente parecia um desconhecido, me tratava apenas com educação, mas ainda sim sei que queria fazer de mim o mesmo que fiz com o seu coração. Talvez esteja certa, talvez eu mereça ser tratado como um lixo, talvez não mereça o seu amor, ou seu sofrimento. Eu perco a cabeça, todos dizem que ainda a amo, mas eu tenho medo, tenho medo de repetir os erros, fazer tudo de novo e machuca-la, eu sou assim, cometo meus erros, mas no fundo tenho medo. É, acho que forcei a barra, e pelo jeito que ela me olhava devo ter passado dos limites.

– Você foi um panaca, idiota, imbecil, babaca, mas ainda sim acho que deve ir atrás dela! – Matt disse olhando para o chão, fitando seus cadarços desamarrados.

– Obrigado por lembrar da parte óbvia – Sorri fraco – Mas sei lá, fiz dela uma segunda opção, fiquei com todas enquanto estava com ela, tudo bem que estou arrependido, mas acho que ela não vai me perdoar por isso...

Mal terminei a frase quando de repente Brian aparece.

– Isso não se faz com uma mulher.

– Falou o cara que fica com trocentas mulheres em uma noite! – Zombou Johnny.

– Trocentas? Essa palavra existe? – Jimmy fez cara de confuso enquanto atirava um travesseiro em Johnny.

– Sim, existe essa palavra, mas o assunto não é esse – Matt revirou os olhos impaciente enquanto estendia suas pernas sobre uma poltrona que estava a sua frente – Zacky, claro que o que você fez foi um tremendo vacilo, e que foi um idiota por ter percebido que a ama só agora...

– Já entendi que sou um idiota, não precisa lembrar todo o tempo! – Interrompi e todos riram.

– Ok, mas o lance é que você tem que falar isso pra ela antes que seja tarde demais. – Matt disse agora me encarando.

– Ou talvez já seja... – Brian disse disfarçadamente.

Dei de ombros e fechei os olhos. Fiquei pensando se realmente valia a pena correr atrás ou desistir. Como eu pude fazer isso? Tratá-la como nada, deixá-la sozinha quando ela precisou enquanto saia pra me “divertir” e só agora perceber que a amo? Johnny tem razão quando diz que só damos valor quando perdemos.

– Acho que vale a pena tenta, Zacky. – Johnny sorriu e saiu da sala.

– Pensa bem. – Matt disse sumindo logo atrás de Johnny junto com os outros caras.

Eles estavam certos, não posso desistir da pessoa que amo. Posso até parecer, mas não sou louco, não o mesmo.

Eu não sou louco! Eu não sou louco!

Eu não sou louco! Eu não...

Não o mesmo

Volte pra mim, é quase fácil

Volte novamente, é quase fácil

Volte pra mim, é quase fácil

Volte novamente, é quase fácil.

Amy Heckerling, essa garota mexia com a minha mente como ninguém, como não fui perceber isso antes. Idiota, idiota, idiota! Ah, se fosse tão fácil poder tê-la novamente. Fechei os olhos e pude vê-la, aqueles lindos olhos azuis me encarando, aqueles cabelos loiros, compridos e macios sobre meus ombros, seus braços envoltos do meu pescoço em um inesperado abraço. Fui retirado dos meus pensamentos quando Jimmy entra na sala correndo e se jogando sobre mim.

– O que você quer seu louco? – Disse o empurrando.

– Nossa que mau humor – Ele deu um tapa na minha testa – Só vim te chamar pra um lanche e...

– Opa, lanche? – Levantei rapidamente do sofá.

Jimmy solta sua gargalhada alta e estranha.

– Vai se acalmando aí ok? Nada de engolir toda a comida com uma só mordida.

– Ok ok – revirei os olhos – Mas você ia dizer mais alguma coisa.

– Ah sim, os caras querem visitar aquela nova boate, vamos?

– Hm, não sei não Jimmy... – Falei meio fraco.

– Ah qual é cara? Vai querer ficar aí na depressão? Deixa de vadiagem, vamos logo! – Jimmy me encarou e já sabia o que ele iria fazer.

Fui para o quarto praticamente arrastado por Jimmy, sentei na cama enquanto ele jogava várias roupas sobre mim naquelas suas imitações de “estilista”.

– Olha só, com essa roupa você vai ficar gatão! – Ele sorria enquanto me mostrava uma camisa azul turquesa junto á uma calça jeans escura.

– Tenho certas dúvidas disso, mas ok. – O encarei como se ele fosse louco e o empurrei para fora do quarto.

Arrumei-me bem rápido, não estava muito a fim de ir, mas acho que seria uma boa, esquecer todo aquele clima tenso e me divertir um pouco. Fui para a sala praticamente voando, os caras já estavam engolindo a comida quase toda.

– Ei, qual é? Deixaram só isso pra mim? – Reclamei apontando pra um único pedaço de torta junto á um copo apenas pela metade com suco.

– Você precisa manter a forma Zachary! – Brian disse rindo sínico.

– Come logo isso antes que eu enfie em sua garganta. – Matt disse tentando me amedrontar, sim, isso funciona.

Comia enquanto ficavam me observando, aquilo estava me dando nos nervos, idiotas! Joguei as louças sujas na pia e gesticulei pra que fossemos embora. Fomos todos no carro de Brian, e não demoramos muito para chegar, já que Jimmy assumiu o volante e dirigia feito um louco. O lugar era incrivelmente enorme e cheio de luzes, tinha uma pista de dança bem grande, um bar cheio de variedades e um local reservado com sofás e uma mesinha. Brian e Jimmy correram para a pista de dança e ficaram fazendo aquela dancinha ridícula de “robô”. Matt, Johnny e eu pedimos uma bebida e ficamos observando aqueles babacas dançando, não tinha como conter as risadas.

Conseguimos beber a garrafa toda em poucos minutos, enquanto Brian conseguia pegar uma garota e Jimmy continuava a sua “dança”, fomos para a área reservada e passamos a metade da noite jogando conversa fora, bebendo e rindo feito retardados. Todos em seu estado ébrio, Matt e Johnny resolveram acompanhar Jimmy na pista de dança fazendo palhaçada, enquanto eu continuava sentado ali no sofá apenas observando.

– Licença, posso sentar aqui? – Uma garota falou me cutucando.

– Tudo bem. – Dei de ombros e fechei os olhos, quase dormindo.

– Obrigado – Ela sorriu, e provavelmente não estava em seu estado sóbrio – Ah, estou cansada e não estou bem.

Sorri, afinal quem era aquela garota que sentou ao meu lado á poucos segundos e já estava me contando seus problemas? Fui tirado de meus pensamentos quando ela vomitou na minha roupa.

– Ai desculpa! – Ela se desesperou tentando limpar minha camisa.

– Não, tudo bem. Calma, você está se sujando! – Falei afastando sua mão.

Puxei a garota até uma pia que havia perto do local, e joguei o jato de água sobre suas mãos. Estava escuro e até aquele momento ainda não sabia quem era a tal garota. A água estava gelada, coloquei um pouco entre as mãos e molhei o rosto na tentativa de voltar ao estado sóbrio e gesticulei para que ela fizesse o mesmo e os poucos voltávamos ao normal.

– Obrigado, e desculpa pela sujeira, juro que compro outra camisa pra você... – Ela disse preocupada.

– Não precisa, a culpa não foi sua. Enfim, ainda não sei seu nome.

– Amy Heckerling, e o seu?

Espera Amy? Como não reconheci aquela voz? O que ela estava fazendo lá? Várias perguntas ecoaram na minha mente, mas a única coisa que consegui fazer foi puxa-la para um lugar iluminado.

– Zacky? – Ela se surpreendeu ao me ver.

– Amy, eu precisava mesmo falar com você... – Peguei sua mão na tentativa de puxá-la para um abraço.

– Não temos o que conversar! – Amy soltou sua mão da minha com repulsa.

– Amy, eu preciso te pedir desculpas.

– Desculpas não vai adiantar nada Zacky. – Disse agora irritada.

– Amy...

– Zacky, eu já entendi, pra você eu era só uma garota qualquer pra chamar de “namorada”, aliás nem precisou, você já tinha todas as mulheres que queria!

A vergonha pulsa no meu coração por causa das coisas que eu fiz pra você

É difícil de encarar, mas permanece o fato

De que nada disso é novidade

Deixei pra você um cupido com lembranças suicidas

Tento disfarçar meu egoísmo, mas no fundo eu não sou louco.

Senti nojo de mim mesmo ao ouvir aquilo, fiz tudo aquilo por impulso sem pensar o quanto machucaria Amy. Fiquei em silêncio, não tinha argumentos para disfarçar a verdade, apenas a deixei ir.

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– Cara não acredito que ela disse isso! – Johnny disse surpreso.

– Mas não foi nada além da verdade. – Brian disse antes de levar um tapa de Matt na cabeça.

– Brian esta certo, eu precisava ouvir isso! – Disse abaixando a cabeça.

– Não vai desistir né? – Jimmy se abaixou tentando ver meu rosto.

– Já não sei mais se vale a pena. – Disse agora erguendo a cabeça

Todos levantaram desapontados e saíram da sala em silêncio. Deitei no sofá e fechei os olhos na tentativa falha de voltar a dormir quando fui praticamente obrigado a abrir os olhos novamente com a luz forte do sol sobre meu rosto, mas foi só Matt que voltou para abrir a cortina da sala.

– Esse não é o Zacky que eu conheço. – Falou baixo voltando a se retirar da sala.

Odeio admitir que eles estão certos, droga! Deveria agir logo antes que me arrependesse de novo. Não pensei duas vezes e puxei o celular do bolso da calça e digitei um “Preciso falar com você, por favor, é sério.” E enviei para Amy, não demorou para que ele me respondesse com um “Tudo bem, afinal precisamos por um ponto final nisso. Passa na minha casa ás 17:45” Enfim iria resolver tudo isso, se o final seria bom ou ruim, aquilo não me preocupava mais, afinal se eu a amo ficaria bem apenas em vê-la feliz. Fui de imediato contar para os caras, eles me fizeram tomar a decisão certa, ou pelo menos parecia ser.

Eu não sou louco! Eu não sou louco!

Eu não sou louco! Eu não...

Não o mesmo

Volte pra mim, é quase fácil

Volte novamente, é quase fácil

Volte pra mim, é quase fácil

Volte novamente, é quase fácil.

– Demorou pra cair na real hein? – Brian fez uma expressão de “você é lento”.

– Eba, vamos logo escolher a roupa! – Jimmy mais uma vez entrou no seu personagem de bixa estilista que fez todos rirem.

– Ei Jimmy, relaxa, esta deixando o cara ainda mais nervoso. – Matt disse se recuperando do riso.

– Mais do que já estou não tem como.

– Vai dar tudo certo, calma aí Zackynho.

– Johnny, só eu posso chama-lo de Zackynho sacou? – Brian tentou expressar raiva e todos caíram na gargalhada.

– Ok, ninguém me chama mais de Zackynho se não quiser levar um murro. – Disse tentando acalma-los das gargalhadas.

Sentaram em silêncio no sofá e sorri da expressão de medo que eles fizeram.

– Enfim, já são 17:45, tenho que ir.

– Boa sorte! – Todos disseram em um uníssono.

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Toquei a campainha e de imediata Amy abriu a porta, gesticulando um “pode entrar” com a mão, entrei e ela entro logo em seguida.

– Então o que você quer falar? – Ela disse seriamente enquanto encarava o tapete cinza no chão.

– Quer que eu seja direto?

– De preferência. – Ela sorriu fraco agora me encarando.

– Não diga nada até que eu diga tudo que tenho pra falar ok?

Ela assentiu em silêncio.

Agora que perdi você, me mata dizer (machuca dizer)

Tentei te segurar enquanto você escapava aos poucos

Estou perdendo a batalha

Te tratei tão mal, agora me deixe corrigir meu erro (corrigir meu erro).

– Eu sei que fui um idiota total, de ter dito que te amava e ter te tradado daquela forma, de ter te traído daquela forma. A minha intenção nunca foi te machucar, a verdade é que a minha intenção era só me divertir, mas acabei agindo da forma errada e não sabia como parar – Amy abaixou a cabeça, mas continuei a falar – Eu só queria dizer que demorei muito tempo pra perceber que te amo de verdade, e isso me faz mais idiota ainda. Não sei se percebeu, mas tentei expressar de todas as formas que estou arrependido de verdade – Ela apenas assentiu que sim – e só te peço que me perdoe, é só isso que tá me matando. Eu te amo, por mais que não sinta o mesmo por mim só queria te dizer isso logo. Me perdoa?

Ela ergueu sua cabeça olhando em meus olhos, deixando que uma lágrima caísse de seus olhos.

– Zacky, eu sei que não deveria, mas eu te amo e te perdoo. – Ela sorriu deixando que as lágrimas a tomassem.

Eu só precisava ouvir aquilo, enfim pude abraça-la e tudo que era difícil se tornou fácil, quer dizer, quase fácil.

Eu não sou louco! Eu não sou louco!

Eu não sou louco! Eu não...

Não o mesmo

Volte pra mim, é quase fácil

Volte novamente, é quase fácil

Volte pra mim, é quase fácil

Volte novamente, é quase fácil.

– Só precisa de mais uma coisa pra deixar o Zacky feliz. – Sorri igual á uma criança.

– O que? – Ela sorriu abaixando a cabeça.

– Volta pra mim? – Falei segurando sua mão.

Ela apenas sorriu, assentiu que sim e me abraçou, um abraço demorado e sem tempo pra acabar, o meu único desejo era que aquilo durasse toda a eternidade, eu estava abraçando meu mundo. Ela me empurrou levemente e seus lábios encostaram-se aos meus, de repente esqueci de tudo, para mim o mundo era só de Zacky Baker e Amy Heckerling. Tudo na vida pode parecer difícil, mas você pode tornar tudo mais fácil, ou melhor, quase fácil.