Ela havia brigado com sua melhor amiga, sua irmã, mas ela não aguentava mais. Por que é que ela tinha de contar tudo e nunca saber de nada? O que eram aqueles desaparecimentos de sua melhor amiga? O que era aquelas faltas as aulas? O que era aquilo que ela escondia? O que a fazia correr para o banheiro e chorar? O que a fazia cortar seus pulsos, suas pernas? O que a fazia se esconder? O que a fazia se afastar de sua melhor amiga, de sua irmã?

Ela sempre falou tudo, de suas paixões, as suas decepções, de seus problemas, elas compartilhavam tudo! Porque agora havia um segredo entre elas?!

O que havia dado nela? E porque ela fugira dela? Agora que ficasse assim, ela havia cansado de se preocupar com quem não se preocupava com ela! Parece que só ela ligava para a amizade delas!

Ela se jogou com tudo na cama e deixou as lágrimas da raiva escorrerem livremente pelo seu rosto, ela pegou a foto das duas que tinha em seu porta retrato e a rasgo no meio a jogando no chão, ótimo, se ela queria segredos ela teria segredos.

Ela limpou as lágrimas com raiva, e fechou os olhos.

As palavras da discussão ecoavam na cabeça dela, o rosto sempre seco de suas ‘’irmã’’ molhado.

“Se você quer ter seus segredo os tenha! Se quer ter sua confiança a tenha! Longe de mim! Cansei de me sacrificar por você!”

“Você não sabe o que está dizendo! Você não sabe o que está fazendo! Não pode falar assim comigo” falou a amiga chorando

“Você sempre me tratou como segunda opção, agora vá lá invente suas desculpas e me deixe sozinha sem uma boa explicação de seus sumiços”

“Você não tem ideia do significado de suas palavras! Não tem ideia dos significado das minhas!”

“Por que você não me permite ter ideia de nada sobre você! O que eu sei sobre você?! Isso acaba aqui! É melhor nos afastarmos”

A sua melhor amiga limpou o rosto, borrado, o rosto molhado, um rosto com dor estampado. Ela não se importou

“Tem razão, é melhor... Não por mim... Mas por você”

“Finalmente você pensou em mim”

A guria assentiu e engoliu mais uma dose de choro e se virou para ir embora, mas antes viro e disse:

“Não tem ideia de quantas vezes meus segredos eram guardados pensando em você”

E essas foram suas ultimas palavras antes do adeus.

Mas tudo bem, ela quis assim, ela era orgulhosa demais para contar o que estava acontecendo a sua melhor amiga! Ela a odiava por ser assim! Porque não podia parar de ser forte e demonstrar suas fraquezas! Poxa elas se conhecem desde que se entendem por gente, estão juntas desde que se entendem por gente! São unidas, são irmãs desde sempre! Será que depois de todo esse tempo elas não podem confiar uma na outra?

Se não existia confiança o que iria existir?!

A guria enterrou o rosto no travesseiro e encarou a foto no chão rasgada, permaneceria assim, assim como a amizade delas estava , assim como o coração dela jazia.

Se ela queria se desculpar, ela que viesse atrás, isso acabava agora. Ela também tinha seu orgulho era hora de mostra-lo.

A garota virou par ao teto e o encarou, fechou os olhos e tateou a procura de seu mp3 ao lado da mesa, ela começou a ouvir suas músicas e a cantarolar baixinho, então chegou na música dela e de sua ‘’irmã’’ ela desligou o mp3 com tanta força que jurou que ele quebraria, mas isso era o de menos agora.

Sem música, sem TV, sem computador, apenas ela, suas lembras e seu quarto no escuro, mais nada.

Quando ela estava quase dormindo sua mãe bate na porta, perguntando se ela vinha para o jantar ela negou, alegando que estava cansada demais e permaneceu Deus sabe quantas horas acordada olhando para o teto e refletindo, achando que havia agido errado, se convencendo de que fez o certo, até não resistir e cair de sono.

Ela estava tendo sonhos perturbados, virava-se na cama, suava muito em todo aquele frio, ela soluçava e chorava durante o sono, ela tinha pesadelos terríveis, ela tinha a culpa pesando no peito, ela queria fugir do próprio mundo.

Ela acordou ofegante e a primeira coisa que viu foi uma das partes da foto rasgada, a parte de sua amiga, ela estava abraçada naquela parte e seu peito doía muito como se um pedaço dela fosse arrancado, como se faltasse algo, como se ela tivesse perdido a principal peça do seu quebra-cabeça.

Ela tocou o rosto e percebeu que já chorava, sentiu o medo dentro dela, quis gritar, quis bater em tudo, ela estava com raiva, ela estava com medo... Ela soube que havia algo errado... Com sua irmã.

Seu celular tocou, ela pulou da cama e correu até o canto do quarto onde ele estava.

Ela o atendeu e sua voz soou rouca e um tanto chorosa... Ela reconheceu a voz... Era a mãe de sua melhor amiga.

–Ela quer falar com você – Disse a mãe dela.

–Porque ela não ligou?

–Ela não pode... Por favor, é só o que ela pede – Ela percebeu que a mãe da garota chorava.

–Passe para ela por favor.

–Não...Ela precisa te ver.

–Onde vocês estão.

–No... –Ela parecia esperar o consentimento de alguém – Hospital.

–O que? Como assim? Por quê?

–Não... Não pergunte... Apenas não demore... O tempo é mais precioso do que parece.

–Sim, claro.

O choro não havia parado, uma sensação ruim a preenchia, algo havia acontecido, elas não deviam ter discutido, o choro não parou, mas cresceu.

Ela bateu na porta do quarto da mãe e desesperada pediu para a leva-la ao hospital, teve de esperar sua mãe se arrumar e mais incontáveis minutos até chegarem ao hospital.

–Eu ficarei aqui – Disse a mãe – Tudo vai ficar bem querida

Ela assentiu.

E depois correu para o hospital, para a recepção.

–Eu preciso... – Começou a dizer.

–Eu sei, ela está te esperando. O último quarto, 113.

–Obri... Obrigada.

Ela correu até o quarto onde estava sua melhor amiga, os pais dela estava ali, a mãe dela estava agarrada a sua mão, ajoelhada ao lado da cama, havia tubos de respiração em sua melhor amiga, haviam aparelhos cardíacos ligados a ela, havia um soro que pingava lentamente e silenciosamente.

E sua irmã... Estava semi morta, os olhos quase fechados, a pele branca e pálida, os cabelos sem brilho, o lábio sem cor alguma além de um roxo.

Ela caiu de joelhos no chão e o choro se formou no peito, começo no coração, veio na garganta e saiu pelos olhos e depois explodiu em soluços, o pai de sua melhor amiga a conduziu para perto da cama e depois ele e a mãe deixaram o quarto as deixando a sós, ela pegou a mão da melhor amiga tremendo.

–O que... O que você tem?

–Câncer... No útero.

Ela conteve outro soluço, um dos sonhos de sua amiga era ser mãe, doía saber que aquilo nunca se realizaria.

–Por quê eu nunca soube?

–Era melhor guardar segredo para não magoar você. Já basta minhas lágrimas derramadas não preciso derramar as suas.

As palavras da briga ecoaram em sua mente.

“Não tem ideia de quantas vezes meus segredos eram guardados pensando em você”

Como ela se arrependia.

–Desculpa, por tudo, eu não devia... Devia entender... Não me deixe por favor, por favor, não posso ficar sem você, não posso.

–Shh, te chamei porque precisava me despedir... Eu não poderia ir em paz brigada com minha irmã. – Ela respondeu em um sussurro esforçado.

–Não, não. Você não vai! Por favor não vai, por favor...

–Eu vou ficar bem, eu só... Eu só não posso ser forte por tanto tempo... Mas você pode.

–Se você for eu vou também, eu não vou continuar sem você.

–Vai continuar por mim.

Ela tocou a própria correntinha, que as duas tinham iguais, o símbolo da amizade delas.

A garota levou a mão a sua correntinha também.

–Promete continuar por mim?

Ela assentiu.

–Eu te amo, irmã.

–Eu te amo, irmã.

Foram as últimas palavras antes de um abraço entre as duas, aquilo foi a cena mais marcante de toda sua vida, o trauma mais marcante de sua vida, ela sentiu quando sua melhor amiga se foi, ela ouviu quando o seu coração parou, ela a perdeu, ela gritou, médicos a cercaram, nada pode ser feito.

Ela se foi, sua melhor amiga se foi. Era triste saber que não receberia mais um bom dia dela, que não sentiria mais o abraço dela, que não iriam compartilhar mais risadas e lágrimas, que não iriam mais se abraçar, que ela mandaria um sms todos os dias de bom dia e de boa noite, mas saberia que nunca seria respondido, que as redes sociais dela estariam off line, para sempre. Ela não voltaria. Esse foi o verdadeiro adeus.

Ela correu para casa e a primeira coisa que fez foi apanhar o durex, a foto foi colada de novo e jazia no porta retrato, sua irmã estaria para sempre com ela, ninguém a substituiria

As lágrimas caíram, as lágrimas jorravam, ela quis ir com ela... Mas havia prometido continuar por ela. E ela continuaria.