Unspoken escrita por Uma Qualquer


Capítulo 1
Capítulo Único - I could even fly to the sky




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/269577/chapter/1

“Eu te amo.”

As palavras teimavam em sair da garganta de Natsuki, mas ele não era muito bom com elas. E suspeitava que Yuki também não fosse.

O ruivo avisou a avó que estaria estudando com o amigo lá em cima, e pediu que ela os deixasse sozinhos por enquanto. Keito-san acenou tranquilamente em resposta, um sorriso compreensivo em seu rosto.

Terrivelmente compreensivo, Yuki pensou desesperado, trancando a porta atrás de si. Estava rubro como um pimentão, o rosto retorcido numa careta de surto nervoso. Talvez sua avó nem soubesse de nada, mas vai tentar convencer aquela mente maluca, que encanava por qualquer coisa.

Desconfiava que ainda nem tivesse desencanado desde o primeiro beijo deles, no dia anterior. Se tivesse, não estaria agora olhando para Natsuki apavorado. O moreno por sua vez mal controlava seu riso.

— Queria que o Haru te visse agora— comentou.

— Não fala nele— o garoto exclamou, nervoso. Haru era a última pessoa que gostaria de ver naquele momento.

— Aliás, onde ele tá? Não vi ele desde que a gente saiu da aula.

— Ele foi ver a irmã, ou algo assim. Sei lá, ele tá sempre fazendo o que quer. Pelo menos não vai vir incomodar a gente agora, a menos que ele consiga escalar até a janela do meu quarto.

— Ih, acha que ele pode fazer isso?

— Não sei, mas espero que não.

Natsuki fitou o ruivo, e riu outra vez.

Não lembrava de ter sorrido ou rido tão sinceramente desde que sua mãe faleceu, dois anos antes. Só a irmãzinha Sakura despertava seu bom humor até então, mas desde que passou a conhecer melhor Yuki, vinha se sentindo mais feliz do que imaginou ser possível para ele. Só em ver aquele cara surtando, apenas por estarem os dois ali a sós, já lhe fazia querer gargalhar.

— Bom, então vamos torcer pra ele não fazer isso— o moreno largou a bolsa ao lado da cama, e se aproximou de Yuki.




Enquanto as cores desbotam,

Enquanto as fendas se formam

Eu busco uma maneira de brilhar




Ele respirou com força, suando em bicas. Natsuki esticou as bochechas dele.

— Desfaz essa cara estranha— riu.— Não consigo falar sério com você desse jeito.

— Eu sei do que você quer falar— Yuki grunhiu.

— Sabe mesmo?

— É sobre ontem.

— Ha, você até que é esperto.

Ele baixou o olhar, como se estivesse pensando no que dizer.

Yuki então se acalmou e o fitou, curioso. Sempre quis saber o que se passava na cabeça dele. Desde que o conheceu, Natsuki fora um mistério para ele. Não que o moreno fosse realmente misterioso, mas Yuki apenas não conseguia entendê-lo às vezes.

— Acha que o que a gente fez foi errado?— Natsuki indagou, sem olhá-lo.

— Não— ele respondeu prontamente.

O moreno ergueu o olhar para ele, um sorriso leve em seus lábios. Ao menos naquilo eles já tinham chegado a um consenso.



Uma vez que as lágrimas dos meus sonhos

fluíram para o mar

Eu quero você sorrindo para sempre ao meu lado




— Só não sei por que aconteceu— Yuki murmurou de repente.— Digo, eu nunca tinha feito antes. Nem pensado em fazer. Nem pensado em fazer com um cara, ainda por cima!

— Então, por que fez?— Natsuki indagou interessado.

— Sei lá... Foi tão do nada, eu não entendi até agora.

Ele se encostou na porta, as madeixas vermelhas escondendo os olhos parcialmente. Como entender o impulso que lhe levou a beijar um amigo, por quem ele achava que não sentia nada mais que admiração? Aquilo o deixou mortalmente confuso quando chegou em casa, e tirou seu sono completamente.

Natsuki porém, parecia estar encarando aquilo com uma naturalidade muito esquisita para ele. Sabia o quanto o amigo era fechado, mas naquela tarde ele simplesmente havia lhe correspondido o beijo. Tomado o rosto dele entre as mãos, entreaberto seus lábios nos deles.

A lembrança fez seu rosto corar furiosamente.

— Você quer... de novo?

A pergunta de Natsuki o pegou de surpresa. O moreno olhava fixamente para os tênis de corrida que calçava, um rubor leve lhe esquentando as faces.



Aquelas mentiras inconvincentes

que eu contei

Descobertas em uma noite de lua cheia

Com o cheiro

do seu cabelo inquieto

Eu acordei de um sono profundo




— Natsuki...

— Eu pensei um pouco nisso também, sabe. No que aconteceu ontem, e antes também.

— Antes?— ele perguntou confuso.

— Eu nunca demonstrei na sua frente, mas fiquei feliz por ter te ensinado a pescar. Digo, não é orgulho por ter enfiado alguma coisa na sua cabeça, é só que... eu passei a me importar com você. Mais do que eu me importaria com um amigo, na verdade.

Yuki o fitava em silêncio, tentando processar as palavras. Sabia mais ou menos o que elas queriam dizer, mas preferia não se ater muito ao sentido delas, ou acabaria mergulhando numa onda de pavor novamente.

Que Natsuki se importava com ele era algo que já sabia. Mas até onde ia aquele sentimento, era o que o assustava.

— Yuki...— ele murmurou, uma certa aflição em sua voz. Não podia falar, por mais que aquilo lhe oprimisse o peito, simplesmente não passava por sua voz.

“Eu te amo...”

O ruivo esperou em silêncio, sentindo a mão do outro acariciar seu rosto, hesitante.

— Eu quero— respondeu apenas, fechando os olhos.

Natsuki engoliu em seco. Agora era ele a ficar nervoso.

Chegou mais perto dele, sentindo a face quente sob seus dedos. Yuki respirava calmamente, entregue a ele, confiando nele como sempre fazia. O moreno afastou os cabelos vermelhos do rosto, tão inexperiente quanto o outro, guiado apenas por sua própria vontade. Roçou os lábios nos dele, os olhos abertos, observando as reações do rapaz.

Yuki estremeceu levemente. Suas mãos se ergueram, alcançaram o peito de Natsuki e o tocaram por cima da camisa do uniforme. O moreno se aproximou mais, as bocas se colaram uma na outra. Um pequeno estalo entre os lábios o encorajou a ir mais fundo, sua língua invadindo o interior quente e úmido para encontrar a do ruivo. Se roçaram, brincaram uma com a outra. Então Yuki enlaçou o pescoço do moreno, inclinando o rosto contra o dele, deixando-se levar pelo ritmo tranqüilo e profundo do beijo.



Mesmo se esse mundo desordenado

nos rejeitar

Eu quero você sorrindo para sempre ao meu lado



Quando ambos se soltaram, porém, nada havia de tranqüilo entre eles. Natsuki estava ofegante, o coração acelerado. Quanto a Yuki, estava vermelho novamente, o rosto se contorcendo. Passada a adrenalina do momento, sua mente parecia achar que era uma boa hora para surtar de vez.

— Ah, quero ver se você vai fazer isso toda vez— Natsuki reclamou, quando na verdade sua vontade era de rir.

“Toda vez”, ele pensou consigo, alarmado. Será que Yuki não ia achar que ele estava colocando pressão demais?

— D-desculpa— ele murmurou nervoso.— Eu nunca fiz isso. Deixa eu me acostumar pelo menos.

Natsuki o observou e sorriu, afastando-se e pegando a bolsa. Melhor ir embora antes que o amigo tivesse um ataque de nervos, e ele, um cardíaco.

Seu peito continuava a retumbar com força. As palavras ainda estavam presas na garganta, e parecia que nunca iam sair dali.

Yuki respirou fundo, conseguindo colocar a cabeça no lugar. É, ia se acostumar em algum momento. E se era com Natsuki, podia se adaptar a qualquer coisa.

Especialmente quando aquela coisa fazia ambos felizes.

O moreno despediu-se de Yuki e Keito, prometendo voltar no fim de semana para ir pescar com o ruivo e Haru. Só então lembrou que o loirinho ia ter que saber deles dois em alguma hora. O pensamento devia preocupá-lo, mas havia algo mais importante em sua mente.

Ainda não era capaz de dizer aquelas palavras para Yuki. E isso o frustrava, porque gostaria muito de dizer. Gostaria muito que ele ouvisse.

— Que seja— murmurou para si, e enquanto seus pensamentos flutuavam, ele começou a correr pelo caminho até sua casa.

Podia até não saber falar por enquanto.

Mas demonstrar era algo que podia fazer sem problemas.



Ter encontrado você foi um milagre

que preencheu meu coração

Agora eu poderia até voar pelo céu.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Música: Sora Mo Toberu Hazu
Então, essa fic não ia ser uma songfic. Era apenas um conto que eu tinha vontade de fazer desde que terminei Tsuritama semana passada, e decidi por no papel hoje. Enquanto escrevia eu deixei rolar a discografia de SPITZ no player... e eis que de repente, uma música conhecida preenche meus ouvidos. Então descobri que Sora Mo Toberu Hazu, a ED de Tsuritama cantada pelo Sayonara Ponytail, na verdade é do SPITZ! Ao ler a tradução da música, percebi que ela casava totalmente com a fic, e então decidi integrar alguns versos à narrativa. E o resultado tá aí =D
Você que leu, muito obrigada! Se puder deixar uma review dizendo o que achou, agradeço mais ainda. Té maisinho! :*