Dia após dia eu venho me sentar nessa mesma cadeira de madeira, nessa mesma varanda, nesse mesmo horário, onde a mesma moça está na janela, observando, o quê eu não sei.

Hoje, ela estava com os cabelos soltos, eram curtos na altura de seus ombros, e alguns fios se perdiam entre suas bochechas. Eles eram castanhos, e isso eu só podia ser privilegiado quando o sol batia em sua janela, o que acontecia raramente.

Seus cotovelos estavam sobrepostos no parapeito de madeira, seu rosto apoiado nas mãos, eu podia ver claramente a vermelhidão que sua pele tomava quando ela pressionava as pontas dos dedos contra as bochechas.

Estava emburrada, me pergunto porquê? Suas sobrancelhas estavam tão cerradas que sua testa enrugava de tempo em tempo, queria perguntá-lhe o motivo da irritação.

Dobrei minhas pernas e bati os fanicos de pó que estavam em meu colete, voltei-me a ela.

Sua expressão havia mudado, estava leve e serena, seus olhos estavam fechados, apreciando a brisa que por ali passava, deduzi.

Logo eles se abriram e o castanho deles refletiu com sol, que mais uma vez, privilegio-me.

Queria saber, o porquê dela sempre está nessa janela?

Sempre ao mesmo horário, de início com a mesma postura. Os cotovelos na janela e o rosto nas mãos.

Queria saber o que a aflige tanto quando seu semblante se torna emburrado?

Queria saber o que a faz sonhar tanto quando fecha seus olhos?

Queria saber se espera alguém.

A única coisa que sei é seu nome, que descobri perguntando ao padeiro quando ele me entregou pão na semana passada. Kuroso Yuuki. Belo, não?

O Sol começara a se pôr, e eu olhei ao horizonte que ela tanto observava, suspirei, era belíssimo.

Voltei a olhá-la, hoje excederia mais o tempo que costumo ficar sentado nessa cadeira, observando-a. Talvez Ruka reclame comigo, mas valerá a pena.

Os olhos dela cintilaram e ela sorriu, lindo como o aurora, foi aí que ela desapareceu da janela.

Procurei-a desesperadamente, em cada canto, mas nada vi.

Levantei-me lentamente de minha cadeira, peguei-a e comecei a me distanciar do lugar onde estava.

Amanhã eu a veria novamente, não?

Foi aí que via a porta de madeira ser aberta, e a doce e bela Yuuki sair desta. Meu coração se encheu de um conforto o qual eu não consiguia explicar.

Seus pequenos pés correram pela rua de paralelepípedos, ao limite que minha visão alcançava, ela abraçara alguém.

Abraçara um homem de cabelos grisalhos, aquele homem que eu sabia quem era.

Pois era por ele que ela ficava aflita.

Pois era por ele que ela sonhava.

Pois era por ele que ela esperava, todo dia na janela.

“ Kaname-san...” Ruka me chamara, os passos dela vinham em minha direção.

Ela me abraçou pelas costas e eu olhei de relance sua mão em meu ombro, o anel de compromisso que eu mesmo a presenteei.

Voltei a olhar a bela Yuuki do outro lado da rua, que agora, adentrava em casa de mãos dadas a aquele homem.

Pergunto-me, o porquê que eu não pude tê-la antes.

Virei-me e entrei dentro de casa.

O que eu nunca saberia, é que ela sempre voltava à janela, a procura de um homem, do outro lado da rua, sentado em uma cadeira de madeira.

O qual ela observava, dia após dia.

Owari.