Segredos Meus escrita por Rella


Capítulo 5
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/269184/chapter/5

Capítulo 4

Michael podia ouvir os passos ao fundo, do corredor, se aproximarem de si.

- Michael, Michael. – Ele reconheceria aquele tom em qualquer lugar. Apenas Liz o chamava assim. – Trouxe chá para você. Aproveite que está quente. – Ela pousou a bandeja sobre a mesinha de centro. Olhou para Michael, amuado na poltrona. Imóvel. Acariciou-lhe o rosto e o beijou na testa. – Está tarde e eu preciso ir. – Ele não respondia. Continuava com o olhar voltado para o alto, perdido. – Seus filhos foram dormir. – Liz insistia em falar, agachada com as mãos sobre os joelhos dele. Encheu os pulmões de ar. – Pelo amor de Deus, Michael, não os deixem vê-lo assim. - Suplicou.

Nada. Liz se recompôs, recolheu sua bolsa e pendurou-a no ombro. Deu um último olhar a amigo e caminhou porta afora.

- Obrigado. – Michael havia falado. Liz esboçou um sorriso. E ele ouviu novamente os mesmos passos, agora, se distanciarem dele.

Queria dormir, espairecer a mente. Mas se tornara impossível com aquelas lembranças o atordoando. Voltou a percorrer o álbum de fotos que Liz havia deixado na mesinha àquela tarde, e foi quando avistou a figura pequena de cabeleira loura vir cambaleando, esfregando os olhos.

- Papai, o que faz aqui?

Michael riu. Só ela podia fazer aquilo consigo naquele momento e... talvez Allie. Ele a pôs em seu colo.

- O que a mocinha faz aqui? Deveria estar na cama.

- Estou sem sono.

- Oh, eu sei! Venha, vou levá-la de volta.

Mas era tarde demais.

- Que fotos são essas, papai? – Paris desviou a atenção a Michael. – Estava chorando? – Ela deslizou os delicados polegares nos olhos dele.

- Eu estou bem, querida. – Mentiu. – E agora, cama! – Ele a ergueu nos braços.

- Ah, não! Esqueça! Estou sem sono!

A pequena dormira, e isso lhe custara algumas horas. Paris estava inquieta assim como Allie naquele dia.



Verão, 1971

- Ande, Michael! Vamos! Vamos! – Só faltava ela o arrastar pelo colarinho.

- Ah, não, Allie! Acho que seus pais não vão gostar de mim! – Confessou ele enfim, chutando mais uma pedrinha no chão da praça onde estavam.

- Ora, mas que besteira! Eles vão adorá-lo!

Michael se encontrava apenas com 13 anos, apaixonado e inseguro. Seria seu primeiro encontro com os pais de Allie após cerca de um ano de amizade. Ela comentava tanto dele aos pais – especialmente a mãe -, que o mais provável era que quisessem conhecê-lo.

- Se está assim por causa de meu pai, relaxe. Ele está no trabalho e só chegará a noite. Quero que conheça minha mãe.

- Está bem. Eu vou. – Michael revirou os olhos, cedendo a vontade de Allie, internamente frustrado.

- Ótimo! Mamãe vai amá-lo! – Ela se apoiava nos ombros dele pelas costas para saltitar, sorridente. - E, aliás, você nunca foi na minha casa.

Michael parou de andar, fitando-a.

- Oh, Allie, tem certeza disso?

- Michael – pôs as mãos em seu rosto -, dá pra parar? Confie em mim.

Joanna adorou-o. Apaixonou-se. Era um encanto de menino. Ofereceu mais uma fatia de bolo a Michael que moveu os lábios para avisar que estava satisfeito. Tarde demais. Havia mais uma em seu prato. Ele por pouco vomitou depois de olhar enjoado para ela enquanto Joanna se afastava para buscar mais um copo de suco.

- Allie fala tanto de você, Michael. – Comentou ela. – Me parecem ser muitos amigos.

- Oh, somos sim! – Sorriu ele para Allie.

- Nunca o vi por aqui... Como se conheceram?

- Ah, mãe – Allie tomou a voz -, essa é uma longa história.

Joanna deixou o suco sobre a mesa.

- Então quero que me contem depois. Tenho que dar uma saída. Já são grandes, podem ficar sozinhos por um tempo?

- Claro. – Allie respondeu.

- Foi um prazer conhecê-lo, Michael. Sinta-se em casa e volte mais vezes.

Ele assentiu. Joanna se afastava da cozinha quando avisou:

- Allie, ofereça mais bolo ao garoto. Estou de volta em uma hora.

Michael olhou para Allie, desesperado, com a expressão de “Não! Chega! Pelo amor de Deus!”. Allie se inclinou na mesa e sussurrou para ele:

- Sei que os bolos de minha mãe são péssimos. – Riu. – Não precisa comê-los mais.

Ele empurrou o prato. Sorriu.

Allie levou a louça à pia. Começou a lavá-los.

- Quer ajuda?

- Ah – ela balançou os ombros -, se insiste.

Michael riu.

- Eu não insisti.

- Sei disso.

Ele adorava vê-la com aquele sorriso descontraído. Ficava ainda mais linda.

Quando terminaram, Allie secou as mãos e ajeitou os cabelos ao alto. Percebeu que Michael a olhava incessantemente. Corou.

- Michael, o que há?

- Gostei do que fez com o cabelo.

- Eu só amarrei. – Ela estava nervosa, e ele sabia disso.

- Ficou linda. – ele se aproximava -, mesmo.

Allie podia sentir suas palpitações aumentarem. Michael estava sério. E ele vinha, cada vez mais próximo, e
Allie sabia o que era. Apenas fechou os olhos e permaneceu imóvel até senti-lo alcançar sua boca. Michael abriu os lábios, vagarosamente, e ela o acompanhou tendo as mãos dele em sua cintura. O primeiro beijo.
Ao encerrar, não houve palavras ou gestos que descrevessem o momento. O silêncio era tudo. Mas ele levou as mãos à boca, suprimindo o riso. Allie não aguentou por mais tempo. Gargalhou enquanto esfregava a mão nos lábios.

- Por Deus, isso foi horrível! – Ria.

- É, foi sim! – Ele se limpava na gola da camisa, ainda rindo.

Mais tarde ao levá-lo até a porta, despediram-se com outro beijo. E dessa vez, foi maravilhoso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Segredos Meus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.