Soulmates Never Die escrita por Mychelle_Wilmot


Capítulo 1
Primeira Vez


Notas iniciais do capítulo

Escutei muito Radiohead fazendo essa fanfic, mas o título vem da música de mesmo nome do Placebo (que vocês também podem encontrar com o título de Sleeping With Ghosts).



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1.

Spock via tudo em vermelho.

Ele sempre escutara essa expressão ao longo de seus anos passados com humanos, mas sempre achara que era apenas mais uma metáfora exagerada que humanos tanto apreciavam usar. Agora, ele entendia dolorosamente o que significa essa expressão.

Spock via tudo em vermelho, vermelho como o fogo que queimava sua mente, sua pele, seus olhos, seu sangue. Sua mente, sempre tão racional e analítica, não sustentava um único pensamento lógico nesse momento; tudo o que havia em seus pensamentos era urgência, necessidade.

Necessidade de ter, de possuir, de proclamar; necessidade de liberar toda a excitação, todo o desejo que seu corpo experimentava. Desejo que literalmente queimava seus pensamentos, desejo que sobrepujava qualquer outra necessidade que ele um dia viera a experimentar.

E junto com o esmagador desejo que lhe possuía, vinha a urgência pelo sangue, a urgência de matar a criatura que estava impedindo-o de concretizar os atos que o libertariam dessa dolorosa agonia.

Spock não reconhecia a criatura; Spock não reconhecia nada que não fosse a febre que seu corpo passava, mas isso não seria problema; ele teria o que precisava, não importava o que precisasse fazer.

A pura necessidade que dominava seu corpo diminuía em muito seus reflexos rápidos e perigosos que ele teria em uma luta normal, mas mesmo nessas condições, Spock não encontrara dificuldades; a criatura lutava bem, com golpes precisos, mas Spock era muito, muito mais forte e sobrepujá-la não seria um trabalho difícil.

Uma pequena voz na parte de trás da mente de Spock tentava chamar atenção para tal fato, tentava alertar sobre a quase fragilidade da criatura em suas mãos, queria alertar que isso era imensamente errado por algum motivo, mas Spock não podia dar atenção; não havia espaço para lógica ou racionalidade em seus pensamentos agora.

Como Spock previra, dominar a criatura fora relativamente fácil, e pondo em ação suas forças, usou como pode o ahn woon para apertar o pescoço da criatura até que todo sopro de vida cessasse de seu corpo. E então...

“Kroykah!”

Ao mesmo tempo em que a voz de T’Pau se fez ouvir, o fogo apagou-se completamente dos sentidos de Spock, substituído por uma sensação gelada, que parecia congelar até seus ossos. Por frações de segundos, ele perguntou-se o porquê, até ver o ahn woon ainda em suas mãos, pressionado contra um pescoço.

Jim. Não, não, por favor.

Spock observou a tão conhecida forma embaixo de si com uma expressão de choque, a tristeza, a culpa e o remorso sufocando-o por dentro.

“Tire suas mãos dele, Spock! Está terminado. Ele está morto.”

Não é como se precisasse da confirmação de Dr. McCoy para ter certeza do que havia conhecido, mas ouvir outra pessoa dizê-lo fez o fato ainda mais dolorosamente real. Spock mal ouviu o suave “Eu sofro contigo” de T’Pau, e afastou-se, desamarrando a faixa de sua cintura, voltando a olhar novamente para o corpo sem vida de Jim.

“Tão estranho quanto isso possa parecer, Mr. Spock, você está no comando agora. Alguma ordem?”

Spock olhou para Dr. McCoy como se realmente não o visse; seu tom não fora gentil, mas tampouco não fora agressivo como Spock havia esperado.

- Sim. Eu o seguirei em alguns minutos. Você instruirá Mr. Chekov a traçar um curso para a base estelar mais próxima onde eu deverei me apresentar às autoridades.

Spock não se sentia intimidado com a perspectiva de se entregar para as autoridades e encerrar sua carreira na Frota Estelar dessa maneira. Ele já fez a pior coisa que poderia ter pensado em fazer.

Jim. Eu matei Jim.

Spock ouviu Dr. McCoy se transportar com o corpo de Jim para a Enterprise, e resolveu pedir alguma explicação para T’Pring sobre o que acontecera. Mesmo achando ilógico, Spock não achou surpreendente T’Pring querer outro companheiro em seu lugar – eles nunca foram próximos como companheiros de um vínculo deveriam ser.

“Se seu capitão fosse o vencedor, ele não me quereria, assim eu teria Stonn. Se você fosse o vencedor, você me livraria porque eu tinha ousado te desafiar, e novamente eu teria Stonn. Mas se você não me livrasse, teria sido o mesmo pra você, teria ido embora. E eu teria seu nome e sua propriedade. E Stonn ainda estaria lá.”

- Lógico. Lógica impecável. – Spock disse, secamente. Fosse outra ocasião, Spock realmente teria admirado a maneira com o qual T’Pring resolveu o assunto.

Virando-se para Stonn, Spock disse, praticamente sem pensar:

- Stonn, ela é sua. Depois de algum tempo que você poderá achar que ter não é tão prazeroso assim, afinal de contas, como esperado. Não é lógico, mas frequentemente é verdade.

E Spock agora sabia o quão dolorosamente isso era verdadeiro. Por um longo tempo, que fora apenas intensificado com a chegada do pon farr, a mente de Spock tinha essa vontade inexplicável de muitas coisas para com seu capitão. Vontade – necessidade – de vê-lo bem, de vê-lo sorrir para si, sentindo uma sensação quente percorrê-lo. Mas não mais. Spock não tinha o direito de pensar nisso antes, não era agora que o teria. Não depois de ter assassinado Jim.

Jim.

Virando-se contra T’Pring e Stonn, Spock voltou-se para T’Pau, que sustentava uma expressão em branco, e fez o o ta'al para ela:

- Vida longa, T’Pau, e próspera.

“Vida longa e próspera, Spock.”

Não estivesse tão dilacerado como estava, Spock teria tido o humano impulso de dar uma risada seca. Ele não queria ter uma vida longa, muito menos próspera. Não quando James Kirk não existia mais nesse mundo, e por sua culpa, porque ele o matara.

Spock ainda não assimilava bem esse fato. Desde que conhecera Jim, Spock fizera tudo o que podia para sempre mantê-lo vivo, protegendo-o mesmo contra sua vontade, mesmo sem ele o saber. Não era uma questão para Spock; a vida de Jim simplesmente tinha mais prioridade para ele do que qualquer outra coisa. A culpa novamente começou a borbulhar dentro de sua mente, se culpando por ter pedido que Jim viesse à superfície com ele, culpa por não ter conseguido ser mais forte. Ele deveria ter morrido antes de pensar em fazer algum mal a Jim.

Kaiidth. Agora só resta enfrentar as conseqüências. 

- Eu não farei mais nada. Eu matei meu capitão... e meu amigo. – apesar da face de T’Pau permanecer em branco, Spock não deixou de notar seus olhos adquirirem um olhar pensativo; T’Pau o conhecia muito bem, e parecia ter captado o significado por trás de suas palavras.

Afastando-se da anciã, Spock chamou a Enterprise para transportá-lo a bordo, pronto a enfrentar qualquer consequência por suas ações. Nada poderia ser pior do que a dura realidade: Jim Kirk havia morrido, e ele não pudera fazer nada para salvá-lo, pois estava ocupado matando-o com suas próprias mãos.


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