Transtorno De Boderline escrita por Liz03


Capítulo 12
Síndrome de Capgras


Notas iniciais do capítulo

Eu de novo,

Então, como eu passei um tempo sem escrever as ideias ficaram acumuladas, hoje vai mais um capítulo. Espero que esteja legal, já que, eu gostei bastante de escrever esse. Lá vamos:



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A síndrome de Capgras é um distúrbio no qual uma pessoa sofre de uma crença ilusória de que um conhecido, normalmente um cônjuge ou outro membro familiar próximo, foi substituído por um impostor idêntico. A síndrome de Capgras é classificada numa categoria de crenças ilusórias envolvendo erros de identificação a respeito de pessoas, lugares ou objetos. Pode ocorrer de forma aguda, passageira ou grave.


Eu poderia explicar, sabe? Na verdade eu deveria, quero dizer,se você conta uma história o que se espera é que você diga como as coisas se sucedem. Contudo, me faltam disposição e talento. Disposição para relatar os fatos e talento para relatar de modo que preste. Sendo assim, vou fazer uma lista do que aconteceu:

1)Eu aceitei ir até o tal lugar, já que, descobri que se tratava do Lar frei Oliver (um lugar inofensivo).

2)O lugar era realmente incrível. Uma grande casa com arquitetura antiga, quadros pintados por anônimos que estiveram no Lar, paredes de cores borradas e desgastadas pelo tempo, a escada era imponente e levava a um segundo andar cheio de portas. Vitor, que andava como se frequentasse bastante aqueles corredores, foi comigo até uma escadinha que ficava no fim do andar, ela nos levava ao sótão. E de lá se via toda a cidade. Mas não isso, as paredes eram cobertas de fotografias, desenhos, bilhetes, partituras de músicas e até alguns adesivos. Era como entrar na cabeça da pessoa que dormira ali. Uma cama velha no canto, uma escrivaninha ao lado e uma cadeira, esses eram os únicos móveis. Ele me disse para fechar os olhos e pensar em alguma coisa que eu quisesse saber. Assim o fiz (perguntei ao acaso, em silêncio, como encontraria a minha felicidade, piegas- eu sei, mas no fim das contas ainda era o que contava). Então Vitor me levou até uma parede, me pediu para abrir os olhos e imediatamente escolher um papel. Segui as instruções,e o papel escolhido tinha uma linda caligrafia e a mensagem : “Não chore, meu bem, pelo passo que não deu, guarde suas lágrimas para os tropeços doloridos que virão”.


– Um tanto pessimista- disse relendo a mensagem

– Tente outro- ele disse fechando os próprios olhos


A mensagem seguinte era um desenho. Um garotinho segurava uma corda que levava até um balão em forma de coração.Bem, melhor.

3) Eu diria que, metaforicamente, mais tarde, o Vitor seria o garotinho e ,bem, eu seria o balão.

4) Acho que perdi um amigo.


Na segunda- feira, enquanto almoçava no refeitório do hospital, recebi uma mensagem do Bernardo dizendo que gostaria de falar comigo, o único dia que eu estava disponível era na quarta e já tinha marcado de ir a outro lugar que o Vitor recomendou (ele tinha ganho créditos depois de ter me apresentado ao Lar), mas disse ao Bê que se fosse rápido poderíamos conversar depois que eu saísse dos hospital, se não tomasse mais que uma hora. Ele aceitou. E assim na quarta tivemos a pior conversa de todos os tempos. Começamos falando do dia-a-dia, do trabalho, da família, mas então ele anunciou o motivo de ter pedido para conversar comigo.

– Então Pan - ele bebeu um gole do chá gelado- eu te chamei pra conversar hoje...porque eu queria te falar uma coisa...-bebeu outro gole- uma coisa importante, aliás, importante pra mim mas...se pra você não for...tudo bem -limpou o canto da boca com o guardanapo- quero dizer, podemos ter diferentes perspectivas...

– Fala Bernardo! - digo quase rindo prevendo uma possível piada.

– ok, ok - olha para baixo por alguns segundos, então volta a olhar para mim, de um modo que fica evidente que não se trata de uma piada, ele está suando um bocado (como quando fica nervoso) - A gente se conhece há um bom tempo, e, faz quase o mesmo tempo que eu quero te falar isso - nesse momento, sinto um pouco de frio na barriga- Eu admiro muito a sua personalidade, o modo como você aproveita a vida sabe? Você,você mostra seu ponto de vista e defende ele com determinação, você ri de coisas bobas e, eu tenho certeza que deve ser a médica mais fantástica de todo hospital - ele falava mexendo as mãos, como se defendesse uma tese- Mas,mas não é minha parte favorita, porque todo mundo pode ter qualidades, acima de tudo, Pan, você é extremamente teimosa,respondona,tende sempre a racionalizar as coisas, distraída, e é isso, Pan, é isso que amo em você - o mero frio na barriga se tornou um mal estar um tanto palpável - Eu adoro tudo isso sabe?


Adoro a maneira como você tira as passas e as azeitonas da comida, adoro como você fica mordendo o canudo quando está entediada numa conversa,adoro como você estreita as pálpebras e inclina a cabeça involuntariamente quando não entende alguma coisa ou quando acha um comentário simplesmente idiota - me surpreendo com essa descrição, surpresa essa que só aumenta quando percebo que estou estreitando as pálpebras e inclinando ligeiramente a cabeça, paro de fazer  no momento que percebo que estava fazendo - Eu adoro suas qualidades e os seus defeitos mais ainda, eu sou apaixonado pelas suas loucuras, pelas suas manias e,principalmente, pelas suas normalidades - respira fundo e completa- E eu só queria dizer isso, eu sou completamente,absolutamente,inescapavelmente apaixonado por você desde...bem,desde quase sempre...e se você quiser ou...ou puder, nós poderíamos falara mais sobre isso.


Fico quase dois minutos olhando um ponto qualquer acima do ombro dele. Tenho vontade de vomitar. Eu não gostaria, mas me sinto traída, como se nossa amizade fosse , na verdade, manchada. Sinto culpa também por qualquer momento que, pensando em alimentar a amizade, acabei por germinar qualquer esperança nele. Penso em muitas coisas a dizer e quero dizê-las já, mas a minha voz some momentaneamente, abro e fecho a boca algumas vezes.Por fim, abaixo os olhos, engulo em seco. Respiro fundo. E tento começar a falar.


– Bernardo...eu...eu...eu, sinto muito. Ma-mas...-tento respirar novamente - Eu não me sinto assim em relação a você...- continuei ignorando a voz dele que dizia baixinho 'tudo bem,tudo bem' repetidas vezes - E me desculpe se alguma vez fiz você pensar assim, mas na verdade, você pra mim é como um irmão...

– Tudo bem,tudo bem...-diz cabisbaixo - é só que, como agora você não tem ninguém em mente eu pensei que seria um bom momento para falar....

– Não, não é um bom momento. Eu tenho alguém em mente.

–Tem? -respondo assertivamente - Eu, eu ...

– Olha, a única coisa que eu posso te dizer é que nunca te enxerguei além do cara legal que é meu amigo, só. Desculpe.

–Não, eu que me desculpo.


Pedimos a conta. Nos despedimos com um 'então tchau'. Sentei no banco do carro e algumas lágrimas libertarem-se. Tirei-as do meu rosto. Dirigi até o Jardim Tribal, o Vitor já estava sentado no meio fio. Me perguntou o porquê do semblante triste, e eu resolvi evitar respostas concretas. Fomos até uma lanchonete, lá alguns amigos estranhos dele relataram causos bizarros e ,supostamente, divertidos. Mas a graça não parecia tão engraçada, não naquele dia.


–Desculpe, devia ter te levado num lugar mais bacana ne?

–Não, não é isso. É só que...Aconteceram umas coisas chatas hoje, das quais eu não quero falar por favor.

– ok, não vamos falar então - ele diz do banco do carona- Vamos falar dos buracos das ruas, do telhados tortos e dos narizes melecados de crianças- ele sustenta um olhar quase poético, mas com um quê de sua zombaria habitual - E façamos também uma metáfora disso tudo com a vida mundana, os buracos são as dificuldades do caminho, os telhados tortos são nossas concepções distorcidas pelos nossos egoísmos, nossos orgulhos, nossa falta de sinceridade e os narizes melecados....são uma meleca.


Ri. Na verdade, gargalhei. Como se gargalha depois de uma situação de conflito. Para aliviar a tensão, para desabafar com o universo. Não foi nem tão hilário assim, mas eu precisava de umas boas risadas para amenizar o caos em que se encontravam meus pensamentos.


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Notas finais do capítulo

Então como ficou? (quem não comentou no capítulo 11 nem cogite a hipótese de só comentar esse, não foi essa a educação que eu dei a vocês #rum). Obrigada pela paciência, Bjokinhas.

ps: Obrigada a nossa companheira Lola Valdez pela recomendação, espero lhe ver mais aqui para que possamos manter contato ;) obrigada novamente, bjs.



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