Clove. Aos poucos, esse nome começava a aterrorizar Finch. Para se ter uma ideia, pense em um valentão, uma pessoa enorme que te aterroriza. Agora, diminua o tamanho dessa pessoa e multiplique a palavra aterrorizar por 14 mil. Você teria alguma noção do que a garota fazia a Finch. Ou Foxface, pois com a chegada de Clove, o apelido voltara a tona. Finch não gostava mais de ir a escola, a simples palavra "Panem" já a deixava com medo. Era como uma luta, na qual ela tinha certeza que iria sempre perder.

Quando eram apenas os outros três carreiristas era fácil se manter acima da situação, pelo menos na sala de aula era permitido alguns momentos de alívio, que agora se foram, ou apenas estavam afastados. Clove era cruel com Finch, e com quase todos, mas ainda sim, eles tinham afeição por ela. Talvez fosse pelo seu tamanho, que a deixava parecer frágil, ou talvez o jeito que ela falava, que tinha até certa doçura na presença de responsáveis, mas com certeza escondiam a real Clove.

A vida de Finch era cada dia mais horrível, e cada vez mais ela se sentia solitária, embora a culpa não fosse exatamente de Clove. A própria "Foxface" não era boa em fazer amigos, se sentia melhor sozinha. Mas agora, talvez alguma ajuda lhe servisse bem, estava mais do que na cara que não aguentaria a carreirista sozinha.

—Finch Emerson? - chamava a profª Trinket, ligeiramente irritada. Ela havia passado vários minutos sonhando acordada, embora tivessem sido apenas pesadelos.

—Desculpe professora

—É Tia Effie, Foxface, você ainda não entendeu sua burra? - sussurrou Clove.

Finch olhou para Clove, e em seguida para a professora. Ela nunca ouvia esses comentários maldosos, ou talvez ouvisse, mas não quisesse ter problemas se queixando da garota. Era uma simples questão de hierarquia, Clove não precisava de uma bolsa, e tendo sua personalidade, praticamente mandava na escola. Até os carreiristas aos poucos a deixavam no comando, coisa que Finch tinha certeza que irritava Glimmer, e as vezes Marvel. Talvez a única pessoa de toda a escola que não temia ou odiava, mas sim adorava Clove, era Cato. Era até um bom casal, na opinião de Foxface, duas pessoas completamente cruéis. Glimmer tinha razão de se irritar, já que todos na escola sabiam da ligeiramente grande queda que a garota tinha por Cato. Talvez Clove não estivesse interessada no garoto, ou talvez estivésse. Nerd ou não, Finch era antenada o suficiente para não se afetar muito na escola. Pelo menos era antigamente.

—SRTA. EMERSON, SERÁ QUE PODERIA PARAR DE SE DISTRAIR? - Novamente, ficara distraída, e recebido uma bronca da professora. E mais uma vez deixara um sorriso no rosto de Clove. A professora continuou a aula.

"Tantas pessoas nessa e escola, e ela vem implicar justo comigo?" ela pensava. O que Finch havia feito para Clove (além de ficar encarando-a por um bom tempo)? Ela tinha certeza de não ter feito nada de mais, havia algo maligno na garota nova. Pelo menos era o que achava. Finch precisava de informações, e elas só viriam de uma pessoa, Katniss Everdeen.

Katniss era dois anos mais velha que Foxface, e ainda mais ligada na situação da escola. Ela sabia de absolutamente tudo que acontecia em Panem S.S., era a filha da diretora, tinha seus privilégios. Mas não era fofoqueira, a ponto de sair espalhando segredos por aí. Só compartilharia suas informações se tivesse um motivo para isso. E tinha, pois Clove implicava tanto com Katniss quanto com Foxface.

Finch esperou até o final da aula pacientemente, pelo menos tinha um objetivo.

Quando a aula acabou, ela correu para fora da classe, e foi procurar Katniss. Ela sabia que a garota ficava perto da diretoria, onde ficava com a irmã até o horário de saída do pai. Se tivesse sorte, a encontraria a tempo. E pela primeira vez teve sorte o suficiente para encontrá-la. Correu até ela, e afobada disse:

— Katniss, preciso da sua ajuda!

— Em que? - pergunto, desconfiada.

—O que você sabe sobre Clove Fuhrman?

—Clove? A baixinha malvada?

Finch sorriu. Essa era a descrição perfeita de Clove.

—Ela mesma!

—Bem, ela é... uma garota. Se mudou pra cá por causa da prima. Você deve conhece-la, a Glimmer. -Primas? Essa é novidade. Mas Finch não disse nada, apenas continuou ouvindo o que Katniss sabia. - Ela anda com os "carreiristas". Acho que foi expulsa da última escola, por questões de disciplina, porque sempre foi boa aluna quando se trata de notas. Ganhou muitos prêmios esportivos. Glimmer diz que é impossível ganhar dela no tiro ao alvo.

—Eu já suspeitava que ela tivesse boa mira. - Foxface diz, passando a mão pelo rosto, ainda machucado.

—Acho que é só isso.

Nenhum segredo maligno, ou misteroso, nenhuma explicação para o tratamento que recebia.

—Tem certeza Katniss?

—Olha, me desculpa Finch. Talvez se você perguntasse pra alguém mais próximo dela, tipo o Cato, o Marvel...

—É, quem sabe. Obrigada.

Ela saiu, andando, seu plano havia sido arruinado, e a única esperança seria falar com um carreirista. Grande... maravilha. Mesmo que quisesse falar com Marvel (pois a ideia de conversar como gente com Cato a assustava), só havia um momento para falar com ele. A seleção.

A seleção era para um evento anual no colégio, na qual sua participação, se não estivesse preparado, era igual a morte. Não literalmente, óbvio.

A seleção, mais conhecida como "colheita" pelos alunos, pois o organizador do evento, Prof° Snow, os chamava de brotinhos. Era ridículo como muitos não seguravam o riso com essa palavra, e acabavam sendo obrigados a participar. Finch conseguia se segurar. A "colheita" nos leva para um campeonato de múltiplos talentos, e o vencedor e recebido com honra e glória. O maior passatempo de Foxface era compararar o modo de educação de Panem com o de Roma Antiga, e as semelhanças eram claras. O campeonato eram lutas de gladiadores, onde normalmente a força e a brutalidade vencem. Cato já ganhou uma vez, e agora todos esperam que ele ganhe de novo. E Marvel vai competir, com certeza, e talvez seja a única chance que Finch terá de conversar com ele. Se oferecendo. "Ah não, saber o que se passa na mente de Clove não vale tanto a pena, vale?" ela pensava. Mas valia, se isso significasse o fim de seu tormento. Estava decidido. Ela iria participar do campeonato.

Que os jogos comecem!