Cold, snow, love and you!

-#- Kai’s POV -#-

Cheguei em casa rápido, abrindo apressadamente a porta e indo direto tomar um banho. O que eu tinha mãos foi deixado pelo caminho até o banheiro, juntamente com as peças de roupa que eu tirava no mesmo ritmo apressado.

A hora de conhecê-lo finalmente havia chegado! Eu iria conhecer Miyavi, abraçá-lo, beijá-lo, sentir seu gosto... Entrei debaixo da água quente, os pensamentos mais que costumeiros rondando minha mente, meus sorrisos se alargando cada vez mais.

Fiquei durante um certo tempo parado, apreciando as sensações que a água quente provocava em meu corpo e só depois comecei a me ensaboar, retirando a espuma e saindo do box, secando-me. Caminhei até o closet, procurando pelas roupas mais quentes e confortáveis que tinha. Pelo que Miyavi falou, me levaria para patinar no gelo, e aí estava um grande problema: não sei patinar, nem no chão, muito menos no gelo. E se ele me achar um idiota? E se ele não gostar de mim? E se eu não for o que ele pensa? Eu to parecendo uma garota... Yutaka, pare com isso! Nós somos homens, certo?! Homens crescidos e maduros. Mas eu não conseguia impedir isso, era normal eu me perguntar esse tipo de coisa.

Vesti uma camiseta preta, com uma blusa e jaqueta de gola alta da mesma cor, cachecol, calças brancas com uma corrente ao lado enfeitando-a e minhas botas preferidas, afinal, o tempo ficava cada vez mais frio. Passei um perfume que havia comprado há pouco tempo, achando esta a ocasião perfeita para estreá-lo. Arrumei os cabelos, fiquei uns vinte minutos em frente ao espelho me encarando, só para ver se estava bonito.

Rumei para a sala e comecei a pegar as coisas que tinha jogado no chão ao chegar. Procurei pelo meu celular no bolso do casaco, pegando-o. Nada até agora. Coloquei as coisas em seus devidos lugares e joguei-me no sofá ao terminar. Encarei o pequeno aparelho novamente e eu tive vontade de jogá-lo longe ao ver que não tinha nenhuma mensagem nova. Ele queria me matar? Estava quase comendo minhas mãos de tamanha era a ansiedade.

Resolvi tomar algo quente para relaxar, talvez um chá me faria bem. Caminhei até a cozinha, pegando as coisas necessárias para fazê-lo no armário. Coloquei a água na chaleira, liguei o fogão e então ouvi meu celular tocar na sala. Sai apressado, quase pulando o balcão que separava os dois cômodos só pra chegar mais rápido. Peguei novamente o aparelho, vendo que havia uma nova mensagem de Miyavi.

“Ola Kai-chan... de novo! :) Já está pronto? Lembra daquelas pétalas que te mandei em uma carta? Quero que faça uma coisa, após terminar o que está fazendo, vá para  a estação de trem! Procure pelas rosas vermelhas e elas te levaram até mim! Um beijo e um abraço carinhoso, Miyavi.”

Meu coração pareceu ter falhado uma batida, juntamente com minha respiração. Fiquei estático, encarando o aparelho e esperando com que minha ficha caísse. Voltei a mim e resolvi deixar o chá pra lá. Desliguei o fogão, voltando correndo para a sala e pegando minhas coisas. Desci as escadas o mais rápido que pude, saindo e trancando a porta.

Andava pelas ruas rapidamente, esbarrando nas pessoas que estavam à minha frente. Não estava nem ai para os xingamentos que me eram direcionados, nada estragaria minha felicidade! Quase fui atropelado ao tentar atravessar uma rua e a única coisa que pude fazer foi soltar um risinho, devido ao que o motorista me disse.

Cheguei na estação de trem, vendo as luzes já acesas e sai procurando pelas tais rosas vermelhas. Olhei em volta, nada. Fui até a bilheteria, procurei pelos pequenos quiosques, perto das escadas, nas passarelas... nada. Até mesmo no banheiro eu procurei. Caminhei até o saguão novamente, desanimado. Sentei-me em um dos vários bancos, suspirando e rezando para que nada tivesse dado errado. Peguei meu celular e li novamente a mensagem. Rosas vermelhas... Rosas vermelhas... Olhei ao redor mais vez, analisando cada uma das pessoas que ali estavam, então eu vi um homem, um pouco mais afastado de mim, com uma camiseta com rosas vermelhas.

Caminhei até ele, seu sorriso se alargando cada vez que eu me aproximava mais. Fiquei de frente a ele. Na mensagem diz que as rosas vermelhas me levariam até Miyavi, então... ele não é o Miyavi, certo?

- Err, oi? – falei.

- Uke Yutaka, certo? – o homem loiro, um pouco mais alto que eu, disse.

- Sim, e você?

- Me chame apenas de Shou! – sorriu – Vamos, ele está te esperando.

Afirmei com a cabeça e ele pediu para que eu o seguisse. Levou-me para o lado de fora da estação, mais precisamente para o estacionamento, e me indicou um carro sport preto. Ele destravou as portas, pedindo para que eu me sentasse do lado do passageiro. O fiz, logo colocando o cinto de segurança.

- Miyavi fala muito de você! Pra falar a verdade, só fala de você! – sorriu mais uma vez, dando partindo no carro e saindo do local.

Eu não sabia o que falar, estava tão nervoso que não conseguia parar de mexer minhas mãos, então eu apenas sorri mais, sentindo meu peito esquentar rapidamente.

- Está vendo essa caixa no banco de trás? – apontou.

- Aham.

- Pegue-a. Vai precisar do que está dentro.

Peguei a caixa, abrindo-a e vendo patins de gelo dentro. Ele realmente me levaria para patinar.

- Sabe... – falei, finalmente – Eu... Não sei patinar... – abaixei a cabeça.

- Não se preocupe, é muito fácil! Vai aprender logo.

- Espero que sim... – sorri constrangido.

- Chegamos! – estacionou o carro – Meu trabalho acaba por aqui. Foi um prazer te conhecer! – sorriu-me – Espero poder nos ver novamente! – o loiro disse destravando as portas.

- Ficaria muito feliz! Obrigado Shou! – destravei o cinto de segurança, logo abrindo a porta, saindo e vendo que a noite já cobria completamente o céu. Ele deu partida no carro e foi embora.

Olhei em volta, analisando o local. Era aberto, parecido com uma praça e aguçando um pouco a visão pude ver ao longe uma pista de patinação com algumas pessoas brincando. Vi um grande portal de entrada, enfeitado com algumas fitas coloridas e adentrei o lugar. A entrada era iluminada só por algumas fracas luzes, parecidas com lampiões, penduradas em uma corda que formava um tipo de cerca. Me aproximando mais vi uma arvore e um homem encostado nela com patins de gelo nas mãos, de costas para mim. “Será que é ele?”. Travei no meio do caminho, meu coração acelerando, minhas mãos ficando tremulas e meu estomago estranho. A cada novo passo que dava essas sensações iam aumentando, até que cheguei perto dele e como se pressentisse minha presença, virou-se.

- Kai-chan! – disse com um sorriso lindo nos lábios.

Eu não respondi nada. Deus, parecia que eu iria desmaiar de tanta emoção! Senti seus braços me envolverem num abraço carinhoso, apertado, e eu correspondi, meus braços enlaçando-o timidamente. E ele era completamente lindo! O cabelos pretos, não muito longos mas num corte que lha caía perfeitamente, algumas mechas coloridas na parte de trás. Pele clarinha, algumas marcas no rosto por causa dos piercings que ele tirara, lábios bonitos, mais alto que eu... E seu sorriso, era tão radiante que podia contagiar até mesmo a pessoa mais anti-social do mundo!

- Você é mais bonito ainda de perto! – declarou, tocando meu rosto com os dedos gélidos.

- Ah, eu... – senti meu rosto esquentar e provavelmente estava parecendo um pimentão.

- Gomen ne, não resisti! – confessou e apertou uma de minhas bochechas. – Ah, me desculpe, nem me apresentei direito!

- Tudo bem, acho que não precisa...

- Claro que precisa! Bom, sou Ishihara Takamasa. Meus amigos me chamam de Miyavi e eu sou completamente apaixonado por uma pessoa com quem troco cartas há exatos 12 meses. Ele não me conhece bem, deve me achar um maníaco, mas eu não desisti dele, pois desde a primeira vez em que o vi, eu simplesmente não consigo tirá-lo da minha mente!

Agora certamente eu iria desmaiar. Ele acabou de falar que é apaixonado por mim e eu to aqui, parado na frente dele que nem um idiota, sem saber o que fazer ou falar. Minhas pernas pareciam ter se transformado em gelatina, meu coração que antes parecia querer saltar de seu lugar, agora pareceu falhar. Fiquei estático, ainda digerindo as palavras que ele acabara de falar.

- Eu... Etoo... Bom, eu...

- Você é perfeito! – falou e pegou em minha mão, me puxando – Vem, vamos patinar!

- Eu...

E não consegui dizer nada. Estava me estapeando mentalmente, afinal, ansiei tanto por esse dia e quando ele chega não consigo dizer nada! Tinha tanta coisa pra perguntar, tantas coisas que eu queria saber, mas simplesmente não conseguia dizer. Senti-o guiando-me para a pista, parando em banco grande de madeira e sentando-se, pedindo para que eu fizesse o mesmo.

- Eu adoro patinar! Lembra daquelas fotos que mandei há um dois meses atrás? São do Canadá! Lá tem um lugar perfeito pra patinar!

- M-miyavi... – finalmente consegui dizer, gaguejando pelo nervosismo – S-sabe, eu, bom... Já ter percebido que... estou nervoso, nee? – sorri, mas só pra disfarçar o quão nervoso estava.

- Hai! Eu percebi!

- Então... É que... Bem, eu tenho tanta coisa pra te perguntar...

- As perguntas podem ser feitas mais tarde! – sorriu – Ainda vou te levar pra jantar! Vai ter que me aturar durante a noite inteira! Agora ponha os patins, sim?

- A-adoraria... te aturar a noite inteira... Mas... t-tem outra coisa também...É que...

- Você não sabe patinar?

- Sim... – abaixei a cabeça, não querendo que ele me visse constrangido.

- Eu já imaginava! – sorriu mais – Eu quero te ensinar! Por isso que te trouxe aqui! Quero que se lembre desse dia pra sempre!

- Ah... – e eu dei um sorrisinho, agora um pouco menos constrangido.

Tirei minhas botas e coloquei os patins que Shou me deu. Miyavi já tinha se levantado e quando eu terminei de me arrumar ele me estendeu a mão, ajudando a me levantar. No primeiro momento em que pus os pés no chão, quase fui de encontro ao mesmo. Isso não aconteceu por que o moreno me segurou, rindo um pouco e falando para eu tomar cuidado.

Ele me levou até a beirada da pista, e eu insistia em dizer a ele que não era uma boa idéia que eu entrasse ali, certamente não conseguiria ficar de pé e o resultado seria vários hematomas espalhados pelo meu corpo. Miyavi não soltou minha mão, me guiando-me até o centro da pista. Me deu algumas dicas para me manter em pé, e até que elas estavam funcionando, consegui patinar uns vinte centímetros.

Ele não parava de sorrir, e eu percebi que eu já tinha relaxado há décadas. Agora eu sorria mais abertamente, rindo com ele dos capotes que eu levava, e das vezes  em que ele dava seus ‘showzinhos’ no gelo. Me sentia a vontade com uma pessoa que nunca tinha visto na vida.

Uma garotinha caiu enquanto patinava e logo o moreno foi ajudá-la. Ela estava chorando, brincava de pega-pega com seus amiguinhos e eles a deixaram pra trás, mas ele fez com que um sorriso lindo brotasse no rosto dela rapidamente, apenas levantando-a e dizendo algumas palavras que eu não ouvi. E era incrível como ele conseguia esse feito. Takamasa exalava alegria e conforto por todos os poros possíveis de seu corpo, fazendo até mesmo meu nervosismo desaparecer em instantes. Eu não podia deixar de sorrir ao pensar no quão ele era perfeito.

- Vem Kai-chan! Vamos apostar corrida! – tirou-me de meus devaneios e só então eu percebi estar parado no meio da pista.

- Não acho uma boa idéia, mas tudo bem! – sorri e logo nós estávamos brincando.

Eu não podia desejar encontro mais perfeito que esse. Não podia desejar estar com alguém mais perfeito que ele. E num gesto rápido, quase que impossível, ele me enlaçou pela cintura, juntando os corpos e colando os lábios nos meus. Com isso nós fomos direto ao gelo, seu corpo ficando sobre meu. Nos separamos minimamente depois de alguns segundos selando os lábios, ele me encarando novamente com seu sorriso radiante e eu percebendo que estava vermelho de vergonha. De novo.

- Não vou cansar de repetir que você é lindo! – falou, eu me perdendo cada vez mais naqueles olhos negros como trevas.

A neve começou a cair, timida, e a ultima coisa que vi antes de fechar os olhos foi ele se aproximando, juntando novamente nossos lábios, iniciando um beijo calmo. Sua língua se enroscava à minha preguiçosamente, suas mãos – agora cobertas por luvas – acariciavam minha bochecha também com calma, fazendo assim a minha vontade louca de conhecer os lábios desconhecidos aos meus não desaparecer, mas me fazer desejar ter eles ali comigo eternamente.

E nós ficamos ali por tempo indeterminado, só apreciando o gosto um do outro e eu rezando para que pudéssemos ficar ali pra sempre, só com ele perto de mim, ao meu alcance.

Por que eu o queria comigo, todos os dias da minha vida, todas as horas possíveis, em todos os momentos, sejam felizes ou não. E agora eu sabia que o que sentia era recíproco e não desistiria desse sentimento tão belo.

~ Fim ~