Mordo os labios, estou chorando, é triste saber que isso é real e não apenas um sonho.

É triste saber o tempo todo o que aconteceu e ainda assim saber que sofrerei pelo resto da vida, mesmo sabendo que prometi ser feliz um dia.

Olhei pra todo o quarto, onde muitas noites, muitas tardes e muitas manhãs passei com ele deitada naquela cama, ali centralizada e arrumada, mas sozinha e fria.

Meus labios tremeram. Grissom era o meu amor, meu único amor, um amor. E parecia meio egoista pensar que a culpa poderia ter sido dele mesmo.

Seu perfume ainda a minha volta, um perfume que eu jamais poderia esquecer, quente e forte. Sentei na beirada da cama e o passado me envolveu...

~

Tranquei a porta da frente, de casa e me virei e pude reparar que Grissom olhava toda a casa, prestava atenção até os ultimos detalhes. Virava o rosto, fazia um bico e depois sorria de novo.

Na hora nada disse. Queria ver o que ele pensava em fazer, mas quando vi que ele só queria olhar ou talvez esperar eu sair de perto pra fazer algo reparei que talvez fosse eu, então olhando pra baixo fui para a cozinha.

Peguei na geladeira a garrafa de água e um copo no armário.

- Sara?! - olhei pra trás vendo que Grissom estava parado na soleira da porta e me olhando de cima a baixo.

- Sim?! - parei no meio da cozinha, segurando a garrafa e o copo.

- Você é feliz? - vejo que ele estava falando sério.

- Claro que sou. - dou um sorriso sendo verdadeira ao máximo. Todos sabiam que essa minha resposta seria a mais verdadeira.

- Era feliz antes de me conhecer? - ele perguntou meio sem jeito, com olhar novamente vago.

Nada respondi e meu sorriso sumiu, porque até uma pessoa que não me conhece saberia a resposta.

Fiquei um bom tempo olhando pros olhos vagos dele e quando Grissom sacou que eu não responderia, prosseguiu:

- É, sei. - ele morde os lábios - Seria feliz depois de eu partir? - ele olhou pra baixo desconfortável.

- Por quê? - quase murmurei.

Ele não me respondeu. Apenas abriu a boca e a fechou, olhando nos meus olhos. Deu de ombros e seguiu para o quarto...

~

O toque do celular me trás a realidade.

Fico olhando-o tocar baixo, em cima do criado-mudo. Não estou muito a fim de ser incomodada por alguém que provavelmente só quer perguntar se ainda estou bem ou se já estou em um hospital doente pela morte dele.

Talvez eu esteja mesmo ficando doente, mas essa doença é de certa forma confortável.

O barulhinho para e o telefone de casa começa a tocar, mas esse ficou por menos tempo. Escuto um "bip" e sei que deixaram uma mensagem de voz pra mim.

"Sara sou a Cath, eu sei que você não quer ser incomodada, mas é que o... Bom, quando estiver em casa me ligue, e se estiver... você sabe, melhoras."

Outro "bip" e a mensagem acabou.

Não ouso ficar de pé, pois estou tonta, mas também não ouso me deitar. Meus olhos ainda estão cheios de lágrimas, meus lábios ainda tremem. Mas nada disso me impediu de perceber que eu estava usando a pulseira que ele me dera, toquei o primeiro pingente que havia nela...