Folhas De Outono escrita por Sheeranator Mafia


Capítulo 95
Paquetá




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Devo confessar que não lembro como cheguei em casa. Mas já era de manhã e eu não havia respondido a mensagem da Camilla. Eu não queria dar razão a ela e parecer uma desesperada a espera de Teddy. Tomamos o café da manhã e ela não tocou no assunto. Talvez não passasse de uma mentira. O clima estava voltando a ficar pesado e eu não me sentia bem.

“Pedro, eu gostaria de ir a um lugar diferente hoje.”

“Que tipo de lugar?”

“Não sei. Um lugar calmo, sem esse trânsito estressante.”

“Não sabia que se importava com o trânsito.”

“Não, mas... ah, deixa.”

“Não, agora vamos a esse tal lugar. Tem uma sugestão? Eu tenho.”

Neguei com a cabeça.

“Paquetá.”

Pedro deu o último gole no seu café e limpou a boca com um guardanapo. Já tinha ouvido falar nesse lugar, mas nunca procurei saber onde era. Sabia que era uma ilha. Pedro pediu para que eu me arrumasse. O sol estava forte e então decidi ir de rasteirinha azul clara, um shorts branco e uma regata azul clara, que quase tapava o shorts. Decidi não levar bolsa e coloquei meu celular e minha identidade no bolso da frente do shorts. Pedro e eu nos arrumamos juntos, no quarto. Bati na porta do quarto de Camilla e para minha surpresa, ela não demorou muito para atender. Pedi para que ela pegasse suas coisas e colocasse em uma bolsa e ela fez. Subi com ela para o apartamento de Heloísa, que era no sexto. Conversei com Marta, mãe da Helo, na porta e Camilla entrou. Ela disse que Olívia não sairia do apartamento sem antes me ligar e eu autorizar. Ela também disse que se orgulhava de mim, por estar cuidando da minha irmã. Ela me conhece por Emília e Camilla por Olívia. No prédio acreditam que nossos pais morreram em um acidente de carro no interior do estado em 2008. Ficamos conversando sobre uma fofoca de que o casal do décimo andar teria terminado porque o marido traiu a esposa com Ritinha, uma ex prostituta de quarenta anos que mora no primeiro andar. A abracei e fui até o elevador. Marta só entrou quando o elevador chegou.

Sabe quando você está em um veículo parado por muito tempo ao lado de outro, também parado, e o carro ao lado começa a andar devagar e parece que seu carro está andando para trás? Eu sentia isso toda hora. O trânsito pouco andava. Estávamos presos próximo ao centro da cidade, já perto da Praça XV, onde ficam as barcas que levam para Ilhas e Niterói, uma cidade vizinha, que também podemos chegar lá através da ponte.

Pedro estacionou seu carro em um grande estacionamento e pagou diária. Passaríamos o dia todo em Paquetá. Ainda não era nem dez da manhã. O horário de verão me confunde um pouco, sempre. Aguardamos por vinte minutos, a barca chegar. Ficamos em pé em frente ao portão que permitia a ver a chegada e partida das barcas. Eram grandes e brancas, pareciam um pouco velhas. Eu gostei. A nossa se aproximava e as pessoas que aguardavam, começaram a se levantar dos seus lugares. Muita gente saiu da barca e caminharam para a esquerda deles. Dez minutos depois, o portão se abriu e pessoas correram para a barca vazia. Pedro me puxou e subimos a escada para o segundo andar.

“Aquele ali, parece um avião por dentro.” –Pedro disse, apontando para um catamarã social.

Estávamos na varanda traseira da barca tradicional. Ela fez a curva e seguiu seu caminho para Paquetá. Uma viagem de setenta minutos. A cidade do Rio de Janeiro ficava cada vez mais distante. Passamos próximo a pequenos barcos de pescadores. Agora eu conseguia ver Niterói. Também pude ver um avião pousar no aeroporto Santos Dumond, no Rio, e a água da Baía de Guanabara virar ondas, graças as turbinas do avião. Alguém gritou que estávamos prestes a passar sob a ponte Rio-Niterói, no vão central. A parte da ponte que é mais alta, para grandes embarcações poderem passar. O sol foi tapado pelo concreto, olhei para cima e pude ver a ponte. As crianças ao nosso lado, estavam se divertindo com o fato de passar ali. Não demorou muito e a ponte já estava longe. Era possível ver carros passando de um lado para o outro e eu tive noção do tamanho dela. Era enorme. Pedro estava do meu lado direito e apoiava sua mão esquerda no meu ombro esquerdo e eu podia sentir seu braço apoiado em minhas costas. Uma menininha deixou seu biscoito cair de sua mão e os outros começaram a rir. Ela não chorou, apenas observou seu biscoito salgado boiar. Me cansei de ficar ali e entramos. Nos sentamos próximo a janela e eu conseguia ver a bela natureza. Deitei minha cabeça no ombro direito de Pedro e acabei dormindo.

Senti a batida. Abri os olhos e levantei a cabeça. A barca estava se “arrumando” em seu lugar, para que todos desçam em segurança. As pessoas começaram a sair. Nós fomos atrás. As ruas não tinham o asfalto da grande cidade. Paquetá, ao contrário do que muitos pensam, é apenas mais um bairro da cidade do Rio de Janeiro, e não uma cidade do estado do Rio de Janeiro. Charretes passavam no lugar de carros. Pessoas com suas câmeras. Bicicletas. Esse era o transporte de lá. No caminho para praia, contei sete lugares que alugavam bicicletas. Tinham bicicletas para três pessoas, mas dois pedalavam. Meus dedos da mão esquerda estavam entrelaçados com os dedos de Pedro. Ele parecia feliz. Pedro disse que costumava passear em Paquetá com Ana. Era um lugar especial, antes ficar com as águas poluídas pelo óleo dos navios de petróleo que pela Baía passavam. Várias vazamentos aconteceram e mataram a fauna e flora do lugar. Pedro contando, parecia terrível. Nos sentamos no pequeno calçadão. Estranho falar isso. Meus pés tocavam a areia e eu avistava duas crianças brincando na água suja. Uns juravam já estar limpa, mas eu não acreditava.

“Camilla me contou sobre o Ed estar vindo ao país.”

Confesso que eu já nem lembrava mais dessa história. Paquetá estava me passando uma paz inexplicável. Acho que a última vez que me senti assim, foi com Teddy.

“Ah. Nem lembrava mais disso.”

“Feliz?”

“Talvez.”

Muita das vezes, na grande maioria, meu “talvez” era um “sim” disfarçado. Meu interesse não poderia ser notado em uma afirmação imediata. Eu balançava meus pés de nervoso e fingia estar desenhando na areia, para não ser notória minha ansiedade.

“Você quer ir ao show?”

“Creio que queira ir também. Não para de ouvir o CD.”

“É uma mídia muito boa.”

Apenas sorri. A nossa conversa deu lugar ao silêncio, que rapidamente fora embora com o barulho do trotar do cavalo que puxava a charrete na rua atrás da gente. Me virei e pude ver o casal de beijando, enquanto um homem batia no cavalo, para que o mesmo permanecesse andando. Me voltei para Pedro.

“Eu gostaria de ir ao show sim. Sozinha.”

Pedro ficou me olhando, talvez imaginando o por quê de eu querer ir sozinha. Talvez também estivesse passando um filme na cabeça dele, o qual ele imagina o futuro. Pelo menos, na minha estava passando esse filme. Me parecia bom.



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Notas finais do capítulo

Obrigada por estar lendo *-* e cara, passei dos 80 leitores (registrados no NYAH), gente, muito obrigada MESMO, nunca imaginei que gostariam das coisas que escrevo. Isso me deixa muito feliz. Obrigada por me deixarem feliz ♥
Jenny, eddictedhoran
(twitter pessoal mylifeasjenny)



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