Acordamos meio dia. Eu acordei meio dia. Eles continuaram dormindo. Só sei que Pablo havia caído do sofá e estava sobre Pedro. Camilla estava dormindo no chão gelado, dispensando os lençóis. Apesar de não ter ingerido álcool, Camilla parecia tão bêbada quanto eles. Fechei a porta do quarto de Pablo e acabei pisando em uma pequena bola da árvore de natal. Não sei como, mas a mesma estava totalmente no chão. A levantei e o barulho dos enfeites acordou Pedro.

“Você caiu?”

“Não, mas alguém derrubou a árvore.”

“Acho que foi na hora que Pablo foi ao banheiro, só sei que eu não conseguia parar de rir dele tentando se levantar.”

Pedro começou a rir se lembrando do fato ocorrido e eu queria rir também e tentei imaginar como tinha acontecido. O que eu imaginei foi engraçado o suficiente para eu dar uma breve risada e parar. Terminei de arrumar a árvore e Pedro se levantou.

“Vamos acordar eles.”

Pablo estava roncando e Camilla rindo. Devia estar sonhando com o Pablo tentando ir ao banheiro. Pedro foi até a cozinha e dez minutos depois, voltou com duas tampas de panela inox.

“Vamos acordar!”

Pedro começou a bater uma tampa contra a outra e o barulho era irritante até para mim que estava acordada e sem ressaca.

“Para com isso.”

Pedro ignorava meu pedido e batia cada vez mais forte. Pablo acordou xingando com todos os palavrões que ele conhecia e até mesmo alguns que ele inventou. Tapei meus ouvidos e Pedro enfim, parou.

“Vamos trocar os presentes.”

Pedro colocou as tampas sobre a mesa e pegou um embrulho azul sob a árvore.

“Esse presente é para uma pessoa...”

“Tá, tá. Entrega logo. Não estamos em um amigo-oculto. Só entrega.” –Disse Pablo.

Pablo levou as mãos a cabeça, dando a entender que ele estava com fortes dores de cabeça. Camilla dobrou as pernas no estilo chinês e ficou olhando para Pedro.

“Continuando. A pessoa que receberá este presente é...”

“Yolanda!” –Camilla deu seu palpite.

“Não. É...”

“Eu!”

“Não, Camilla. Chega!”

“Ah, então é o Pablo. Vai lá pegar seu presente.”

Camilla deu leves batidas na perna direita de Pablo. Ele se afastou dela.

“Ok, o presente é para Pablo que tem sido um grande amigo pra mim. Nos conhecemos na praia, quando Pablo perdeu sua prancha, porque estava bêbado.”

Pablo começou a rir e toda hora dizia “verdade”. Se levantou e pegou o presente. Abraçou Pedro, com direito a tapas nas costas.

“Minha vez.” –Disse Pablo.

Ele pegou um embrulho que cabia na sua mão direita e era algo retangular. Ele nada disse e me entregou. Antes que eu pudesse agradecer, ele se sentou. Abri o embrulho, com uma certa dificuldade. Era um celular.

“Não tenha mais medo de sair na rua.” –Ele disse.

“Não. Tenha sim. Não saia sozinha.” –Pedro disse.

“Agora ela tem um celular.”

“Ela tinha na época que...”

“Chega!” –Gritei. –“Obrigada pelo presente, Pablo.” –Eu disse com uma voz doce.

Ele sorriu e mostrou o dedo do meio para Pedro. Coloquei o presente sobre a mesa e me abaixei em frente a árvore e peguei o presente do Pedro.

“Como Pablo disse, isso não é um amigo oculto. Feliz natal, Pedro. Obrigada por estar ao meu lado agora. É muito importante.”

Pedro se levantou. Pablo aplaudiu três vezes e parou. Pedro abriu seu presente. Era uma blusa do Bon Jovi. “Use para se sentir especial” dizia um bilhete escrito por mim. O bilhete estava colado a blusa. Pedro me abraçou e toda hora repetia “Obrigado”. Ele pendurou a camisa no ombro esquerdo e largou o embrulho no chão. Seguindo a ordem, Camilla foi a próxima a ganhar um presente de Pedro. Era um estojo de maquiagens. Quanta maquiagem. Camilla deu um grito que fez Pablo xingar novamente. Camilla deu o presente de Pablo, eram cinco revistas playboy e Pablo começou a rir, porque eram revistas realmente muito antigas, talvez Pablo fosse criança quando as mesmas foram lançadas. Pablo deu uma bolsa de uma marca famosa para Camilla. Que gritou novamente. Camilla deu a Pedro uma guitarra do jogo Guitar Hero. Pablo deu a Pedro um vale para novo estofado em seu carro. Pedro ficou admirado e Pablo voltou ao seu lugar. Enquanto trocávamos presentes, Pablo ficou vendo as revistas. Camilla me deu um colar. Seu pingente era uma pequena folha. Esperança. Era o que estava escrito na folha. Meu presente para Pablo foi um cartão com trinta reais para se gastar em uma sorveteria. Sei que ele não precisava. Mas qualquer outra escolha ele também não precisaria.

“Amo sorvete!”

Ele disse isso no lugar do tradicional “obrigado”. Era a vez de Pedro me dá um presente.

“Queria muito te dar passagens para Inglaterra, mas estavam caras e não queria abusar de Pablo e, por egoísmo, achei que se você fosse... não voltaria mais.”

Ele pegou o presente abaixo da árvore. Um embrulho rosa. O peguei. O abri. Eram coisas da Mary, que ainda estavam na pousada. Colares. Anéis. Batons. A minha primeira reação foi cheirar a caixa a qual estava tudo. Imagens de Mary começaram a circular por minha mente e eu tive a melhor sensação do mundo. Dei o abraço mais apertado que eu conseguia dar. Parece que Pedro não sentiu tanto aperto assim. Dei um beijo demorado em sua bochecha e depois passei a mão no local.

“Muito obrigada. O melhor presente que já recebi.” –Eu disse para ele.

“Muito obrigada por dizer isso na minha frente.” –Disse Camilla.

Pablo bateu na cabeça dela com uma de suas revistas. Os dois começaram a discutir e um batia no outro. Pablo ria mais do que batia, na verdade. Permaneci abraçada com Pedro e continuei observando a briga dos dois. Eu podia sentir que Pedro fazia carinho nas minhas costas com sua mão direita. Estou quase mudando minha opinião sobre o melhor natal da minha vida.

Após o almoço, que pra variar, foi Yakisoba. Pablo saiu dizendo se encontrar ou com Luisa ou com Stella ou Sabrina. Ele tinha esquecido o nome da garota. No final das contas, o nome dela era Júlia. Ele a levou no apartamento. Mal disseram “Oi” e foram para o quarto. Me recusei a ouvir qualquer coisa e coloquei em um canal de clipes e ficamos dançando com o volume quase no máximo. Depois de dez minutos, eu não aguentava mais dançar. Pedro e Camilla ficaram dançando. Pulando. Me sentei no sofá e comecei a mexer na caixa que havia ganhado de Pedro. Coloquei um anel de Mary em meu dedo anelar direito e o fiquei observando. Pedro enfiou a mão na caixa e pegou um colar.

“Coloque o cabelo pro lado.”

Puxei todo meu cabelo para o lado direito e Pedro colocou o colar em mim. Olhei para baixo e era uma pérola solitária. Apesar de simples, era lindo. Olhei para cima e vi Pedro sorrindo. Camilla o puxou e eles voltaram a dançar, mas Pedro as vezes olhava para mim. Contei e tinha dez coisas da Mary naquela caixa. A maioria pulseiras. Ela realmente amava pulseiras. Coloquei uma dourada, que uns diriam ser ouro e me levantei. Voltei a dançar com Pedro e Camilla. Pablo saiu do seu quarto, sem camisa e só de cueca. Ele reclamava de calor e a menina saiu do quarto enrolada no edredon. A obriguei a vestir suas roupas e ela deixou o edredon cair. Pedro assoviou. Fechei a porta do quarto e fui até Pedro. Dei quatro tapas em seu braço e ele começou a rir. Camilla foi atrás de Pablo e começou a xingar a garota. Pablo voltou para o quarto com uma pequena garrafa com água gelada na mão e apenas dizia “la la la”, fingindo não ouvir o que Camilla dizia. Pedro e eu sentamos no sofá e ficamos assistindo ao pequeno barraco que Camilla fazia em frente a porta do quarto.