Era o último dia de aula da semana e eu estava com medo de ir para a escola. Medo de ouvir James saber tudo o que sabe e espalhar para todos. Mas, como ele descobriu isso tudo? Eu contei para a diretora do colégio, não é possível que ela tenha contado para ele, nem que ele fosse filho dela, não sei...

Estava eu agora, penteando meus cabelos negros e ondulados, que estavam na altura dos meus ombros e pensando que, agora eu estava sendo recompensada pela “vida” que eu tive que aguentar antes de vir para Suffolk, mais precisamente em Framlingham. Eu poderia viver aqui apenas com Mary e Ed e não precisaria de mais ninguém. Eu ainda olhava meu reflexo e dei um leve sorriso, eu apenas pensava em “Mantenha esse sorriso no seu rosto, garotinha, seus inimigos irão se sentir fragilizados com a sua felicidade.”

Prendi meus cabelos, peguei minha mochila e desci as escadas. Mary me emprestou uma blusa dela, linda por sinal. Toda em renda branca e manga comprida. Coloquei uma calça preta e tênis branco. Desci as escadas, eu já tinha tomado o café e hoje decidi ir de ônibus. Fiquei esperando na varanda por uns dez minutos e ele chegou. Para a minha surpresa, Ed não estava no ônibus. Fiquei em pé logo no inicio do mesmo, olhando para cada banco, para eu ver se não estava enganada. Sentei no segundo banco do lado esquerdo.

Ao chegar na escola, fui direto para meu armário. O abri e um pedaço de papel caiu, me abaixei para pegá-lo e estava escrito “Quanto seus pais cobram para eu tê-la essa noite?”, tentei não esboçar nenhuma reação, porque o dono do recado poderia estar me observando e ficaria feliz com a minha tristeza. Engoli seco, respirei fundo. Peguei o livro de biologia e tranquei meu armário. Guardei o recado em meu livro e segui em direção a sala. Para a minha surpresa, James estava na sala.

“E ai, leu o recado?” – Ele disse rindo.

Ele estava sentado em cima da mesa, com umas três meninas fúteis ao seu lado. Andei até ele.

“Li, e sabe o que eles cobram? A sua dignidade. AH, espera, você não tem isso, desculpa!” – Eu disse.

James nada disse. O professor chegou na sala e eu me sentei na primeira carteira de frente para a mesa do mesmo. Anotei tudo o que o professor escreveu no quadro.

“Bem, alunos, vou separá-los em dupla. Sim, eu quem os escolho!” – Disse o professor com a lista de presença na mão.

Imediatamente olhei para James, que piscou para mim. Olhei para o professor, rezando para que ele não escolhesse o James para mim. Bem, eu nunca aprendi a rezar, então, não deu certo. Minha dupla era James.

“Por favor, me deixa sozinha!” – Eu disse assim que ele anunciou minha dupla.

“Me ama muito!” – Disse James, fazendo todos da sala rirem.

Eu apenas negava com a cabeça. O sinal tocou e todos saíram da sala, eu permaneci sentada ali.

“Vamos marcar na minha casa!” – Disse James.

Não olhei para ele. Eu levei as minhas mãos a cabeça e não consegui impedir que as lágrimas caíssem. O professor ainda estava em sala, apagando o quadro. Quando ele se virou, viu que eu não estava nada bem. Foi até mim e se sentou na carteira ao lado.

“O que houve?” – Ele me perguntou.

“Por favor... não me deixa com o James...” – Eu disse chorando.

“Mas por qu...”- eu o interrompi.

Eu coloquei o bilhete na carteira em que ele estava e me levantei.

“Caso não intenda o que está ai, pergunte a diretora, antes ache que estou mentindo.” – Eu disse apontando para o papel.

Sai da sala enxugando minhas lágrimas e encontrei Ed no corredor.

“Hey, chorando de novo?” – Ele disse levantando o meu rosto.

Eu já não tinha mais o papel para mostrar a ele. Decidi que contaria para ele depois. Ele me deu o braço direito e o segurei. Fomos andando assim até a cantina. Me sentamos perto a lixeira, considerado por muitos, o pior lugar. Sentei encostada na parede e Ed de frente para mim.

“Ai não...” – Eu disse.

“O que?” - Perguntou Ed.

“Olá, queridos!” – Era Lori.

Ela se sentou ao lado de Ed e o beijou no rosto. Ela se virou para mim.

“Soube que é dupla do Jay Jay na aula de biologia!” – Ela disse.

Olhei para Ed, ele ainda não sabia, porque eu disse que contaria depois. Ao contrário da reação de muitos, ele não ficou chateado por ter sabido pela Lori.

“Lori, por que eu incomodo tanto você e esse seu amante sem dignidade? Por que eu sou uma ameaça para vocês? Vocês não vão crescer fazendo essas coisas comigo, muito pelo contrário, vocês estão se tornando pessoas mesquinhas, as quais, nem para adubo SERVEM!” – É, eu gritei no final.

Lori ficou assustada com a minha reação. Ela se levantou e saiu. Por onde ela passava, pessoas sussurravam a observando sair do refeitório. Ed me olhava, parecendo admirado. Eu não queria fazer mais nada, apenas respirar fundo para me acalmar. Quando de repente, James surge no refeitório.

“OW, TODO MUNDO!” – Ele disse gritando.

Todos se voltaram para ele. James subiu em uma cadeira.

“Eu gostaria que, os alunos novos que selecionamos, deem um depoimento aqui e agora! E...deixa eu ver a lista” – Ele disse olhando para um papel. “Yolanda Ferragni, a garota brasileira, venha aqui!” – Ele disse apontando para mim.

Eu não ia fugir, era isso que eles queriam, me levantei, com toda a segurança do mundo que eu poderia reunir ali.

“Não precisa ir lá...” – Disse Ed.

Ignorei o que ele disse e fui até James, subi na cadeira ao lado. Olhei para todo mundo, era muita gente prestando atenção em mim. Era a oportunidade que eu tinha de não me fazer invisível, de ser notada na minha vida.

“Bom... sou Yolanda e sim, eu vim do Brasil, isso pode ser horrível para muitos que possuem a alma pequena...” – Olhei para James. –“Mas, foi lá que eu construí minha alma, foi lá que eu aprendi que, as pessoas não nascem ruins, se deixam levar pelo lado mais favorável e...” –Voltei a olhar para James. –“As tornam forte, diminuindo os outros”

“Muito obrigado pelo discurso e ...” – Disse James.

“Não, agora eu vou falar, a menos que não seja bom o bastante para ouvir o que eu tenho a dizer!” – Eu disse. – “Eu vivo em uma escuridão profunda, que apenas um coração forte consegue sair. E garanto a vocês que sou muito forte, ao contrário de certos corações vazios que existem aqui, não é, James? E eu não vou deixar nenhuma pessoa vazia, me colocar para baixo. É isso!” – Eu disse.

Todos ficaram me olhando em silêncio. Desci da cadeira e andei até Ed. Os olhos agora se voltavam para James.

“Eu não acredito que conseguiu dizer aquilo tudo.” – Disse Ed colocando sua mão direita em meu braço esquerdo.

O carinho que Ed fazia em meu braço, me acalmava, assim como um cafuné de mãe acalma seu filho. O sinal tocara para a próxima aula, eu tinha esse tempo com o Ed. Era aula de Educação Física, fomos andando até a quadra. No caminho, Ed me para.

“Depois que te conheci, minhas músicas ficaram melhores!” – Ele disse me olhando.

Sorri com o que ele disse, coloquei minha mão direita em seu rosto.

“Você me fez forte...” – Eu disse olhando para ele. – “Sua amizade é a janela que eu precisava, para deixar a luz entrar em meu coração”

Abracei o Ed e o puxei para a aula de Educação Física. É, eu posso ter sido melosa um pouco agora, mas, é que eu nunca tinha sentido algo que eu sinto naturalmente pelo Ed, na verdade, o amor nunca correu em minhas veias, cresci descobrindo as etapas do ódio e repulsa. Amor, para mim, era algo que inventaram, para deixar as pessoas idiotas, mas, essa minha teoria estava ficando fraca, porque, eu estou ficando forte graças a ele...