As aulas já haviam terminado e fui para a porta da escola, para esperar Ethan. Teddy estava comigo e não parecia muito contente com a ideia e pouco conversava. Isso era um grande sinal, ele estava chateado, de certa forma.

“Fique sabendo que estou indo pela Eunice.” –Eu disse para quebrar o silêncio.

Ethan demorou dez minutos para aparecer e veio de encontro a gente. Evitei abraços e apenas acenei para ele. Eunice chegou e estacionou atrás do ônibus escolar. Ethan não se despediu de Teddy e foi em direção ao carro de sua mãe. Fiquei no mesmo lugar, ao lado de Teddy e me virei para ele.

“Não se preocupe, okay?” –Perguntei.

Teddy apenas afirmou com a cabeça. Dei um selinho demorado nele e passei minha mão direita em seu rosto. Corri até o carro de Eunice. Ela saiu do carro e a abracei. Teddy estava no mesmo lugar, observando a gente, enquanto Ethan já estava sentado no banco do carona.

“Meus parabéns, Eunice.” –Eu disse a abraçando.

“Muito obrigada, Yolanda.” –Ela disse sorrindo.

Entrei no carro, me sentei atrás de Eunice. Ethan toda hora virava para trás e olhava para mim. Eu fingia que não notava e permanecia olhando para a janela. Quando chegamos na casa dele, a mesa da sala de jantar estava toda arrumada, com  um bolo de chocolate, aparentemente, e espaços na mesa para panelas de comida.  Quatro lugares estavam postos a mesa.

“Sentem-se, trarei o almoço.” –Ela disse.

“Eu te ajudo.” –Eu disse.

“Tudo bem!” –Ela disse rindo.

Eunice esperou que eu me aproxima-se dela e fomos até a cozinha. Uma empregada estava na cozinha, lavando a louça.

“Olá.” –Eu disse a ela.

A empregada me olhou surpresa e sorriu em seguida.

“Oi.” –Ela disse tímida.

Eunice me deu uma vasilha com frango frito e fui em direção a mesa, cuidadosamente. O medo de derrubar aquilo e decepcionar todo mundo, tomava conta do meu corpo. Quando cheguei na porta da cozinha, pude ouvir a conversa entre Ethan e seu pai, pude ouvir meu nome. Deixei a vasilha na mesa, próxima a Ethan e voltei para a cozinha. Eunice colocava o arroz da panela para outra vasilha de vidro. Fiquei na porta, para ouvir a conversa entre os dois.

“Você poderia namorar essa garota.” –Disse o pai de Ethan.

“Poderia...” –Ele disse.

“Ela namora?” –O pai perguntou.

“Sim.” –Ethan respondeu.

“Yolanda? Pode levar essa aqui também.” –Disse Eunice.

Confesso que levei um susto quando Eunice me chamou, achei que iria brigar comigo por estar ouvindo a conversa. Acho que ela nem percebeu nada. Fui até ela e peguei a vasilha com arroz branco. Voltei para a sala novamente e pude notar que o pai do Ethan o cutucou, como se  quisesse que Ethan não falasse mais sobre o assunto, que seria eu. Ethan estava de costas para a porta da cozinha e seu pai estava sentado a sua frente. Coloquei a vasilha na mesa.

“Só acho que os cavalheiros que deveriam estar fazendo isso.” –Eu disse sorrindo.

Ethan me olhou e olhei para ele. Os olhos dele são tão bonitos.

“Bom, se seguirmos como antigamente, esse é o trabalho das mulheres.” –Disse o pai do Ethan.

Olhei para ele e confesso que não esperava tal resposta. Fiquei sem graça e não sabia o que responder.

“Eu ajudo.” –Ethan disse se levantando.

“Eu só disse brincando, Ethan. Sente-se.” –Eu disse.

“Senta você. Vou ajudar minha mãe.” –Ele disse indo pra cozinha.

Acho que Ethan notou que eu estava sem reação para a resposta do seu pai. Permaneci em pé, enquanto Ethan já estava na cozinha com sua mãe.

“Sente-se.” –Disse o pai do Ethan. –“Não fomos apresentados devidamente.” –Ele completou.

“Sim...” –Eu respondi, quase sem voz.

Me sentei na cadeira ao lado de onde Ethan estava sentado.

“Sou Raymond.” –Ele disse esticando sua mão pra mim.

Olhei para sua mão e em seguida olhei para ele. Raymond aparentava ter quase cinquenta anos já, porém seus cabelos ainda estavam em sua cabeça, um pouco grisalhos, como se a tinta estivesse saindo. Seus olhos não eram iguais ao de Ethan, eram castanhos como os meus.

“Sou Yolanda.” –Eu disse apertando sua mão.

“Seja bem vinda a família.” –Ele disse.

Normalmente diriam isso para a nova namorada de seu filho, mas eu não sou. Ethan apareceu na sala com mais outra vasilha em mãos, não sabia dizer o que era exatamente a comida. Ele colocou a vasilha na mesa e Eunice, enfim, saiu da cozinha, com um jarro de suco, aparentemente de laranja. Os copos já estavam na mesa, ao lado do prato branco com pequenas flores em azul. Almoçamos durante quarenta minutos, eles respeitavam o silêncio enquanto comiam. Ajudei Eunice e Ethan a recolherem a mesa. Colocamos tudo na pia, onde a empregada já começara a lavar os pratos.

“Qual seu nome?” –Perguntei a ela.

“Olivia.” –Ela respondeu.

“Quer ajuda, Olivia?” –Perguntei.

“Não precisa, muito obrigada.” –Ela disse.

Peguei um pano para ajuda-la a secar a louça, mas Ethan apareceu na porta da cozinha.

“Yolanda, o que está fazendo?” –Ele perguntou se aproximando.

“Estou ajudando a Olivia.” –Respondi.

“Admirável o que está fazendo, mas precisamos de você na sala.” –Ele disse tocando no meu braço direito.

Larguei o prato e o pano sobre a lateral da pia.

“Me desculpe...” –Eu disse a Olivia.

A sala da casa deles era maior que a minha, toda decorada em tons escuros, o vinho era o mais predominante dentre todas as cores. Eunice e Raymond estavam sentados um ao lado do outro. Dois violinos já estavam sobre a mesa de centro. Eu ainda não tinha o meu, Mary não tinha dinheiro o suficiente para comprar um bom, mesmo eu pedindo um simples, ela queria me dar o melhor, mas não podia. Me sentei no sofá a frente de onde os pais de Ethan estavam sentados.

“Bom, eu ensinei a Yolanda como a tocar e ela disse que treinaria em casa.” –Ele disse para seus pais.

Ethan pegou um violino na mesa e me entregou.

“Me surpreenda.” –Ele disse sussurrando.

Respirei fundo e peguei o violino. O posicionei corretamente e me levantei. Evitei fazer contato visual com os pais de Ethan e comecei a tocar. Desafinou no inicio e deu para notar que eu estava nervosa e havia errado. Respirei fundo novamente e comecei a tocar “My heart will never go on”, música tema do titanic, o filme favorito da minha mãe biológica e até hoje não sei porque quis aprender justamente essa música. No inicio, demoraram para identificar a música e logo ela era compreensível.

“A música do titanic...” –Eunice sussurrou para Ethan.

Ao terminar a música, Eunice se levantou e me aplaudiu de pé. Ethan permaneceu me olhando e demorou para aplaudir.

“Você foi incrível!” –Ele disse se levantando.

“Muito obrigada.” –Eu disse.

“Foi mesmo!” –Eunice disse me abraçando.

Eunice adorava abraçar os outros, isso era notório. Me sentei no sofá e coloquei o violino de volta a mesa. Ethan permaneceu em pé.

“Pelo excelente trabalho...” –Ethan disse pegando um violino que eu havia tocado. –“Esta violino é seu.” –Ele completou.

“Sério?” –Eu perguntei espantada.

Peguei o violino das mãos de Ethan e o abracei forte, eu não queria soltá-lo. Como eu desejava ter um daqueles e agora era meu. Soltei o Ethan e fiquei admirando o violino. Era um  4/4 Nhureson Madeira Exposta EVB Madeira, era lindo, era meu.