Os corredores que antes eram lotados de pessoas com pressa e falando absurdamente alto, cada vez iam ficando mais vazios. Um vento gelado tocava meu rosto e um silêncio profundo tomava toda a escola.

Demorei dez longos minutos para finalmente encontrar a sala, que era no segundo andar. Ao abrir a porta, todos os olhos se voltaram para mim, por um momento eu esqueci como respirar. Permaneci na porta até o professor tomar alguma atitude e vir até a mim.

"Qual seu nome?" - perguntou o professor me olhando por cima de seus óculos.

"Ferragni! Quer dizer...sou Yolanda Ferragni!" - eu disse abraçando o meu caderno contra o meu corpo.

"Veio de onde?" - Ele me perguntou caminhando até sua mesa.

"Brasil..." - Eu disse o seguindo, abaixando meu tom de voz.

Ele ficou surpreso com a minha resposta. Arrumou seus óculos, se virou para a turma e me apresentou. Que constrangimento...

Todos começaram a sussurrar e eu só ouvia "Brasil! Brasil", a partir daquele momento, comecei a pensar no que eu iria sofrer por ser de outro país. Me desloquei até a única cadeira vazia, era próxima a janela e era na segunda fileira. A mesa era iluminada por um lindo raio de sol, que a nada aquecia. Evitei olhar para os lados e observar as pessoas falando sobre mim, a única certeza que tinha naquele momento, era de que o simpático menino ruivo não fazia História comigo.

Passado os dois tempos de aula, o professor fez a chamada e eu era a última, como sempre. Juntei meu material e me dirigi até a porta, a próxima aula era em uma sala no mesmo andar. Eu tenho o próximo tempo livre e não sabia o que fazer. Desci as escadas e uma menina me parou. Ela usa óculos, porém nada que a julgasse nerd, loira dos olhos azuis, mas não era considerada uma garota linda por isso. Da mesma altura que eu e possui aparelhos vermelhos nos dentes.

"Você é Yolanda, certo?" - Ela me perguntou sorrindo.

Apenas afirmei com a cabeça. Ela nada carregava na mão, havia deixado tudo em seu armário, só a idiota aqui que tinha o material em mãos.

"Eu sou Bethany Banks, tive aula de história agora contigo. Estou aqui para lhe fazer companhia, já passei por isso e é muito chato ficar sozinha! Vamos sentar ali no pátio externo, e me conte da sua vida!" - Ela terminou de falar e me puxou pelo braço até o pátio.

Sentamos na grama, para variar, eu estava onde tinha sol. Não quis contar sobre a minha "vida", ela entendeu e não insistiu, eu estava começando a gostar da Beth, ela não parava de falar e isso evitava que minha mente pensasse em coisas ruins. Pela história que ela contava, ela não parecia ser tão feliz quanto parecia. No meio da conversa, um som de violão começara atrás de mim, não aguentei e me virei, para ver se era o ruivo, e fiquei tão feliz ao ver que era o mesmo.

"Ele é talentoso..." - Pensei alto.

"Edward é muito talentoso sim!" - Ela disse.

"Então esse é o nome dele? Edward?" - eu perguntei ainda olhando para ele.

"Sim, porém todos os conhecem por Ed!" - Disse Beth. - "Você parece ter gostado dele..." - ela disse me cutucando.

"O QUE? Não!" - Eu disse me virando para ela. - "Claro que não..." - voltei a olhar o Ed.

"Vem cá!" - Beth disse se levantando.

Me levantei e ela segurou meu braço esquerdo e me puxou em direção ao Ed. Fiz meu corpo pesar, tentava andar pra trás, evitando que ela me levasse até ele. Nada adiantou.

"Não, não, não, não, não!" - Eu dizia por todo o caminho.

Enfim, chegamos perto do Ed, que tocava Beatles em seu violão.

"Oi, Ed!" - Beth disse parando ao lado dele, me soltando.

"Tudo bem, Beth?" - Ele disse olhando para ela.

Ele demorou para notar minha presença, mas quando olhou para mim, imediatamente parou de tocar seu violão.

"Hey, você é a menina perdida!" - ele disse dando um lindo sorriso.

"Ela é Yolanda! Você acredita que ela veio do Brasil?" - Disse a Beth, se sentando ao lado dele.

Ed não se impressionou muito com o fato de eu ser brasileira e permaneceu me olhando.

"Sente-se também! Eu sou Ed!" - ele disse dando umas leves batucadas no violão. "Qual seu apelido?"

"Eu nunca tive um apelido positivo..." - Eu disse abaixando os ombros.

Ed ficou me olhando por uns minutos, parecia estar pensando em um apelido para mim, mas para Yolanda parecia algo difícil.

"Depois eu penso em algo, melhor olhar em minhas músicas!" - Ele disse.

Nunca ninguém me fez sentir tão importante quanto agora. Ele ia procurar um apelido especial e bonito para mim, só me chamavam de "estranha", "Deprimida", "sem pais" etc, etc.

Ed olhou o relógio e se levantou.

"Tenho aula de química agora! E vocês?" - Ele disse pendurando o violão no ombro direito.

"Tenho geografia." - Eu disse me levantando.

"AAAAH! Eu também!" - Gritou a Beth.

De certa forma, eu fiquei feliz com o berro da Beth, afinal, eu tinha uma companhia para o resto do dia. Ed acompanhou a gente até as escadas, subimos e ele permaneceu no primeiro andar. Não era hoje que teria aula com ele, porém me restavam quatro longos dias para sonhar...