Folhas De Outono escrita por Sheeranator Mafia


Capítulo 126
Boa viagem




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Teddy estava no telefone tentando conversar com um taxista. Ele mesmo queria resolver e não deixava eu conversar com eles. Ele ficou mais de vinte minutos e conversou com quase toda a frota de táxi, até encontrar um que saiba inglês. Horas antes de partirmos, fui até o apartamento de Pablo. Abracei Sara por longos minutos e pude ver seus olhos ficarem vermelhos. Ela se esforçava para não chorar. Abracei Pablo, com direito a tapinhas nas costas. Não pensei duas e abracei Pedro, normalmente. Me desejou boa viagem, assim como os outros.  Sara me deu um pequeno saco com doces e bombons para eu degustar durante o voo. O cabelo dela estava todo penteado para trás e preso com uma tiara prateada e um pequeno laço ao lado.  Pablo se ofereceu para carregar as malas até o taxi e não recusei sua ajuda. Ficamos conversando um pouco, até Teddy me ligar informando sobre a hora. Subi com Pedro e Sara e eles nos ajudaram com as malas.

O trânsito estava quase livre. Poucos carros circulando, afinal, era véspera de natal. A tradição do Brasil faz com que a véspera pareça mais importante que o próprio dia vinte e cinco. Arrumam toda a casa para a ceia com comidas típicas de natal e só se reúnem para comer e trocar presentes a meia noite. O táxi era grande e ainda tinha lugar sobrando. O aeroporto estava cheio, mas as pessoas estavam chegando ao Rio. Familiares se abraçando em frente ao portão. Pessoas chorando, rindo, sozinhas. Faltavam duas horas para o nosso voo. Entramos em uma loja de roupas e decidimos trocar presentes ali no aeroporto. Camilla foi na loja de lembrancinhas do Rio de Janeiro, Teddy na loja de perfumes, Joana na loja de roupas. Eu não sabia o que comprar, então entrei em uma livraria. Não demorei a escolher, parecia que os livros me atraíram até lá. Escolhi dois para Camilla, um era sobre mães jovens de primeira viagem e o outro era sobre um romance adolescente. Para Joana comprei um suspense policial. Nada comprei para Teddy, pois tudo estava em português. Nos encontramos na praça de alimentação. Camilla ainda não havia chegado. Faltava meia hora para nosso embarque. Quando ela chegou, tudo teve que ser corrido. Joana foi a primeira a entregar os presentes, depois Camilla. Eu fui a última. Tivemos dez minutos para abrir todos. Camilla me deu um colar com o cristo redentor. Joana me deu um casaco preto e Teddy me deu um perfume o qual a tampa tinha o formato de uma rosa. Dei os presentes que comprei e dei um para o Teddy. Decidi comprar enquanto pagava os outros livros. Estava em uma prateleira na fila. Um dicionário inglês-português. Ele riu e achou uma ótima ideia. Claro que aquele não seria meu presente para ele. Comprei algo há muito tempo e só darei a ele na manhã de natal. Camilla conseguiu encontrar uma palheta com a foto do cristo redentor e Teddy ficou admirado. Joana lhe deu uma blusa laranja.

Anunciado o nosso voo, nos entreolhamos em silêncio. Entendemos que era a hora de deixar algumas coisas para trás e seguir em frente. Abracei Camilla e pude sentir Penny se mexer, o que fez com que lágrimas rolassem pelo meu rosto.

“Sabe o que eu vejo agora? Uma menina que lutou tanto para esse momento. Lutou para um dia se ver feliz por completo. Sua mãe não veio pois não queria a ver partir novamente. A saúde dela também está fraca, ela pouco consegue andar. Prometo cuidar dela, é o mínimo que  posso fazer por você ter cuidado de mim. Daqui a poucos minutos você estará tão longe de mim e ao mesmo tempo tão perto. A saudade vai me ensinar o real valor que você tem, o valor que as vezes é escondido pela acusação injusta que faço...” –Ela deu uma pausa breve. –“Eu te amo.”

Nos abraçamos e senti uma mão tocar minhas costas, era Teddy, dizendo que tínhamos que ir. Me despedi de Joana que toda hora agradeceu o fato de eu a ter deixado morar no apartamento e que daria a mesma chance para a minha mãe. Fomos em direção ao portão e nenhuma lágrima molhou o delicado rosto de Camilla. Ela sorria. Ela forçava sorrir. A moça que conferia as passagens apressava nossa partida e tirou o ingresso da minha mão e pediu para que eu entrasse. Acenei pela última vez. Vi uma lágrima saltar pelo olho esquerdo de Camilla e ela rapidamente foi secada. Comecei a ser tomada por um vazio. O caminho que nos levava em direção ao avião parecia longe. Eu olhava para frente e tinha medo de não conseguir chegar ao meu destino. Parecia longe, o ar estava pesado. Eu sentia meu coração pulsar rapidamente. A mão direita de Teddy apertava minha mão esquerda, que estava completamente gelada. A mochila pesava em minhas costas. Pedi para pararmos um pouco.

“Estou fazendo o certo? Não me entenda mal...” –Eu disse.

Teddy sorriu gentilmente e passou sua mão gelada em meu rosto quente. Eu me sentia quente e ao mesmo tempo tremia. Talvez fosse um misto de nervoso com ansiedade.

“Pensa que você está indo passar as férias comigo e em breve você volta para ver como estão as coisas.” –Ele disse calmamente.

Foi instantâneo. Suas palavras invadiram meus ouvidos trazendo paz. Me acalmei. Meu corpo parou de tremer e minha respiração estava voltando ao normal. O som da última chamada do nosso voo se misturou ao toque do meu seu lugar, avisando uma nova mensagem.

“Boa sorte e obrigada por me deixar fazer parte da sua vida.” –Dizia a mensagem de Camilla.

Apenas respondi com um “eu te amo” e desliguei meu celular. Subimos as escadas para chegar ao avião e olhei para trás, uma senhora se esforçava para subir cada degrau. Dei uma geral no aeroporto. O avião estava muito gelado. Eu havia me esquecido como era a sensação de pisar ali. Rezar para chegar ao outro lado bem. Torcer para o avião não cair. Ter fé que tudo ocorrerá bem. Me sentei no número indicado. Eu estava na janela, abri a cortina e tentei gravar cada detalhe. O homem trabalhando dirigindo o carrinho com as malas dos passageiros do avião ao lado. Dois uniformizados fumando. O piloto falando no autofalante algo que não me prendi a ouvir. O avião começou a andar lentamente. Fechei os olhos e apenas pensei no que eu estava deixando na cidade e o que eu encontraria no futuro. Senti a mão de Teddy segurar a minha e lembro de apenas ter a apertado com força, até o avião se estabilizar no céu. Abri a cortina e já estávamos longe. A avenida Brasil. As favelas. Tudo parecia tão pequeno. Meu sonho parecia tão grande. 


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Notas finais do capítulo

Mil desculpas a demora. 3
Obrigada aos novos leitores por se arriscarem a ler algo já tão grande. Obrigada aos que indicaram. Obrigada aos que aqui estão desde o inicio. A força que me dão é tão linda que não tenho palavras. Apenas, obrigada.
Jenny, thewalkingteddy



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