Folhas De Outono escrita por Sheeranator Mafia


Capítulo 118
O início




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Acordei ansiosa, pois era meu aniversário. Meu pai me prometeu uma boneca. Já escolhi até o nome, Mel. Não é de Melissa. É de mel mesmo. Adoro mel. Estou quase enchendo as duas mãos. Escolhi minha melhor roupa, meu pai disse que ia me levar ao parque. Perdi as contas de quantas vezes penteei meu cabelo. Fiz vários penteados. Estava realmente ansiosa para ter um dia com meu pai. Meu quarto já estava todo arrumado, porque se alguma coisa estivesse fora do lugar, eu me dava mal. Mamãe não gosta de bagunça. Não mesmo.

Me sentei no sofá e aguardei a decisão do meu pai. Bateram na porta e eu a abri. O homem se apresentou como Luiz. Tio Luiz. Ele me deu uma bala de hortelã. Muito boa por sinal. Do sofá, eu pude ve o Tio Luiz dar dinheiro para o meu pai. O gosto da bala ainda estava na minha garganta quando ele me chamou para o parque. Meu pai disse para eu fazer tudo o que o Luiz queria. Tudo mesmo. Não me importei, afinal, eu estava indo ao parque. Era o maior parque da cidade. A mão esquerda do Tio Luiz era muito áspera e passava frieza. Minha mão sumia por entre seus dedos. Ele estava me tratando bem. Eu gostei dele. Ele pouco sorria, mas se esforçava pra isso. Eu contava as piadas que eu havia lido em um livro e ele fingia achar graça, pra ser gentil. Ele me comprou um algodão doce assim que chegamos na porta do parque. Gigante. Era a minha primeira impressão sobre o parque. Parecia uma cidade, com pequenas casas coloridas e todas iguais. O brinquedos ficavam ao fundo. Eu só via um castelo. Primeiro ele me levou no chapéu mexicano. Como era alto. Ele não foi. Ele estava na entrada do brinquedo e parecia impaciente. O vento bagunçava todo meu cabelo. Eu parecia estar voando. Abri meus braços e deixei o vento tocar em mim. Ouvi umas crianças chorando.

“Se divertindo?” –Luiz perguntou.

Afirmei com a cabeça. Ele me levou ao trem fantasma. Não era bem um trem, nós tínhamos que ir andando. Eu gritava, juntos com outras cinco pessoas que lá estavam. Luiz não esboçava nenhuma reação de medo ou felicidade. Apenas estava sério, observando tudo ao seu redor. Eu apertava a mão dele de leve, mas ele me soltava. O lugar não era tão assustador assim, mas eu me diverti. Fiz amizade com uma menina e descobri seu nome apenas na saída da casa fantasma. Patrícia. Luiz me levou para lanchar e depois acabei encontrando Patrícia na fila da montanha-russa, ela deixou eu esperar com ela, que estava quase entrando. Ela era de Minas Gerais e estava passando férias no Rio. Uma mistura de morte e felicidade. Era o que eu senti durante a montanha-russa. Eu achava que ia morrer na maior parte do percurso, mas sai viva e feliz. A fila estava muito grande para eu ousar a querer ir novamente. Luiz me dava tudo o que eu pedia. Tomei três sorvetes, um atrás do outro. Ganhei uma boneca e dei nome de Mel, ignorando o fato de meu pai ter me prometido uma outra boneca. Luiz insistia ir para casa, mas estávamos na metade da tarde. O parque estava ficando cada vez mais cheio. Eu não queria ir embora, mas ele insistiu tanto e me deu um pirulito, que acabamos indo embora.

“Lá tem mais sorvete. Filmes. Pipoca.” –Luiz foi dizendo durante o caminho.

O pirulito que eu havia ganhado na saída do parque era tão grande, que chegamos na casa dele e eu ainda não tinha terminado. Eu achei que voltaríamos pra minha casa, mas essa era a casa dele. Não era muito grande e era perto do parque e distante da minha. Ele tinha várias roupas de crianças dentro do seu armário e pediu para eu escolher uma roupa e tomar banho e depois disso me levaria pra casa. Peguei um lindo vestido rosa que estava perfeitamente dobrado dentro da primeira gaveta. Era perfeitamente do meu tamanho. A água estava no morno e usei todos os xampus que estavam no basculante. Eu tinha essa mania de quando eu tomava banho na casa de outra pessoa, eu usava tudo no banho. Sai do Box enrolada na toalha e Luiz abriu a porta. Sem bater. Sem pedir desculpas. Ele me olhava como se eu fosse um pedaço de carne qualquer. Ele colocou uma sandália rasteirinha rosa no chão e saiu do banheiro. Comecei a ficar desconfiada. Me vesti e abri o armário por trás do espelho. Vários tipos de desodorante. Passei todos também. Sai do banheiro e Luiz me esperava sentado no sofá, tomando vinho.

“Nossa... que... cheiro forte.” –Ele disse, tentando manter um sorriso no rosto.

Me cheirei e descobri que era eu. A mistura de perfumes não teve um bom resultado. Luiz estava assistindo a um desenho e me sentei ao seu lado.

“Vamos comemorar seu aniversário.” –Ele disse.

Luiz deixou seu copo de vinho sobre a mesa de centro e aumentou a TV. Estava insuportavelmente alta. Ele cheirou meu pescoço e disse que o cheiro não estava tão ruim assim. Sua mão direita estava sobre meu joelho. Me levantei e sua força me obrigou a me sentar novamente. Fiquei no sofá enquanto Luiz colocava filme na câmera fotográfica.

“Vai até ali e tira o vestido.” –Ele disse.

Neguei cinco vezes, até ele me bater. Nunca um tapa doeu tanto. Sua mão pesou sobre meu rosto. Chorando, tirei meu vestido e o flash da câmera me secou. Eu estava com uma calcinha branca com ursinhos desenhados em azul. Ele pediu para tirar a calcinha e corri. Me tranquei no banheiro e tentei gritar, mas o som da TV era muito mais alto. Ouvi um barulho na chave na fechadura e a maçaneta girou lentamente. Luiz abriu a porta e parecia furioso. Sua expressão me assustava mais do que os monstros da casa no parque. Ele me arrastou até a cozinha e disse que estávamos brincando de filme. Perguntou qual era o meu favorito e me chamou de Cinderela. Disse que eu já havia me casado com o príncipe e eu ia descobrir o que acontecia depois do “felizes para sempre”. Meu choro estava preso em minha garganta e enfim, tirei o que ele tanto pedia. Mais flashes. Ele pediu pra eu ficar de costas para ele e o flash rebatia na parede branca e perturbava meus olhos. Ele pediu para eu me sentar do seu lado e fui o mais devagar que eu podia. Ele tocou minha barriga e reclamou de eu estar quente. Ele fazia carinho. Não era um carinho ruim, mas eu estava incomodada com tudo o que estava acontecendo. Ele voltou a cheirar meu pescoço e senti um beijo. Me afastei e ele me puxou para perto. Me pegou no coloco e me levou para seu quarto.

Eu estava na cama e eu não conseguia parar de tremer. Me faltavam lágrimas para chorar. Luiz estava lá fora, conversando ao telefone com alguém. Desconfiava que fosse meu pai. Um cheiro de cigarro infestava a casa. Eu estava trancada no quarto, enrolada ao fino lençol. O quarto estava escuro. Eu não tinha forças para levantar e abri a cortina azul marinho. Eu estava encolhida na cama, com medo de qualquer sombra que parava a frente da porta e eu conseguia enxergar por debaixo dela. Eu sabia que esse era o ponto que me levaria para um futuro alternativo. Sem luz. Sem esperança. Sem amor.


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Notas finais do capítulo

Consegui postar ♥ culpem o carnaval haha
Obrigada por ler minha fanfic. *-* vocês são uns lindos! Cada mensagem que eu recebo que tenho vontade de abraçar vocês pra sempre!
Jenny, eddictedhoran



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