- E então? – disse Melody, pondo as mãos nos quadris.

   Jay estava tentando proferir alguma frase há exatos 50 segundos. Ele abria a boca como se fosse falar algo, mas a voz não saia, e ele voltava a fecha-la, tentando encontrar um modo de falar que não irritasse a irmã. E pelo jeito, não ia ser fácil, considerando que a garota parecia arder em febre de tão vermelha que estava.

   - Não é o que você tá pensando... – ele tentou começar.

   - Ah não é? Vai me dizer que não estava rindo e fazendo piadas com eles, e possivelmente pensando na hipótese de se juntar á eles? A culpa não é minha se você tem merda na cabeça. –  Melody agora beirava as lágrimas. Mas eu tinha quase certeza que eram de raiva, não te tristeza. - Como você pode? Eu te disse que não era pra me acompanhar, mas você quis. A única coisa que te pedi era pra não me abandonar. E agora você tá me trocando, a sua irmã, por... Ela? – ela disse, apontando para mim.

   - Algum problema comigo, princesa? – rebati.

   - Ah , não, nenhum. – ela disse, estreitando os olhos e com a voz carregada de ironia. – Acho que não preciso recapitular as história de quem é a minha mãe e quem é o seu avô.

   - Ah, nem vem com essa história de “Montecchios odeiam Capuletos” pra cima de mim, não. Eu to cansada dessa história, na verdade.

   - Tá, que seja.  Mas mesmo que a rivalidade não existisse, eu não gosto de voce. Não fui com a sua cara, e pelo o quê eu soube, você adora arrumar problemas. E eu realmente espero que você não se torne um para o meu irmão.

   - O que é que você está tentando insinuar, sua vaca?

    - Que se você pensa que vai conseguir levar meu irmão pro seu time de problemáticos, eu te mato.

   - Tá, olha, se você tem algum problema comigo, eu acho que seria justo resolvermos isso agora mesmo.

   - Você quer mesmo me encarar? Já vou te avisando que fui treinada desde crianças pelos melhores generais do Distrito 13 e tive aulas práticas com Johanna Mason.

   - Ah, é mesmo? Adivinha só: eu to pouco me fodendo se você foi treinada pela merda da Johanna. Eu é que vou te avisar que fui eleita a campeã de luta livre pelos três Distritos carreiristas. Então, cai dentro, vadia.

   - Vadia? Você é que fica dando em cima das pessoas dos outros grupos pra trazerem eles pro seu, e eu é que sou vadia?

   - Agora já chega. – eu a ataquei, mas ela desviou facilmente.

   - É, eu tinha razão. A raiva atrapalha na sua precisão. – ela riu.

   Quem é você pra rir de mim? Eu vou acabar com a raça dessa putinha de merda.

   Infelizmente, não posso te dizer que eu meti dois socos na cara dela e ela caiu no chão, porque eu estaria mentindo. Mas eu teria se não fosse pelo Pacificador que se meteu no meio de nós duas e levou o primeiro soco.

   - Já chega meninas, podem parar. – disse uma treinadora qualquer.

   - Me larga, caralho! Eu preciso deformar esse rostinho de mini-Tordo. – falei, me debatendo no braço do Pacificador.

   - Carolynn, se controla! – disse Mika, se pondo na minha frente e atrapalhando minha visão conturbada de Melody sendo afastada pacificamente de mim.

   - Caralho, aquilo foi tão legal. Briga de mulheres é o que há. – eu ouvi Ed comentar para alguém do seu lado.

   - Edwart, cala a porra da sua boca. – Jay respondeu indo atrás da irmã.

   Voltei a minha realidade, sendo carregada para fora do refeitório com Joy e Mika me seguindo.

   - Pode pôr ela no chão, tá tudo sob controle. – respondeu Joy.

   - tem certeza, ela parece bem braba ainda e... – comentou o Pacificador. Joy lhe devolveu um olhar mortal e ele se afastou.

   - Carrie, tá tudo bem? – disse Mika, calma e com a voz doce. Obviamente, esse não era o tom de voz adequado pro momento.

   - Claro que não, Mika. Aquela vadia me chama de puta, me humilha, e eu sou carregada pra fora do recinto como uma louca descontrolada. Eu acho que eu não to nada bem.

   - Sai, deixa que eu cuido disso – ela disse, empurrando Mika para o lado.

   E então ela me deu um tapa.

   - Você trata de se acalmar logo. Você já deu um escândalo lá dentro, e eu juro que se você não parar de dar chilique, eu mesma calo a sua boca. – ela disse, apontando o dedo para minha cara.

   Eu me calei.

   - Ótimo, agora respira fundo três vezes, e entra naquele refeitório de novo de cabeça erguida. Eu vou estar lá te esperando.

   Ela saiu, seguida por Mika.

   E eu fiz o que ela pediu.

   - Mais calma? – perguntou Ed, num tom de voz baixo.

   - Não. – eu disse calmamente, o olhando nos olhos.

   - Como?

   - Estou só fingindo que estou bem, mas se pudesse, eu voaria até aquela porra daquela mesa e arrancaria a cabeça dela com os meus próprios dentes. – eu disse, organizando a pilha de bandejas, sem olhara para ninguém, mas com um tom extremamente calmo e assertivo.

   - Wow, isso soa um pouco frio, não? – disse alguém atrás de mim.

   Enobaria me olhava com os olhos indecifráveis, mas se pudesse apostar, diria que por trás deles, ela estava com uma ponta de orgulho.

   Eu apenas voltei meu olhara para as pilhas.

   - Você fez uma cena e tanto.

   - Não é como se eu quisesse.

   - Eu sei que não.

   - Então porque está aqui?

   - Por que me obrigaram a falar com você para que não ocorresse de novo. É obvio que eu não vou fazer isso. Quero falar com você mais tarde, á sós. Já sei que tipo de ajuda posso lhe dar como mentora. – ela sorriu, fazendo todos na mesa se encolherem, menos Joy.

    Ela riu da situação.

   - Agora vá pegar outro prato. O horário está acabando, e você precisa comer.

   - Mas sem lagosta dessa vez, pelo amor de Deus – comentou Joy, fazendo todos rirem.