Os Dias de Enishi escrita por Yuki


Capítulo 10
As palavras de conforto




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As palavras têm poder

Podem ferir e podem curar

Umas nos fazem sofrer

Outras nos fazem amar

 

Antes de começar seus relatos, Enishi, dando-se conta que seu amigo viera diretamente de Daiten para sua casa, ofereceu:

- Deve estar com fome. Antes de eu começar, que tal um lanchinho?

- Só pra me deixar curioso?! Ok, tem chá?

- Eu ia fazer um de jasmim pra Karin, então se eu fizer agora ela ficará brava. E eu definitivamente não quero que isso aconteça!

- Hahha! É, ela pode ser assustadora quando quer. – concordou o amigo.

Enishi riu com o comentário. Preparou um suco de ervas verdes. Estava pensado em qual comida serviria quando Satoshi lembrou-se:

- Ah! Eu comprei em Daiten aqueles bolinhos que você tanto gosta.

- Não podiam ter vindo em melhor hora!

De fato, esses bolinhos eram uma das poucas boas lembranças que Enishi ainda guardava da cidade grande. Eram bolinhos feitos com massa de arroz, recheados com chocolate e um leve toque de canela, feitos artesanalmente. Algo raro, numa cidade daquele porte.

Entre uma mordida e outra, o dono da casa foi contando o que havia ocorrido naquele domingo estranho. Satoshi apenas ouvia com o sempre presente olhar sério e tranquilo ao mesmo tempo.

Quando terminou, Enishi já disparou a inquietante pergunta:

- Não estou enlouquecendo, né?

O amigo apenas deu um sorriso com o canto da boca. Terminou de mastigar o bolinho, bebeu um gole de suco. Apressou-se, pois os verdes olhos o encaravam tão intensamente que pareciam estar tentando ler sua mente.

- Se é o que você acha, somos dois. Não sei por que, mas estou acreditando nisso.

Os olhos verdes, então, travaram. Enishi estava feliz, pelo apoio do amigo, mas também ficara inquieto e confuso com essa inesperada concordância.

- Acho que você está passando tempo demais comigo. De doido aqui já basta eu... – brincou.

- Olha... – Satoshi interrompeu.

O amigo dos olhos cor de mel fez uma pausa. Apesar da piada de Enishi, Satoshi estava agora mais sério que o de costume. Seus olhos, que estavam mirando o copo de suco, miravam agora os olhos verdes.

- Quando você começou a contar do seu domingo, debaixo do jequitibá, estava tudo normal. Mas quando começou a falar do seu sonho... você não percebeu, mas mudou seu jeito de falar. Você sorria ingenuamente, seus olhos brilhavam, não sei se da mesma forma quando você se viu no espelho, mas nunca os tinha visto assim.  – agora seu sorriso de canto de boca retornou à face. - Amigo, você está apaixonado!

- Eu?! – Enishi surpreendeu-se, mas, pelo modo do amigo falar, já esperava essa resposta, de um certo modo. – É, legal, por alguém que nem existe!

- E daí?! Não é demais?!

- Como assim?

- Você tá amando cara, é a melhor sensação do mundo, não é?

- Bem, é... ou deveria ser! Se ela pelo menos existisse!

- Quem disse que não existe?

- Nunca vi alguém com olhos daquele jeito.

- Será que é porque você quase nunca sai daqui?

Essas palavras penetraram profundamente em Enishi. A primeira reação dele foi de indignação. Satoshi sabia que ele escolhera se isolar (relativamente), que era uma pessoa naturalmente mais introspectiva e, portanto, não era fácil ficar dando as caras por aí.

 Mas, ao pensar novamente, percebeu o que o amigo queria dizer. Nesses anos aqui ainda não conseguira encontrar a si mesmo ainda. Talvez, se encontrasse essa garota, poderia sentir-se completo. Ou pelo menos mais perto disso.

- Não sei, é muito estranho, é impossível que ela exista. – respondeu, tentando se enganar. – Aqueles olhos... são surreais.

- O amor faz isso com a gente, a gente vê coisas a mais.

- Desde quando você é expert em assuntos amorosos?

- Anos de prática, meu amigo. – gabou-se Satoshi.

- Sei...

- Ok, eu li em algum lugar... - gargalharam

Enishi parou por uns instantes. Definitivamente, Satoshi estava menos lúcido que ele. Perguntou, então, ao amigo:

- Eu coloquei alguma coisa no seu suco?

- Hahaha, claro que não!

- Foram os bolinhos então!

Desataram a rir. Riram tanto que até Gin estranhou, erguendo as orelhas daquele jeito engraçado que só ele conseguia fazer.

- Não sei o que seria de mim sem você e suas palavras, Sat. – Enishi disse, abraçando seu melhor amigo. Ou melhor, seu irmão.


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